Alcoolismo e Obesidade

Os textos referentes a obesidade encontram-se ao final dessa página, iniciando-se depois da palavra OBESIDADE!
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O Globo 27.08.2013
Quase 70% dos brasileiros estão acima do peso
Quanto maior a escolaridade, menor o índice de obesidade.
O consumo abusivo de álcool é maior entre os homens que as mulheres
André De Souza
Flávia Milhorance


BRASÍLIA e RIO - Os brasileiros estão engordando. Mais da metade da população com mais de 18 anos tem sobrepeso (51%) e 17% são obesos, o que representa um a cada seis indivíduos. O aumento desde 2006, quando começou a análise do Ministério da Saúde, foi de oito pontos percentuais para o sobrepeso e de seis, para a obesidade. O Rio de Janeiro até supera a média nacional: já são 71,9% dos cariocas lutando contra a balança, sendo que 19,5% deles são obesos.
Ano passado, o índice de sobrepeso já indicava 48,5%. Em 2006, o sobrepeso atingia 43% da população e a obesidade chegava a 11%.
Os números são da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2012, feita com base em 45 mil entrevistas feitas por telefone residentes nas 27 capitais. O levantamento é feito anualmente desde 2006 e apresenta indicadores da saúde do brasileiro, como excesso de peso e obesidade, alimentação, sedentarismo e consumo de álcool. O IMC é calculado dividindo peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros.
O sobrepeso atinge mais os homens (54,4%) que as mulheres (48,1%). Na obesidade, ocorre o oposto: 18% nas mulheres e 16% nos homens sofrem com os problemas. A capital mais gorda é Campo Grande: 56% está acima do peso. Na outra ponta estão São Luís e Palmas, com 45% a população com sobrepeso. No Rio de Janeiro, o índice é de 52%. O obesidade é mais grave em Rio Branco (21% da população) e menos frequente em São Luís (13%). No Rio, o índice é de 19%.
A obesidade atinge principalmente as pessoas com até oito anos de estudo. Quanto maior a escolaridade, menor o índice de obesidade. Entre as pessoas com mais anos de estudo, há mais consumo regular de frutas e hortaliças, e menos ingestão de carne com excesso de gordura, refrigerantes, feijão e leite com teor integral de gordura. No caso do refrigerante, a variação de um grupo ao outro é menor. Apenas 22,7% da população ingere a porção diária de frutas e hortaliças recomendada pela Organização Mundial da Saúde, de cinco porções ou mais. Por outro lado, houve aumento no consumo recomendado de frutas e hortaliças.
- Nossa dieta natural é bem equilibrada. Arroz, feijão, salada, bifinho. O problema é que estamos substituindo por outros alimentos - avaliou o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, acrescentando que, ainda assim a obesidade é menor que em outros países, como Uruguai (19,9%), Argentina (20,5%), Paraguai (22,8%), Chile (25,1%) e Estados Unidos (27,7%).
- A hora é agora. Se agente não agir afora, corremos o risco de chegar a patamares de excesso de peso e obesidade de outros países, como Chile e Estados Unidos -acrescentou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Quanto mais jovem, menos obeso
Quanto mais jovens, maior a tendência de estar no peso ideal e praticar atividades físicas. Entre os jovens de 18 a 24 anos, 28% está acima do peso. O índice chega a 60,8% na faixa etária que vai dos 45 a 54 anos. O mesmo ocorre com a obesidade, que chega a 23,4% na população entre 55 e 64 anos.
Há fatores genéticos relacionados à obesidade, mas o presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), Mario Kedhi Carra, alerta que o sobrepeso já traz problemas para a saúde, como maiores riscos de doenças cardiovasculares e diabetes. O especialista também lembra que a pesquisa foi realizada apenas com adultos, mas diz que o foco da atenção está nas crianças.
- O departamento de obesidade tenta sensibilizar colégios para dar informação sobre alimentação às crianças. Pois vivemos num ambiente “obesogênico”, ou seja, que tem impõe tal comportamento, a partir da sedução das lanchonetes de comida rápida e da variedade de produtos processados.
A atividade física é maior entre os homens que as mulheres. Não há grandes variações por sexo no hábito de assistir televisão mais de três horas por dia. No total, a frequência de atividade física durante o tempo livre vem aumentando dede 2009, quando estava em 29,9%. Hoje está em 33,5%.
- O Vigitel é uma ferramenta muito poderosa para identificar fatores de risco dos brasileiros - destacou Joaquín Molina, representante da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Abuso do álcool
O consumo abusivo de álcool é maior entre os homens que as mulheres e mais grave quanto maior a escolaridade. Entre os homens com 12 anos ou mais de estudo, 31,9% apresentaram consumo abusivo nos 30 dias anteriores à pesquisa, contra 24,3% entre os homens com até oito anos de estudo. Para o homem, é considerado consumo abusivo ingerir cinco doses ou mais. Entre as mulheres, quatro doses ou mais.
A capital que mais abusa do álcool é Salvador: 27%. Em melhor situação está Rio Branco (13%). No Rio, o índice é de 19%. A faixa etária que mais abusa é que vai dos 24 aos 35 anos (24,7%).
Os homens e as pessoas com mais anos de estudo são as que mais dirigem após ingerir qualquer quantidade de álcool. O problema é pior em Florianópolis (16%) e menos grave em Belém (4%). No Rio, é de 5%. Segundo Padilha, o baixo índice do Rio se deve à intensidade das operações da Lei Seca na cidade.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2011, 43.256 pessoas morreram no trânsito. Acidentes de trânsito são inclusive a segunda causa de internação por trauma no Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2012, foram 161.707 internações com custo de R$ 215 milhões. Ao todo, 78% das vítimas são homens.
A pesquisa também mostrou que 77,4% das mulheres entre 50 e 69 anos realizaram uma mamografia nos dois anos anteriores ao levantamento. O índice estava em 71,1% em 2007. As curitibanas foram as mulheres que mais fizeram o exame (90%). João Pessoa fica na outra ponta: 61%. Entre as cariocas, o número chega a 84%.
Nos três anos anteriores à pesquisa, o papanicolau foi feito por 82,3% das mulheres entre 25 e 64 anos. Entre as paulistanas, o índice é de 90%, o maior do país. Em Maceió, é de apenas 71%, o menor do Brasil. No Rio, é de 79%.
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O Globo 02.08.2013
Mujica quer controle da venda de álcool no Uruguai
Prestes a regular a maconha, presidente envia novo projeto ao Congresso do país.
JANAÍNA FIGUEIREDO


BUENOS AIRES - Faltando apenas a aprovação do Senado para tornar lei seu projeto de regulação do mercado da maconha, o presidente uruguaio, José “Pepe” Mujica, aproveitou o embalo da vitória na Câmara e enviou ao Parlamento uma outra proposta polêmica. Desta vez, para que o Estado passe a controlar também a distribuição, venda e consumo de álcool.
O texto prevê a proibição da venda de bebidas alcoólicas em todo país entre 22h e 8h, à exceção de estabelecimentos que tenham licença. Se aprovado, o projeto também impedirá a comercialização em “centros educativos, locais onde haja eventos esportivos ou espetáculos culturais”. Promoções capazes de alavancar o consumo, como as feitas no chamado happy hour (os clássicos encontros após o horário de trabalho) e incentivos como o refil - sistema pelo qual o cliente paga apenas uma bebida e pode repeti-la quanta vezes que quiser - também ficariam proibidas.
- A proposta causou surpresa e muitos já se perguntam até onde chegará esta onda de reformas e interferência do Estado na vida das pessoas - comentou o jornalista Dario Isgleas, do diário uruguaio “El País”.
Suspeita de barganha
A iniciativa seria do deputado Dario Pérez, do bloco governista de esquerda Frente Ampla (que governa o país desde 2005). Comentava-se nos corredores do Congresso que, após meses de debates internos, ele finalmente cedeu às pressões dos aliados - apesar de ter expressado divergências e questionado uma medida “que não nasceu do coração do povo e sim nas alturas do poder”.
Segundo Isgleas, alguns congressistas especulavam ontem que esse projeto possa ter sido uma condição imposta por Pérez para apoiar o presidente.
- Existe a sensação de que foi uma clara troca política: o deputado votou a favor da maconha, mas exigiu algo que para ele é muito mais importante - avaliou o jornalista.
Seja qual for o pano de fundo dessa nova polêmica, a proposta chegou ao Parlamento no mesmo dia em que o Uruguai ficou sabendo que lidera o ranking mundial de consumo de uísque, elaborado pela empresa de consultoria Euromonitor Internacional. Os dados mostraram que em 2012 os uruguaios beberam, em média 2,4 litros por ano - bem acima do consumo de franceses e americanos.
Se o projeto se tornar lei, também serão reforçadas as medidas para impedir a venda de álcool a menores de idade e diferenciar claramente as bebidas não alcoólicas nos supermercados. Através de uma Unidade Reguladora de Bebidas Alcoólicas, o Estado uruguaio regularia “as atividades de distribuição, comercialização, consumo, promoção, patrocínio e publicidade de bebidas alcoólicas”.
‘Não é um viva à erva’
Embora o projeto sobre a maconha ainda dependa de uma votação no Senado, onde os governistas são maioria, a oposição já antecipou sua intenção de convocar um referendo para tentar impedir a aplicação da medida. Para isso, após a provável aprovação da lei, os partidos opositores deverão recolher assinaturas equivalentes a 2% do padrão eleitoral (cerca de 50 mil).
Alheio às polêmicas, o presidente parecia otimista. Mujica voltou a defender seu projeto de regulamentação da venda e consumo de maconha e disse entender os grupos da sociedade que se opõem à iniciativa.
- Somos um país de velhos que custa a entender os jovens - sentenciou ele. - A regulamentação é para enfrentar a batalha do narcotráfico, que arrasa com tudo. A lei não é um ‘viva à erva’; é para regulamentar algo que já existe e está debaixo do nosso nariz, para acabar com a clandestinidade.
Mujica continuou, em seu estilo informal:
- Se o consumidor está identificado, podemos influir quando ele passa do ponto. Uma coisa é que fume um baseado, outra é que se perca no vício e que ninguém consiga tirá-lo da roubada.
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O Globo 14.05.2013
Presidente da Câmara pede retirada de advertências em bebidas alcoólicas
Vinicius Sassine
BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pediu a retirada da proposta de rotular bebidas alcoólicas com mensagens sobre o mal do álcool à saúde, tópico incluído pelo deputado e relator Givaldo Carimbão (PSB-AL) no projeto que altera a Lei de Drogas. Nas negociações para incluir o projeto na pauta de votações do plenário da Câmara, Alves pediu que Carimbão deixe de fora a ideia de incluir advertências nas embalagens de bebidas alcoólicas, a exemplo do que já é feito com os maços de cigarro. O mesmo pedido foi feito pelo líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).


