Devidos aos inúmeros grupos de cidadãos de diversas origens, classes sociais e interesses que têm se sentido prejudicados pelas políticas públicas da Pref. RJ e pelo Gov. do Estado para favorecimento dos grupos empresarias dos grandes eventos estamos criando esse espaço para postar matérias referentes aos mesmos e/ou matérias correspondentes a protestos de outros povos com o mesmo objetivo.
Assim, aos que possuírem registros sobre esse tema, nos encaminhe através do email reBOMeg@reBOMeg.com.br que os publicaremos aqui.
_______
Bela e corajosa iniciativa do Conselho Regional de Serviço Social RJ
_______

_______
_______
_______
_____
_____
__________
Para ver e pensar...
(clik na figura abaixo)

________
ONUBr 27.11.2013
Conferência da ONU pede medidas para prevenir corrupção em eventos como
Copa e Olimpíadas
Nações Unidas recomendam
a adoção de uma legislação especial para apoiar eventos, a criação de agências
especializadas responsáveis pela supervisão do combate à corrupção e o
acompanhamento do fluxo de fundos.
A quinta sessão da Conferência dos
Estados-Parte da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (UNCAC),
realizada entre 25 a 29 de novembro na Cidade do Panamá, pediu esta
semana medidas para prevenir a corrupção em grandes eventos públicos como
a Copa do Mundo, as Olimpíadas e eventos políticos internacionais, como a
Cúpula do G20.
Dadas as enormes quantias de dinheiro envolvidas
tanto na organização quanto nas receitas provenientes destes grandes eventos,
qualquer falha pode ter enormes consequências políticas, econômicas e
financeiras para agências, patrocinadores e países. Por isso, o seu sucesso
depende em grande parte da reputação e da credibilidade do organizador.
A realização desses eventos envolve uma logística
complexa e anos de planejamento. A sua natureza, no entanto, aumenta a
probabilidade de que os regulamentos e procedimentos sejam postos de lado ou
ignorados.
Estes problemas são agravados pela
falta de tempo para a entrega de projetos de infraestrutura de grande escala,
muitas vezes levando a uma falta de fiscalização e transparência na alocação de
fundos públicos.
O Comitê Olímpico Internacional, por exemplo, tem a
fama de ter ganhado mais de 1,7 bilhão de dólares com a venda dos direitos de
televisão só para os Jogos Olímpicos de Verão de 2008, em Pequim.
No Brasil, o Comitê Gestor da Copa do Mundo
(CGCOPA) foi criado para proporcionar uma estrutura de governança para a
organização do evento. Vinte e cinco ministérios e secretarias com status
ministerial fazem parte do CGCOPA.
Para os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio, a
Autoridade Pública Olímpica (APO) foi criado pelo governo brasileiro e coordena
a participação dos governos federal, estadual e municipal do Rio de Janeiro na
preparação do evento.
Palestrantes do Escritório das Nações Unidas sobre
Drogas e Crime (UNODC), da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da
presidência russa do G20 e de outras organizações que participam de conferência
sobre o tema ressaltaram nesta terça-feira (26) a importância de salvaguardar
estes eventos.
Em seu discurso no evento, o diretor executivo do
UNODC, Yury Fedotov, disse que “é necessária uma ação decisiva para ajudar os
organizadores a identificar, avaliar e gerir os riscos, de acordo com as normas
legais e as regulamentações estabelecidas”, como a adoção de uma legislação
especial para apoiar o evento, a criação de agências especializadas
responsáveis pela supervisão de combate à corrupção e a necessidade de
acompanhar de perto o fluxo de fundos, especialmente quando novas construções,
desenvolvimento de infraestrutura ou operações de segurança estão envolvidas.
Para aumentar a conscientização sobre este problema
e promover melhores práticas, o UNODC também publicou um manual intitulado “A Convenção das Nações Unidas contra
a Corrupção: Uma estratégia para prevenir a Corrupção em Grandes Eventos
Públicos” (clique aqui
para acessá-lo, em inglês).
_______
http://rioonwatch.org.br/?p=4927
O Legado Olímpico no Leste de Londres: Desapropriação e Gentrificação
A Olimpíada de Londres do ano passado foi vista como um grande sucesso.
Desde as cerimônias de abertura e fechamento de Danny Boyle até a tranquila
organização dos jogos, o evento parecia representar um modelo de hospedagem de
um mega evento, e apesar das reclamações do público britânico sobre os altos
custos, e questionamento de sua utilidade para o país no decorrer até o
acontecimento dos jogos, o país foi varrido por uma onda de orgulho nacional
quando os jogos chegaram e passaram.
Mas e os impactos locais e o legado das Olimpíadas no Leste de Londres,
o principal cenário dos jogos de 2012 e o Parque Olímpico?
Historicamente, o East End de Londres tem sido o lado mais pobre da
cidade. No século XIX, a população de Londres cresceu rapidamente e o leste da
capital ficou caracterizada pela concentração dos pobres urbanos e imigrantes
que levou a criação de uma super população e a criação de slums (favelas
muito precárias). As Docks (docas) no Rio Thames e as indústrias de construção
de navios dominaram a economia e foram grande empregadoras na região nesta
época, o ápice do império inglês com comodities chegando das colônias de todas
as partes do mundo. O caráter gritty (áspero) da
indústria do Leste de Londres prevaleceu mesmo depois da queda do império
inglês e as docas declinaram na segunda metade do século XX, enquanto a área
continuou sendo uma das mais pobres do país, casa para uma diversa mistura de
imigrantes e comunidades britânicas de brancos.
