Nós 2

Estadão 03.12.2013
Unifesp: 54% das famílias com dependentes bancam tratamento
Segundo levantamento, divulgado nesta terça-feira, 28 milhões de pessoas vivem com um viciado em drogas no Brasil
Lígia Formenti

BRASÍLIA - Pesquisa inédita feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que o tratamento de dependentes químicos é, na maioria das vezes, financiado pelos próprios familiares. O trabalho entrevistou 3.153 famílias de todo o País que tinham entre seus integrantes usuários em tratamento. Desse grupo, 54% pagavam do próprio bolso a internação dos pacientes.
O trabalho revelou ainda que o impacto da terapia afetou de forma drástica ou fortemente quase metade dos entrevistados (45% deles). "Com o estudo, quisemos dar voz a essas famílias, que também sofrem com essa doença crônica, mas estão esquecidas, sobretudo pelos serviços públicos", afirmou o coordenador do trabalho, o psiquiatra da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas, Ronaldo Laranjeira.
Atualmente, 28 milhões de pessoas vivem no Brasil com um dependente químico. "É um problema muito próximo de todos nós. Mas, ao mesmo tempo, poucos dão a importância devida", completa.
O fato de a maior parte das famílias arcar com o pagamento é uma prova do abandono, avalia Laranjeira. "A informação é deficiente, os serviços, escassos", observou.
A lacuna, completa, está estampada na pesquisa. Dos familiares entrevistados, 50% não sabem o que são os Centros de Atendimento Psicossocial de Álcool e Drogas, unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimento de dependentes químicos. E dos que conhecem, 46% nunca haviam procurado um CAPS.
"Os relatos impressionam: `as vezes familiares recorrem aos serviços, dizendo que o dependente está em casa descontrolado, ameaçando todos. A resposta que ouvem é que não há nada a ser feito, enquanto o usuário não comparecer, por conta própria, ao serviço de atendimento", relata Laranjeira. Ele avalia que o mínimo que poderia ser feito é um serviço de aconselhamento para familiares, mesmo que por telefone. "Atualmente, o serviço se limita a dar endereços sobre postos de atendimento. Isso não resolve", assegura.
A tensão se reflete na própria qualidade de vida dos familiares. De acordo com a pesquisa, esse grupo tem um risco maior para desenvolver problemas de saúde. "Eles apresentam significativamente mais sintomas físicos e psicológicos que a média da população", conta Laranjeira.
Dos entrevistados, 58% disseram que os problemas enfrentados com familiares usuários de drogas afetaram o trabalho ou estudos. Dos ouvidos, 47% relataram ainda que a vida social havia sido prejudicada em decorrência dos problemas enfrentados com o familiar usuário de drogas.
A maioria (80%) dos entrevistados era do sexo feminino. A maior parte das pessoas ouvidas (45%) eram mães dos usuários de drogas. "Geralmente são elas as grandes envolvidas. Elas que ficam `a frente no tratamento", disse Laranjeira.
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AFP 02.12.2013
Polícia da Islândia mata um homem pela primeira vez em sua história
A polícia islandesa foi obrigada, pela primeira vez em sua história, a atirar e matar nesta segunda-feira (2.12.2013) um homem.

Este é um incidente "sem precedentes" na Islândia, declarou o diretor da polícia, Haraldur Johannessen, durante uma coletiva de imprensa em Reykjavík.
Este país, com uma população de apenas 322 mil habitantes, tem uma das menores taxas de criminalidade do mundo, e os agentes da polícia usam suas armas de forma muito excepcional.
A vítima seria um homem desequilibrado de pouco menos de 60 anos de idade que, por razões desconhecidas, começou a atirar às 3h com um rifle de caça de seu apartamento na capital, onde morava sozinho.
Após a evacuação do prédio, a polícia tentou em vão entrar em contato com o homem. Em seguida, atirou granadas de gás pela janelas para tentar detê-lo.
"Isto não funcionou, e o homem começou a atirar novamente a partir das janelas de seu apartamento", explicou o diretor da polícia de Reykjavík, Stefan Eiriksson.
Uma equipe especializada conseguiu penetrar no apartamento às 6h e foi recebida a balas. Os policiais responderam ao ataque atingindo o homem, que não resistiu aos ferimentos e morreu no hospital para onde foi levado.
"A polícia lamenta o incidente e expressa suas condolências à família.", disse Johannessen.
A polícia abriu uma investigação para determinar as razões que levaram o indivíduo a disparar e ver se ele estava sob a influência de álcool ou qualquer entorpecente.
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Revista Fórum 17.05.2013
Estudo mostra que maioria da população de rua não bebe nem usa drogas
Pesquisa derrubou mitos e trouxe à tona outra realidade sobre o perfil dessa população; somente 13% dos moradores de rua são analfabetos, 65% não bebem e 62% não usam drogas
Igor Carvalho


O Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro realizou um estudo para traçar um perfil das pessoas em situação de rua, na região metropolitana da capital. A pesquisa derrubou mitos e trouxe à tona outra realidade sobre o perfil dessa população. Somente 13% dos moradores de rua são analfabetos, 65% não bebem e 62% não usam drogas.
“A intenção do projeto era realizar um mapeamento dessa população. É muito difícil realizar esse censo, nem o Censo do IBGE os afirma, pois parte da premissa do endereço,ou seja, são pessoas invisíveis”, afirmou a coordenadora do estudo, Juliana Moreira.
Para o vereador Renato Cinco (PSOL), a desmistificação dos hábitos da população de rua é “extremamente importante”. “Esse estudo fortalece uma crítica que fazemos ao governo e para a imprensa, que sempre transformou a população de rua como ‘cracudos’. Espero que possamos tratar dessa população sem os estigmas e os mitos que recaem sobre eles.”
“Há relatos durante as entrevistas de violação de Direitos Humanos por parte dos agentes da prefeitura. Os relatos apontam que esses agentes rasgam os documentos”, disse Cinco sobre o projeto “População de Rua”, da prefeitura do Rio, que começou em dezembro. “Tenho escutado muitas denúncias de violência contra moradores de rua nessas abordagens do projeto. É um processo de higienização no Rio de Janeiro.”
O Ministério Público do Rio entrou com uma ação civil pública, onde pede a perda de função pública e suspensão por cinco anos dos direitos políticos do prefeito Eduardo Paes e do secretário de governo, Rodrigo Bethlem, por conta da ação adotada contra moradores de rua. Segundo a promotoria, os agentes utilizam armas de fogo para levarem compulsoriamente as pessoas a um abrigo.
A ausência dos documentos evita que pessoas em situação de rua não tenham acesso a políticas sociais. A Defensoria escutou 1.247 pessoas em situação de rua, destes, 1.049 não possui acesso a benefícios assistenciais.
Com os resultados, a Defensoria irá estabelecer parcerias com o Tribunal de Justiça e o Ministério do Trabalho, para emitir novos documentos e emitir a Carteira de Trabalho da população de rua.
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rev. Exame 22.11.2013
Moradores de Toronto reelegeriam prefeito que fuma crack
Rob Ford: prefeito de Toronto, político populista conservador, foi eleito prefeito da maior cidade canadense em 2010 com um programa de redução de impostos.
Mark Blinch / Reuters