Além de Henrique Alves, deputado tucano
foi outro que solicitou exclusão dos males do álcool nos rótulos
O projeto de lei, sob a relatoria de Carimbão, prevê internações involuntárias de dependentes de drogas e financiamento a comunidades terapêuticas, entidades de cunho religioso que abrigam dependentes em abstinência. O texto vai além e, na comissão especial criada para debater o projeto, o relator incluiu uma sessão específica para o álcool, uma droga lícita. Um artigo e dois parágrafos especificam que o rótulo de bebidas alcoólicas “deverá conter advertência sobre seus malefícios, segundo frases estabelecidas pelo órgão competente”. Imagens devem acompanhar as mensagens, que precisam ser trocadas a cada cinco meses, conforme a proposta.
O texto não recebeu qualquer objeção do Palácio do Planalto. O acordo costurado na Casa Civil da Presidência manteve intacta a especificação para as bebidas alcoólicas. As restrições surgiram no Congresso, onde é forte o lobby das indústrias de bebidas. Nas eleições em 2010, grandes cervejarias doaram pelo menos R$ 6 milhões a candidatos, a grande maioria deles na disputa por um mandato de deputado federal. O comitê financeiro do PMDB no Rio Grande do Norte recebeu R$ 70 mil em dinheiro de uma dessas indústrias, conforme registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Carimbão nega que o presidente da Câmara tenha condicionado a inclusão do projeto na pauta de votações à retirada do tópico sobre os rótulos das bebidas alcoólicas. Em razão do tumulto da votação da MP dos Portos, não há previsão de quando a votação ocorrerá.
— Ele me perguntou se era possível retirar e separar a questão das drogas lícitas e ilícitas. Se eu sentir que isso pode derrubar o projeto como um todo no momento da votação, posso retirar — disse o relator.
Na comissão especial, segundo Carimbão, as sugestões para as bebidas alcoólicas eram ainda mais amplas, com a proibição de propaganda dos produtos. Esse item foi rejeitado pelos deputados, capitaneados pelo autor do projeto, deputado Osmar Terra (PMDB-RS).
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Agência Brasil 17/04/2013
Senado torna crime venda de bebida alcoólica para menores de 18 anos
Marcos Chagas
Brasília – A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou hoje (17) projeto de lei que criminaliza a venda, fornecimento (inclusive gratuito), servir ou entregar bebida alcoólica a menores de 18 anos de idade. Apreciada em turno suplementar – segunda votação – a matéria segue para avaliação da Câmara dos Deputados.
A proposta aprovada na comissão, de autoria do senador Humberto Costa (PT-PE), excluiu dispositivo da Lei de Contravenção Penal, datada da década de 40, que pune de forma mais branda a venda de bebida às crianças e adolescentes. O relator Benedito de Lira (PP-AL) destacou que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) "já considera implicitamente" esse comércio como crime, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem determinado, com frequência, as punições com base na Lei de Contravenção Penal, que é a legislação em vigor.
"O senador Humberto Costa, no seu projeto de lei, diz que a iniciativa irá resolver controvérsia jurídica acerca de qual procedimento aplicar nos casos de venda de bebida alcoólica a criança ou adolescente: se o ato deve ser tratado como contravenção ou como crime", frisou o relator.
Os senadores estabeleceram que os vendedores ou fornecedores de bebida alcoólica processados e condenados pela Justiça deverão cumprir pena de dois a quatro anos de detenção. O projeto prevê multa de R$ 3 mil a R$ 10 mil aos estabelecimentos comerciais punidos e estes ficarão interditados até a efetivação do pagamento.
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O Estado de S.Paulo 13.04.2013
Entre os mais pobres, 71% abusam do álcool
Consumo cresce mais entre os brasileiros com menos renda, mostra estudo da Unifesp
Mônica Reolom
Sete entre cada dez brasileiros que ganham menos de R$ 1 mil por mês bebem de forma abusiva. O consumo, que já era bastante expressivo, aumentou muito nessa parcela da população nos últimos seis anos, segundo o Levantamento Nacional de Álcool, feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“O fenômeno neutraliza benefícios da melhoria de renda e ajuda a perpetuar o ciclo de baixa qualidade de vida”, avalia o coordenador do trabalho, Ronaldo Laranjeira, da Unifesp.
O levantamento mostra que, quanto menor a renda, maior o consumo excessivo de álcool. Na classe E, 71% bebem de forma exagerada; na C o índice é de 60%, na B de 56% e na A de 45%. A lógica se repete quando se analisa o crescimento do consumo excessivo entre os diferentes grupos sociais. Quanto menor a renda, maior o aumento no período avaliado, de 20006 a 2012.
O estudo foi feito com base em dados de 4.607 pessoas com mais de 14 anos, coletados em 149 municípios.
Para homens, é considerado beber de forma abusiva o consumo de ao menos cinco doses de bebida em um período de duas horas. Entre mulheres, a relação é de quatro doses em duas horas. Uma dose equivale a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de pinga.
Segundo Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto Data Popular, especializado em pesquisas de consumo nas classes C e D, a melhora do padrão de vida promove a diversificação de compras de produtos industrializados. E, assim, o álcool vem ganhando espaço. O Data Popular observou dois movimentos que evidenciam a melhoria da renda, que se destacam no Nordeste: “Quem começa a ganhar mais dinheiro na classe C passa a comprar destilados como uísque e vodka, enquanto as classes D e E mudam da pinga para a cerveja”.
Meirelles relata as razões para o consumo ter se modificado. “Antes, a bebida era vinculada ao “esquecer da vida”; o consumo de álcool principalmente nas classes C e D era atrelado a uma espécie de fuga. O que a gente começa a encontrar hoje é o álcool associado aos momentos de lazer, entretenimento e celebração.”
Saúde pública.
Para Laranjeira, o fenômeno trará problemas a curto e médio prazo. “Não tenho dúvida de que, dentro de alguns anos, esse aumento poderá ser visto nas contas públicas.” Ele observa que as classes menos privilegiadas dependem essencialmente de serviços públicos de saúde. “O consumo excessivo de bebidas alcoólicas aumenta o risco de câncer e outras doenças. Isso acabará no SUS.”
L., de 61 anos, é um exemplo de quem teve de recorrer à rede pública. Em tratamento há dois anos e meio, ele conta que passou a beber quando era adolescente, mas foi aos 50 anos que percebeu que a situação estava fora de controle. “Começava às 8 horas e continuava ao longo do dia.”
L. faz artesanato em madeira com a mulher, mas a renda dos dois não chega a dois salários mínimos. “A falta de perspectivas financeiras piora a situação. Problemas com dinheiro me estimulam a beber”, diz.
      Para o médico Vilmar Ezequiel dos Santos, gerente do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Santana, é preciso compreender o consumo do álcool em cada uma das classes sociais. “A forma de consumir, o valor que se dá ao consumo e o desfecho do problema em cada uma das camadas da sociedade são diversos.” Embora tenha havido mudanças, Santos destaca que nas classes D e E o álcool é socialmente mais aceitável.
     De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil tem 329 Caps, com capacidade para realizar 7,8 milhões de atendimentos ao ano. De 2011 para 2012, os procedimentos aumentaram 25,8%.
     Laranjeira diz que os resultados do estudo evidenciam o quanto as pessoas mais pobres sofrem com a ausência de uma estratégia efetiva do governo para a prevenção do abuso de álcool. “Essa política é acovardada”, constata. “A única mensagem que ouvimos é a de não associar direção e bebida. Todos, incluindo o Ministério da Saúde, ficam cheios de dedos para colocar em prática ações mais agressivas.”
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Estadão 10.04.2013
Consumo abusivo de álcool no Brasil cresce mais de 30% em seis anos
Aumento ocorre especialmente entre as mulheres jovens; foram entrevistadas
Fernanda Bassette
O consumo abusivo de álcool cresceu 31,1% na população brasileira nos últimos seis anos, especialmente entre as mulheres jovens, Os dados constam do 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) divulgado nesta quarta-feira por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Foram entrevistadas 4.607 pessoas com 14 anos ou mais em 149 municípios brasileiros.
Houve um aumento expressivo do “beber em binge”, um indicador de consumo nocivo de álcool, onde a pessoa ingere de 4 a 5 doses em um período de menos de duas horas.
Apesar de a pesquisa demonstrar que metade da população brasileira não consome álcool, houve um aumento geral de 20% na frequência do uso de bebidas alcoólicas. “Metade da população não bebe, isso desmistifica aquela ideia de que todo mundo bebe. O que preocupa nesses resultados é que aumentou em 20% o consumo  na outra metade”, diz o psiquiatra e professor Ronaldo Laranjeira, um dos autores da pesquisa.
Lei seca
Um dos dados positivos da pesquisa é que, depois que a Lei Seca entrou em vigor, caiu 21%  o número de pessoas que relataram ter bebido e dirigido no último ano – o que demonstra uma tendência de diminuição desse hábito.
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FSP 11.04.2013
Consumo excessivo de álcool cresce 24% entre as mulheres
Entre 2006 e 2012, aumentou para 18,5% a parcela de brasileiras que tomam quatro doses ou mais em duas horas.
Números são de estudo nacional sobre consumo de álcool que entrevistou mais de 4.600 brasileiros.
Cláudia Collucci
Fernando Tadeu Moraes
As mulheres estão bebendo mais e com mais frequência. Nos últimos seis anos, a proporção das que consomem álcool de maneira excessiva aumentou 24%, passando de 15% para 18,5% das brasileiras.
É o que revela o segundo levantamento nacional de álcool, divulgado ontem pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Foram entrevistadas 4.607 pessoas com 14 anos ou mais em 149 municípios brasileiros. Desse total, 1.157 eram adolescentes.
Segundo Ronaldo Laranjeira, professor titular de psiquiatria da Unifesp e coordenador do levantamento, o aumento do consumo de álcool por mulheres reflete a maior frequência do ato de beber socialmente, e não em casa.
"Mulheres que socializam como homens estão bebendo tanto quanto eles."
Esse consumo excessivo de álcool é o que os especialistas chamam de "binge", isto é, a ingestão de quatro unidades ou mais de bebida, para mulheres, e cinco unidades ou mais, para homens, em um período curto de tempo (duas horas).
Na pesquisa, uma unidade de álcool equivale a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de vodca.
Entre 2006 e 2012, houve um aumento de 31% nessa forma de consumo entre os brasileiros que bebem.
Os dados mostram que, no geral, houve um aumento de 20% na proporção de bebedores frequentes (uma vez por semana ou mais).
Encher A Lata
Segundo Laranjeira, o brasileiro tem um comportamento diferente em relação à bebida do observado em outras partes do mundo.
"Na Europa e nos EUA, há uma taxa baixa de abstêmios e uma taxa alta de bebedores moderados. Aqui, há muitos abstêmios e, comparando com os dados de 2006, quem já bebia passou a beber mais e com maior frequência", disse o psiquiatra.
O levantamento mostra que quase um em cinco bebedores frequentes consome álcool de forma abusiva e tem um comportamento compatível com dependência.
Os dados também revelam que 32% dos adultos que bebem dizem já não terem sido capazes de conseguir parar de beber em alguma ocasião.
É o caso da funcionária pública federal Joyce, 49. Ela conta que sempre bebeu acima da média das amigas. "Enquanto elas estavam no primeiro copo, eu já estava no terceiro." Após os 30 anos, ela perdeu o controle.
"Queria parar, mas não conseguia. Não bastava o fim de semana, comecei a beber também durante a semana. Não rendia no trabalho."
Assim como ela, 8% dos entrevistados que bebem admitem que o uso de álcool já teve um efeito prejudicial no trabalho e 9% relataram que houve o prejuízo à família ou ao relacionamento.
"Minha filha já me viu sair bêbada de um bar. A sorte é que ela foi estudar no interior e não presenciou as piores cenas de bebedeira", diz Joyce, livre do vício há dez anos.
Para Laranjeira, o aumento no consumo excessivo de álcool pela população brasileira reflete o aumento da renda nos últimos anos, principalmente entre as classes mais baixas.
Enquanto na classe A o consumo "binge" se manteve estável, nas classes C, D e E houve, respectivamente, um aumento de 43%, 43% e 48% nesse comportamento.
Os efeitos da Lei Seca também já podem ser percebidos: houve diminuição de 21% na proporção de pessoas que relatam terem dirigido após o consumo de álcool no último ano, em relação a 2006.
Para Ilana Pinsky, professora da Unifesp que também participou do estudo, entre as medidas que podem reduzir o consumo estão o aumento de preço das bebidas e a restrição dos locais de venda e da publicidade. Ela defende ainda mais ações de prevenção e tratamento.
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O Globo 19.02.2013
De cada 5 vítimas de acidentes no trânsito, uma ingeriu bebida alcoólica
Ministério da Saúde aponta que em 2011 foram gastos R$ 200 milhões com internações
Jailton de Carvalho
BRASÍLIA – Levantamento do Ministério da Saúde divulgado nesta terça-feira aponta que uma em cada cinco vítimas de transito atendidas em prontos-socorros do país ingeriu algum tipo de bebida alcoólica. Deste grupo, 22,3% são motoristas. Para o ministro Alexandre Padilha, a relação entre álcool e acidente é direta, e tem alto custo social e financeiro para o país.
Em 2011, o SUS gastou R$ 200 milhões só com internações após acidentes de trânsito. O Brasil está em quinto lugar do ranking mundial de violência em ruas e estradas. São registradas em média 42 mil mortes em acidentes de carro no país a cada ano. É um massacre maior do que qualquer guerra em curso. Para Padilha, esses números têm que ser reduzidos e uma das alternativas que ele aponta é a continuidade das campanhas e a forte fiscalização das autoridades de transito.
- Dados aponta que os estados que apertaram ações de blitz em função da lei seca conseguiram redução de internações e acidentes – disse o ministro.
O levantamento do ministério faz parte do programa Viva (Vigilância de Violência e Acidentes). O ministério entrevistou 47 mil pessoas, em 71 hospitais, de todas as capitais do país em 2011. Os dados foram analisados no ano passado e divulgados hoje.
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O Globo 01.01.2013
Rússia restringe venda de cerveja para combater alcoolismo.
País também aumentou o preço da vodka e baniu publicidade de bebidas alcoólicas.
MOSCOU - A Rússia vai restringir a venda de cerveja a partir de 1° de janeiro, em uma tentativa para combater o alcoolismo no país, noticiou a agência de notícias Interfax. O presidente russo, Vladimir Putin, já admitiu que o alcoolismo é um sério no país, que tem uma das maiores taxas de consumo de álcool do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O ex-presidente Dmitri Medvedev havia assinado emendas a leis sobre álcool em julho de 2011, a fim de reclassificar cerveja como bebida de alto teor alcoólico. A nova lei, que entra em vigor nesta terça-feira, restringe a quantidade de cerveja que lojas e restaurantes podem vender e proíbe o comércio dessas bebidas entre 23h e 8h, segundo a Interfax.
A cerveja também não poderá ser comercializada nos quiosques, que são populares pontos de venda de bebidas em Moscou.
Em 2012, os impostos russos sobre a cerveja cresceram em 20% e, segundo um planejamento do Ministério das Finanças aprovado em 2011, crescerão mais 25% em 2013, e 20% em 2014. A Rússia também elevou o preço mínimo para a vodka e baniu publicidade de bebidas alcoólicas, inclusive na internet.
Companhias de cerveja, incluindo as populares Carlsberg e a Anheuser-Busch InBev, têm confiado no mercado crescente das bebidas na Rússia para compensar perdas em países europeus mais afetados pela crise. No entanto, o sucesso inicial de tal comércio tem grandes chances de ser afetado pelas restrições do governo nos últimos anos.
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Álcool é uma das principais causas de mortes no mundo
90% dos dependentes de álcool começam a beber na adolescência, diz especialista.
15% dos alcoólatras morrerão de cirrose e 20% a 30% dos casos de câncer estão associados ao álcool. A afirmação, do psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) na Escola Paulista de Medicina da Unifesp, é chocante, mas retrata o cenário atual do Brasil, que ocupa o quarto lugar no ranking de países da América que mais consomem álcool, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Considerada uma droga lícita, o álcool figura entre os quatro fatores de risco que desencadeiam doenças crônicas levando à morte, segundo relatório recém divulgado pela OMS. O cigarro, a má alimentação e o sedentarismo são as outras causas apontadas pelo órgão, o que significa que os aspectos comportamentais configuram os principais motivos de mortes no mundo.
“A carga de doença ocasionada pelo álcool é muito alta, de 10% a 12% no Brasil, maior que o cigarro”, ressalta o especialista, também PHD em dependência química na Inglaterra. Segundo ele, não há um controle social do álcool no País, onde existem aproximadamente 1 milhão de pontos de venda, e as propagandas comerciais são descontroladas, o que leva a um aumento do custo das doenças provocadas pela droga.
No caminho de países da Europa que proíbem a propaganda do álcool ou mesmo os Estados Unidos, onde a idade mínima para o consumo é de 21 anos e a fiscalização é rigorosa, o Brasil assume um importante passo na saúde pública, na visão do psiquiatra. “A nova lei adotada pelo estado de São Paulo que proíbe o consumo e a venda de bebida alcoólica para menores de 18 anos é a principal medida de prevenção assumida atualmente no Brasil”, destaca. Para ele, outra atitude “é a proibição da propaganda nos meios de comunicação, cujo projeto de lei tramita no Congresso”, comemora.
A raiz do problema
Embora grande parte dos malefícios apareça entre os 40 e 50 anos de idade, é na adolescência que o consumo de álcool se inicia. Segundo o Dr. Laranjeira, 90% dos adultos alcoólatras começam a beber antes dos 18 anos. No entanto, é geralmente na fase adulta que os problemas comumente associados ao álcool se apresentam, como as doenças gastrointestinais e as cardiovasculares, o câncer, e as mortes violentas, incluindo acidentes de trânsito e homicídios. Por isso a importância dos pais se colocarem no papel de protagonistas nesta missão e assumirem o compromisso de controlar o consumo da bebida de seus filhos, não somente em ambientes externos, mas, sobretudo, dentro da própria casa.
De acordo com a OMS, são três os padrões para o consumo de álcool. O primeiro é o beber de baixo risco, em que um homem adulto e saudável pode consumir, por dia, até dois copos de vinho, o equivalente a dois copos de chope ou 50 ml de destilado. No caso das mulheres, o aconselhado é a metade da dose, já que elas são mais sensíveis biologicamente. Ao ultrapassar esse limite, o indivíduo passa a fazer uso nocivo do álcool, mas ainda consegue passar dias longe da bebida. Quando, no entanto, ele sente a necessidade de consumir bebida alcoólica diariamente, pode ser considerado um dependente químico. Ao ‘beber socialmente’ aos finais de semana, somente, a pessoa acaba fazendo o uso nocivo do álcool, segundo o Dr. Laranjeira, já que o consumo geralmente excede o recomendado para um beber de baixo risco.
Culturalmente aceitável e estimulado pela permissiva sociedade brasileira, o consumo excessivo de álcool no País segue presente nas drásticas estatísticas que remetem ao tema. Problema de saúde pública, a bebida alcoólica deve ser atacada pela raiz, seja no ambiente familiar ou ainda no controle das primeiras doses, pois qualquer passo adiante as consequências podem ser irreversíveis.
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O Globo 13.12.2012
Alcoolismo é o principal fator de risco para a saúde dos brasileiros
Pressão alta e obesidade vêm logo atrás, mostra estudo
RIO - O alcoolismo é o principal fator de risco de saúde no Brasil. A informação é da Carga Global de Doenças 2010, documento organizado pelo Instituto de Métrica e Avaliação de Saúde (IHME) da Universidade de Washington e com parceria de dezenas de universidades ao redor do mundo. O resultado do esforço global, que será divulgado hoje na revista científica The Lancet, lista 67 problemas que mais afetam a população em todo o mundo. No planeta, o maior mal é a pressão arterial alta, que em 2010, ano referência da pesquisa, matou 9 milhões de pessoas e afeta 173 milhões de indivíduos.
     Cada região, porém, tem uma lista particular. O Brasil foi colocado em uma área denominada “América Latina Tropical”, que inclui também o Paraguai. A estimativa do estudo é que o alcoolismo afete cerca de 5,64 milhões de pessoas nestes países. Em 2010, foram aproximadamente 151 mil mortes pelo problema. O segundo fator de risco é a pressão alta, responsável por mais mortes (cerca de 274 mil), mas que afeta em torno de 5,3 milhões de indivíduos. Em terceiro lugar, a obesidade, com 4 milhões de pacientes e 141 mil falecimentos naquele ano.
     Chama a atenção, no estudo, a diminuição da importância de riscos relacionados à subnutrição. A mortalidade infantil pelo problema caiu 60% entre 1970 e 2010. Passou de 16,4 milhões por ano para 6,8 milhões.
— Há 20 anos, as pessoas não tinham o suficiente para comer. Hoje, há muita comida e alimentos pouco saudáveis, mesmo em países em desenvolvimento — declara Majid Ezzati, um dos autores do estudo pela Escola de Saúde Pública do Imperial College de Londres, na Inglaterra.
     Para o psiquiatra Nelson Caldas, da Divisão de Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o estudo mostra que houve uma preocupação em relação ao aumento da expectativa de vida, mas não com a conscientização de hábitos saudáveis.