A imagem do East End de Londres como um sinônimo de pobreza e
precariedade tem sido explorada por empreiteiras nos últimos anos para implementar
projetos agressivos de desenvolvimento urbano por empresas privadas, começando
com a Canary
Wharf nos anos 80. Para muitos comentaristas e ativistas
locais, as Olimpíadas são a maior e mais recente oportunidade de especulação
imobiliária num processo de gentrificação que está redesenhando o East End,
expulsando as populações tradicionais da região.
Julian Cheyne, 65, chegou para morar no Leste de Londres ha 35 anos. Por
16 ele morou na Zona
Residencial Clays Lane, antes de ter sido despejado em
2007 para dar lugar ao Parque Olímpico. Clays Lane foi intencionalmente
construída para abrigar pessoas solteiras vulneráveis, em diversos estilos de
apartamentos, casas compartilhadas e bangalôs e era inicialmente operada como
uma cooperativa. Um total de 450 moradores de Clays Lane foram removidos dos
2.5km de área que agora é o Parque Olímpico Rainha Elizabeth, junto com outra
zona residencial, duas comunidades nômades e os comércios industriais da area.
Tendo acompanhado de forma ativa todo o processo Olímpico desde
negociações prévias até o presente, escrevendo sobre e protestando contra o
estilo de desenvolvimento que expele e marginalisa as pessoas locais, a
conclusão de Julian é que em nível local, as Olimpíadas são basicamente um
exercício em desenvolvimento de propriedade que desloca pessoas pobres e
indústrias locais de terras valiosas.
Olhando para o Parque Olímpico, onde ficava a sua comunidade antiga, ele
diz: “A gentrificação está acontecendo no Leste de Londres e não é só por conta
da Olimpíada. Mas a Olimpíada é um tipo específico de processo, porque você
pega um grande pedaço de terra a um preço barato e delega a uma autoridade de
planejamento o controle deste grande pedaço de terra.” Ele continua: “As
Olimpíadas servem para encontrar parceiros na indústria de propriedade e (este
grupo) pensar no futuro.”
A autoridade de planejamento para os Jogos Olímpicos e áreas adjacentes
no Leste de Londres é a Corporação de Desenvolvimento de Legado. A LLDC foi criada
em abril de 2012 sob a Lei do Localismo de 2011, e tem autoridade
completa de planejar a área, substituindo os poderes tradicionais de
planejamento dos conselhos distritais locais. O Comitê de Decisões de
Planejamento da Corporação é presidido por Phillip Lewis, executivo-chefe da
divisão de propriedade de Kirsh Group, uma empresa de investimentos, e é em
grande parte composta de executivos da indústria de propriedade.
O objetivo declarado da LLDC é a regeneração da área no Leste de
Londres. Regeneração, um termo cunhado na década de 1980, é baseada no conceito
econômico de Margaret Thatcher que investir a riqueza em uma área geográfica
irá ‘escoar’ para os moradores mais pobres, para os quais é mais necessário.
Anna Minton, em seu livro Ground Control: Fear & Happiness in the 21st Century,
argumenta que essa é uma falácia e que os vastos centros comerciais,
escritórios particulares e condomínios fechados criados sob as autoridades de
planejamento urbano não testadas no Reino Unido até agora apenas serviram para
cimentar as divisões sociais e econômicas: “Economias de escoamento não
funcionam em nenhum dos lugares que visito, onde o mesmo modelo de crescimento
econômico baseado no valor da propriedade crescente tem sido implementado. No
entanto, este modelo sobrevive por causa das altas taxas de crescimento
econômico que ele traz nos bons tempos, mesmo que os benefícios sejam
repartidos de forma desigual, enraizando enclaves de pobreza, bem como a
riqueza.”
As Olimpíadas, que apresentam uma enorme oportunidade para a
reconstrução de uma grande área, são um veículo fundamental para este tipo de
modelo, em que os pobres são expulsos ou deslocados. Um relatório publicado em
2007 pelo Centro de Direitos de Moradia e Expulsão financiado
pelas Nações Unidas (COHRE) concluiu que, entre 1988 e 2008, as Olimpíadas têm
deslocado mais de dois milhões de pessoas ao redor do mundo e
são uma das principais causas da inflação imobiliária.
Em uma matéria
para a revista Cease em abril de 2012, geógrafo
econômico Ashok Kumar afirmou que essa é a verdadeira razão para as cidades
licitaram para sediar as Olimpíadas, dizendo: “Qualquer leitura da história
Olímpica revela os verdadeiros motivos de cada cidade hospedeira. É a
necessidade de chocar, para acelerar a desapropriação dos pobres e
marginalizados, como parte das maiores maquinações de acumulação de capital. Os
arquitetos deste plano precisam de um show espetacular, um dispositivo
hegemônico para reconfigurar os direitos, as relações espaciais e
auto-determinação da classe trabalhadora da cidade, para reconstituir para quem
e para que finalidade a cidade existe. Ao contrário de qualquer outro evento,
só as Olimpíadas fornecem esse tipo de oportunidade.”