Toronto - Uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira apontou que 33% dos moradores de Toronto votariam novamente no prefeito Rob Ford, que reconheceu que consume crack, dirigiu bêbado, e que está sendo acusado de se relacionar com traficantes.
A pesquisa foi divulgada pelo principal jornal da cidade, "The Toronto Star", que também publicou novas acusações de que Ford maltratou sua esposa e que a polícia parece o estar tratando de forma especial.
A pesquisa foi realizada em 20 de novembro e afirmou que 42% dos moradores aprovam o trabalho de Ford enquanto 58% desaprovam. A pesquisa foi realizada com 1.049 pessoas da cidade e tem uma margem de erro de 3%.
Ford, um político populista conservador, foi eleito prefeito da maior cidade canadense em 2010 com um programa de redução de impostos.
Conforme ele mesmo declarou, desde a sua chegada na prefeitura a cidade já economizou US$ 1 bilhão. Contudo, análises feitas por meios de comunicação e especialistas afirmam que o valor é bem abaixo disso.
Ford se transformou nas últimas semanas em motivo de piada dos principais canais de televisão por seu comportamento errático e suas declarações insólitas.
A imprensa informou em maio deste ano da existência de um vídeo no qual Ford aparecia fumando crack quando indivíduos relacionados com o mundo do tráfico de drogas de Toronto tentaram vendê-lo por US$ 200 mil. Ford negou então a existência do vídeo ou que tivesse usado a droga.
No começo de novembro, depois de meses de intensas pressões de jornalistas canadenses para saber se as autoridades estavam em posse do vídeo, o chefe de polícia de Toronto, Bill Blair, anunciou que tinham conseguido as imagens após uma batida entre grupos de traficantes da cidade.
Após uma semana fugindo da imprensa, Ford reconheceu que tinha fumado crack e que desde que se tornou prefeito tinha comprado drogas e que dirigia bêbado. Mas acrescentou que não era um viciado ou alcoólatra e que estava disposto a tentar a reeleição.
Hoje, o jornal "The Toronto Star" declarou que a polícia teve que ir por várias vezes à casa de parentes de Ford por denúncias de maus-tratos a, a última vez em agosto deste ano.
Em 2008, Ford foi acusado de ameaçar matar sua esposa, mas as acusações foram retiradas pela procuradoria por serem consideradas "inconsistentes".
O prefeito salientou também que em todas as ocasiões nas quais se requer a presença policial na casa de Ford, a polícia envia sempre um oficial de alta patente. 
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G1 12.06.2013
Paciente relata horrores em clínica de recuperação
Segundo a polícia, internos eram torturados (enterrados vivos, por exemplo) e mantidos em cárcere privado.~


Um dependente químico de uma das clínicas fechadas em Anápolis, a 55 quilômetros de Goiânia, relatou os horrores pelos quais passou dentro da instituição irregular. "Eu tive a mandíbula quebrada. Eles me bateram e me torturaram dentro do banheiro, na tal da triagem que eles falam. Ele colocou a espingarda na minha cabeça", disse o homem, que preferiu não ser identificado. Ele é uma das mais de 60 pessoas mantidas em cárcere privado libertadas pela Operação Resgate.
Deflagrada na manhã de terça-feira (11), a ação fechou duas clínicas irregulares de recuperação de dependentes químicos. Segundo a polícia, as instituições cobravam R$ 8 mil por interno, mas em vez do acompanhamento psicológico prometido às famílias, dopava e torturava os pacientes.  Em cenas gravadas por um agente disfarçado, um dos coordenadores do grupo conta como fazia a internação involuntária das vítimas.
Seis pessoas acabaram presas, entre elas um médico, apontado como um dos proprietários. Eles foram autuados em flagrante por cárcere privado, sequestro qualificado e tortura. Três envolvidos conseguiram fugir. 
Segundo o delegado Manoel Vanderic, responsável pela ação, os internos viviam em condições sub-humanas. Dormiam em colchões esparramados no chão, em alojamentos sem armários, com janelas sem vidros. 
Comida estragada 
Nas duas clínicas, a polícia encontrou alimentos estragados que eram servidos aos pacientes. Eles bebiam água da torneira, comiam feijão de má qualidade e verduras apodrecidas.
Outro interno que estava no local há três meses para se livrar da dependência química reclama: "Às vezes comia só arroz e feijão, um pedacinho de carne só e não tinha mais nada. Eles eram maus aqui".
Algumas vítimas apresentam marcas da tortura pelo corpo. “Internos contam que foram enterrados vivos, só com a cabeça de fora. Outros foram obrigados a comer toco de cigarro. Algumas mulheres disseram que foram algemadas nuas na cerca, outras, jogadas na piscina de madrugada”, detalha Vanderic.
Durante a operação, a polícia apreendeu armas de choque, armas de pressão, algemas e vários medicamentos tarja preta. “São instituições totalmente irregulares, sem autorização da prefeitura, da vigilância sanitária ou do Ministério Público para funcionar”, diz o delegado.
Vídeo 
A Polícia Civil começou a investigar uma das clínicas, no Bairro Arco Verde, há três meses, depois que dois internos conseguiram fugir e denunciaram os maus tratos. Um agente se passou por familiar de um dependente químico que buscava tratamento para o parente. Com uma câmera escondida, ele gravou o suposto coordenador do local explicando como o grupo atuava para internar uma pessoa contra a vontade dela.
O suposto coordenador fala de um "remedinho", que segundo a polícia seria sedativo dado para dormir. "Bota no carro dormindo, bate na porta e nós botamos ele para dentro", detalha o homem. Questionado pelo policial disfarçado se tem funcionado, o coordenador ri.
A instituição cobrava R$ 8 mil para o tratamento contra a dependência. No vídeo, o homem explica que divide o pagamento em 10 parcelas. Mas alerta que a "remoção", quando uma pessoa era levada à força, seria cobrada separadamente.
"Agora, é o que eu falei para você, quando a gente sai daqui para fazer o resgate dele, isso aí é pago à parte, porque é outra equipe que faz", explica o homem que aparece de óculos no vídeo.
Vanderic afirma que apenas 10% dos pacientes falam que estavam lá voluntariamente. "Há uma legislação desde 2001 que regulamenta essa questão da internação involuntária e nenhum dos requisitos foram preenchidos", esclarece Vanderic.
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RBA 14.07.2013
Medicalização: troca de carinho e atenção por remédios e tratamentos.
Fenômeno crescente preocupa especialistas porque reduz questões complexas a doenças tratáveis com remédios e terapias.
Para psicólogos, medicalização transforma sofrimentos e dificuldades em doenças e a vida das pessoas em produtos