— O alcoolismo pode levar a inúmeros problemas como, inclusive, obesidade e pressão alta, que estão no topo da lista É o caso de pensar se as campanhas de alerta sobre o problema têm sido realmente eficazes. — comenta o psiquiatra Nelson Caldas, da Divisão de Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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O Globo 21.10.2012
'Drinking games' viram atrativo da noite jovem do Rio
Mudança do perfil de festa chama atenção para a quantidade de bebida alcoólica
Marina Filgueiras
RIO — À meia-noite do dia 28 de setembro, uma sexta-feira, quem passou pela Rua Mem de Sá, na Lapa, viu uma cena exótica: uma fila de jovens vestidos como vikings e valquírias na porta do Teatro Odisseia. Era uma espécie de gincana. Quem fosse fantasiado daquela maneira à Taverna Viking, festa de temática medieval que ocorre uma vez por mês na casa, ganhava doses liberadas de hidromel, a bebida típica dos vikings. Naquela noite, seriam esvaziadas 24 garrafas diretamente na boca dos frequentadores — a 25ª seguiria como prêmio ao casal que ganhasse o Concurso de Beijo realizado no auge do evento, lá pelas 3h. Não muito longe dali, no Espaço Acústica, na Praça Tiradentes, a festa Tropical Bacanal tinha uma brincadeira diferente: por volta das 2h, três produtores invadiram a pista de dança com bambolês e uma garrafa de uísque. Quem conseguisse rodar o artefato na cintura por dez segundos ganhava uma talagada.
No sábado seguinte, véspera de eleição municipal, a Wonka Party se inspirou no filme “A fantástica fábrica de chocolate” para atrair público: cupons dourados escondidos no salão podiam ser trocados por chocolates ou doses de bebida no bar. Na sexta-feira posterior, dia 12 de outubro, nem a chuva torrencial que lavou a Lapa tirou da porta do Odisseia a fila para entrar na Pop Up!, festa com farta distribuição de cachaça e sorteio de barril de cerveja, além do Megabeerbomb, um grande funil com mangueiras acopladas na saída para se beber mais, e mais rapidamente, com a ajuda da gravidade. Usado por até quatro pessoas ao mesmo tempo, o instrumento torna possível tomar uma lata de cerveja em três segundos. Naquela noite, o Megabeerbong foi disputado a tapa pela turma que guardava lugar à beira do palco, onde os DJs o posicionam. Em cada aparição do brinquedo, 12 latas eram derramadas funil abaixo.
Conhecidas como drinking games, as brincadeiras que estimulam o consumo excessivo de álcool hoje são os principais atrativos das festas com público entre 18 e 24 anos que ocupam locais como Fosfobox, em Copacabana; Espaço Franklin, no Centro; e Espaço Rampa, em Botafogo; além do Odisseia e do Espaço Acústica. A despeito da música ou do público, o chamariz são os jogos que envolvem bebida, seja como mote ou premiação. Outros exemplos que chamam a atenção são a festa Tekiller, que tem uma Batalha de Tequila, na qual ganha uma garrafa da bebida quem vira quatro doses primeiro. Em algumas edições, “o primeiro a cair bêbado ganha uma tatuagem”, como escrito na filipeta de divulgação. Ou a American Party, cuja atração principal é o Jager Beer Pong, uma competição em que dois times em lados opostos de uma mesa tentam acertar bolinhas de pingue-pongue no copo dos adversários, obrigando-os a virar uma mistura de cerveja com Jagermeister. Sem falar nas festas com os sugestivos nomes de Higher! ou Allcool Party.
— Antigamente, o mais importante era a música. Hoje em dia, para uma festa ser boa, ela tem que ter muitas atrações. Cada dia aparecem mais festas disputando o mesmo público, se não criarmos um diferencial, não atraímos as pessoas — justifica a produtora Luísa de Castro, de 21 anos, que se formou em Gastronomia e, há quatro meses, trocou o estágio numa fábrica de tortas pelo emprego na produtora de festas Blue Fish, responsável pela Tekiller, Taverna Viking e Bubble Pop, que distribui champanhe. — Festa hoje em dia é igual a cruzeiro. Antes, as pessoas queriam viajar. Hoje em dia, todo mundo quer “fazer um cruzeiro”. O que vale são as atrações, os brindes, as fantasias, os games.
Ideia é importada dos EUA e da Alemanha
Depois do reinado das festas de rock, das festas dos anos 80 e das festas com DJ-celebridade, só para citar as últimas tendências da noite jovem carioca, o público assiste (boquiaberto) o advento das festas comdrinking games. Não é difícil perceber esta mudança de perfil: nosflyers, o estilo de música muitas vezes nem é citado. Em letras garrafais, o destaque fica por conta das brincadeiras importadas de festas americanas (como o Beer Pong) e alemãs (como o Beerbong, usado nas Oktoberfest).
Enquanto tomavam um ar do lado de fora da Bubble Pop, que estreou no Odisseia em 5 de outubro, Luísa e Fernando Castro, de 25 anos, da Blue Fish, explicaram como regulam a distribuição gratuita de álcool:
— Calculamos pelo número de pessoas. Como hoje vieram entre 200 e 300, limitamos a distribuição de champanhe a seis garrafas. Na Taverna, que é bem cheia, liberamos mais. Não acho que brincadeiras estimulem as pessoas a beberem mais do que fariam. Não vou dizer que nunca tivemos problemas, já aconteceu, uma vez ou outra, de alguém sair mal da batalha de tequila, mas não é culpa nossa, a festa é para maiores de idade — alega Fernando.
Assim que completou 18 anos, no ano passado, o estudante de Sistemas de Informação da PUC-Rio Gabriel Sotero começou a sair à noite com os amigos. Insatisfeito com as festas que frequentava, decidiu a criar a sua, “mais animada”, segundo ele. Juntou-se a um amigo DJ da mesma idade e fundou a Wonka Party. Tal qual o personagem Willy Wonka, do filme, eles distribuem chocolates e escondem cupons dourados na pista. Para animar ainda mais o grande pique esconde em que se transforma a festa, Gabriel fez um curso de DJ este ano e, quando está no comando das picapes (ou laptops), vai de Lady Gaga a Xuxa. Apesar da pouca experiência na noite, o estudante atrai cerca de mil pessoas por evento, com entrada a R$ 30.
— Sem dúvida a Wonka fica lotada por causa da quantidade de brincadeiras. Em toda edição a gente tenta inovar, fazer algo diferente — diz Gabriel, que relativiza o estímulo ao consumo de álcool em seus eventos: — As pessoas saem de casa para beber, faz parte da noite, as brincadeiras são apenas mais uma atração.
Criador da 7 Day Weekend, primeira a usar um Beerbong, o produtor musical e DJ Bruno Salgado de Oliveira, conhecido como Sal, de 27 anos, acha que essa mudança de estilo da noite do Rio é natural.
— Na 7 Day, o principal atrativo são as músicas diferentes que o frequentador só vai ouvir aqui. Fazemos muita pesquisa musical. Mas também queremos ver as pessoas se divertirem, e acho que é esta a função do Beerbong. Não acho que isso estimule o consumo de álcool. Há muitas festas cujo principal interesse é lotar a casa, custe o que custar, dando garrafas de bebida, e isso sou contra. Mas a noite do Rio é muito plural, tem espaço para todo tipo de evento — comenta Sal, que levou o brinquedo pela primeira vez à festa por acaso: tinha usado o instrumento dias antes no clipe de sua banda.
Empresas entram na onda
De olho no mercado que esse tipo de evento fez surgir, o administrador de empresas carioca André Bonilha, de 26 anos, abriu em fevereiro a loja virtual Vira Vira, que, faz questão de frisar, é a “primeira empresa brasileira de drinking games registrada na Receita Federal”. No site, são vendidos itens como o Beerbong simples (R$ 29,90) e o quádruplo (R$ 79,90), além de outros apetrechos. Os principais compradores, no entanto, são os paulistas — o que leva a crer que a moda também chegou a outras cidades do país.
— Quem mais compra com a gente é o pessoal de Campinas, principalmente para eventos de universidade, chopadas e festas de rodeio — comenta André, que contabiliza em R$ 200 mil seu rendimento este ano.
A ideia da loja surgiu depois de uma temporada de estudos em Nova York, em 2009.
— Lá, todas as festas de faculdade tinham drinking games e campeonatos de Beer Pong. Quando voltei, percebi que isso não era comum no Brasil. Achei que tinha tudo a ver com nosso espírito de festa e chamei três amigos para entrar no negócio — explica André, que faz demonstrações em festas para divulgar os produtos. — As pessoas adoram brincar. O bong nada mais é do que um acessório a mais para a descontração.
É o que pensam muitos dos frequentadores das nove festas em que a Revista O GLOBO esteve nas últimas três semanas. Para os jovens ouvidos, a distribuição de bebida é fator decisivo na hora de escolher em qual evento ir. Se for com alguma brincadeira, melhor ainda. Fantasiada de valquíria na fila da Taverna Viking, a estudante Mellyna Barone, que até a meia-noite do dia em questão tinha 17 anos, veio de Arraial do Cabo, na Região dos Lagos, onde vive, especialmente para comemorar o aniversário de 18 anos na festa medieval, cujo sucesso ela acompanhava pelo Facebook. Com uma amiga, ela queria conhecer (e garantir) o famoso hidromel, bebida fermentada à base de mel, de origem medieval, citado no livro “O Senhor dos Anéis”, que seria liberado em doses a noite toda.
— Meu sonho era vir aqui. Convenci meus pais a deixarem, e pelo que eu via na internet, é a mais animada — disse Mellyna, que esperou dar meia-noite para entrar, já que nesses eventos a entrada de menores é proibida.
Nem todas as pessoas que vivem a noite, no entanto, veem os drinking games como uma simples descontração. O DJ Tito Figueiredo, de 37 anos, 11 deles à frente da festa de rock Paradiso, é crítico ferrenho da nova moda:
— As festas hoje são um freak show, com rinha de tequila, touro mecânico, distribuição de pirulito. Para compensar a falta de conteúdo artístico, de qualidade musical, eles encontraram essa forma banal de diversão, que acaba estimulando o alcoolismo. O álcool é uma droga que mata, não é uma brincadeira — lamenta Tito. — Eu sempre fiz promoções na Paradiso, mas relacionadas ao conteúdo musical da festa. Para ganhar descontos, as pessoas tinham que participar dos debates sobre as músicas que tocavam nos sets na comunidade do Orkut.
O produtor musical e DJ Nado Leal faz coro. Trabalhando há 22 anos em festas e grandes eventos da cidade — Rock in Rio, réveillon de Copacabana, Fashion Rio... —, ele está assustado com a nova cena. Além de beberem mais, diz ele, os jovens gastam muito mais.
— A noite mudou radicalmente. Hoje vejo garotos de 20 anos gastando R$ 200 de uma vez. Antes eles não bebiam uísque, como hoje. Eu percebo que esse novo comportamento começou com a entrada dos energéticos na noite. Essas bebidas camuflam o gosto do álcool, eles bebem em maior quantidade. O estímulo que essas festas dão à bebedeira é muito louco. Mesmo os que saem de casa com o dinheiro contado agora bebem o equivalente a muito mais, pela distribuição gratuita de doses — atesta Nado, que não aceita tocar em festas com bebida de graça. — As características de uma boa festa estão sumindo, a boa música, o ambiente naturalmente descontraído, a espontaneidade. O problema é isso se tornar um padrão, o que eu temo que vá acontecer, pois são esses eventos que estão injetando dinheiro na noite da cidade.
Com 25 anos de carreira, o DJ Wilson Power, de 43, parou de beber há quatro. E apesar de tocar em festas que têm os drinking games como atrativo, ele vê com preocupação esse consumo excessivo de álcool:
— De uns cinco anos para cá, a noite mudou bastante. Eu sempre toquei porque eu queria atrair as pessoas pela música. Hoje, é a última coisa que importa. E esse vazio está sendo preenchido com álcool. Sou contra essa banalização da bebida como trunfo para encher as festas. Eu sou testemunha desse processo: se eu não parasse de beber, ia morrer. Já vi muita gente ficar pelo caminho, e é nisso que eu penso quando vejo a garotada em coma alcoólico em festas que deveriam estar se divertindo, dançando, azarando.
Diversão perigosa
Responsáveis pela locação para as festas, os proprietários dos espaços têm um posicionamento comprometido: se por um lado têm o faturamento do bar prejudicado pela distribuição gratuita de bebidas (os produtores das festas normalmente ficam com o dinheiro da entrada, mas o lucro do bar é do estabelecimento), por outro, sabem que são estes os eventos que mais atraem público atualmente.
— Uma show de MPB no Odisseia não atrai nem 200 pagantes, enquanto qualquer festa dessas leva 700 pessoas à casa — observa um dos sócios, Áureo César Lima, de 37 anos, que considera os drinking games “mais do mesmo”. — Essas brincadeiras de hoje são as promoções de bebida de antes. A gente faz um controle, exige que a bebida distribuída seja comprada no nosso bar, conversa com os responsáveis antes, para evitar excessos, até porque exagero não traz lucro para a casa, só traz problemas.
No Espaço Acústica, o gerente Marcos Corrêa, de 31 anos, reconhece que muitas festas da casa “viraram uma chopada” (lá, na festa Tropical Bacanal, por volta das 4h40m, duas jovens saíram carregadas; e na Wonka Party, um rapaz alcoolizado foi abandonado por dois amigos dentro de um táxi).
— O ideal é que não tivesse nada disso, mas nós também temos que acompanhar o movimento natural da noite, procurar entender essa geração, que, apesar de ser mais histérica, é também mais pacífica — diz Marcos, que cancelou um evento este ano quando percebeu que o organizador tinha levado 60 litros de vodca comprada fora para distribuir na festa, contrariando as regras da casa. — Eu não escolho uma festa porque me dão tequila na boca, mas essa é só a minha opinião, não a realidade dessa nova cena.
O estudo mais recente sobre o consumo de álcool por este público específico foi divulgado em 2010 pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad). Segundo o “I Levantamento nacional sobre o uso do álcool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras”, 86,2% dos universitários já usaram álcool em algum momento da vida, sendo que 79,2% experimentaram antes dos 18 anos, e 54% antes dos 16 anos. A pesquisa concluiu que a faixa etária de 18 a 24 anos é a que mais consome álcool no país. São eles, também, os que mais praticam o que os especialistas chamam de binge drinking: o consumo pesado episódico, classificado como cinco doses numa noite para homens e quatro para mulheres. Entre os homens, 29,2% já são bebedores de médio e alto risco; entre mulheres, 16,2%.
— Quanto mais precoce o abuso do álcool, maiores as chances de desenvolver dependência — diz a psicoterapeuta Ivone Ponczek, diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da Uerj.
Para ela, os drinking games banalizam os riscos do alcoolismo:
— O álcool demora a se instalar como dependência, por isso os indícios não são identificados imediatamente. O organismo jovem é mais sensível, metaboliza o álcool de maneira mais lenta. É importante tirar o cunho moralista do debate, todos tomam um porre um dia. Mas essa forma de lidar com a bebida pode ser destrutiva, pois o limite entre o lúdico e o perigoso fica diluído. Sem falar nos problemas relacionados, como acidentes de trânsito, atos de violência, abuso sexual etc.
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19/08/2012  iG
Licença médica para tratar alcoolismo bate recorde no País
Em março foram concedidos 4.120 benefícios, uma média de cinco por hora. Aumento de afastamentos do emprego nos últimos seis anos foi de 69,6%
Fernanda Aranda
Licenças trabalhistas para tratar alcoolismo e outras drogas crescem 69% em cinco anos
O mês de março fechou com um recorde histórico de licenças médicas concedidas para trabalhadores, de todos os setores, se tratarem de dependência química.
Em 31 dias, 4.120 benefícios previdenciários do tipo foram registrados pelo governo federal, uma média de cinco afastamentos por hora.
O levantamento feito pelo iG Saúde nos bancos de dados do Ministério da Previdência Social mostra que o aumento é anual e gradativo. Entre 2006 e 2011, o crescimento acumulado de licenças nesta categoria foi de 69,9%, pulando de 24.489 para 41.534 no último ano.
Na comparação, os afastamentos por dependência química cresceram mais do que o dobro da elevação registrada de postos de trabalho com carteira assinada no País. Enquanto os empregos formais tiveram alta de 6% entre 2010 e 2011 (segundo o IBGE), as licenças deste tipo ampliaram 13,9% no mesmo período. 
Evolução de licenças trabalhistas
Dependência química cresce entre os motivos para o afastamento do trabalho
Gerando gráfico...
INSS
O álcool é a locomotiva do aumento, sendo a droga que mais aparece como responsável por afastar do trabalho por mais de 15 dias médicos, advogados, funcionários da construção civil, professores e todos outros empregados com carteira assinada. Em seguida, probleas com cocaína, maconha e medicamentos calmantes são apontados como motivos para os afastamentos.
Para o diretor do Departamento de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional do Ministério da Previdência, Cid Pimentel, a ampliação de licenças por uso compulsivo de substâncias entorpecentes evidencia três fenômenos: “Há um evidente aumento do consumo de drogas pelos brasileiros e isso repercute, de forma devastadora, no desempenho profissional”, diz.
“Mas há também uma maior sensibilização por parte das empresas em reconhecer a dependência química como uma doença e não mais como uma falha de caráter. Outra influência no aumento é o fato da notificação estar mais precisa. Antes os casos ficavam escondidos”, explica Pimentel.
A vendedora Alice, 20 anos – atualmente em tratamento em uma clínica de reabilitação particular – confirma que bebeu durante o expediente por anos até ser convidada pelo chefe a buscar ajuda especializada. Acredita que muitos clientes sentiam o cheiro etílico das doses de pinga e cerveja, que começava a beber às 10h.
“Meu chefe falou comigo. Disse que me daria todo apoio caso eu procurasse ajuda médica e que poderia voltar a trabalhar depois de recuperada. Eu aceitei a oferta, pedi licença médica de três meses, mas tenho medo de não ter mais trabalho quando sair.”
Portas fechadas
O medo de Alice não seria justificado pelas leis trabalhistas, que garantem 180 dias de estabilidade após tratamento médico. Mas na prática, afirma o coordenador da Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas, Juliano Marfim, ainda há muitas dispensas após a alta dos dependentes.
“Há um preconceito muito forte por parte dos empregadores e, após o tratamento, as demissões são constantes”, afirma.
“Nos nossos cursos de formação de terapeutas para tratar de dependentes químicos, temos um número muito alto de ex-usuários que simplesmente não conseguiram voltar para as suas funções de origem. Eu mesmo, que estou em abstinência há 5 anos, não consegui mais trabalho na área administrativa, onde sempre atuei. Acabei trabalhando com as drogas.”
Mauro, 41 anos, limpo há 9 meses, também não voltou mais para o ramo comercial.
“As portas se fecham”, diz ele que agora trabalha na recuperação de ex-usuários.
“Essa postura por parte das empresas precisa e deveria mudar. Porque a pessoa para conseguir sustentar o vício acaba desenvolvendo algumas habilidades de sedução, de improvisação, de convencimento, por exemplo, que podem ser revertidas positivamente e exploradas no mercado de trabalho”, acredita Marfim.
Rede de apoio
Apesar das dificuldades relatadas pelos ex-dependentes para voltar ao mercado de trabalho, algumas empresas decidiram criar uma rede de apoio para acolher os profissionais envolvidos com álcool e drogas.
Por meio das equipes de recursos humanos e de médicos do trabalho, as instituições fazem a abordagem de funcionários com indícios de abuso de drogas lícitas e ilícitas e estendem a oferta de terapia de reabilitação também às famílias. É o que conta Carlos Netto, diretor de gestão de pessoas do Banco do Brasil, uma das empresas citadas como referência pela Previdência Social na área de atendimento da dependência química.
“Um dos nossos focos de atuação é a reinserção do profissional encaminhado ao tratamento”, conta Netto.
“Ele é gerenciado por nossas equipes e, em alguns casos, realocado em outros setores, ficando mais próximo de casa. Entendemos que o trabalho é um mecanismo importante na recuperação, garante não só a renda, mas a autoestima.”
Relação com a profissão
A dependência de álcool é uma doença de múltiplas causas, influenciada pela genética, pelos hábitos, pela história de vida e também pela ocupação profissional. Os cientistas ainda não conseguem responder com plena certeza as razões concretas que levam uma pessoa ficar viciada, mas as pesquisas encontram cada vez mais um elo com a profissão exercida.
A última publicação que coloca luz nesta relação foi feita por médicos canadenses. Realizado com 10.155 trabalhadores, o estudo avaliou as contribuições da posição hierárquica dentro da empresa e das condições de trabalho, como salário, estresse e demandas físicas e psicológicas, para o consumo indevido do álcool no ambiente de trabalho.
De acordo com estudiosos do Centro de Informações sobre Álcool (Cisa) do Brasil – que avaliaram os resultados – “o cargo profissional é sugerido como um importante fator motivador para o uso e abuso do álcool, muito mais influente do que as condições de trabalho.”
Executivos, diretores e administradores de altas gerências (“upper managers”) formam um grupo com padrão de consumo de alto risco, com propensão de beber exageradamente (10 ou mais doses para mulheres, e 15 ou mais doses para homens) 139% maior do que a apresentada pelos trabalhadores abstêmios ou que não haviam bebido na semana anterior à pesquisa.
No Brasil, inquérito feito pelo Ministério da Saúde já havia constatado que as pessoas com maior escolaridade são as que mais exageram no consumo etílico. Os dados mostram que 20,1% dos adultos com mais de 12 anos de estudo bebem acima da média, índice que cai para 15,9% entre os menos instruídos (com até 8 anos de estudo).
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20 MILHÕES de alcoólatras no Brasil, maioria mulheres!