Julian, que agora vive em habitação subsidiada em outra parte do Leste
de Londres, e continua sua militância sobre os impactos do desenvolvimento
Olímpico em Londres, ecoa este ponto de vista: “A mudança acontece, mas até que
ponto isso acontece em benefício da população local, as pessoas que já vivem
ali? Principalmente as pessoas pobres, os menos capazes de manter o controle
das áreas onde vivem? … Lugares que são valiosos e ocupados por pessoas pobres
são comprados e pobres mudam-se para partes menos salubres da cidade.”
Olhando para Londres, e de fato Pequim, Barcelona e Atlanta, é
impossível sentir-se seguro sobre a hospedagem dos Jogos pelo Rio de Janeiro
não replicando o mesmo modelo de deslocamento e marginalização, especialmente
levando em conta o tratamento histórico das
autoridades do Rio com respeito aos seus pobres. Com a revelação de que 75% do Parque Olímpico
do Rio de Janeiro será vendido para interesses privados após os
Jogos, e a insistência das autoridades sobre a remoção de Vila Autódromo e dezenas de outras
comunidades em toda a cidade, parece que o Rio está destinado
não só a repetir os
seus próprios erros do passado, mas os de todas as cidades Olímpicas
recentes.
_____________
UOL 05/04/2013
Olimpíadas fazem bem
à saúde?
Juca Kfouri
Título do estudo: Os Jogos Olímpicos
de Londres-2012 podem “inspirar uma geração” a praticar mais atividades físicas
ou esportivas?
Autores: Kamal Mahtani,
Joanne Protheroe, Sarah Slight, Marcelo Demarzo, Thomas Blakeman, Christopher
Barton, Bianca Brijnath, Nia Roberts, participantes internacionais da
“Iniciativa Brisbane”, Universidade de Oxford, Reino Unido.
O estudo original
completo (em inglês) está acessível em:
http://bmjopen.bmj.com/content/3/1/e002058.full
Contexto e
Justificativa do estudo:
O aumento dos níveis
de atividade física está associado com a melhora da saúde e qualidade de vida,
e pode desempenhar um papel fundamental na prevenção ou tratamento da maioria
das doenças e condições crônicas não transmissíveis, como obesidade, diabetes e
hipertensão.
Os Jogos Olímpicos
de Londres-2012 visaram deixar um legado de longo prazo para o país-sede, o que
incluiu a perspectiva de um aumento nos níveis de atividade física e desportiva
da população.
Objetivo:
Esse estudo
científico verificou se hospedar Jogos Olímpicos ou Paraolímpicos pode gerar um
legado para a saúde da população do país-sede, por meio do aumento da
participação em atividades físicas e desportivas.
Método utilizado:
Revisão da
literatura científica sobre o tema, junto às principais bases de dados
internacionais de pesquisa.
Foram incluídos
somente estudos de revisão sistemática sobre Jogos Olímpicos nos quais se
poderia coletar informaçõe sobre a influência dos Jogos na participação em
atividades físicas ou esportivas por parte da população do país-sede.
Também foram
coletadas informações sobre a percepção pública durante e após os Jogos
Olímpicos, as barreiras ao aumento da participação esportiva, e quaisquer
outros benefícios de saúde não relacionados ao esporte.
Foi utilizada a
ferramenta AMSTAR para avaliar a qualidade metodológica dos estudos incluídos.
Resultados:
• Apenas dois
estudos de revisão contemplaram os critérios de inclusão utilizados. A
qualidade destes dois trabalhos científicos foi avaliada como “boa” pela
ferramenta AMSTAR.
Ambos os estudos
relataram que ainda existe pouca evidência científica que comprove um aumento
da participação desportiva antes, durante e após um evento de Jogos Olímpicos.
Outros efeitos sobre
a saúde, como por exemplo, diminuição no número de internações hospitalares,
das taxas de suicídio, e do uso de drogas foram citados, embora não haja provas
cientificas suficientes para se poder afirmar com alto grau de confiabilidade
que esses efeitos foram realmente decorrentes dos Jogos.
Não se encontrou
alguma evidência relativa aos Jogos Paraolímpicos.
• Os estudos
indicaram a importância de se construir um “efeito de festival” (múltiplos
eventos associados aos Jogos em um formato de “festival” olímpico nacional), o
qual tem o potencial de influenciar positivamente as pessoas a participarem
efetivamente dos Jogos, e a aumentarem seus níveis de atividade física (AF).
• Os estudos
mostraram que se a organização dos Jogos, por razões políticas ou
administrativas, gerar uma percepção negativa na população, o efeito é o
inverso, ou seja, diminui-se a participação no evento, com efeito negativo
também para os níveis de AF e saúde das pessoas do país organizador do evento.
Conclusão:
Ainda há escassez de
estudos científicos bem delineados que apoiem a noção de que sediar Jogos
Olímpicos leva a um aumento da participação em atividades físicas e desportivas
por parte da população do país-sede (vale lembrar que “ausência de evidência”
não quer dizer necessariamente “evidência de ausência de benefícios”).
Também se encontrou
pouca evidência científica para se sugerir outros benefícios para a saúde
relacionados aos Jogos.