São Paulo – Diante de uma suposta dificuldade no processo de aprendizagem é cada vez mais comum profissionais de educação logo aventarem a possibilidade de um problema orgânico. E sem sequer refletir sobre outros aspectos relacionados à própria prática pedagógica, à escola ou mesmo a outros fatores, inclusive familiares, recomendam que os pais procurem ajuda de especialistas, como fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos e psiquiatras, entre tantos outros. Não demora e a criança é submetida a exames e mais exames – isso quando já não sai da primeira consulta com um diagnóstico de um distúrbio qualquer e nas mãos uma receita de medicamentos capazes de ajudá-la a manter sob controle distúrbios que estariam dificultando o aprendizado.
Assim é o chamado fenômeno da medicalização da educação e da sociedade, processo que transforma em distúrbios a serem tratados com terapias e medicamentos questões inerentes à vida social, como emoções, sentimentos e comportamentos que não são aceitos socialmente. Ou seja, comportamentos diferentes do padrão imposto pela sociedade acabam transformados indiscriminadamente em doença passível de medicação e de acompanhamento excessivo com psicólogos, fonoaudiólogos e outros profissionais. É o caso do transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), que tem sido cada vez mais diagnosticado no Brasil. Ao mesmo tempo em que aumentaram os diagnósticos, cresceu a prescrição de medicamentos como o metilfenidato, com o nome comercial de Ritalina, ainda sem estudos suficientes sobre os efeitos nocivos de seu uso prolongado.
Preocupados com o crescente fenômeno, especialistas brasileiros, argentinos, chilenos, cubanos e espanhóis, entre outras nacionalidades, reúnem-se no 3º Seminário Internacional A Educação Medicalizada: Reconhecer e acolher as diferenças. Organizado pelo Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, o evento que começou na noite da última quarta-feira (10) e terminou ontem (13), na capital paulista, contesta a criação de pretensos transtornos que justificariam diferentes comportamentos, questionamentos e ritmos de aprendizagem, além de discutir a crescente judicialização e criminalização das relações sociais.
"Esse fenômeno social é importante porque atinge a sociedade como um todo, de maneira contundente. Leva ao uso excessivo de remédios e terapias, transforma sofrimentos e dificuldades em doenças e a vida das pessoas em produtos; é uma máquina de consumo, de controle", disse o presidente do Sindicato dos Psicólogos de São Paulo (Sinpsi), Rogério Giannini, que participou da organização do seminário.
Em sua participação no debate sobre patologização, judicialização e criminalização da vida e da política, a juíza Dora Martins, da Vara da Infância e Juventude do Fórum Central João Mendes, em São Paulo, criticou a falta de um olhar individualizado e reabilitador às crianças moradoras de abrigos, que geralmente recebem medicamentos para controlar comportamentos agressivos quando deveriam receber tratamento adequado para as angústias e sofrimentos que provocam tais comportamentos.
"Quem nunca ficou em abrigos não pode imaginar o que é morar com mais de vinte pessoas no mesmo espaço, sem pai nem mãe. Algumas crianças até se conformam, outras se rebelam, reclamam, berram, choram, brigam e são medicadas para se comportarem. Estigmatizadas, dificilmente conseguem ser adotadas porque tomam um monte de medicamento", disse a juíza. Ela lembrou de um menino que cresceu em abrigos. Considerado o terror dos abrigos por onde passava, recebia muitos remédios para controlar seu comportamento agressivo. Aos 7 anos, teve a sorte de ser adotado por uma médica que o levou para morar no exterior e aos poucos foi retirando a medicação. "Hoje o menino está ótimo, tranquilo, extremamente sociável, normal. É o que acontece quando em vez de medicamentos desnecessários a criança recebe afeto e atenção".
A presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro e psicóloga Cecília Coimbra destacou que a medicalização é uma das técnicas praticadas pelos estados modernos para subjugar e controlar as populações, o chamado biopoder. "A escola, a família, o trabalho impõem determinadas ideias e modos de estar no mundo e de viver como se fossem únicos e verdadeiros, mas que na verdade interessam ao sistema econômico capitalista no qual vivemos. E acabamos vendo isso como natural."
A médica Mariana Arantes Nasser, do Centro de Saúde Samuel Barnsley Pessoa, ligado à USP, a psicóloga Lúcia Masini, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, e Marilda Nogueira de Almeida, do Instituto Sedes Sapientiae, apresentaram conceitos e práticas não medicalizantes na educação e na saúde. Elas integram o grupo de trabalho Educação e Saúde do Fórum, que lançou a primeira edição revista de suas recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde.
Entre as recomendações estão a inclusão de toda a comunidade no projeto pedagógico da escola, a discussão de iniciativas e estratégias que deram certo e levantamento de temas sobre os quais os alunos querem aprender e a investigação apurada das queixas relativas ao mau comportamento e dificuldades de concentração.
"A medicalização na educação é importante porque é lá que a sociedade se reproduz. E ao se responsabilizar o aluno, e não o sistema pelas dificuldades, a questão acaba nos serviços de saúde", disse Mariana Nasser.
Apesar do título, o documento escrito em linguagem simples e acessível por educadores, psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, médicos e antropólogos é útil também para orientar pais e demais pessoas interessadas no assunto.  O documento pode ser acessado no site do Fórum sobre medicalização da educação e da sociedade.
Participam ainda do grupo de trabalho representantes do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de Psicologia Clínica da Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho (Unesp), Grupo Interinstitucional Queixa Escolar, Associação Palavra Criativa e Rede Humaniza SUS, entre outras entidades.
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O Globo 28.08.2013
Sobrinha de dependente químico amarra tio na rua até chegada de socorro
Família luta para conseguir internação para o rapaz, viciado em álcool e solvente há 13 anos.