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Bebida alcoólica atrapalha desenvolvimento do sistema nervoso nos adolescentes

      
       Segundo Pesquisa de Saúde dos Escolares, feita pelo Ministério da Saúde em parceria com o Ministério da Educação, 71,4% dos adolescentes de 13 a 15 anos já experimentaram bebida alcoólica alguma vez na vida. A diretora do Departamento de Análise de Situação de Saúde do Ministério da Saúde, Deborah Malta, lembra que o álcool nocivo para os adolescentes porque gera riscos de violência, gravidez indesejada, sexo sem uso do preservativo, envolvimento em acidentes de trânsito, além do risco de dependência.
O uso crônico pode levar a outros prejuízos no desenvolvimento do sistema nervoso. Podem haver problemas neurológicos que podem afetar a capacidade de decisão, de afirmação e até mesmo fixar esse hábito para vida adulta com consumo crônico do álcool”.
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IG 28.05.2012

Líderes em abuso de álcool são mulheres jovens e homens de meia idade.
Intervenção antes que o excesso vire vício permitiria convívio social com álcool, dizem especialistas.
Fernanda Aranda
Aos 13 anos, Alice virou três doses de pinga de uma vez, para parecer mais velha e descolada na frente dos amigos. Não largou mais a muleta da bebida alcoólica. Aos 56 anos, Manoel bebeu quase três litros de cachaça após perder o emprego e brigar com a mulher. Naquele porre, acredita, firmou o longo casamento com a dependência química.
Ela tão nova, ele na meia-idade. Ambos exemplificam o padrão nocivo de uso de álcool que acaba de ser detectado por uma pesquisa financiada pela Organização Mundial de Saúde. O estudo, chamado Megacity – feito nas Américas e na Europa – foi realizado no Brasil em parceria com o Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP). Foram ouvidos 5.037 adultos da região metropolitana de São Paulo.
 “Enquanto no sexo feminino o maior índice de uso abusivo e de dependência de álcool está na faixa-etária mais jovem (até 24 anos), no recorte masculino esta maioria apareceu mais tarde, após os45”, afirma Camila Magalhães Silveira, autora do estudo no País e coordenadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa).
A diferença, inesperada pelos pesquisadores, mostra uma mudança no comportamento da população dependente, já que há duas décadas a maior parte dos abusadores homens também era concentrada em uma fase mais precoce.
No passado, pontuam os especialistas, para cada cinco usuários problemáticos de álcool existia uma mulher na mesma condição. Atualmente, mostra o estudo, a razão comparativa é de 1 para 1. Elas já bebem tanto quanto eles, mas concentradas em fases distintas.
Curvas opostas
Alice, 23 anos, acumula mais de 120 meses de uso descontrolado “de toda e qualquer coisa alcoólica”, está no grupo de 6% de mulheres que antes mesmo dos 25 já apresentam problemas de saúde graves motivados pela bebida. O índice é mais do que o dobro do identificado entre as com mais de 45 anos – nesta parcela a taxa soma 2,9%.
No sexo masculino, entretanto, a curva é inversa. Os jovens com menos de 25 anos que apresentam as sequelas do consumo exagerado de cerveja, destilados e vinho somam 11,1%, contra 27,6% entre os que já completaram ou passaram dos 45 aniversários (16,5 pontos porcentuais a mais).
Em encontro recente com a reportagem, Manoel conta que sempre bebeu, mas só perdeu o controle “quando tinha família e era pra lá de maduro”. Hoje ele tem 63 anos.
A grande diferença entre as faixas etárias de homens e mulheres nas estatísticas de uso problemático de álcool tem algumas hipóteses.
A primeira explicação é fisiológica, e por si só um fator preocupante, aponta a psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) especializada em drogas, Alessandra Dihel.
“A estrutura hormonal delas é mais vulnerável ao álcool, o que faz com que seja mais precoce nelas a fragilidade diante do consumo de álcool. Para ter os mesmos danos que eles, as jovens precisam beber bem menos e por bem menos tempo.”
Outro fator apontado pela psicóloga especialista em dependência química da clínica Maia, Adriana Talarico, é o gatilho para a utilização nociva de álcool.
“No discurso dos homens, a motivação são as frustrações ao longo da vida, um declínio profissional e na produtividade, eles passam a se considerar um fardo à família, questionar as próprias conquistas”, pontua.
“Elas, por sua vez, falam da pressão para começar a vivência. A aceitação no grupo, no mercado de trabalho e também para lidar com as obrigações múltiplas que surgem desde muito cedo.”
A autora do estudo Megacity, Camila Siqueira, traz à tona outra questão: o foco da prevenção.
“É mais recente a aceitação social do uso do álcool pelas mulheres. Antes, elas não bebiam. Com isso, o foco das campanhas preventivas ficou muito centrado nos homens. As mulheres ficaram negligenciadas desta abordagem. Raros são os ginecologistas, por exemplo, que questionam se as suas pacientes bebem, fumam ou usam outras drogas.”
Perdas e ganhos
De acordo com as pesquisadoras ouvidas pela reportagem, quanto mais rápido forem feitas intervenções para evitar o comportamento abusivo, maior é a chance da pessoa afetada de mudar o curso da dependência etílica que pode comprometer o fígado, os pulmões, o coração, a fertilidade, além de aprisionar o usuário aos quadros de compulsão e depressão.
Neste sentido, a pesquisa Megacity foi pioneira também em mapear não apenas os dependentes de álcool, mas os que estão na categoria “abusadores”, fase anterior ao vício propriamente dito.
“Os usuários abusivos, por exemplo, já podem ter alterações em alguns exames clínicos provocados pela bebida, podem ter faltado muitos dias no trabalho devido à ressaca ou mudado os planos de vida por causa do álcool. Mas eles não sofrem de abstinência ou compulsão, duas características essenciais nos dependentes químicos”, explica Camila.
Se tiverem acesso ao acompanhamento terapêutico na fase de abuso – antes da transição para a dependência – estas pessoas podem até ser submetidas a um novo paradigma de tratamento para o álcool: uma relação saudável com o álcool, na qual o consumo não é totalmente banido da vida social.
“Os dependentes nunca mais podem beber, não é indicado nenhum gole. O consumo é zero. Já os abusadores, em alguns casos, podem voltar a beber socialmente”, diz a pesquisadora, lembrando que alguns chegam à etapa da dependência sem passar pelo abuso e alguns abusadores nem chegam à categoria dependente, apesar de sofrer problemas de saúde decorrentes do uso frequente da bebida.
Segundo a pesquisa, dos 6% de mulheres entre 18 e 24 anos que apresentam problemas com o álcool, 5,4% estão no padrão “abuso” e 0,6% no “dependentes”. Dos 27,6% de homens entre 45 e 54 anos computados no uso nocivo, 17,6% são abusadores e 10% estão na fase da dependência etílica.
Alice e Manuel fazem parte do segundo grupo e jamais poderão voltar a beber. Para ambos, as diferentes etapas da vida estão traçando rumo distintos à estrada da recuperação. Ela foca nas coisas que deixou de viver por causa do álcool.
“Nunca dancei uma música sem estar bêbada, não consegui terminar nenhuma faculdade, não tenho um livro de preferência porque também não consegui concentração para ler”.
Manoel, por sua vez, olha para o que deixou no caminho. “Meu filho, meu emprego, minha dignidade, minha casa, minhas conquistas, tudo ficou perdido.”
Felizmente, a disposição para seguir é compartilhada pelos dois. Alice quer saborear tudo que ainda está por vir. Manoel relembrar o gosto das vitórias que já teve.
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InfoEscola 
Bebidas Alcoólicas
Ana Paula de Araújo
O álcool é consumido há muito tempo. Porém, antes do processo de destilação, as bebidas tinham um teor de álcool mais baixo, pois sofriam a fermentação. Eram elas a cerveja e o vinho. O álcool é uma bebida psicotrópica. Além de causar dependência, causa também mudanças no comportamento. Inicia-se com uma alteração no humor acompanhada de uma euforia, depois vem o momento da sonolência, onde o indivíduo não possui mais sua coordenação motora e apresenta comportamento depressivo. Isso acontece devido ao fato de o álcool agir diretamente no sistema nervoso central.
O álcool compromete partes do cérebro responsáveis pela memória, aprendizagem, motivação e autocontrole. É considerada uma droga depressora, ou seja, causa efeitos semelhantes aos da depressão como sonolência, tonturas, distúrbios no sono, náuseas, vômitos, fala incompreensível, reflexos comprometidos e ressaca.
As principais bebidas alcoólicas comercializadas no Brasil são: a cerveja, o vinho, o licor, a cachaça, o uísque, o conhaque e os coquetéis. Segundo pesquisas, os jovens de 13 a 21 anos têm facilidade em adquirir bebidas alcoólicas, as quais muitas vezes são permitidas ou providenciadas pelos próprios pais.
O etanol (veja ao final de Alcoóis) é o álcool mais utilizado em bebidas, combustíveis, produtos de limpeza, etc. Sua fórmula é: CH3CH2OH. Ele atinge também outros órgãos do corpo, como o coração, a corrente sangüínea, o fígado, etc.
A bebida alcoólica é consumida apenas por via oral, e dentro da sociedade atual há um estímulo muito grande ao seu consumo. Independentemente desse fator, é importante a conscientização da sociedade em relação aos perigos que o uso da droga acarreta para quem a consome.
A crise de abstinência é um comportamento diferenciado que ocorre em pessoas dependentes e que estão há algum tempo sem ingerir o álcool. É caracterizada por impaciência, ansiedade, alucinações, náuseas, convulsões, etc.
O consumo de bebida alcoólica pode causar diversas outras enfermidades como a esteatose, que é o acúmulo de gordura no fígado, a qual pode evoluir para uma cirrose. Esta, por sua vez, freqüentemente não tem reversão e só é curada através de um transplante de fígado. O doente fica com a pele amarelada, desnutrido, com a barriga inchada e sente fortes dores abdominais. Pode causar também sangramento pelo nariz e vômitos.
Outra doença comum é uma inflamação no miocárdio, chamada miocardite, que se caracteriza por tonturas e falta de ar, que por sua vez são causadas por uma arritmia cardíaca.
Pode causar, ainda, uma inflamação no pâncreas, denominada pancreatite, que se manifesta através de dores de barriga e diarréia, e caso não seja tratada pode se transformar em diabetes. A Neuropatia, que é uma alteração nos nervos, é caracterizada pela perda do tato e formigamentos nas mãos.
E, por fim, pode causar uma lesão no cérebro que compromete a memória e altera drasticamente o comportamento do indivíduo.
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O Globo 20.04.2012
Adolescentes mulheres bebem mais que os homens, diz estudo
Unesp traz pesquisa sobre o uso de álcool por estudantes do ensino fundamental e médio. Amigos e classe social influenciam na bebida
Pesquisa aponta que mulheres jovens bebem mais que os homens 
foto GUITO MORETO
As meninas exageram mais na hora de beber que os meninos. A afirmação é de uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), que observou o uso de álcool pelos estudantes do ensino médio e fundamental das escolas públicas e privadas de Botucatu, no interior de São Paulo. Os 1507 estudantes entrevistados eram menores de 18 anos, e foram questionados sobre o consumo de álcool, drogas, comportamento violento e hábito de beber entre familiares e amigos.
De acordo com os dados, 38,8% dos estudantes do ensino fundamental (6 a 9 série), e 73,5% do ensino médio afirmaram ter bebido pelo menos uma vez na vida. O uso de álcool no último ano foi relatado por 8,5% dos estudantes do fundamental e 40,7% do ensino médio. O estudo é o trabalho de dissertação da assistente social Priscila Lopes Corrêa, aluna do núcleo de Saúde Coletiva da Unesp. A pesquisadora diz que o crescimento percentual ocorre devido a idade dos estudantes, mais velhos no ensino fundamental.
Para a pesquisadora, o dado que mais chamou atenção está relacionado às mulheres. As estudantes estão mais propensas a “beber com embriaguez”, termo que define o consumo igual ou superior a cinco doses para homens, e quatro doses ou mais para as mulheres. O fato, somado à pouca maturidade dos adolescentes, pode favorecer o comportamentos de risco, como a prática do sexo sem proteção.
— Os principais fatores que influenciaram eram os amigos, a classe social, normalmente com melhor poder aquisitivo, e o jovens sem qualquer tipo de religião — diz a autora do texto.
Para a mestranda, o estudo demonstra a utilização e o contato de menores de idade com álcool, mesmo que isso seja proibido pela legislação brasileira.
— Falta fiscalização nos estabelecimentos que vendem bebidas, estabelecer uma política clara sobre o uso do álcool para pessoas jovens, e programas para prevenir o uso com promoção de práticas de lazer mais saudáveis — esclarece.
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O Globo 7/04/12 
Consumo de álcool por adolescentes cresce e inspira serviço médico especial
No Hospital Albert Einstein, em São Paulo, pais receberão orientação de profissionais
CLEIDE CARVALHO
SÃO PAULO - O sinal de alerta soou no Pronto Socorro de pediatria do Hospital Albert Einstein, um dos mais conceituados de São Paulo. Há cerca de um ano, os pediatras de plantão passaram a ser chamados para atender adolescentes que chegam na emergência, principalmente às sextas e sábados. O problema: consumo excessivo de álcool. Muitos meninos e meninas chegam inconscientes. Alguns, em coma, correm o risco de morrer. Embora não existam estatísticas precisas, especialistas dizem que o aumento do consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes não se restringe a São Paulo, é visível no Rio e em muitas outras cidades do Brasil.
No Albert Einstein, todos os pacientes com 16 anos ou menos e que dão entrada pelo pronto-socorro são encaminhados à pediatria que, a partir deste mês, tem um protocolo especial de atendimento. Os cuidados não são apenas clínicos. Os pais são orientados sobre os riscos do consumo de álcool na adolescência. Nos casos mais graves, em que o jovem fica internado ou precisa de recursos de UTI, ele obrigatoriamente é avaliado por psiquiatras e psicólogos do Núcleo de Álcool e Drogas do hospital.
- Os pediatras perceberam que se tornou comum o atendimento a pacientes alcoolizados em idade muito precoce, com 13 ou 14 anos. Há casos de crianças de 12 anos. Eles chegam com intoxicação grave causada pela ingestão de álcool. Isso nos preocupa muito. É preciso detectar o que está acontecendo - afirma a psiquiatra Alessandra Maria Julião, do Núcleo de Álcool de Drogas do hospital.
O problema é reflexo do que acontece nas ruas. Baladas atraem jovens da classe A e B, com festas em que a bebida alcoólica é o chamariz. Sempre em grupo, eles são influenciados pelos amigos a deixar o refrigerante de lado e consumir o álcool já incluído no preço.
Há 15 dias, X., de 16 anos, foi a uma boate com amigos. Depois de ir ao banheiro, retornou à pista e, ao ver um rapaz de costas, avançou sobre ele, desferindo-lhe socos na cabeça. Os amigos do rapaz agredido passaram a bater em X., e os amigos de X. entraram na briga. Na semana passada, X. foi levado pelos pais ao consultório do psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, especialista em dependência química, professor da USP e presidente do Centro de Informação Sobre Saúde e Álcool (Cisa). O médico perguntou o que tinha acontecido.
- Ele disse que nunca tinha visto o outro antes, que foi uma bobagem: “Veio a vontade e fiz” - conta Andrade.
O especialista não identificou qualquer distúrbio grave no adolescente. O que lhe chamou a atenção foi que, naquela noite, X. havia ingerido muitas latinhas de cerveja. Para ele, o rapaz se encaixa no "padrão binge”, caracterizado pelo consumo excessivo em curto espaço de tempo: cinco doses - ou cinco latinhas, considerando idade e peso - num período de duas horas. Para as mulheres, o “binge” ocorre antes, a partir de quatro doses.
Todos são unânimes em afirmar que, nas baladas, há bebida alcoólica de sobra, a despeito das proibições previstas em lei.
- É um novo modelo de juventude, com muita liberdade para o álcool e o sexo. A balada é o novo local da paquera e eles estão expostos - diz Andrade.
O psiquiatra afirma que nenhum adolescente procura ajuda médica por causa do álcool. Em geral, vão ao consultório levados pelos pais, para tratar de outro problema associado, como depressão, ansiedade ou síndrome do pânico.
- Tenho ainda um número razoável de pacientes com distúrbio de comportamento - diz.
Na adolescência, os neurônios se multiplicam. Segundo Andrade, exposto ao álcool, o cérebro vai amadurecer de forma menos eficiente. O raciocínio na fase adulta não será tão rápido:
- O rendimento acadêmico, sexual e social se tornará pior.
A psicóloga Ilana Pinsky, vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), diz que no Brasil as bebida alcoólicas são baratas, e facilmente encontráveis. Os pais, por sua vez, não se sentem à vontade para proibir os filhos de consumi-las:
- Não dá para culpar os pais. Não somos como a sociedade chinesa, na qual os pais têm um alto nível de autoridade sobre os filhos. É preciso políticas públicas para enfrentar o problema.
No debate sobre o consumo de álcool na adolescência, tem chamado a atenção de Ilana o comportamento das meninas. Enquanto na fase adulta as mulheres bebem menos do que os homens, na adolescência, atualmente, elas estão consumindo o mesmo número de doses.
- É impressionante como elas bebem loucamente! Vão ao consultório por outros problemas, como ansiedade, mas, quando a gente conversa, percebe a questão do álcool - conta Ilana.
A psicóloga diz que as meninas costumam não saber ao certo o quanto bebem, porque misturam vodca com suco ou refrigerante para o sabor ficar mais doce.
De acordo com a psicóloga, o consumo é mais alto entre os adolescentes de maior poder aquisitivo e a frequência varia de duas a três vezes por semana. Antes da balada, eles costumam ainda fazer o “esquenta”:
- Os meninos pagam caro para entrar na balada. As meninas entram com convites gratuitos. E, lá dentro, há muitas garrafas de bebida a serem exterminadas em conjunto.
Para os rapazes, o consumo de álcool representa risco de envolvimento em episódios violentos, de brigas a acidentes de trânsito. As meninas, segundo Ilana, ficam “menos seletivas” para escolher com quem “ficar” e fazer sexo.
- Elas dizem que ficam com quem não ficariam se não estivessem bêbadas - conta.
Ela reconhece que o problema do álcool na adolescência é difícil, até porque os pais costumam não admitir que ele existe. A maioria, porém, entra em pânico quando o adolescente aparece com um “baseado”.
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InfoEscola 26.03.2012
Bebidas Alcoólicas
Ana Paula de Araújo
O álcool é consumido há muito tempo. Porém, antes do processo de destilação, as bebidas tinham um teor de álcool mais baixo, pois sofriam a fermentação. Eram elas a cerveja e o vinho. O álcool é uma bebida psicotrópica. Além de causar dependência, causa também mudanças no comportamento. Inicia-se com uma alteração no humor acompanhada de uma euforia, depois vem o momento da sonolência, onde o indivíduo não possui mais sua coordenação motora e apresenta comportamento depressivo. Isso acontece devido ao fato de o álcool agir diretamente no sistema nervoso central.
O álcool compromete partes do cérebro responsáveis pela memória, aprendizagem, motivação e autocontrole. É considerada uma droga depressora, ou seja, causa efeitos semelhantes aos da depressão como sonolência, tonturas, distúrbios no sono, náuseas, vômitos, fala incompreensível, reflexos comprometidos e ressaca.
As principais bebidas alcoólicas comercializadas no Brasil são: a cerveja, o vinho, o licor, a cachaça, o uísque, o conhaque e os coquetéis. Segundo pesquisas, os jovens de 13 a 21 anos têm facilidade em adquirir bebidas alcoólicas, as quais muitas vezes são permitidas ou providenciadas pelos próprios pais.
O etanol (veja ao final de Alcoóis) é o álcool mais utilizado em bebidas, combustíveis, produtos de limpeza, etc. Sua fórmula é: CH3CH2OH. Ele atinge também outros órgãos do corpo, como o coração, a corrente sanguínea, o fígado, etc.
A bebida alcoólica é consumida apenas por via oral, e dentro da sociedade atual há um estímulo muito grande ao seu consumo. Independentemente desse fator, é importante a conscientização da sociedade em relação aos perigos que o uso da droga acarreta para quem a consome.
A crise de abstinência é um comportamento diferenciado que ocorre em pessoas dependentes e que estão há algum tempo sem ingerir o álcool. É caracterizada por impaciência, ansiedade, alucinações, náuseas, convulsões, etc.
O consumo de bebida alcoólica pode causar diversas outras enfermidades como a esteatose, que é o acúmulo de gordura no fígado, a qual pode evoluir para uma cirrose. Esta, por sua vez, frequentemente não tem reversão e só é curada através de um transplante de fígado. O doente fica com a pele amarelada, desnutrido, com a barriga inchada e sente fortes dores abdominais. Pode causar também sangramento pelo nariz e vômitos.
Outra doença comum é uma inflamação no miocárdio, chamada miocardite, que se caracteriza por tonturas e falta de ar, que por sua vez são causadas por uma arritmia cardíaca.
Pode causar, ainda, uma inflamação no pâncreas, denominada pancreatite, que se manifesta através de dores de barriga e diarreia, e caso não seja tratada pode se transformar em diabetes. A Neuropatia, que é uma alteração nos nervos, é caracterizada pela perda do tato e formigamentos nas mãos.
E, por fim, pode causar uma lesão no cérebro que compromete a memória e altera drasticamente o comportamento do individuo.
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FAPERJ 01/03/2012
Álcool e adolescentes: um desafio a ser enfrentado
  O álcool tem sido cada vez mais consumido entre jovens na faixa de 10 a 12 anos 
Vilma Homero
O álcool é a droga mais consumida no mundo inteiro, com cerca de 2 bilhões de usuários, como informam os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). É também a de mais fácil acesso e, por isso mesmo, a de uso mais frequente entre os jovens, que, no Brasil, vêm começando cada vez mais cedo suas primeiras experiências – entre 10 e 12 anos. Dados que têm preocupado particularmente os profissionais do Grupo de Estudos e Pesquisas em Álcool e Outras Drogas (Gepad), grupo de pesquisa liderado pela professora da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Gertrudes Teixeira Lopes.