Concluiu-se que o
verdadeiro legado e sucesso dos Jogos Olímpicos deve ser avaliado por meio de
estudos futuros de alta qualidade, com base em pesquisas científicas que sejam
desenvolvidas antes, durante e após a realização dos eventos.
Mensagens
principais:
• Há pouca evidência
científica de que eventos internacionais esportivos de elite, em particular os
Jogos Olímpicos, levam ao aumento da participação em atividades físicas e
desportivas por parte da população dos países-sede.
• Os estudos
existentes indicam a importância de se construir um “efeito de festival”, o
qual tem o potencial de influenciar positivamente as pessoas a participarem
efetivamente dos Jogos, e a aumentarem seus níveis de atividade física e saúde.
• Os estudos
demonstram, por outro lado, que uma organização malsucedida dos Jogos pode
gerar uma percepção negativa na população, tendo como consequência o efeito
inverso do esperado, ou seja, diminui-se a participação no evento, com efeito
negativo também para os níveis de atividade física e saúde das pessoas do
país-sede.
• Estudos baseados
em evidência de alta qualidade, são necessários para medir o verdadeiro impacto
dos Jogos de Londres-2012 e dos futuros Jogos, como Rio-2016.
• É desejável que o
país-sede desenvolva projetos de pesquisa que avaliem o legado olímpico em
todos seus aspectos (econômicos, de saúde), utilizando-se de processos
avaliativos cientificamente adequados, antes, durante e depois dos Jogos.
_______Bela e corajosa iniciativa do Conselho Regional de Serviço Social RJ
_______
JB 14.01.2013
Perseguição
política: empresa demite operários por apoio a índios no Maracanã
Concrejato diz que
dispensa foi por ato de indisciplina dos carpinteiros.
Henrique de Almeida
Renan Almeida
Por terem dado
apoio, no sábado, à manifestação em favor da permanência da Aldeia Maracanã no
prédio do antigo Museu do Índio, os carpinteiros José Antonio dos Santos, 47, e
Francisco de Souza Batista, 33, acabaram demitidos dos empregos, na manhã desta
segunda-feira (14), pela empresa Concrejato, que participa da reforma do
Estádio do Maracanã.
Os dois trabalharam
no turno da manhã no sábado, dia em que a aldeia amanheceu cercada por soldados
do Batalhão de Choque o que provocou uma grande movimentação em solidariedade
aos índios.
Não acho legal
destruir um monumento como este só para fazer nome ou dinheiro.
O apoio dos
carpinteiros ao movimento ocorreu no horário de almoço, quando eles decidiram
ir à aldeia, pulando o muro, uma vez que o portão estava interditado pelos
soldados do Batalhão de Choque.
“Vão derrubar um patrimônio cultural, além de
deixar desamparadas as pessoas que ali estão. Eu não concordo”, defendeu José
Antônio. Segundo Francisco, vários colegas pensam como eles, mas têm medo de se
manifestarem.
"Como cidadão,
não acho que Cabral esteja fazendo um bom governo. Não acho legal destruir um
monumento como este só para fazer nome ou dinheiro. Acho que isto é uma coisa
com a qual ninguém pode concordar", disse Francisco.
Ao retornarem à obra,
tiveram seus crachás recolhidos por um funcionário do Consórcio Maracanã formado
pelas construtoras Andrade Gutierrez e Odebraecht que recomendou que eles
voltassem apenas na segunda-feira quando definiriam a situação de ambos.
“Quando eles tomam o crachá, em 99% dos casos
o trabalhador é dispensado”, antecipou Francisco no sábado.
Pulamos o muro
porque quisemos. Sou um homem de caráter e temos que honrar nossa cultura
Nesta segunda-feira
(14), em uma nítida perseguição política, os dois receberam três papéis. Em um
havia uma advertência, o segundo continha uma demissão por justa causa e o
terceiro seria a possibilidade de serem transferidos de canteiro de obra. Os
dois não aceitaram assinar nenhum deles. Restou-lhe a demissão com seus
direitos preservados.
___________
RBA 27.05.2013
Megaeventos no Rio
de Janeiro desafiam o direito à cidade
Thalita Pires
Naquilo que parece a
repetição da mesma história de sempre, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) dá roupas
novas para um processo já bastante conhecido: a periferização da pobreza.
![]() |
A informação sobre a remoção chega em cima da hora, no que parece um processo deliberado para impedir resistência. |
O Rio de Janeiro
passa hoje por uma onda de intervenções e obras digna de Pereira Passos, o
prefeito que deu cara ao centro da cidade no início do século 20. Tendo como
pano de fundo a preparação para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016,
corredores de ônibus são abertos, instalações esportivas são demolidas,
comunidades inteiras são removidas. Naquilo que parece a repetição da mesma
história de sempre, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) dá roupas novas para um
processo já bastante conhecido das cidades brasileiras: a periferização da
pobreza.
A segunda versão do
dossiê Megaeventos e Violações dos Direitos Humanos no Rio de Janeiro,
elaborado pelo Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio com o auxílio dos
pesquisadores do Observatório das Metrópoles, é um documento fundamental para
conhecer os problemas que afetam os direitos da população pobre do Rio. Revisto
e ampliado, o dossiê mostra o que acontece com aqueles que têm o azar de morar
no caminho das obras: há pouco a se fazer para garantir seus direitos. O
documento lista as ações contra os moradores nas áreas de habitação,
mobilidade, trabalho, esporte, meio ambiente e outras.