SÃO PAULO - Um dependente químico desaparecido há dois anos, foi encontrado na rua pela sobrinha, em Salvador (BA), que, em desespero, conseguiu uma corda emprestada, pediu ajuda e amarrou o rapaz em uma passarela, até a chegada de socorro médico.
Samuel Fernandes, de 26 anos, é viciado em álcool e solvente desde os 13 anos e vive nas ruas de Salvador. Ela prendeu o tio porque quer tentar interná-lo, para tratamento do vício.
- Eu queria que ele fosse internado, minha avó tem 90 anos e espera que ele volte para casa, certo? Que ele volte bem - declara Sara Silva, professora.
Samuel foi levado pelo Samu a duas unidades de saúde, mas não ficou porque tem um ferimento profundo na perna direita e acabou encaminhado para um hospital.
O rapaz recebeu tratamento para o ferimento e também foi medicado para conter a agitação provocada pelo vício. Mas, depois de tratado o ferimento, vai receber alta. Por isso, a família está em busca de uma vaga para tratamento do vício de Samuel.
- O que a gente precisa é de uma internação, que ele fique em um local fixo, que ele possa ser tratado dia e noite. Cumprindo todas as etapas da reabilitação - diz Sara.
A Secretaria Estadual de Saúde informou que os dependentes químicos podem ser atendidos em três centros de atenção psicossocial, em Salvador. Além disso, segundo a secretaria, há dois hospitais públicos para atendimento psiquiátrico.
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Profissão Repórter 02/07/2013
Famílias lutam por parentes que sofrem com a dependência química.
Filhos assumem o papel de pais e internam mães em clínica para tratamento.
Clínica recebe cerca de 60 pessoas que procuram ajuda por dia.
O desespero e a busca por ajuda de famílias que convivem com a dependência química dentro de casa.
Pais se tornam reféns dos filhos, filhos que assumem o papel de pais, mulheres que tentam ajudar seus maridos.
A repórter Thais Itaqui acompanhou durante quatro meses a história de uma mãe que tenta salvar seu filho de 21 anos das drogas e precisa interná-lo. O convívio deles antes da internação e durante o período na clínica.
Eliane Scardovelli conversa com um casal em que ele sofre de alcoolismo e fazia uso de cocaína. A esposa tenta ajudá-lo. Ele, que ficou dois anos sem utilizar nada, há dois meses voltou com o vício. A jornalista relata também a vida da cozinheira Sandra, casada com o ajudante de caminhoneiro Severino, que bebe desde os 12 anos.
   Danielle França fala com mulheres que foram internadas por seus filhos em clínicas especializadas. Maurício, filho de uma das internas, conversa com a repórter.

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NY Times 05.04.2013

Transtorno do deficit de atenção com hiperatividade: doença ou diagnóstico da moda?

Embora um diagnóstico correto do TDAH possa melhorar a vida dum paciente, muitos pais optam por medicar os seus filhos para evitar comportamentos que mais não são do que próprios das crianças. Estudos nos EUA e no Reino Unido mostram inclusive que terapias têm melhores efeitos a longo prazo do que o tratamento farmacológico. 

Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma síndrome caracterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade causando prejuízos a si mesmo e aos outros em pelo menos dois contextos diferentes (geralmente em casa e na escola/trabalho).” (Wikipedia, OMS). 

Existem indícios que Leonardo DaVinci, Tomas Edison, Albert Einstein sofreriam provavelmente deste tipo de transtorno.O número de crianças e jovens com diagnóstico de deficit de atenção com hiperatividade (TDAH ou ADHD na língua inglesa) é cada vez maior.

Os números mais recentes mostram que 11% das crianças norte-americanas em idade escolar foram diagnosticadas com TDAH e que a certa altura da vida, 6.4 milhões de crianças/jovens, entre os 4 e os 17 anos, foram catalogadas como portadoras de TDAH. 

Todavia, surgem dúvidas de que, se existe um efectivo aumento desta condição ou se apenas se trata de uma tendência médica para atribuir tal diagnóstico.TDAH, dizem os especialistas, resulta de níveis incomuns de actividade química no cérebro dos pacientes, que por sua vez afeta a capacidade das pessoas de controlarem os seus impulsos e dirigirem a sua atenção. 

Embora existam médicos e pacientes que afirmam que esse aumento no número de casos diagnosticados com TDAH ajuda a uma melhor compreensão e tratamento da doença, outros há que acreditam que a medicação é apenas um pretexto para tranquilizar o comportamento das crianças e, eventualmente, para ajudá-los a melhorar suas notas.