Como modo de informar crianças e adolescentes sobre esses riscos, o grupo criou uma proposta pedagógica, com abordagem fundamentada no diálogo e ênfase nos conceitos de promoção de saúde e prevenção de agravos. O foco são os alunos do segundo segmento do ensino fundamental de escolas da rede pública. Para isso, o Gepad traçou uma pesquisa qualitativa, inicialmente focada nos estudantes do 6º ano do ensino fundamental da Escola Orsina da Fonseca, na Tijuca, e do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAP/Uerj), no Rio Comprido. "São crianças de 10 a 13 anos. É exatamente a faixa etária que queremos atingir. Ou seja, tentar intervir com informação no momento em que eles estão vulneráveis às primeiras experiências com a bebida", fala Gertrudes, coordenadora do projeto Álcool no espaço da escola fundamental e o enfermeiro: desafios na promoção da saúde e prevenção de riscos, pós-doutorada nessa área. O projeto contou com recursos do edital de Apoio a Grupos Emergentes, programa desenvolvido pela FAPERJ em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Segundo a pesquisadora, o uso do álcool, em geral, começa em festas e comemorações em casa, com a tolerância dos pais, que não se importam quando a criança experimenta uma bebida alcoólica. "Mesmo que, segundo a literatura, o uso comece entre os 10 e 12 anos, isso não significa que muitas crianças não tenham experimentado o álcool antes", afirma. Para ela, é preocupante que já se observem casos de crianças de até 10 anos, dependentes da bebida. "Fatores genéticos, ambientais e comportamentais influenciam na continuidade do uso. E como há certa tolerância social com a bebida, que é uma droga lícita, os jovens têm livre acesso, o que estimula o consumo e torna mais fácil atingir a dependência."
Ela frisa que, no Brasil, embora o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) proíba o uso, a compra e o transporte de qualquer tipo de droga, incluindo aí o álcool, para menores de 18 anos, isso nem sempre é respeitado. "Essa proibição é importante porque na adolescência o cérebro ainda está em formação. Nessa faixa etária, o álcool afeta principalmente a área da cognição, do aprendizado. E também leva a um aumento da agressividade", explica. Segundo a pesquisadora, durante as atividades preparadas para discutir na escola o uso do álcool e seus efeitos, os relatos de estudantes dão conta de que muitas vezes eles saem de festas, de bailes funk, e vão direto para as salas de aula. "Os jovens têm bebido cada vez mais cedo e em maior quantidade. Nessas condições, eles geralmente se envolvem em brigas com colegas, agridem professores. Sem falar no prejuízo ao próprio aprendizado. Mais um motivo para acreditarmos que a prevenção é a grande arma", conta.
Crianças e adolescentes são um grupo etário particularmente vulnerável e influenciável. "Um conjunto de fatores estimula a bebida. Um deles é que, como muitos jovens fazem uso do álcool, não beber fica sendo considerado careta, numa fase em que é importante para eles o sentimento de fazer parte do grupo, de pertencer. A isso se some que a bebida tem um forte componente de sociabilidade. As pessoas se convidam para ‘tomar um chope’, saem para beber", explica.
Nas dinâmicas lúdicas, em que a exibição de filmes e DVDs, a apresentação de peças de teatro e a construção de produções artísticas pelos estudantes são vistas como formas amenas de se falar de coisa séria, a participação efetiva dos alunos e o interesse demonstrado nas discussões mostrou aos profissionais do Gepad que estavam no caminho certo. "Procuramos manter um diálogo aberto, buscando passar informação sem julgamento. Até porque beber é prazeroso, um prazer de que muitos não querem abrir mão. Além disso, nosso trabalho não é terapêutico. Conversamos, passamos informações e trocamos experiências para mostrar os efeitos nocivos que a droga produz, procurando lidar com o tema, sem censura nem apologia. A ideia é conhecer e fazer uso com responsabilidade" afirma. Segundo Gertrudes, o interessante foi constatar: "Se nós temos conhecimento teórico, da prática, eles sabiam mais do que nós."
Outra atividade foi o painel de fotos, elaborado com fotos feitas em sala de aula e imagens tiradas de revistas, com que os estudantes iam construindo histórias, contando e interpretando o que achavam que estava acontecendo. "Conseguimos envolver muitos alunos. Aliás, toda essa experiência nos permitiu reunir tamanha riqueza de material, que decidimos passar tudo para olivro Prevenção de Drogas na Adolescência: o uso de atividades lúdicas como abordagem pedagógica. Nele, descrevemos, em detalhes, nossas estratégias pedagógicas", relata.
Ao apresentar a experiência no Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem, evento que a cada dois anos acontece em diferentes capitais do País, Gertrudes percebeu também o interesse de professores de vários estados em discutir o assunto. "Já há escolas em Mato Grosso que realizam trabalhos interessantes nessa área." No que depender dos pesquisadores, a experiência também será repetida no Rio de Janeiro. Numa parceria do Gepad com o Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam), a partir de março, o projeto será aplicado em escolas de Bonsucesso, na Zona Norte da cidade. "Tudo o que esperamos é que mais professores do ensino fundamental assumam e repliquem a experiência em suas escolas. E que, com todas essas informações, adolescentes passem a se abster do uso ou beber com responsabilidade."
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Cuidado com o Álcool.
Entrevista com Andrea Gallassi, Prof UnB
(clik na figura abaixo)

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Planeta Sustentável 06/02/2012
Grã-Bretanha adverte: álcool causa câncer
José Eduardo Mendonça
 Campanha do governo ressalta riscos
Uma nova campanha do governo da Grã-Bretanha vai advertir que o consumo de duas taças grandes de vinho ou duas canecas de cerveja forte por dia triplicam o risco de câncer de boca. Na verdade, os anúncios querem mostrar que qualquer bebida além do recomendado diariamente aumenta o risco de sérios problemas de saúde.
As recomendações do Sistema Nacional de Saúde (NHS) são de que homens não devem beber mais que três ou quatro unidades por dia e as mulheres não mais que duas ou três. Ainda, como parte da campanha Change4Life, as pessoas terão acesso a uma calculadora online para registrar o quanto estão bebendo. Serão distribuídos dois milhões de folhetos.
Para os que bebem, pretende-se encorajar que criem dias sem álcool, não bebam em casa antes de sair, mudem para bebidas mais suaves e usem copos menores. “É fácil cair no hábito de tomar uns drinques a mais todo dia, especialmente quando se bebe em casa. Mas os riscos podem ser sérios,” disse ao Independent o ministro da saúde Andrew Lansley.
A campanha foi feita depois de uma pesquisa com mais de 2.000 pessoas mostrar que 85% delas não sabiam que beber acima do recomendado aumenta o risco de câncer de mama. Cerca de 53% não sabiam que há riscos de câncer de colon e 63% que aumentam as chances de se ter pancreatite.
Além disso, 30% não sabiam que o álcool pode aumentar a pressão arterial, 37% não sabiam que ele pode impactar a fertilidade, e 59% desconheciam os riscos maiores de câncer da boca, garganta e pescoço.
Sarah Lyness, da Cancer Research UK, disse: “O álcool pode aumentar o risco de sete tipos de câncer, inclusive os dois mais comuns – mama e colon. Um estudo recente mostrou que 12.500 casos de câncer por ano no país  são consequência do álcool.
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O Estado de S.Paulo / 19.10.2011

Alcoolismo mata MAIS que crack no Brasil!

Estudo da Unifesp revela que 17% dos dependentes atendidos morreram após cinco anos; na Inglaterra, o índice é de 0,5%; violência e doenças relacionadas ao vício em álcool foram as principais causas de morte; religião é apontada como fator de proteção

Lígia Formenti
O índice de mortalidade entre dependentes de álcool no Brasil está próximo do registrado entre usuários de crack. Pesquisa inédita feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que, em cinco anos, 17% dos pacientes atendidos em uma unidade de tratamento da zona sul de São Paulo morreram.
"É um número altíssimo. Na Inglaterra, o índice não ultrapassa 0,5% ao ano", diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador do estudo.
O trabalho, que será publicado na próxima edição da Revista Brasileira de Psiquiatria, segue uma linha de pesquisa de Laranjeira sobre morte entre dependentes de drogas. O estudo feito entre usuários de crack demonstrou que 30% morreram num período de 12 anos. "Naquela mostra, a maior parte dos pacientes morreu nos primeiros cinco anos. Podemos dizer que os índices estão bastante próximos."
O estudo sobre dependência de álcool procurou, depois de cinco anos, 232 pessoas que haviam sido atendidas num centro do Jardim Ângela, zona sul, em 2002. Desse grupo, 41 haviam morrido - 34% por causas violentas, como acidentes de carro ou homicídios. Outros 66% foram vítimas de doenças relacionadas ao alcoolismo. "Os resultados estampam a falta de uma rede de assistência para esses pacientes. Todas as fases do atendimento são deficientes: desde o serviço de urgência, para o dependente em crise, até a rede de assistência psicossocial", diz Laranjeira.
Violência. Os altos índices de mortalidade são explicados por Laranjeira. Entre dependentes de álcool, principalmente nos casos mais graves, pacientes perdem o vínculo com a família, com o trabalho e adotam atitudes que os expõem a riscos, como sexo sem preservativo ou brigas.
A velocidade desse processo é maior entre pessoas de classes menos privilegiadas, avalia Laranjeira. "Como em qualquer outra doença, pessoas que têm acesso a um serviço de melhor qualidade têm mais chances de controlar o problema. Daí a necessidade de equipar melhor a rede pública", comparou.
O grupo avaliado na pesquisa da Unifesp ilustra esse processo. A totalidade dos pacientes atendidos era de classe E e D - 52,2% estavam desempregados. A idade média dos entrevistados era de 42 anos. "Debilitados e sem dinheiro, esse grupo dificilmente consegue se inserir novamente na sociedade", completou.
A ligação com a violência também está clara. O trabalho mostra que entre sujeitos que consumiram álcool, o risco de estar envolvido com crime era 4,1 vezes maior que entre os abstêmios.
Laranjeira lembra que o Jardim Ângela é bairro de periferia. "Mas os baixos indicadores dos pacientes analisados na pesquisa estão longe de refletir a população do bairro. Ali há economia, pessoas estão empregadas."
Religião. Além da alta mortalidade, a pesquisa conclui que atividades religiosas exercem um efeito protetor sobre os dependentes. Entre os que pertenciam a algum grupo, incluindo os de autoajuda, os índices de participação em crimes eram menores que entre os demais. Dos entrevistados que faziam parte de algum grupo religioso, 30,6% não tiveram participação em crime. Entre os que não estavam ligados a nenhum grupo religioso, 18% conseguiram se manter afastados de crimes.
"Num cenário de total desassistência, é ali que o grupo conseguiu apoio", diz Laranjeira. Um resultado que, na avaliação do pesquisador, é muito importante de ser considerado. "Numa doença que apresenta um índice de mortalidade de 17%, qualquer fator protetor deve ser estimulado, sem preconceito." Justamente por isso ele não hesitaria em recomendar para os pacientes procurarem grupos de apoio, incluindo os de natureza religiosa. 
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ag. Reuters 07.12.2011
Lei da Copa autoriza venda de bebida alcoólica em estádios
O texto da Lei Geral da Copa apresentado pelo relator da matéria, deputado Vicente Cândido (PT-SP), nesta terça-feira, inclui a permissão para venda de bebidas alcoólicas nos estádios, uma das exigências da Fifa para atender aos interesses comerciais de seus patrocinadores.
A venda só poderá ocorrer nos estabelecimentos em funcionamento dentro dos estádios, segundo o relatório final apresentado pelo relator da Comissão Especial da Lei Geral da Copa, informou a Agência Câmara.
O deputado propôs a alteração do Estatuto do Torcedor, que hoje proíbe a entrada de álcool em eventos esportivos. Se for aprovada, a medida significa que a venda de bebidas ficará liberada em todos os jogos do país, e não apenas nas partidas da Copa do Mundo de 2014, mas somente em bares e restaurantes oficiais dos estádios.
"É (uma) medida de segurança necessária", disse Cândido sobre as limitações dos postos de vendas, segundo a Agência Câmara.
Também está incluído no texto a reserva de 300 mil ingressos do Mundial a serem vendidos pela metade do preço das entradas da categoria superior. De acordo com Cândido, o valor das entradas com valores especiais não será superior a 50 reais.
Terão direito aos ingressos com desconto idosos, estudantes, pessoas com deficiência, indígenas e participantes de programas sociais de transferência de renda do governo federal. O preço dos ingressos, no entanto, será determinado pela Fifa, o que atende a outra exigência da federação internacional.
A votação do parecer da comissão especial ficará para a próxima semana, provavelmente na terça-feira, segundo a Agência Câmara. Inicialmente, a expectativa era que a votação ocorresse na quinta-feira. O adiamento se deu por pedido de vistas feito por vários membros da comissão.
O projeto da Lei Geral da Copa reúne uma série de medidas exigidas pela Fifa para a realização do Mundial. As questões das bebidas alcoólicas, dos preços dos ingressos, da concessão simplificada de vistos a estrangeiros e da proteção às marcas associadas ao evento estão entre os temas que causaram desacordos entre o governo e a federação internacional.
A presidente Dilma Rousseff e autoridades do governo federal travaram discussões com dirigentes da Fifa para se chegar a um acordo sobre os temas mais polêmicos, e o projeto deve ser levado a votação no plenário da Câmara no fim deste ano ou no início de 2012. Depois, o tema passará ao Senado.
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O Estado de S.Paulo: 25/09/2011

Emborcamento precoce na cidade de São Paulo.
Um em cada três estudantes entre 15 e 18 anos já bebeu cinco ou mais doses de álcool em uma única ocasião
Arthur Guerra de Andrade
O uso nocivo de álcool resulta em 2,5 milhões de mortes por ano no mundo. Cerca de 320 mil jovens entre 15 e 29 anos de idade morrem de causas relacionadas a essa substância - o equivalente a 9% de todas as mortes nessa faixa etária. Tais estimativas, da Organização Mundial da Saúde (OMS), são preocupantes, tanto é que, em menos de uma semana, tivemos ao menos dois eventos importantes relacionados ao assunto.
No dia 19 foi realizada uma reunião de alto nível da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre prevenção e controle de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), aberta pela presidente Dilma Rousseff. Nesse encontro (e na declaração política resultante dele), os principais fatores de risco em comum entre as DCNTs discutidas (doenças cardiovasculares, diabetes, câncer e enfermidades respiratórias crônicas), e evitáveis, foram: o sobrepeso e a obesidade resultantes da falta de uma alimentação saudável e da inatividade física, o tabagismo e o consumo nocivo de álcool.
Para diminuir o impacto deste último, ações e políticas públicas efetivas, baseadas em evidências científicas e adequadas ao contexto local, deveriam ser implementadas de maneira integrada por diferentes setores. Citou-se ainda o documento intitulado Estratégia Global para Redução do Uso Nocivo de Álcool, lançado pela OMS em 2010, que traz sugestões a serem aplicadas em todo o mundo - respeitadas, é claro, as diferenças culturais e socioeconômicas de cada país.
É nesse contexto de políticas públicas que se insere o segundo evento da semana: a Assembleia Legislativa aprovou o Projeto de Lei 698/2011, que proíbe, no Estado de São Paulo, a venda, a oferta, o fornecimento, a entrega e a permissão de consumo de bebida alcoólica, ainda que gratuitamente, aos menores de 18 anos de idade. Aqui, é importante apresentar o cenário do uso de álcool entre nossos jovens, baseado em pesquisas científicas recentes.
Um levantamento com estudantes do ensino médio em escolas particulares da cidade de São Paulo, realizado no ano passado, revelou que um em cada três estudantes entre 15 e 18 anos já havia bebido cinco ou mais doses de álcool em uma única ocasião, ao menos uma vez no mês anterior à pesquisa.
Quando analisamos o panorama brasileiro, nos deparamos com dados igualmente preocupantes. No 1º Levantamento Nacional sobre Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras, que contou com mais de 12 mil estudantes, verificou-se que 79% dos entrevistados menores de 18 anos já tinham consumido algum tipo de bebida alcoólica. Além disso, estima-se que o primeiro consumo ocorra entre 13 e 15 anos de idade, considerando a população geral brasileira de adultos jovens (entre 18 e 25 anos).
Isso é um sério problema de saúde pública porque na adolescência o sistema nervoso central ainda se encontra em desenvolvimento e, portanto, mais suscetível aos efeitos do álcool. Nota-se, ainda, que o uso precoce de tal substância é um importante indicativo de maior risco para o desenvolvimento de transtornos relacionados (abuso ou dependência).
Como especialista em dependência química há 30 anos, tenho a clareza de que o uso nocivo e a dependência do álcool, por ser uma questão complexa e multifatorial, não é um problema que pode ser resolvido de maneira simples e rápida, como muitos de nós gostaríamos.
Abordá-lo sob uma visão interdisciplinar é essencial para lidarmos de maneira mais adequada com esse problema de saúde pública global. Ações integradas e complementares, baseadas em evidências científicas, sustentáveis e, principalmente, eficazes somente poderão ser desenvolvidas e implementadas se instituições de diferentes setores contribuírem junto à sociedade. Nesse aspecto, unem-se prevenção e tratamento. Além disso, não podemos deixar de lado o desenvolvimento educacional e social - disseminar amplamente o conhecimento adquirido por meio de pesquisas científicas deve ser prioritário.
Sim, ainda há solução para o uso nocivo de álcool. Ela envolve investir fortemente em programas de prevenção, inibir de forma intensiva o uso nocivo dessa substância e recuperar aqueles que dela já se tornaram dependentes.
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G1 19/10/2011

Ex-dependentes de álcool relatam experiências de tratamento

'Primeiros dias de abstinência foram difíceis', diz ex-dependente.
Em todo o Paraná são 129 grupos de Alcóolicos Anônimos.