A intervenção que
afeta de maneira mais profunda os moradores é a remoção das comunidades para
obras. Até agora, a estimativa é de que 37 comunidades tenham sido afetadas com
remoção total ou parcial. Pelo menos 3,1 mil famílias foram removidas e 7,8 mil
estão ameaçadas. Esse número é impreciso por duas razões. A primeira é que
estado e prefeitura não divulgam dados precisos a respeito das remoções e a
segunda é que os corredores de ônibus (maiores responsáveis pelas remoções)
ainda estão em construção, mas os detalhes do projeto não são divulgados. Por
isso, as comunidades que estão no caminho das obras não sabem se serão removidas
ou não.
“A informação sobre a remoção chega com pouca
antecedência aos atingidos”, afirma o pesquisador Orlando dos Santos Júnior, do
Observatório das Metrópoles. “Tudo leva a crer que é uma política deliberada de
desinformação, para dificultar a criação de resistência”, acredita. As
negociações para a realocação dos moradores é feita de forma individual e com
pouco tempo para a resposta. “Há uma pressão, o morador é informado de que ou
aceita um apartamento distante ou pode acabar sem nada”, conta Silva Júnior.
Os mais afetados são
aqueles que jamais tiveram a oportunidade de ter segurança na posse de sua
moradia. Os assentamentos informais, única opção para uma grande parte da
classe trabalhadora, são os mais afetados pelas remoções. Como não são os donos
formais do território – ainda que morem no local por anos – essas pessoas têm
dificuldades de negociar. Embora haja, em teoria, o reconhecimento de que essas
pessoas têm direito a esse território, esse direito não é respeitado. Essa
cartilha da Relatoria Especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada explica
melhor essa dificuldade.
Projeto de cidade
Para entender a
magnitude das mudanças pelas quais o Rio de Janeiro está passando na preparação
para a Copa do Mundo e a Olimpíada, é preciso saber que a cidade apostou na
estratégia dos megaeventos como motor do desenvolvimento urbano. Hoje, todas as
grandes intervenções que acontecem na cidade têm como foco as competições
esportivas.
Essa estratégia não
é nova nem exclusiva do Rio de Janeiro. Muitas cidades já passaram por esse
processo. Barcelona é o exemplo mais famoso, por ter sido muito bem-sucedido em
sua missão de transformar a cidade. Para receber os turistas que chegam para os
Jogos Olímpicos e/ou a Copa do Mundo, as cidades não medem esforços para
melhorar sua imagem. O objetivo é criar uma boa fama no mundo do turismo,
atraindo mais visitantes no futuro.
Há muito debate no
meio acadêmico sobre a pertinência dessa estratégia. É quase impossível achar
dados que comprovem ou refutem de maneira cabal o sucesso dessa aposta, já que
as cidades que recebem os megaeventos normalmente já são bastante dinâmicas, ou
seja, têm inúmeros motivos para receber visitantes. Não há como isolar o efeito
de uma Olimpíada para análise. Mas, funcionando ou não, uma coisa é certa: a
preparação para as competições afeta a cidade de diversas formas, quase nunca
de forma democrática.
É a falta de
democracia na escolha desse tipo de estratégia que deveria estar em discussão
hoje, acredita o pesquisador Orlando Silva Júnior. “Não se trata apenas de
eventos esportivos. As transformações que ocorrem hoje no Rio terão reflexos
por muito tempo”, afirma. “A Olimpíada é um elemento legitimador do processo de
valorização das áreas dos Jogos, mas quem ganha com isso? O desenvolvimento é
para quem?”, questiona.
Os efeitos estão
longe de serem sentidos apenas pelos moradores dos bairros atingidos por obras.
A valorização imobiliária deixa a cidade cada vez mais cara. Uma busca simples
em anúncios de aluguel mostra que os imóveis atingiram valores assustadores. Um
apartamento de três quartos na região do Flamengo, que é um dos bairros mais
baratos da Zona Sul, dificilmente sai por menos de R$ 700 mil embora a média
seja bem superior. Os aluguéis partem dos R$ 3 mil e chegam facilmente a 5 mil.
Embora a
reestruturação da cidade esteja acontecendo a pleno vapor, Silva Júnior
acredita que ainda é possível questionar a sua validade. “Nenhuma dessas ações
de remoção ocorreu sem resistência. É preciso divulgar o que está acontecendo e
debater”, diz. “Há um sentimento geral de que a cidade está ficando mais
elitizada, e é verdade. Todos são afetados por isso. É preciso desconstruir o
discurso oficial e decidir que cidade deve surgir desse processo.
___________
BBC 23.10.2013Copa pode impulsionar exploração sexual de menores no Brasil
Estudo aponta
relação entre turismo de lazer e abusos; campanha internacional tentará evitar
que problema se agrave.
PARIS - Após a
divulgação em Paris de um estudo que mapeia a relação entre o turismo de lazer
e a exploração sexual de menores no Brasil, pesquisadores e especialistas
fizeram um alerta nesta terça-feira sobre o risco de um aumento do turismo
sexual infantil no país durante a realização da Copa de 2014 e Olimpíada de
2016.