Por exemplo, a Ritalina ou o Adderall (medicamentos para TDAH) são vendidos, mesmo nas universidades, entre colegas de escola, para melhorar o desempenho escolar e académico sem qualquer tipo de atenção em relação aos riscos para a saúde. 

Para o Dr. Thomas Frieden, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças nos EUA, “a medicação correta para o TDAH, para as pessoas certas, pode fazer uma grande diferença. No entanto, o uso incorreto parece estar a crescer de uma forma alarmante.”   

No entanto, atualmente não há uma forma contundente de afirmar que uma pessoa sofre deste tipo de transtorno: o diagnóstico permanece assim sujeito à avaliação subjectiva do médico.

Para além de existirem várias suspeitas de que os psiquiatras diagnosticam cada vez mais drogas legais (por causa de acordos comerciais com a indústria farmacêutica), os pais parecem estar também a incentivar o diagnóstico da TDAH: 

“Há uma pressão enorme dos pais, em casos de crianças com um comportamento percebido ou dito anormal, pelo simples facto de que se não permanecem calmamente sentadas à mesa, será patológico e não simplesmente típico da fase infantil que atravessam”, diz o Dr. Jerome Groopman, professor de medicina na Universidade de Harvard.

Medicamentos como o Adderall, a Ritalina, Concerta ou Vynvanse podem ajudar a melhorar a concentração e garantir um estado de atenção entre aqueles que usam, levando a que pais e paciente possam secretamente “desejar” o diagnóstico de TDAH como um atalho para melhorar as notas e classificações, tão valorizadas no sistema actual de ensino, esquecendo que estas são substâncias que tomadas inadequadamente podem afectar a saúde.Recentemente outro tipo de respostas alternativas a este tipo de transtorno têm ganho algum relevo, nomeadamente recorrendo a exercícios de relaxamento e alterações do estilo de vida que propiciam o auto-conhecimento dos pacientes.

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O Dia 20.04.2013
Estado nega internação a jovem viciado em crack
Mesmo com ordem da Justiça, governo e Prefeitura de Teresópolis não oferecem tratamento a rapaz, levado pelos pais a um centro de recuperação de alcoólatras
Francisco Edson Alves
Rio - Descumprindo ordem judicial, o Governo do Estado e a Prefeitura de Teresópolis negam apoio a um jovem dependente de drogas, entregue ao vício e à própria sorte pelas ruas, depois de quase 30 internações.
Veja o belo e corajoso depoimento de Carlos.

Na tentativa de impedir que Carlos Vitor Rezende Oliveira, 26 anos, morra de overdose ou seja assassinado por traficantes, o juiz Márcio Olmo Cardoso, da 3ª Vara Cível da cidade, determinara dia 11 que o município, onde a família do rapaz mora, e o estado providenciassem a internação compulsória (contra a vontade) do jovem — que é de classe média e viciado desde os 12 anos em múltiplas drogas, até crack.

No mesmo dia 11, parentes o localizaram mendigando na Favela Nova Holanda, na Maré, depois de um mês sem contato, e o levaram, provisoriamente, para unidade de recuperação de alcoólatras. Mas o local, além de ser administrado pela Prefeitura do Rio, e não pelo Estado, não é adequado para seu caso.
 “Ele precisa de clínica especializada em desintoxicação, com equipe multidisciplinar e estruturada para atender ao seu grave caso”, justifica a mãe, a dentista Eliane Ferreira Rezende, 54, que disse ter passado a semana toda ligando para representantes das secretarias de Saúde de Teresópolis e do Estado, tentando o cumprimento do mandado.
 “Só obtive respostas irônicas. Senti um frio jogo de empurra. O município (serrano) e o Estado estão desrespeitando um ser humano que luta pela vida e desafiam a Justiça”, desabafa Eliane.
No mandado de citação e intimação, Márcio destaca ainda que os réus (Prefeitura de Teresópolis e estado) são obrigados a providenciar também transporte e medicamentos.
Márcio levou em conta o desespero da mãe do rapaz e do padrasto, o médico Carlos Cézar Miranda, 66, que, afora a angústia, já gastaram mais de R$ 80 mil em 28 internações do filho em clínicas de reabilitação. O pai biológico, o empresário Carlos Oliveira, 42, também morreu em consequência de drogas.
De acordo com Eliane, no dia 11 o filho ligou pedindo dinheiro para se drogar. “O encontramos na Nova Holanda todo sujo e maltrapilho, pesando pouco mais de 50 quilos, apesar de ter quase 1,70 de altura. Ele, que sempre foi lindo, estava irreconhecível. Aceitou que o levássemos provisoriamente para uma unidade que tivesse vagacom uma condição: de se drogar primeiro, pois estava em crise de abstinência”, conta a mãe, que disse ter dado R$ 20 ao filho.
 “Ele entrou na favela e comprou três cápsulas de cocaína. Uma ele cheirou na comunidade, outra a caminho da unidade de saúde e o último no banheiro de lá”, lembrou Eliane.
Jogo de empurra até para esclarecer como resolver problema de Carlos
Em seu despacho (688/13), Márcio Cardoso fixa multa diária de R$ 5 mil em caso de descumprimento da ordem. O Serviço de Saúde Mental de Teresópolis alega que não tem como atender a Justiça por não possuir clínicas especializadas na cidade.
A assessoria da Secretaria Estadual de Saúde do Rio informou que o assunto competia à Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos. Por sua vez, a Seasdh alegou que a responsabilidade é da recém-criada Secretaria de Prevenção à Dependência Química.
Comunicada pelo DIA, a assessoria da nova pasta, porém, não retornou as ligações e nem respondeu a e-mail pedindo informações sobre número de clínicas e leitos disponíveis atualmente através do estado e por que ainda não havia cumprido a ordem judicial.
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Zero Hora 20.05.2013
Doenças mentais e neurológicas atingem cerca de 700 milhões de pessoas em todo mundo.
Segundo OMS, casos representam 13% do total de todas as doenças.