Um levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde mostra que Curitiba é uma das cidades com menor consumo abusivo de bebidas alcóolicas.
As cidades que registraram maior frequência de consumo abusivo entre homens foram Natal (37,1%), Recife (36,7%) e São Luís (34,5%) e entre as mulheres, Salvador (17,3%), Recife (15,9%) e Vitória (14,5%).
O resultado na capital paranaense se deve ao aumento da procura de dependentes aos grupos de Alcóolicos Anônimos (A.A.). A instituição completou 43 anos de atividades no Paraná em setembro. Os grupos se fundamentam no anonimato e não é necessário preencher nenhum questionário para participar das reuniões.
O primeiro passo para participar dos encontros e tentar a recuperação é aceitar o vício (link a seguir).
Em todo o estado são 129  grupos, que estão distribuídos em vários municípios. Uma série de reportagens sobre alcoolicos anônimos, apresentadas pela RPC TV Foz do Iguaçu, mostra depoimentos de pessoas que deixaram o vício com a ajuda do A.A.
Em um dos casos, um ex-dependente, que não quis se identificar, afirmou que os primeiros dias de abstinência foram difíceis, mas o apoio da família foi o que mais ajudou durante a recuperação. "Durante várias madrugadas eu cansei de ligar para meus amigos, pra eles irem lá em casa, tomar chimarrão e passava vontade de beber. Já estou há dois anos sem colocar uma gota de álcool na boca", contou.
"Eu não troco os piores dias da minha vida que eu tive até hoje dentro do Alcóolicos Anônimos, pelos melhores dias que eu tive dentro de um bar", finalizou.
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O Estado de S.Paulo  19.09.2011
''Falta rede de assistência ao dependente''
Lígia Formenti
A dificuldade no tratamento do alcoolismo está estampada em outro indicador do estudo da Unifesp. Passados cinco anos, 97,4% dos entrevistados mantinham dependência grave de álcool. "A doença exige uma rede de assistência completa, com atendimento do paciente no momento da crise, para o trabalho de desintoxicação, além do acompanhamento para evitar recaídas", diz Ronaldo Laranjeira.
Ele reconhece que a dificuldade no tratamento é maior na população avaliada no estudo, formada por moradores da periferia. Mas ele observa que ela está presente em todas as classes sociais. O exemplo mais recente é o do ex-jogador de futebol Sócrates, internado pela segunda vez em menos de dois meses. O ex-atleta, que também é médico, é dependente de álcool e enfrenta graves problemas digestivos provocados pela bebida.
"Os resultados mostram que o governo deveria reforçar as atividades de prevenção do consumo exagerado de bebida", diz Laranjeira. Entre as medidas defendidas por ele está o maior rigor na fiscalização da venda desses produtos, para coibir o consumo por menores de 18 anos, o aumento da taxação, para combater o consumo exagerado, e a restrição do horário da propaganda de bebidas alcoólicas. 
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rev. Época 09/09/2011

Vencido pela bebida
O que o drama de Sócrates revela sobre o alcoolismo, uma epidemia subterrânea que devasta a sociedade brasileira e mata 30 mil pessoas por ano
CRISTIANE SEGATTO,
MARTHA MENDONÇA
MARCELO MOURA
ANNA CAROLINA LEMENTY
ELISEU BARREIRA
Na segunda-feira passada, dia 5 de setembro, o cidadão Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira foi internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para tratar de um sangramento digestivo que ameaçava matá-lo.

Aos 57 anos, ele é um rosto familiar aos brasileiros. Ídolo do Corinthians e da Seleção Brasileira, foi um dos grandes jogadores do futebol mundial nos anos 1980, notável tanto pela elegância e precisão de seus passes quanto por suas posições públicas contra o regime militar. Formado em medicina, inteligente e carismático, o Doutor, como costuma ser chamado, assumiu, ao deixar os gramados, a função informal de intelectual do futebol, alguém capaz de expressar com autoridade a dimensão pública desse esporte que apaixona os brasileiros.
Além disso tudo, Sócrates é também alcoólatra.
Ele começou a beber pesado durante a universidade e nunca mais parou, mesmo em seus anos de atleta. Em consequência de décadas de excesso, desenvolveu cirrose hepática, doença degenerativa que destrói o fígado e provoca o colapso do restante do organismo. A cirrose causada por álcool mata mais de 11 mil pessoas por ano no Brasil. Sócrates esteve assustadoramente próximo desse desfecho na semana passada – um drama que tocou milhões de pessoas que o admiram e trouxe para os holofotes, novamente, a epidemia subterrânea de alcoolismo que devasta o país. “O drama de uma pessoa pública querida mostra que pessoas inteligentes e fortes também podem se tornar dependentes”, afirma o psiquiatra Ronaldo Laranjeiras, da Universidade Federal de São Paulo, uma das maiores autoridades em alcoolismo no país. “Sócrates é um homem bem-sucedido, brilhante e, além de tudo, médico. Se aconteceu com ele, pode acontecer com qualquer um.”
O Brasil tem um número de alcoólatras estimado em 15 milhões, o dobro da população da Suíça. Mas a realidade pode ser ainda pior. Os médicos da Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Outras Drogas, que se dedicam a estudar a dependência química no Brasil, estimam que, na verdade, 10% dos 192 milhões de brasileiros, ou 19 milhões, tenham problemas graves com a bebida. O alcoolismo mata 32 mil pessoas por ano no Brasil, está por trás de 60% das mortes no trânsito e 72% dos homicídios. Mas é algo que nosso cérebro parece ignorar para seguir operando com sanidade – até que a história de um ídolo popular como Sócrates rompe essa barreira de proteção e indiferença.
No dia 19 de agosto, ele foi internado às pressas no Hospital Albert Einstein. Seu fígado deteriorado pela cirrose comprometera a circulação sanguínea no aparelho digestivo. O órgão normal tem a consistência de uma gelatina porosa. Na cirrose, adquire a consistência de borracha. O sangue não mais segue seu caminho, fica represado e desencadeia sangramentos no estômago e no esôfago, que podem ser fatais.
Naquela primeira internação, Sócrates esteve bem perto de morrer. Primeiro, os médicos tentaram diminuir a pressão interna com medicamentos. Não funcionou. Por meio de uma endoscopia, tentaram também tratar varizes no esôfago. Não resolveu. O sangramento continuou. Na madrugada do dia seguinte, os radiologistas Breno Boueri Affonso e Felipe Nasser foram chamados ao hospital, sinal de que a situação fugia do controle. “Pode-se dizer que somos o Bope. Quando está tudo praticamente perdido, quando não há outra alternativa, pedem para a gente entrar”, diz Affonso. Eles fazem cirurgias minimamente invasivas, também chamadas de cirurgias sem bisturi. “Sócrates sangrava muito. O estado dele era praticamente de choque hemorrágico pré-óbito”, diz Affonso. Os médicos fizeram uma punção no pescoço. Guiados por um aparelho de raios X que funcionava continuamente, introduziram um cateter na veia jugular. No fígado, instalaram um pequeno tubo flexível de 1 centímetro de diâmetro, feito de níquel com titânio, pelo qual o sangue flui. A intervenção durou quatro horas. Sócrates teve uma recuperação rápida e surpreendente. “Como ele foi atleta, seu corpo é uma coisa fantástica. O coração e os pulmões aguentaram coisas que outras pessoas não aguentariam: drogas, perda de sangue, transfusões”, diz Affonso. Sócrates distribuiu autógrafos e tirou fotos com a equipe médica. “Quer dizer que você fez um furo no meu fígado?”, perguntou, brincando, a Affonso. O médico, são-paulino, respondeu: “Sim. E deixei uma marca tricolor lá”.
No dia 27, Sócrates recebeu alta. Na madrugada da última segunda-feira, começou a reclamar de tosse, mal-estar e náuseas. Foi levado ao Einstein de novo. “Ele chegou conversando, mas falando pouco”, diz Affonso. Quando os médicos suspeitaram de um novo sangramento, Sócrates recebeu anestesia geral e passou a respirar com a ajuda de aparelhos para poupar o organismo. Os médicos localizaram um novo sangramento, desta vez no esôfago. Para controlá-lo, bloquearam o vaso e ofereceram outro caminho para o sangue fluir. O que fazer se Sócrates voltar a sangrar? Os médicos poderão tentar fazer novamente tudo o que fizeram até agora, mas a cada intervenção o risco aumenta.
Tudo o que foi feito não passa de paliativo. A única coisa que pode fazer o fígado renascer é a abstinência completa de álcool. “O fígado de Sócrates não está completamente comprometido”, diz Nasser. O fígado é um órgão que tem uma incrível capacidade de regeneração. Muitos alcoólatras com grau mais avançado de doença hepática conseguem se recuperar quando largam a bebida. “Se um paciente no estado dele se mantiver longe do álcool, talvez nem precise de transplante”, diz o hepatologista Paulo Massarollo, chefe do serviço de transplantes da Santa Casa de São Paulo. Embora a família de Sócrates fale na possível necessidade de um transplante, os médicos que o acompanham não cogitam essa hipótese agora. Em suas condições, paciente nenhum resistiria.
Além dos empecilhos médicos, há outros, de ordem jurídica. Segundo as normas vigentes no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos, um alcoólatra só pode ser inscrito na fila do transplante de fígado depois de comprovar estar em abstinência há pelo menos seis meses. Se não puder esperar os seis meses necessários para comprovar a abstinência, Sócrates poderia ser submetido a um transplante intervivos – no qual um doador oferece ao paciente parte de seu fígado. Nesse caso, seria preciso haver compatibilidade de tipo sanguíneo e tamanho do órgão. Isso só pode ser feito sem autorização judicial entre parentes de até segundo grau. Para que um amigo ou um estranho doe parte de seu fígado, é preciso que um juiz ateste que não houve pagamento pelo órgão.
O caso de Sócrates – qualquer que seja seu desfecho – ilustra, em escala privada, a gravidade do alcoolismo. Vistas à distância, as estatísticas sobre o consumo de bebidas no Brasil parecem tranquilizadoras.
O consumo de álcool puro, medida usada pela Organização Mundial da Saúde, é de 6,2 litros por ano, pouco acima da média mundial. Mas essa medida é enganosa. Primeiro, porque não inclui bebidas clandestinas. Quando elas são incluídas, o consumo médio brasileiro sobe para 9,2 litros anuais. Outra ilusão estatística: a média é relativamente baixa, porque quase metade dos brasileiros (50,5%) é abstêmia. A metade que bebe toma mais de 18 litros de álcool puro por ano, o triplo da média nacional, com grande diferença entre os sexos: o consumo médio entre os homens é de 24,4 litros e entre as mulheres de 10,62 litros por ano. “Nosso problema é que os brasileiros que bebem, bebem sempre, e cada vez mais, de forma exagerada”, diz o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, da Universidade de São Paulo.


É visível nas estatísticas brasileiras um padrão de consumo de bebidas que se assemelha ao de Inglaterra, Estados Unidos e Rússia. Nesses países, as pessoas costumam tomar, pelo menos uma vez por semana, quantidades excessivas de álcool, num curto período de tempo: cinco doses para homens e quatro doses para mulheres, em menos de duas horas. Conhecida pelo termo inglês binge drinking, essa bebedeira episódica é totalmente diferente do que os especialistas chamam de “padrão mediterrâneo” de consumo. Em países como a Itália, as pessoas bebem diariamente, em geral nas refeições, doses moderadas. A agressão ao organismo é menor, e o hábito degenera com menor frequência em dependência. “Uma taça por dia pode gerar benefícios, evita acidentes cardiovasculares”, diz Guerra Andrade. “O problema é o excesso.”
O excesso está se convertendo em tendência. Uma pesquisa do Ministério da Saúde com 57 mil pessoas, realizada em 27 capitais com intervalo de três anos, descobriu que o porcentual daqueles que bebem acima do limite numa mesma ocasião aumentou: era de 17,5% dos brasileiros em 2007 e subiu para 18% em 2010. O crescimento é modesto, mas vem amparado em duas vertentes preocupantes. Primeiro, o crescimento do número de jovens com mais de 15 anos que saem no fim de semana e bebem até cair. Segundo, o aumento no consumo de álcool entre as mulheres.
Na pesquisa do Ministério da Saúde, o principal crescimento da prática de binge drinking foi registrado no público feminino. Em 2007, 9,3% delas diziam beber dessa forma. Em 2010, foram 10,6%. Há 30 anos, havia 13 homens para cada mulher em tratamento de alcoolismo. Hoje, essa relação é de três para um. A explicação é conhecida: a mulher entrou no mercado de trabalho, conquistou sua liberdade e passou a agir de forma mais parecida com os homens. “Recentemente, percebemos que as meninas muito jovens às vezes bebem mais na balada que os meninos”, afirma o psiquiatra e psicanalista Sérgio de Paula Ramos, fundador da Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Droga (Abead).
A engenheira gaúcha Lívia R., de 37 anos, é um exemplo de até onde os excessos juvenis podem levar. Loura, de olhos verdes, ela tem uma empresa de prestação de serviços, é casada há 14 anos e tem um filho de 7. Começou a beber na adolescência. Há três meses, frequenta a unidade dos Alcoólicos Anônimos do bairro em que mora, na Zona Sul do Rio de Janeiro. No dia 5 de junho, foi com o marido e o filho a uma festa infantil. Como sempre, bebeu tudo o que podia, apesar de a festa ser às 10 da manhã. Fora de controle, dirigiu sozinha até em casa. Mais tarde, agrediu fisicamente o marido e uma prima dele que tentou defendê-lo. A prima deu queixa na polícia. O filho se desesperou com a confusão. No dia seguinte, chorou na escola, contando que a mãe tinha ficado bêbada e agredido o pai. “Quando vi que meu filho estava sofrendo, alguma coisa mudou em mim. Decidi que era preciso mudar, era preciso buscar ajuda”, diz. Há 90 dias ela não põe uma gota de álcool na boca. Frequenta as reuniões diariamente. Mas sabe que a luta apenas começou. “Está tudo muito difícil, mas fico feliz de ter tomado uma iniciativa antes de fazer coisas piores, como atropelar alguém ou até agredir meu filho.”
A outra vertente estatística que preocupa os médicos está entre os jovens. Eles estão aprendendo a beber desde muito cedo. Uma pesquisa recente, realizada pela Unifesp em São Paulo, com 661 adolescentes, detectou que 5% dos jovens entre 14 e 17 anos bebem uma vez por semana ou mais e consomem cinco ou mais doses em cada ocasião. Um porcentual maior (24%) bebe pelo menos uma vez por mês. A conclusão dos pesquisadores é que 13% dos adolescentes (17% para os meninos) apresentam padrão intenso de consumo de álcool antes dos 18 anos. Outra conclusão preocupante do estudo é que a idade de iniciação caiu para abaixo de 14 anos. Nessa área, a notícia mais auspiciosa vem de uma pesquisa nacional concluída no ano passado com cerca de 50 mil estudantes de 1º e 2º grau de escolas públicas. Ela mostra que o número de jovens que usaram álcool no último ano caiu acentuadamente em relação a 2004. De 63,5% para 41,1%. Mas a tabulação da pesquisa ainda não foi concluída, e os pesquisadores não conseguem explicar como e por que teria ocorrido a melhora.
Nos Estados Unidos, onde o fenômeno da bebedeira adolescente foi detectado mais cedo, os estudos estão chegando a conclusões alarmantes. “A bebedeira episódica é muito danosa por causa dos níveis de toxicidade no sangue a que o cérebro fica exposto”, diz Fulton Crews, farmacologista da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. As pesquisas médicas mostram que o cérebro dos jovens (até uma idade entre 21 e 25 anos) está fisicamente em formação e é extremamente sensível às agressões químicas. Um estudo conduzido na Universidade de Cincinnati monitorou o cérebro de jovens entre 18 e 25 anos e descobriu que os bebedores episódicos apresentam diminuição da massa cerebral na área responsável pela linguagem, pela concentração e pelo raciocínio, o córtex pré-frontal. “A relação concreta que estabelecemos foi: quanto maior o número de drinques ingeridos pela pessoa, maior a perda de massa cerebral”, diz Tim McQueeny, um dos responsáveis pela pesquisa. “A mesma relação não procede com a frequência dos episódios.”
Os resultados das bebedeiras juvenis podem vir na forma de desorganização, falta de inibição, incapacidade ou dificuldade de planejar ações ao longo da vida. A boa notícia é que os danos talvez sejam reversíveis. Outro estudo conduzido por McQueeny mostrou que os bebedores episódicos que deixaram de beber recuperaram parte da massa cerebral perdida na área responsável pelo equilíbrio, que também sofre alteração com o álcool, o cerebelo. “Isso sugere que o dano pode ser reversível também em outras partes do cérebro”, diz o pesquisador.
Dados do Instituto para Estudos do Álcool nos Estados Unidos revelam que os binge drinkers juvenis apresentam uma redução de 10% na área cerebral responsável pela memória e pelo aprendizado, o hipocampo. “Com o córtex pré-frontal, essa é a área mais afetada pelo álcool”, diz a brasileira Nayara Miranda, doutora em psicobiologia pela Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha. Mas esse efeito pode desaparecer em avaliações posteriores. É como se o álcool atrasasse o desenvolvimento cerebral dos adolescentes, mas não o impedisse.
O maior medo, portanto, é que ele crie dependência. As pesquisas mostram que 47% dos jovens que começam a beber antes dos 14 anos se tornam dependentes dez anos depois. O grande pavor da auxiliar administrativa Doraci Barbosa Gomes, de 47 anos, é que seu filho de 16 anos se torne alcoólatra. A desconfiança começou quando ela notou que a quantidade de vinho de uma garrafa da casa diminuíra. A certeza de que Paulo bebia veio há cerca de dois meses. “Ele disse que ia para a praça perto de casa com os amigos, mas demorou a voltar e não veio falar comigo, como sempre faz”, diz. Doraci foi a seu quarto, tirou o cobertor de cima do filho e sentiu um cheiro forte de bebida. “Não sabia se ficava com raiva ou pena. Se batia, se chamava a polícia. Coloquei de castigo.” Paulo ficou uma semana sem poder sair de casa e sem poder tocar violão. Doraci também o levou a uma psicóloga. Longe da mãe, ele diz que no dia anterior ao castigo exagerou, misturando todo tipo de bebida. Conta que, geralmente, para no terceiro copo de vodca. A graça na bebida? Virar o centro das atenções na frente dos amigos. Perder a timidez, chegar com mais facilidade nas meninas. “Mas tenho controle sobre mim”, diz. Será?
Sócrates – outro que começou a beber cedo – também achava que tinha. Ele nunca escondeu que bebia, com prazer e orgulho. “Bebo, fumo e penso. Não fico escondendo as coisas”, disse no início da década de 1980.
Trinta anos depois, sua história mostra que o corpo tem limites. “Conheço o Sócrates desde o ginásio. Estudamos no mesmo colégio, frequentávamos o mesmo clube e jogávamos juntos”, diz o biomédico Dácio Campos, amigo de Sócrates desde os 15 anos. “O Magrão sempre bebeu. Mas ninguém imaginava que ele fosse se tornar alcoólatra.”
Sócrates é descrito como um homem tímido, que se sente mais confiante depois de beber. “Ele gravava comigo um programa chamado Papo com o Doutor. Às vezes ele gaguejava, ficava meio travado. Quando bebia, o programa fluía melhor”, diz Fernando Silva, produtor de televisão, a quem Sócrates chama pelo apelido de Kaxassa.
Ribeirão Preto, cidade onde Sócrates foi criado, é uma das capitais nacionais da cerveja. O bar é o principal espaço de convivência social. “Aqui em Ribeirão, temos uma mesa cativa na Choperia Pinguim. No Bar Brasília, ele tem uma mesa com o nome dele”, afirma Campos. Sócrates por muitos anos pareceu imune aos efeitos da bebida. Seus amigos dizem que jamais parecia embriagado. “Só recentemente o vi com a fala pastosa”, diz o jornalista esportivo Juca Kfouri.
Há dois anos, ocorreu o primeiro susto. “Dois médicos amigos o avisaram de que ele já estava com problemas graves no fígado e que poderia começar a pensar em transplante”, diz Campos. “Ficou uns dois ou três meses preocupado. Todo lugar que a gente ia, precisava ter aquela cerveja sem álcool. Depois, começou a tomar vinho. Em seguida, voltou à cerveja.”
Nesse período, conheceu a apresentadora e empresária Kátia Bagnarelli Vieira de Oliveira. Os dois se casaram no final do ano passado. O novo casamento (Sócrates viveu com oito mulheres e tem seis filhos) deu a Sócrates uma vida mais regrada. “Ela começou a fazer com que ele levasse mais a sério o programa na TV e a vida profissional”, diz Campos. Mas quatro décadas de consumo de álcool cobraram seu preço. No fim de junho, Sócrates foi parar no hospital pela primeira vez com um sangramento digestivo. Ficou internado por três dias e prometeu aos médicos parar de beber. Duas semanas depois, recaiu.
Em entrevista ao programa Fantástico, na segunda internação, foi debochado: “Fui alcoólatra, sim. Quando eu queria. Quem usa álcool cotidianamente é alcoólatra”. Quando perguntaram se ele bebia todo dia, respondeu: “Todo o dia, não. Um pouquinho de manhã, outro pouquinho à tarde”. Nove dias depois, voltou a ser internado. Até o fechamento desta edição, ele permanecia no hospital – enquanto o país inteiro torcia por ele.
 