O estudo, coordenado
por um pesquisador do Sesi (o Serviço Social da Indústria), foi divulgado nesta
terça-feira (dia 23) durante o seminário internacional "Turismo Sexual
Envolvendo Crianças e Grandes Eventos Esportivos", que reuniu organizações
de luta contra a exploração sexual infantil e profissionais do setor de viagens
de diversos países.
Durante o evento, a
organização ECPAT (sigla em inglês para Fim da Prostituição e do Tráfico de
Crianças para Fins Sexuais) também anunciou que lançará, com apoio do Sesi, uma
campanha internacional para prevenir o agravamento desse problema durante os
Jogos no Brasil.
O pesquisador Miguel
Fontes, que além de atuar na área de pesquisas estratégicas do Sesi também está
ligado à Universidade John Hopkins, analisou a relação existente entre o número
de entradas de turistas estrangeiros em São Paulo e na Bahia de 2008 a 2010 e o
total de denúncias de exploração sexual infantil nesses dois estados no
período.
"Na Bahia, onde
o turismo é de lazer, os resultados demonstram que para cada 372 turistas
internacionais, houve o aumento de uma denúncia de exploração sexual de crianças.
Em São Paulo, onde o turismo de negócios é maior, somente com o aumento de 2,5
mil turistas se detecta o aumento de uma denúncia de exploração sexual
infantil", diz Fontes.
"A exploração
sexual de crianças e adolescentes está ligada às atividades turísticas de
lazer. Por isso, podemos projetar que a realização de grandes eventos
esportivos mundiais, ao promover um aumento do fluxo de pessoas (para o
Brasil), pode ampliar o número de casos desse tipo", conclui o consultor.
CAMPANHA
Segundo Fontes, as
crianças exploradas sexualmente no Brasil têm por volta de 11 anos em média. As
meninas representam quatro de cada cinco casos de denúncias. E a região
nordeste concentra 37% dos casos.
O ministério
brasileiro do Turismo prevê 600 mil turistas estrangeiros e 5 milhões de
visitantes brasileiros só durante a Copa do Mundo, em 2014.
"O grande fluxo
de pessoas aumenta as possibilidades de exploração sexual de crianças. A
miséria cria a oferta de menores e as redes mafiosas vão querer suprir a
demanda", afirma Jair Meneguelli, presidente do Conselho Nacional do Sesi.
A campanha da ECPAT,
intitulada "Não desvie o olhar", prevê vídeos e pôsteres que serão
exibidos em aeroportos, aviões, agências de viagens, bares, restaurantes e
outros espaços públicos em dez países da Europa e também no Brasil.
Também prevê a
criação de um site europeu para denúncias. Ela custará 3 milhões de euros, que
serão financiados principalmente por recursos da União Europeia.
___________
G1 08.05.2013
Papa vai inaugurar no Rio centro de tratamento
a usuários de crack
Pontífice fará
discurso para dependentes em tratamento no dia 24 de julho.
Conferência
Episcopal Italiana doou R$ 2,6 milhões para obra da unidade.

O Hospital São Francisco de Assis na Providência de
Deus, na Tijuca, na Zona Norte do Rio, passa por obras para ganhar uma ala
dedicada ao atendimento e tratamento de dependentes químicos, como mostrou
reportagem do RJTV nesta quarta-feira (8). A iniciativa chamou a atenção do
papa que incluiu o local no roteiro da visita que ele fará ao Rio em julho.
No dia 24 de julho, Francisco vai conhecer a
instituição e inaugurar o Polo de Atenção Integral à Saúde Mental, que terá 65
leitos para internações de até 60 dias. O novo centro estará preparado para
receber dependentes em crise, principalmente usuários de crack.
O pontífice fará um breve discurso, no palco que
será montado no hospital. Atendendo a uma exigência dele, na primeira fila da
plateia ficarão doentes e dependentes químicos em tratamento. Apesar da
notoriedade do líder religioso, a cerimônia será simples. Jovens que venceram a
luta contra as drogas com o apoio de centros mantidos pela igreja católica vão
dar um testemunho.
O Hospital São Francisco de Assis é composto por
oito prédios, que pertenciam a Ordem Terceira e passaram por uma grande
mudança. A unidade quase fechou e há dois anos é administrada pelo Lar São
Francisco de Assis na Providência de Deus. Atualmente, são atendidas quatro mil
pessoas na emergência e realizadas 500 cirurgias por mês em pacientes do SUS e
de planos de saúde.
A Conferência Episcopal Italiana doou R$ 2,6
milhões para a construção do centro, que será um dos legados sociais da Jornada
Mundial da Juventude para o Rio de
Janeiro.
Jornal do Brasil 05.05.2013
Papa Francisco denuncia abusos sofridos por crianças
O papa Francisco denunciou neste domingo (5) os abusos sofridos pelas crianças durante a oração "Regina Coeli" (rainha dos céus), realizada na Praça de São Pedro, no Vaticano.
A oração "Regina Coeli" substitui o "Angelus" durante o período pascal, de 50 dias, que a Igreja católica celebra entre os domingos de Páscoa e de Pentecostes.