As doenças mentais e neurológicas atingem aproximadamente 700 milhões de pessoas no mundo, representando um terço do total de casos de doenças não transmissíveis, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os especialistas advertem que pelo menos um terço dos que sofrem com problemas mentais e neurológicos não têm acompanhamento médico. A revelação está no Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020.
Ao longo desta semana, especialistas estarão reunidos para discutir o assunto, em Genebra, na Suíça, durante a Assembleia Mundial da Saúde. O Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020 mostra que as doenças mentais representam 13% do total de todas as doenças do mundo.
Segundo as estimativas, cerca de 350 milhões de pessoas deverão sofrer de depressão e 90 milhões terão uma desordem pelo abuso ou dependência de substâncias. A OMS define depressão como um transtorno mental comum, caracterizado por tristeza, perda de interesse, ausência de prazer, oscilações entre sentimentos de culpa e baixa autoestima, além de distúrbios do sono ou do apetite. Também há a sensação de cansaço e falta de concentração.
A depressão pode ser de longa duração ou recorrente. Na sua forma mais grave, pode levar ao suicídio. Casos de depressão leve podem ser tratados sem medicamentos, mas, na forma moderada ou grave, as pessoas precisam de medicação e tratamentos profissionais. Segundo a OMS, quanto mais cedo começa o tratamento, melhores são os resultados.
Vários fatores podem levar à depressão, como questões sociais, psicológicas e biológicas. Estudos mostram, por exemplo, que uma em cada cinco mulheres que dão à luz acaba sofrendo depressão pós-parto. Especialistas recomendam que amigos e parentes das pessoas que sofrem de depressão participem do tratamento.
As doenças neurológicas, segundo especialistas, deverão afetar 50 milhões de pessoas, entre elas a epilepsia — doença cerebral crônica que se caracteriza por convulsões recorrentes que podem levar à perda da consciência. Aproximadamente 35 milhões de pessoas deverão sofrer do Mal de Alzheimer, síndrome crônica ou progressiva que leva à perda das funções cognitivas, entre outros distúrbios.
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O Dia 19.05.2013
Polícia investiga violência atrás dos muros do Degase.
Sob a vigilância do MP e Alerj, denúncias de estupro e tortura em unidades que deveriam ressocializar menores são apuradas.




Caio Barbosa E Flavio Araújo
Incidentes recentes na Escola João Luiz Alves, na Ilha do Governador, revelam cenário assustador em instituições do Degase (Departamento Geral de Ações Socioeducativas). Sob a vigilância do Ministério Público e da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), a Polícia Civil investiga supostos casos de torturas, abuso sexual e violência, incluindo estupros, na unidade da Zona Norte.
O órgão ligado à Secretaria Estadual de Educação, porém, tem como função, segundo o próprio site, “acolher, cuidar, acompanhar, atender e tratar o adolescente em conflito com a lei, bem como seus familiares, objetivando sua reinserção na sociedade”.
Na semana retrasada, uma adolescente de 17 anos teria sido torturada e estuprada por agentes no Centro de Socioeducação Professor Antonio Carlos Gomes, também na Ilha do Governador. Ela e outras três internas teriam passado pela sessão de tortura conhecida na unidade como ‘bailarina’, uma das preferidas dos agentes que deveriam ser educadores.
 “Elas são presas com algemas na trave do gol e ficam muito tempo como castigo. É uma prática de tortura comum lá”, revelou a defensora pública Marcia Fernandes. Apesar de nunca ter ouvido relatos de estupro no Antônio Carlos Gomes, a defensora confirmou que as meninas teriam sofrido a tortura só de sutiã, o que caracterizaria abuso e constrangimento sexual.
OLHOS BEM ABERTOS
Na 21ª DP (Bonsucesso), ainda há registro de castigos físicos a quatro menores que tentaram fugir da Escola João Luiz Alves no dia 5 e confessaram ter agredido o agente Maxwell Vaz Rocha na fuga. Recapturado, o grupo teria sido espancado por quem deveria fazer cumprir a lei: o diretor da unidade, Marcos Poubel.
Os menores foram à delegacia com marcas de espancamento, sofridas durante uma sessão de tortura. Eles teriam ficado dias num cubículo com as luzes acesas, durante as 24 horas, onde não era possível dormir ou mesmo se mexer. Quem fechasse os olhos era espancado sem piedade.
Nessa ‘Terra de Ninguém’, sofrem menores, familiares e agentes que também são reféns de uma violência alimentada por políticas ineficazes. O preço final é caro e pago mais uma vez pela sociedade.
‘Coquetel’ pra lá de explosivo
Superlotação, falta de funcionários e salários defasados. Estes são alguns problemas apontados pelo sindicato da categoria (Sind-Degase) que formam ‘coquetel’ explosivo e criam o caos nas unidades, onde não faltam rebeliões, fugas e agressões a agentes. Um deles corre o risco de ficar cego do olho direito.
 “Não temos condições de trabalho. Do jeito que está, vai explodir. Está tudo errado. A sociedade precisa discutir essa questão e não simplesmente reduzir ou não a maioridade penal. Da forma como está, os menores vão virar adultos deturpados”, disse o agente agredido.
O presidente do Sind-Degase, Marcos Aurélio Rodrigues, reclama da falta de agentes para atender mais de 2 mil menores, quando a capacidade é para apenas 550. “Ano passado, 376 foram aprovados em concurso. Mas ninguém foi chamado”, diz.
Os números são confirmados pela Comissão de Direitos Humanos da Alerj. “Procurei os agentes agredidos, e eles estão recebendo auxílio psicológico. Um está com medo de voltar a trabalhar. Há uma garotada nova vinda de famílias dilaceradas. O problema é grave”, avalio o deputado Marcelo Freixo, presidente da comissão.
ENVOLVIMENTO FAMILIAR
Mônica Cunha teve o filho, Rafael, mandado para o Degase em 2003, aos 15 anos. Foi quando fundou o Movimento Moleque — Mães do Degase para tentar acompanhar o que acontecia dentro dos muros das unidades chamadas de sociedutavidas.
 “Meu filho começou a morrer quando entrou lá. Com 20 anos, o tiro de misericórdia foi dado pela PM”, relata a moradora de Duque de Caxias.
Mônica continua acompanhando a rotina de famílias de menores internados. “O Degase nunca teve um projeto que envolvesse a família dos internos. Hoje, a estrutura física é melhor, mas a filosofia não mudou. Conheço menores que dizem que vão roubar, pois roubando vão para o Degase e vão ter escola e comida”, lamenta ela, que tem mais dois filhos: um professor de Educação Física e outro militar.
Diretor não falou sobre o caso
O DIA procurou o diretor do Degase, Alexandre Azevedo, quinta e sexta-feira, mas a assessoria de imprensa informou que “ele estava muito ocupado” inaugurando unidades em Campos, Norte Fluminense. Na sexta-feira, O DIA voltou a pedir informações sobre as denúncias, mas recebeu com resposta da assessoria que o diretor só falaria sobre o assunto segunda-feira.
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O Dia 17/05/2013
Rio terá ônibus-espião para monitorar usuários de crack.
Na unidade, agentes vão acompanhar as imagens de câmeras espalhadas pela cidade.
Christina Nascimento
Rio - O Rio vai receber do Ministério da Justiça cinco bases móveis com câmeras para ajudar a monitorar o movimento migratório dos usuários de crack na cidade.
A circulação deles será acompanhada de dentro dos micro-ônibus, equipados com material de filmagem e computadores. Com isso, será possível também investigar a atuação de traficantes da droga e desarticular quadrilhas. 