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 O Globo 03.03.2011
Volume de cerveja cresceu o dobro do de refrigerantes em 2010.
SÃO PAULO - A AmBev divulgou nesta quinta-feira lucro líquido consolidado de 2,586 bilhões de reais no quarto trimestre de 2010, montante 44,4 por cento superior ao apurado em igual intervalo do ano anterior.
O resultado foi apoiado em um aumento orgânico de 12 por cento na receita líquida, que somou 7,455 bilhões de reais no período, decorrente de maiores volumes vendidos, principalmente no Brasil, e aumento de preços. 
Nos últimos três meses de 2010, o volume de vendas da companhia cresceu 2,1 por cento, somando 48,038 milhões de hectolitros, impulsionado sobretudo pela alta de 3,6 por cento no Brasil e de 2,6 por cento na América do Sul. Por outro lado, as operações no Canadá sofreram queda de 5,3 por cento no período. 
Apesar do crescimento, o volume de vendas no último quarto de 2010 ficou abaixo do previsto pela própria companhia, que estimava um avanço superior a 3 por cento no Brasil, o que resultaria em crescimento anual de mais de 10 por cento. 
"Esperamos crescer mais que 3 por cento no quarto trimestre, terminando o ano acima de 10 por cento (de alta no volume de vendas)", disse o vice-presidente financeiro da AmBev, Nelson Jamel, no início ode novembro, após a empresa divulgar salto de 12 por cento nas vendas do terceiro trimestre de 2010. 
Na ocasião, o volume de vendas acumulava incremento de 12,9 por cento no Brasil até setembro, sendo a comercialização de cerveja responsável por uma alta de 14,1 por cento. 
"No Brasil, o forte crescimento da indústria observado nos trimestres anteriores desacelerou principalmente devido a uma base de comparação desafiadora contra o ano anterior e a aumentos de preços. O crescimento da indústria de refrigerantes e não-alcoólicos foi menor do que nos trimestres anteriores", afirma a AmBev no balanço divulgado nesta quinta-feira. 
O Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) foi de 3,755 bilhões de reais entre outubro e dezembro, 24,4 por cento maior na comparação anual. A margem Ebitda, por sua vez, cresceu de 44,5 para 50,4 por cento. 
A AmBev informou no balanço ter compensado o aumento de 5,3 por cento no custo de produtos vendidos por hectolitro --decorrente de maiores custos de hedge de açúcar e de embalagens-- com ganhos nos hedges de alumínio e malte. 
"Este ano iniciou com uma indústria mais lenta no Brasil impactada por chuvas fortes e pelos aumentos de preços do final de 2010, que devem trazer uma desaceleração no crescimento dos volumes particularmente no primeiro trimestre (de 2011)", afirma a empresa no demonstrativo de resultados. 
Em todo o ano passado, o ganho líquido da fabricante de bebidas foi de 7,56 bilhões de reais, expansão de 26,3 por cento sobre 2009. 
Já a geração de caixa operacional, medida pelo Ebitda ficou em 11,6 bilhões de reais no fechado de 2010, 9,8 por cento acima do visto um ano antes, com margem de 45,9 por cento. 
No ano passado, o volume de vendas da AmBev cresceu 6,7 por cento em relação a 2009, totalizando 165,142 milhões de hectolitros. 
Enquanto isso, o volume de cerveja cresceu 7,7 por cento e o de RefrigeNanc (não-alcóolicos e não-carbonatados) aumentou 4,4 por cento, levando a companhia a apurar receita líquida de 25,2 bilhões de reais em 2010, alta de 8,8 por cento em 12 meses. 
A AmBev informou ainda que prevê investimentos de até 2,5 bilhões de reais no Brasil em 2011, voltados à expansão da capacidade de produção. Em 2010, a companhia investiu um recorde de 2,3 bilhões de reais, segundo balanço da companhia. 
O investimento, segundo a AmBev, será destinado à construção de novas fábricas e centros de distribuição, ampliação de unidades já existentes e melhorias operacionais.
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uol notícias 07/02/2011
Jovens alcoólatras começam a beber antes dos 11 anos
O manobrista Johnny, de 22 anos, tomou o primeiro gole de vinho aos 11 anos, com o irmão mais velho. Aos 7 anos, a doméstica Madalena, de 50, bebeu um copo de pinga em casa, pensando que era água. Hoje, os dois engrossam as estatísticas do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod): 40% dos adolescentes e 16% dos adultos que procuram tratamento para se livrar do vício experimentaram bebida alcoólica antes dos 11 anos.

Os dados sobre o primeiro contato com a bebida impressionaram a psiquiatra Marta Ezierski, diretora do Cratod, vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. "Uma coisa é falar de alcoolismo na população em geral. Outra é falar com base em uma população triada, já dependente. O número é muito alto." As informações são resultado de duas análises: uma de 684 pacientes adultos e outra de 138 adolescentes que procuraram o centro nos últimos dois anos.
O ponto que mais chamou a atenção foi o fato de os jovens terem começado a beber ainda crianças, geralmente em casa ou na presença de familiares. Segundo o levantamento, em 39% dos casos o pai bebia abusivamente; em 19%, a mãe; e em 11%, o padrasto. O relatório aponta ainda que, após o contato com álcool e tabaco, metade relatou ter experimentado maconha. "Eram crianças que tinham o consentimento da família para beber, porque o pai ou a mãe bebiam. Eles começaram a ingerir bebidas sem culpa e não se deram conta de que estavam se viciando. Um paciente chegou a dizer que havia nascido dentro do álcool", diz a diretora do Cratod.
Segundo Marta, o levantamento também demonstrou que, em geral, os adultos procuram ajuda quando já se envolveram com outras drogas, estão deprimidos, tentaram suicídio ou porque estão com alguma doença ou sequela decorrente do consumo abusivo. Já os adolescentes, diz a médica, normalmente vão ao Cratod por causa de conflitos em casa ou na sociedade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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Estadão 15.2.2011
Dependência do álcool afeta 1/3 dos universitários.
 Entrar na faculdade é apenas um dos motivos comemorados à base de álcool pelos universitários. Ao longo dos cursos, a proximidade com a bebida aumenta ainda mais. Na capital, os traços de dependência relacionados à bebida já aparecem em quase um terço dos universitários avaliados pelo centro de referência de álcool, tabaco e outras drogas (CRATOD).
O levantamento feito com 536 alunos de uma faculdade particular da cidade foi obtido com exclusividade pelo JT. Ali, 27% dos estudantes relatam sentir necessidade ou urgência em beber semanalmente e outros 4% manifestam essa sensação diariamente. Para os especialistas, os números indicam uma relação de dependência.
A pesquisa também indica que dois a cada três estudantes universitários consome álcool pelo menos uma vez por semana: “A dependência causa prejuízos à vida do jovem, por exemplo: 3% dos alunos que entrevistamos vivenciam problemas por causa da bebida semanalmente. Perdem aulas, compromissos ou se envolvem em acidentes”, explica a diretora da ação comunitária CRATOD, Selma Setani.
Relacionar álcool a comemorações e a diversão é uma associação aprendida em casa, segundo os alunos. O estudante de direito Eduardo Gomes, com 21 anos, conta que experimentou bebida alcoólica pela primeira vez aos 7 anos, sob a supervisão dos pais. O primeiro porre também foi com os pais. “Acho que foi para conhecer e não fazer fora de casa”, afirma.
“As pessoas crescem com a ideia de que essa substância faz parte do lazer na vida adulta”, diz a coordenadora do ambulatório de adolescentes e professora de medicina e sociologia do abuso de drogas da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Denise de Micheli. Para ela, a frequência com a qual o jovem consome álcool é um fator importante do alcoolismo.
A disponibilidade do álcool e a oferta frequente aos jovens é o que preocupa. “o álcool está muito disponível e tem esse caráter benigno. É uma substância que está sempre presente em casa e os pais não respeitam a lei. Não respeitam que menores de 18 anos não devem beber nunca”, alerta o psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (ABEAD), Carlos Salgado.
A participação das universidades, bem como da família, é fundamental para inibir a ingestão de bebidas alcoólicas precocemente e prevenir o alcoolismo. É na recepção dos calouros que a ingestão de álcool é mais preocupante. “Nesse momento, os alunos passam por uma transição. Deixam o ambiente escolar, em que eram vigiados, e passam para uma maior liberdade. Muitas vezes, a única coisa que separa esses dois momentos de vida são as férias”, analisa Roseli Caldas, psicóloga e coordenadora do programa Mackvida, desenvolvido pela universidade Mackenzie.
O programa Mackvida é uma das ações de prevenção da universidade. Também a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-sp) desenvolve programas de prevenção e faz o encaminhamento de alunos que bebem com muita frequência. “Observamos a quantidade de bares ao redor da universidade a prática de festas do tipo open bar e tentamos conscientizar esse aluno”, diz o pró-reitor de cultura e relações comunitárias da PUC, Hélio Deliberador.
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FSP 11/02/2011
Álcool mata mais que Aids, tuberculose e violência, diz OMS
O álcool causa quase 4% das mortes no mundo todo, mais do que a Aids, a tuberculose e a violência, alertou a OMS (Organização Mundial da Saúde) nesta sexta-feira.
            O aumento da renda tem provocado o consumo excessivo em países populosos da África e da Ásia, incluindo Índia e África do Sul. Além disso, beber em excesso é um problema em muitos países desenvolvidos, informou a agência das Nações Unidas.
No entanto, as políticas de controle do álcool são fracas e ainda não são prioridade para a maioria dos governos, apesar do impacto que o hábito causa na sociedade: acidentes de carro, violência, doenças, abandono de crianças e ausência no trabalho, de acordo com o relatório.
Cerca de 2,5 milhões de pessoas morrem anualmente por causas relacionadas ao álcool, disse a OMS em seu "Relatório Global da Situação sobre Álcool e Saúde".
"O uso prejudicial do álcool é especialmente fatal em grupos etários mais jovens e beber é o principal fator de risco de morte no mundo entre homens de 15 a 59 anos", afirma o relatório.
Na Rússia e na CEI (Comunidade dos Estados Independentes), uma em cada cinco mortes ocorre devido ao consumo prejudicial, a taxa mais elevada do planeta.
A bebedeira, que muitas vezes leva a um comportamentos de risco, agora é prevalente no Brasil, Cazaquistão, México, Rússia, África do Sul e na Ucrânia, e está aumentando entre outras populações, segundo a OMS.
"Mundialmente, cerca de 11% dos consumidores de álcool bebem bastante em ocasiões semanais; os homens superam as mulheres em quatro a cada uma. Eles praticam constantemente um consumo de risco em níveis muito mais elevados do que as mulheres em todas as regiões", disse o relatório.
Em maio passado, ministros da Saúde dos 193 países-membros da OMS concordaram em tentar conter o consumo excessivo de álcool e de outras formas crescentes do uso excessivo por meio de altos impostos sobre bebidas alcoólicas e restrições mais rígidas de comercialização.
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OBESIDADE

ONU 04.06.2013
Quinhentos milhões de pessoas estão obesas e 1,4 bilhão têm excesso de peso, alerta ONU
     Uma dieta variada é essencial para uma boa alimentação.


A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) lança nesta terça-feira (4) o relatório “O Estado da Alimentação e da Agricultura 2013 – Sistemas Alimentares para uma Melhor Nutrição”, que nesta edição alerta para os problemas ligados à má nutrição: o excesso de peso, a obesidade, a desnutrição e a falta de micronutrientes.
Segundo o documento, 500 milhões de pessoas são obesas e aproximadamente 1,4 bilhão sofre com excesso de peso, ao mesmo tempo em que 868 milhões — ou 12,5% da população mundial — estão subnutridas e cerca de 2 bilhões têm uma ou mais deficiências de micronutrientes.
O custo da desnutrição para a economia global em termos de perda de produtividade e de cuidados de saúde são “inaceitavelmente elevados” e poderão representar cerca de 3,5 trilhões de dólares, ou 500 dólares por pessoa. Isso é quase a totalidade do PIB anual da Alemanha, a maior economia da Europa.
Para combater este quadro, a publicação sugere abordagens abrangentes e coordenadas, com investimentos em setores complementares: sistemas alimentares, saúde pública e educação.
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Valor Econômico 08.05.2013
Coca-Cola altera embalagens em campanha contra obesidade.


A maior fabricante de bebidas do mundo, a Coca-Cola lança um plano global de combate à obesidade. A empresa informou que vai deixar de fazer publicidade para crianças com menos de 12 anos. O plano também inclui a reformulação de embalagens para especificar a quantidade de calorias em seus produtos.
A companhia informou que vai aumentar a oferta de bebidas com baixa caloria ou sem caloria em todos os mercados em que atua. Em comunicado, a Coca-Cola destacou que já realiza ações para combater o excesso de peso, como a redução do tamanho de algumas embalagens e investe em ações ligadas ao esporte.
A Coca-Cola e outras fabricantes de bebidas açucaradas, como sua maior rival PepsiCo, enfrentam problemas ao redor do mundo nos últimos anos, nos quais o consumo de refrigerante é relacionado com obesidade.
Ontem, a Coca-Cola Amatil, operação da multinacional na Austrália, informou que o lucro do primeiro semestre deve cair 9%, em um ano de guerra de preços e redução do consumo, que afetam a rentabilidade da empresa. A companhia prevê voltar a ter alta no indicador apenas no segundo semestre.
A The Coca-Cola Company, com sede nos Estados Unidos, tem 29% do capital da operação australiana.
A PepsiCo enfrenta dificuldades nos Estados Unidos há cinco anos, e tem como meta triplicar as vendas globais de produtos saudáveis - que inclui as marcas Gatorade, Tropicana e Quaker -, e alcançar US$ 30 bilhões ao fim da década.
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G1 17/04/2013

Uma em quatro crianças de São Paulo é obesa.
Análise do InCor avaliou dados de 476 crianças de 2 a 9 anos.
Levantamento analisou Índice de Massa Corpórea (IMC) dos jovens.
Uma em cada quatro crianças de São Paulo (26%) sofre com obesidade infantil, segundo uma pesquisa do Instituto do Coração (InCor), ligado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (17) pela Secretaria de Estado da Saúde.
O levantamento contou com a participação de 476 crianças de 2 a 9 anos, e foi realizado durante mutirões gratuitos em parques, estações de metrô e escolas estaduais. Foram avaliadas 230 meninas e 246 meninos, segundo a secretaria.
Elaborada no âmbito do programa "Meu Pratinho Saudável", a pesquisa levou em conta o Índice de Massa Corpórea (IMC) e a avaliação nutricional das crianças na sua realização.
Do total de crianças, 19% estão com sobrepeso e 26% estão obesas, o que indica que quase metade (45%) do público estudado de alguma forma está acima do peso ideal, diz a secretaria.
Entre as meninas avaliadas, 22% estão acima do peso e e 24% podem ser consideradas obesas. Já entre os garotos, 16,6% foram identificados com sobrepeso e 28% estão em situação de obesidade.
O programa "Meu Pratinho Saudável", desenvolvido em parceria com organizações privadas, tem como objetivo ajudar na readequação alimentar das crianças, para que elas aprendam a comer de maneira saudável, de acordo com a secretaria.
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Estado de Minas 23/05/2012 
Veneno para crianças
O que esperar de uma família que oferece na mesa os mesmos produtos nocivos do camelô da esquina? 
Frei Betto
 “As crianças de todas as regiões das Américas estão sujeitas à publicidade invasiva e implacável de alimentos de baixo ou nenhum valor nutricional, ricos em gordura, açúcar ou sal”, constata pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde (2012). Basta olhar em volta para verificar que nossas crianças (com menos de 16 anos de idade) apresentam elevada taxa de obesidade e doenças crônicas relacionadas à nutrição, como diabetes e distúrbios cardiovasculares. 
 Um dos fatores que mais influenciam maus hábitos alimentares nessa faixa etária é a publicidade de produtos de baixo valor nutritivo, como cereais matinais já adoçados, refrigerantes, doces, sorvetes, salgadinhos e fast food. Eles “enchem” a barriga, trazem sensação de saciedade sem, no entanto, suprir as necessidades nutricionais básicas.