"Eu envio hoje uma saudação especial à associação Meter" - uma organização não-governamental (ONG) que luta há mais de 20 anos contra todos os tipos de abusos, incluindo sexuais, cometidos contra as crianças - por ocasião da realização das jornadas das crianças vítimas de violência, disse o papa. "Isso dá-me a oportunidade de dirigir meus pensamentos aos que sofreram ou ainda sofrem abusos", acrescentou.
"Eu queria assegurar-vos que estão presentes nas minhas orações, mas também quero ressaltar fortemente que, todos nós nos devemos comprometer com clareza e coragem para que todos os seres humanos, e particularmente as crianças, que estão entre as categorias mais vulneráveis, sejam sempre protegidas e defendidas", afirmou.
Há um mês, o papa Francisco pediu para se agir com "determinação" contra os abusos sexuais cometidos pelos membros do clero, evocando de maneira precisa o problema da pedofilia. "O santo padre pediu em particular que a Congregação, continuando a linha de Bento XVI, agisse com determinação no que diz respeito aos casos de abusos sexuais", indicou um comunicado do Vaticano.
Foi a primeira vez que o papa argentino se manifestou publicamente e diretamente sobre os casos de abusos cometidos durante décadas contra dezenas de milhares de crianças. Pediu "a promoção de medidas de proteção dos menores e ajuda aos que passaram por tais violências". O papa solicitou também "procedimentos para encontrar os culpados e o comprometimento em conferências episcopais para formular e colocar em prática as diretivas necessárias neste domínio".
_____________
Veja 17.04.2012
JMJ 2013: a
cracolândia no caminho do Papa Francisco
Arquidiocese do Rio
sugere visita do pontífice às favelas de Manguinhos ou Mandela, na Zona Norte
do Rio. Na próxima semana, Vaticano definirá agenda
Cecília Ritto
Primeiro papa a
visitar o Brasil em 1980, João Paulo II fez história ao incluir, em seu périplo
pelo Rio de Janeiro, as ladeiras íngremes e estreitas do Vidigal. A encosta, à
época repleta de barracos de madeira, ganhou fama e os moradores passaram a
guardar um anel do pontífice, doado durante a visita. Trinta e três anos
depois, a vinda do papa Francisco ao Rio também prevê a incursão da comitiva
por favelas. Mas desta vez com alguns significados a mais. Um deles, o momento
diferente da criminalidade na cidade – com praticamente todos os morros da Zona
Sul ocupados pela polícia. O outro, o legado que a Igreja Católica estabeleceu
como prioridade da Jornada Mundial da Juventude: o combate às drogas e,
especialmente, ao crack, que atinge milhares de adolescentes e crianças nas
grandes cidades brasileiras.
De acordo com a
Arquidiocese do Rio, será criado na cidade um centro de referência no
tratamento para dependentes de drogas. E o papa Francisco deverá conhecer a
região onde se formou a maior cracolândia do Rio, junto às favelas de
Manguinhos e do Jacarezinho, na Zona Norte - ocupadas pela polícia em outubro
de 2012. As duas estão na lista de locais previstos para receber o pontífice.
O roteiro de
Francisco no Rio será definido na próxima semana, com a visita de Alberto
Gasbarri, chefe no Vaticano do departamento que se dedica às viagens
internacionais. Gasbarri esteve no Brasil durante a vinda de João Paulo II e na
visita de Bento XVI a Aparecida. Em janeiro deste ano, desembarcou na
cidade-sede da jornada para visitar alguns locais cotados para a aparição do
papa, como o Cristo Redentor. Agora, ele é quem vai definir a programação do
pontífice, além dos atos oficiais que já estão confirmados.
Por enquanto,
sabe-se que os pontos principais da JMJ são as celebrações de Copacabana, onde
um coral vai recepcionar o papa e abrigar a via-sacra, e a vigília para cerca
de 1 milhão de pessoas, em Guaratiba, a 60 quilômetros do centro do Rio.
O público total
esperado para a JMJ é de cerca de 2 milhões de pessoas, com predominância de
católicos de outros estados e fiéis latino-americanos. Entre os visitantes
estrangeiros, espera-se um contingente representativo de argentinos, para
festejar a primeira viagem internacional do papa de sua nacionalidade.
João Paulo II – Na
visita de João Paulo II ao Brasil, em 1980, o pontífice havia demonstrado o
desejo de conhecer uma favela. Um dos fatores que contribuíram para a escolha
do Vidigal, morro localizado no Leblon, foi a existência de projetos sociais da
Igreja católica no local. Assim que ficou decidida a favela, uma série de obras
desembarcou por lá. O Vidigal ganhou postes de luz, novas lixeiras e corrimão.
O papa entrou em um barraco, tomou café com o dono da casa e logo o morro
ganhou fama no mundo. Preocupada com a segurança de João Paulo II, a pastoral
chegou a elaborar um protocolo para os moradores que, entre as orientações,
dizia para os moradores não correrem, não convidarem pessoas de fora para ir à
favela no dia da visita do papa e fazer o possível para o pontífice se sentir
em casa.