4 pessoas vão trabalhar em cada onibus.
A previsão é de que a entrega dos ônibus “Big Brother” seja feita no próximo dia 24. Cada base móvel vai operar interligada a 19 câmeras de alta definição, que estarão espalhadas em ruas e avenidas. Os pontos de instalação ficam a critério da Prefeitura do Rio.
As imagens poderão ser capturadas a distâncias de até 500 metros. A movimentação das pessoas e a leitura de placas de carros serão feitas até durante a noite, por causa de um dispositivo infravermelho.
Só a estrutura do micro-ônibus custa R$ 700 mil. Já as câmeras, que ficarão em pontos estratégicos nas vias públicas, estão orçadas em R$ 870 mil.
O governo federal vai arcar com a manutenção dos equipamentos por dois anos. Após esse prazo, o município ou o estado têm que assumir esta responsabilidade.
Inicialmente, 136 municípios a partir de 200 mil habitantes poderão requisitar também as bases de monitoramento.
Segundo o Ministério da Justiça, como as cenas de uso de crack se caracterizam pela mobilidade, o uso do equipamento de videomonitoramento vai possibilitar que os profissionais de segurança pública se desloquem realizando o policiamento ostensivo e de proximidade.
70 unidades serão entregues no país
A expectativa do governo federal é investir, inicialmente, R$ 49 milhões para adquirir 70 unidades do micro-ônibus espião.
O equipamento é uma das ações do programa "Crack, é Possível Vencer", executado em parceria pelos ministérios da Justiça, da Educação, da Saúde e do Desenvolvimento Social.
Numa primeira etapa, as bases móveis serão entregues para os estados que aderiram ao programa: Alagoas, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Acre, Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Piauí, Paraná, Ceará, São Paulo e Distrito Federal. E posteriormente a todos os estados brasileiros.
Desde o ano passado, o programa "Crack, é Possível Vencer" entrega equipamentos de segurança pública para as unidades da federação. Fazem parte desse pacote armas de menor potencial ofensivo, motos e carros.
Base-móvel com estrutura de uma casa
As bases são verdadeiras casas móveis, que vão funcionar 24 horas. Além de banheiro, cozinha — com cafeteira, filtro de água, microondas e geladeira —, há um espaço para reuniões com monitor, para caso seja preciso rever alguma filmagem.
Este mesmo ambiente pode ser usado tanto para resolver conflitos pontuais, como uma espécie de gabinete de crise, como para dar a primeira assistência psicológica e social para dependentes.
A escolha dos agentes de segurança que vão atuar como operadores do sistema de imagens deve ser feita pela prefeitura em parceria como governo do Estado do Rio de Janeiro.
Inicialmente, o grupo deve ser formado por guardas municipais e por policiais militares.
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Brasil de Fato 02/05/2013
A vida sob o olhar de jovens infratores


Segundo a Fundação Casa, cerca de 85% dos adolescentes em privação de liberdade cometeram delitos relacionados a tráfico de drogas e roubo. É o caso de Gustavo, 21, e Rodrigo, 16
 Jorge Américo e José Francisco Neto
 O jovem Gustavo Pereira*, de 21 anos, cuida de carros num bairro da zona oeste de São Paulo. Há pouco mais de um ano morando na rua, o garoto já passou pela unidade do Brás da antiga Febem (Fundação Casa). Foi apreendido aos 15 anos por tráfico de drogas, porte de armas e roubo. Rodrigo da Silva*, de 16 anos, também é ex-interno da instituição. Em 2011 esteve lá por tráfico de drogas e roubo. Em 2012 reincidiu nas mesmas infrações, o que lhe custou mais 11 meses. 
As infrações cometidas por Gustavo e Rodrigo representam a maioria das internações registradas atualmente no estado de São Paulo. De acordo com dados da Fundação Casa, cerca de 85% dos adolescentes em privação de liberdade cometeram delitos relacionados a tráfico de drogas e roubo. Juntos, homicídio e latrocínio representam 1,5% dos casos. No âmbito nacional os números são proporcionalmente parecidos, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).