Resolução da Organização Mundial da Saúde, de maio de 2010, instou os governos a se esforçarem por restringir a promoção e a publicidade de alimentos para crianças. O mais poderoso veículo de promoção de alimentos nocivos é a TV. Expostas excessivamente a ela, as crianças tendem a querer consumir as marcas ali anunciadas. Em geral, a propaganda cria vínculos emocionais entre o produto e o consumidor, e envolve brindes, concursos e competições. 

Sob o pretexto de atividades filantrópicas nas escolas, empresas de alimentos não saudáveis aumentam seu poder de domesticação. Pesquisas brasileiras indicam que assistir a TV por mais de duas horas por dia influi no aumento do índice de massa corporal em meninos.

Relatório de agência de pesquisa de mercado aponta que, no Brasil, na Argentina e no México, 75% das mães com filhos de 3 a 9 anos acreditam que a publicidade influencia os pedidos das crianças na compra de alimentos (no Brasil, 83%). No Reino Unido, é proibida na TV a publicidade de alimentos não saudáveis. A Irlanda limita a presença de celebridades nesses anúncios e exige o uso de advertências. A Espanha desenvolveu um código autorregulatório e restringe o uso de celebridades e a distribuição de produtos no mercado.

 Segundo relatório do Ministério da Saúde (2008), durante um ano, no Brasil, mais de 4 mil comerciais de alimentos foram veiculados na TV e em revistas, dos quais 72% referiam-se a alimentos não saudáveis. No Brasil, regulamentação vigente obriga colocar advertências nos comerciais de alimentos, embora a Abia, principal associação da indústria de alimentação do país, se recuse a fazê-lo. Ela obteve liminar garantindo a não aplicação das novas regras e a decisão final depende agora da Justiça.
É preciso, pois, que famílias e escolas se dediquem à educação nutricional das crianças. Peças publicitárias devem ser projetadas em salas de aula e debatidas. Cria-se, assim, distanciamento crítico frente ao produto e melhor discernimento por parte dos consumidores. Em São Paulo, alunos projetaram em sala de aula propagandas gravadas em casa. Depois de debaterem as peças publicitárias, decidiram adquirir determinada marca de iogurte. Remetido o conteúdo à análise clínica, constatou-se não conferir com as indicações contidas na embalagem. Assim, os alunos aprenderam o que significa propaganda enganosa.
A Organização Pan-Americana da Saúde recomenda que sejam anunciados, sem restrição, os alimentos naturais, aqueles nos quais não há adição de adoçantes, açúcar, sal ou gordura. São eles: frutas, legumes, grãos integrais, laticínios sem gordura ou com baixo teor, peixes, carnes, ovos, frutas secas, sementes e favas. No caso de bebidas, água potável. 
Eis o dilema: enquanto famílias e escolas querem formar cidadãos, a publicidade investe na ampliação do consumismo. A ponto de, no Brasil, se admitir o uso de celebridades, como atletas, na propaganda de alimentos não saudáveis e obviamente nocivos, como bebidas alcoólicas.
É preocupante constatar que, em nosso país, o alcoolismo se inicia por volta dos 12 anos, e aumenta a ingestão de vodca na faixa etária inferior a 16 anos. A fiscalização em bares e restaurantes é precária, e padarias e supermercados vendem, quase sem restrição, bebidas alcoólicas a menores de idade. Mas o que esperar de uma família ou escola que oferece na mesa e na cantina os mesmos produtos nocivos vendidos pelo camelô da esquina? Essa é a crônica de graves enfermidades anunciadas.
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Agência Brasil 25.01.2012
Aumento da obesidade é maior dos 5 a 9 anos
O sobrepesa atinge 34,8 dos meninos e 32% das meninas, segundo o IBGE

Obesidade infantil é a que mais cresce no país.
Números divulgados nesta quarta-feira pela  SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revelam aumento do percentual de crianças com sobrepeso e obesidade no Brasil, principalmente na faixa de 5 a 9 anos. Os números referem-se a levantamento de 2010.
 O sobrepeso atinge 34,8% dos meninos e 32% das meninas nessa faixa etária. Já a obesidade foi constatada entre 16,6% dos meninos e entre 11,8% das meninas. De acordo com a presidenta do Departamento de Obesidade da SBEM, Rosana Radominski, esse quadro é alarmante.
 Já entre as crianças a partir de 10 anos e jovens de até 19 anos, o excesso de peso atinge 21,7% do total dos meninos e a obesidade, 5,9%. Entre as meninas nessa faixa etária, 15,4% mostravam sobrepeso e 4,2%, obesidade.
 “Houve um aumento muito grande [do aumento de peso] nesse grupo de crianças [de 5 a 9 anos] quando a gente considera o período de 1989 para 2009”, observou a médica. De acordo com os dados, o sobrepeso nessa faixa etária atingia 15% dos meninos em 1989 e 11,9% das meninas. Já a obesidade tinha 4,1% de índice entre os meninos naquele ano e 2,4%, entre as meninas de 5 a 9 anos.
 “Nas crianças de modo geral, a velocidade, em termos de excesso de peso e obesidade, está muito maior do que nos adultos. Isso tem a ver com a mudança da cultura. Hoje, tem uma inversão nutricional”, analisou a especialista, que vê também a influência de programas assistenciais, como o Bolsa Família, na mudança dos hábitos alimentares.
 “Começou-se a aumentar a renda das famílias, mas não a educação familiar para que a alimentação fosse corrigida”, estimou Rosana. Com mais dinheiro no bolso, as famílias estão adquirindo maior quantidade de alimentos e não necessariamente os mais saudáveis. Segundo ela, há atualmente maior ingestão de açúcar, de alimentos gordurosos e industrializados, em vez de alimentos naturais.
 Outro problema, conforme apontou a médica, é a redução da prática de atividades físicas, “por causa da violência, da dificuldade de transporte e até pelo currículo escolar”. Ela lembrou que as crianças acabam mais confinadas em casa, diante da televisão, do computador e dos videogames e, com isso, ganham sobrepeso.
 Segundo Rosana Radominski, entre os adultos os percentuais são maiores: 48,5% apresentavam sobrepeso, em 2010, e 15%, obesidade. Entre os homens, 52,1% tinham excesso de peso e 14,4%, obesidade, enquanto os índices nas mulheres eram, respectivamente, 44,3% e 15,5%.
 De acordo com a médica, o Brasil e a China são os países em que a obesidade está aumentando de forma mais rápida no mundo. “Se não houver programas do governo para reprimir a obesidade e uma mobilização de toda a população, a tendência é aumentar [o número de obesos no país]. Acho que é importante o alerta com relação a isso, para que se possa ganhar essa batalha”.
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Obesidade: epidemia já é realidade.
Veja vídeo a seguir.

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UOL Notícias 01/09/2011
“Eu vejo a comida como uma droga.”, revela comedor compulsivo
Marcela Rahal
Para quem sofre do chamado Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica, a comida é como um entorpecente.
De acordo com o Programa de Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas de São Paulo, é considerado um comedor compulsivo, a pessoa que tem crises pelo menos duas vezes por semana, em um período mínimo de seis meses.
Elas buscaram ajuda em um grupo de Comedores Compulsivos Anônimos. A compulsão alimentar acomete cerca de 30% dos obesos.
Segundo um estudo feito nos EUA, estima-se que de 2 a 3,5% da população mundial sofre desse transtorno.
A doença se manifesta em momentos de estresse em pessoas que já possuem pré-disposição ao problema.
              Veja o vídeo a seguir. 
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Pesquisa revela números preocupantes de pessoas com sobrepeso e obesidade no Brasil
A TV NBR, exibida em Brasília, fez um programa especial sobre o tema da obesidade e sobrepeso, assunto bastante debatido pelo senador e líder do PT, Humberto Costa. Segundo os dados apurados pela equipe de reportagem, os índices de obesidade entre adultos e crianças já podem ser considerados preocupantes no Brasil.
Assista ao vídeo abaixo e acompanhe o debate sobre as políticas de prevenção e combate à obesidade, que incluem ações da Política Nacional de Alimentação e Nutrição, Plano de Ações para Enfretamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis e um Plano Intersetorial para Prevenção e Controle da Obesidade. Participam do programa Cenas do Brasil a coordenadora Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Patrícia Jaime, e a nutricionista e professora adjunta da UnB Ceilândia, Kelb Bousquet:

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Obesidade infantil já é considerada epidemia em Alagoas
Levantamento realizado em 2010 nos 102 municípios constatou que 17,6% das crianças de zero a cinco anos de idade estão com risco de sobrepeso.
Um levantamento realizado em 2010 nos 102 municípios de Alagoas constatou que 17,6% das crianças de zero a cinco anos de idade estão com risco de sobrepeso e 11,1% estão obesas. Os dados referentes ao acompanhamento de 78.387 crianças foram inseridos pelos municípios no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), do Ministério da Saúde.
A mudança dos hábitos alimentares das famílias é apontada por especialistas como a principal causa do aumento da obesidade infantil, doença que já assumiu proporções de epidemia mundial.
De acordo com Maria Edna Bezerra, nutricionista do Hospital Geral do Estado (HGE), a modificação do estilo de vida das famílias trouxe como prejuízo o aumento do consumo de produtos processados, de rápido preparo e a diminuição da ingestão de frutas, verduras e cereais.
“As famílias têm cada vez menos tempo de preparar os alimentos e sentar para fazer as refeições, por isso oferecem industrializados para as crianças, a exemplo dos salgadinhos e macarrão instantâneo. Esses produtos são ricos em açúcar e carboidrato e pobres em fibras; já a combinação preferida dos brasileiros – feijão com arroz – vem desaparecendo das refeições diárias”, ressaltou.
Os pais devem estar alerta quanto ao peso dos pequenos e sua relação com a faixa etária e altura. Quando o peso estiver 15% acima do esperado, a criança já será considerada com sobrepeso, que é o primeiro passo para a obesidade. “As crianças não brincam mais e ficam horas em frente à televisão, computadores e jogos eletrônicos. É preciso tirar as crianças da frente da televisão, pois a diminuição da atividade física leva ao menor gasto energético e consequentemente ao acúmulo de gordura. Elas precisam fazer atividade física, brincar e interagir com o mundo”, recomendou Maria Edna Bezerra.
Incidência - Segundo a médica pediatra e nutróloga do HGE, Genilda Sampaio, a incidência da obesidade nos adolescentes triplicou entre 1963 e 2004, saltando de 5% para 17%. Na faixa etária de seis a 11 anos, a prevalência passou de 4% para 19%. No Brasil, o excesso de peso na faixa etária pediátrica varia de 11% a 34%.
“Se a criança está obesa aos cinco anos de vida, ela terá em torno de 70% a 80% de chances de ser um adulto obeso. Cabe aos pais ter boa qualidade alimentar, uma vez que eles servem de modelos para os filhos, propiciando escolhas adequadas dentro de casa e evitando despensas recheadas de calorias”, orientou.
Ela defende maior envolvimento da sociedade para a prevenção da obesidade infantil, através de estímulos a hábitos alimentares saudáveis, participação das escolas com a instituição de lanche saudável e cobrança de responsabilidade social da indústria alimentícia.
“Os pais, como principais cuidadores responsáveis, precisam ficar atentos aos bons hábitos alimentares. Ao perceber rápido ganho de peso, distorções do cardápio com substituições inadequadas e volumes inapropriados, eles devem consultar o pediatra para que sejam feitas as devidas avaliações e diagnóstico preciso”, expôs.
Além da influência alimentar da família, outros fatores incidem na obesidade, tais como a herança genética, metabolismo endócrino e o sedentarismo. A obesidade adulta ou infantil é uma enfermidade crônica acompanhada de múltiplas complicações como diabetes e problemas cardiovasculares; hipertensão arterial; aumento dos níveis de colesterol e triglicerídeos; distúrbios psicológicos; alterações osteomusculares e incremento da incidência de alguns tipos de cânceres.
A médica aponta o marketing de alimentos com um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da obesidade na infância. “Os comerciais de alimentos utilizam brinquedos, músicas e outros elementos para chamar a atenção da criança. Essa persuasão vem funcionando com a transmissão, por ano, de mais de 100 mil comerciais de alimentos na TV”, informou.
Prevenção – A obesidade infantil também está relacionada, ainda na primeira infância, com o desmame precoce e a utilização de farinhas para engrossar o leite das mamadeiras. O acompanhamento alimentar rigoroso na infância, com o incentivo à prática do aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, é o ponto de partida para a prevenção da obesidade.
Estabelecer horários para as refeições, evitando longos períodos sem alimentação, também é importante para o controle do peso. Nos intervalos das refeições principais devem ser incluídos lanches que podem conter, por exemplo, leite, frutas, pão ou cereais.
Para uma alimentação equilibrada, é recomendável o consumo de pelo menos, um alimento regulador (frutas, verduras e legumes), energético (cereais, pães, macarrão, batata, mandioca) e construtor (carnes bovina e de frango, peixes, ovos, feijão, soja, leite e derivados) em cada refeição.
O cardápio da criança deve ter baixo consumo de alimentos gordurosos, excluindo as frituras e utilizando pouco óleo na preparação dos alimentos, substituição dos refrescos artificiais e refrigerantes por sucos naturais de frutas e redução da ingestão de doces e alimentação fast food.
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O Globo 28.08.2010

Histórico mostra evolução da obesidade entre brasileiros, aponta IBGE.

RIO - Os bons resultados obtidos pelo Brasil na luta contra os efeitos da desnutrição e o aumento da preocupação com as consequências do excesso de peso são demonstrados pelas comparações entre o Estudo Nacional da Despesa Familiar (Endef), realizada em 1974-1975; a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN), em 1989; e a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) em 2008-2009, todas calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A incidência de déficit de altura entre crianças do sexo masculino de 5 a 9 anos de idade passou de 29,3% em 1974-1975 para 14,7% em 1989 e 7,2% em 2008-2009. Nas meninas, o percentual passou de 26,7% para 12,6% e 6,3%. Já o déficit de peso entre os meninos foi de 5,7% em 1974-1975 para 2,2% em 1989 e para 4,3% em 2008-2009. Nas meninas o percentual foi de 5,4%, 1,5% e 3,9%.
No sentido contrário estão o excesso de peso e a obesidade. Entre 1974 e 2009, o percentual de meninos brasileiros entre 5 e 9 anos com excesso de peso subiu de 10,9% para 34,8%, atingindo 15% em 1989. Já a obesidade era de 2,9% em 1974-1975, foi a 4,1% em 1989 e 16,6% em 2008-2009. Entre as meninas, o excesso de peso passou de 8,6% em 1974-1975 para 11,9% em 1989 e 32% em 2008-2009. A obesidade para as meninas subiu de 1,8% para 2,4% e 11,8% no mesmo período.
Tendência semelhante foi observada entre os jovens de 10 a 19 anos. Neste caso, já incluídas as comparações da POF 2002-2003, o déficit de peso entre os homens passou de 10,1% em 1974-1975 para 3,7% em 2008-2009, enquanto o excesso de peso atingiu 3,7% do total em 1974-1975 e 21,7 em 2008-2009. A obesidade pulou de 0,4% para 5,9%.
Entre as meninas, o déficit de peso variou de 5,1% para 3%, enquanto o excesso de peso saltou de 7,6% para 19,4% e a obesidade de 0,7% para 4%.
Entre os adultos - com 20 anos ou mais - o déficit de peso era de 8% entre os homens e de 11,8% entre as mulheres em 1975, passando, em 2009, para 1,8% e 3,6%, respectivamente. Já o excesso de peso pulou de 18,5% para 50,1% entre os homens e de 28,7% para 48% entre as mulheres. A obesidade saltou de 2,8% para 12,4% entre os homens e de 8% para 16,9% entre as mulheres.
A coordenadora de trabalho e rendimento do IBGE, Márcia Quintsler, ressaltou que, entre os adultos, o excesso de peso entre os homens está mais associado à renda. Entre os 20% com maior rendimento, o excesso de peso ficou em 61,8% na POF 2008-2009, enquanto entre os 20% com menor rendimento o percentual foi de 36,9%. Já a obesidade ficou em 16,9% entre os mais ricos e 7% entre os 20% mais pobres.
Entre as mulheres, Márcia chamou a atenção para uma tendência que não se verificou entre 2002-2003 e 2008-2009. Entre as 60% com maiores rendimentos, tanto o percentual de mulheres acima do peso, quanto de obesas caiu entre 1989 e 2003, o que não se repetiu agora, com o percentual de todas as faixas subindo.
"Na POF de 2002-2003, houve declínio nos três maiores quintos de renda tanto do excesso de peso, quanto da obesidade, uma tendência que não foi confirmada pela POF 2008-2009, que viu esses índices crescerem novamente", destacou Márcia.