Ao ser abandonado pelos pais, Gustavo foi criado pelos avós, fase da vida marcada por privações. “Minha família sempre foi simples. Nunca teve muita coisa, sempre morou de aluguel. Eu passava necessidade e tinha que ajudar também. Quando era pequeno comia o resto da feira.” Gustavo começou a vender doces para ajudar os avós, mas o convite para entrar no tráfico não tardou. “Quando fui ver, eu já tava envolvido.” 
Aos dois anos de idade foi arremessado contra a parede pelo pai, que estava sob efeito de crack. “Eu tava chorando. Ele falou que eu tava roubando a ‘brisa’ dele”, descreve apontando a cicatriz que ficou marcada na testa. 
A negligência e a violência física, psicológica e sexual são os tipos de violação de direitos mais comuns às crianças e adolescentes brasileiros. Entre os meses de janeiro e novembro de 2012, o Disque Denúncia (Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH/PR) registrou 120.344 mil denúncias de violências sofridas por menores. 
Gustavo viveu essa realidade muito antes das estatísticas serem publicadas. E as reviveu até mesmo durante a internação na Febem, espaço institucional que deveria garantir a sua integridade. “Se um amigo seu espirrasse e você falasse saúde pra ele, eles (funcionários da Febem) já te agrediam. Se você passasse na frente deles, e se não tivesse com a mão pra trás e a cabeça baixa, eles faziam você voltar. Se você não acatasse a palavra deles, você era agredido.” 
Presença materna
Segundo o CNJ, 43% dos adolescentes infratores foram criados apenas pela mãe, e 17% pelos avós. Rodrigo ressalta a importância da presença materna em um dos momentos mais difíceis de sua vida. “Me recordo bastante do sofrimento dos caras que não tinham uma visita, que buscavam o refúgio em Deus. Isso daí foi me fortalecendo, que eu vi que minha mãe nunca me abandonou lá. Ia ser difícil também se minha mãe tivesse me abandonado”. 
Perspectivas
Em um questionário respondido ao CNJ em 2011, 86% dos adolescentes que cumpriam internação declararam não ter concluído o ensino fundamental. Praticamente a metade interrompeu os estudos ainda na quinta série. Há uma semana na rua, Rodrigo, que parou de estudar na sétima série, agora quer dar um novo rumo em sua vida. “Vou voltar aos estudos, fazer um supletivo, arrumar um ‘servicinho’, mesmo que ganhe pouco, e levar a vida.” 
Gustavo também almeja voltar a estudar e ainda constituir uma família. “Eu tenho um sonho. Eu quero viver bem. Deus não me pôs no mundo pra sofrer. Quero viver bem, quero ter minha família ainda, uma mulher só minha. Quero ter meu filho pra pegar ele no colo e fazer carinho.” 
Mais vítimas que autores
Mais de 2 mil adolescentes foram apreendidos em três anos em São Paulo, fazendo chegar a 9.016 o número de internos em abril de 2013. Esse índice representa quase a metade do índice nacional, com mais de 19 mil jovens privados de liberdade. 
Segundo o advogado e ex-integrante do Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e Adolescentes (Conanda) Ariel de Castro, existem contradições na divulgação dos dados sobre delinquência juvenil. Para ele, foi criada uma imagem que não corresponde à realidade. 
“Hoje, no país, temos 550 mil presos e 19 mil adolescentes privados de liberdade. Não representa nem 4%. Na verdade, eles [os adolescentes] são muito mais vítimas do que propriamente autores”. 


Outras medidas 
Para Ivan de Carvalho Junqueira, servidor da Fundação Casa, há certa dificuldade de entendimento por parte do Judiciário. Geralmente, os magistrados consideram a internação uma regra que, ao contrário, deveria ser uma medida excepcional. 
“Então, não necessariamente o adolescente cometeu um ato grave do ponto de vista de violência física séria e, de repente, ele acaba desembocando numa internação, quando, na verdade, tem outras medidas como a semiliberdade e a liberdade assistida. No primeiro momento poderia suprir a necessidade de responsabilização”, explica. 
O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) normatiza o monitoramento de execução das medidas socioeducativas. A instituição exige uma série de ações para o atendimento adequado aos internos, que vão desde a estrutura física a recursos humanos e contemplam, principalmente, a perspectiva pedagógica. No entanto, segundo a assistente social e integrante do Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo (Cress), Áurea Fuziwara, esses recursos nem sempre são viabilizados. 
“Esse conjunto de elementos que precisam fazer funcionar acaba não sendo viabilizado e daí se diz que a medida não funciona. A nossa discussão é muito mais de pensar alternativas para essa lógica penal coletiva do que aperfeiçoar algo que a gente a princípio não concorda, que é a restrição da liberdade”, atesta Fuziwara. 
 Faltam varas especializadas 
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) recomenda que todas as comarcas em municípios de médio e grande porte tenham ao menos uma Vara da Infância e da Juventude com competência exclusiva. Em 2012, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) constatou que apenas 100 municípios possuíam esse tipo de estrutura. 
Considerando a composição populacional dos municípios brasileiros, no país existe um déficit de 182 varas especializadas. Além de atenderem a demandas de outras áreas, os juízes são sobrecarregados. Guarulhos (SP), por exemplo, contabiliza mais de 1,2 milhão de habitantes mas tem um único juiz da Infância e Juventude. 
Para Ariel de Castro, advogado e ex-integrante do Conanda, os menores infratores acabam sendo tratados como criminosos. “Nós temos juízes que acumulam funções. Eles cuidam da Vara de Execuções Penais, da Vara de Tribunal do Júri, e muitas vezes são juízes corregedores das prisões das cidades. Então isso dificulta bastante o trabalho desses juízes”, avalia. 
O Sudeste concentra o maior número de municípios que ainda não se adequaram. A região carece de 113 varas especializadas. No entanto, Castro alerta que até mesmo aquelas focadas no atendimento exclusivo enfrentam problemas estruturais. 
“Muitas vezes não tem uma equipe técnica também multidisciplinar com assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, com técnicos junto ao Judiciário. Então isso também faz com que não sejam varas especializadas e exclusivas”, destaca. 
A orientação do Conanda segue o princípio da “prioridade absoluta”, previsto na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O Ministério Público e as Defensorias Públicas também devem se adequar para garantir a proteção integral dos menores. Na prática, esses órgãos continuam na contramão, como denuncia Castro. 
“Os promotores também acabam acumulando funções e é mais raro ainda ter defensores públicos exclusivos.” Ele conclui alertando que o número de apreensões poderia ser reduzido “não fosse a falta de delegacias especializadas da criança e do adolescente, que São Paulo não tem e se nega a ter”.
 (Foto: Nair Benedicto /N Imagens)
Vídeo clipe da música "Mágico de Oz", do grupo Racionais MCs