Agência Brasil
25.05.2012
ONU cobra respeito
aos direitos humanos durante preparativos da Copa
Daniella Jinkings
Brasília – O
respeito aos direitos humanos durante os preparativos para os grandes eventos
que o Brasil vai sediar, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016,
é uma das grandes preocupações do Conselho de Direitos Humanos (CDH) da
Organização das Nações Unidas (ONU). O Brasil passou hoje (25) pela segunda
revisão do Mecanismo de Revisão Periódica Universal (RPU), em Genebra (Suíça),
onde apresentou um relatório sobre a situação dos direitos humanos no país.
A revisão foi
conduzida por um grupo de trabalho composto por 47 Estados-Membros do CDH. Os
três países relatores - China, Polônia e Equador – vão preparar o documento
final. Para o CDH, o Brasil precisa estar atento à restruturação urbana em
avanço para grandes eventos a fim de prevenir os despejos forçados. Desde o ano
passado, comitês populares denunciam remoções forçadas nas cidades que vão
receber a Copa.
Outros problemas
levantados durante a reunião foram as execuções extrajudiciais feitas pela
polícia brasileira, a violência doméstica e contra a mulher, a proteção de
defensores de direitos humanos e os direitos de povos indígenas e quilombolas.
Entre os pontos
positivos avaliados pelo conselho são as ações de combate à pobreza, as
políticas de combate à Aids, os esforços de redução da mortalidade e
desnutrição infantis, além da criação da Comissão da Verdade, da implementação
da Lei de Acesso à Informação e a criação do Conselho Nacional de Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT).
De acordo com a
ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, o Brasil recebeu
recomendações muito importantes e os esforços que o país vem fazendo para
garantir os direitos humanos da população foram reconhecidos. “Hoje, 78 países
se inscreveram e usaram a palavra [durante a reunião] e a maioria tem a mesma
opinião e reconhece o esforço brasileiro para inclusão social e econômica”.
Após a apresentação
do relatório, o CDH fez algumas recomendações ao Brasil, como a criação de
medidas eficazes contra os homicídios cometidos por policiais e de ações para
combater os chamados esquadrões da morte, ativos em alguns estados. A ONU
também pediu ao Brasil que coloque defensores públicos em todos os locais de
detenção, além da criação de um sistema de proteção para os juízes sob ameaça.
“O Brasil se comprometeu a dar sequencia a essas políticas”, disse Maria do
Rosário à Agência Brasil.
Todos os 193 países-membros
das Nações Unidas são submetidos ao mecanismo a cada quatro anos e meio, o que
representa uma inovação do sistema internacional de proteção dos direitos
humanos. O documento, denominado 2º Relatório Nacional do Estado Brasileiro,
apresentado hoje, pode ser lido na íntegra no site www.sdh.gov.br da Secretaria
de Direitos Humanos.
Fifa desmente Cabral e afirma que não pediu
demolição do Museu do Índio
Entidade máxima do futebol diz que nunca pediu demolição de prédio
vizinho ao Maracanã
Igor Mello
O governador Sérgio Cabral afirmou, durante uma
cerimônia na manhã desta quinta-feira (18), que o governo do estado demolirá o
antigo prédio do Museu do Índio, vizinho ao Maracanã, por conta dos preparativos
para a Copa do Mundo. Na ocasião, Cabral justificou a decisão por uma
determinação da FIFA, fato desmentido pela entidade máxima do futebol:
"O Museu do Índio, perto do Maracanã, será
demolido. Vai virar uma área de mobilidade e de circulação de pessoas. É uma
exigência da Fifa e do Comitê Organizador Local. Viva a democracia, mas o
prédio não tem qualquer valor histórico, não é tombado por ninguém. Vamos
derrubar", argumentou o governador.
Cabral deverá ter dificuldades políticas para
concretizar sua decisão. Os cerca de vinte indígenas que habitam o terreno
do antigo museu, rebatizado como Aldeia Maracanã, garantem que não abandonarão
o espaço e prometem resistir. Afenso Apurinã, um dos líderes da
comunidade, fala que o governador está querendo atender interesse dos
empresários que apoiaram sua eleição.
Outro que promete reagir é o defensor
público André Ordacgy, titular do 1º Ofício de Direitos Humanos e
Tutela Coletiva que promete ir à Justiça contra a decisão do governador.
Conflito de versões
A versão de Cabral vai de encontro a um documento enviado
pela FIFA à Defensoria Pública da União (DPU), obtido com
exclusividade pelo Jornal do
Brasil. No ofício, assinado por Fulvio Danilas, diretor do Escritório da
FIFA no Brasil, a entidade desmente essa tese:
Trecho de documento mostra que FIFA é contra a
demolição do Museu do Índio
Segundo o defensor público federal Ordacgy, a DPU
entrará na Justiça Federal para impedir a demolição do prédio, que tem mais de
cem anos e abriga cerca de 20 índios de diversas etnias:
"Vamos propor uma ação civil pública, com um
pedido de liminar na Justiça Federal. Vai ser um pedido de não fazer, ou seja,
de que o governo não possa demolir o prédio histórico. Também pediremos o
tombamento, a preservação e recuperação do imóvel. O governo terá que
recuperá-lo, porque a lei diz que é obrigação do proprietário a recuperação do
imóvel", afirma.
Segundo Ordacgy, todos os órgãos técnicos são
contrários à demolição e atestam que o edifício, que fica na Rua Mata Machado,
pode ser recuperado:
"É um desrespeito à preservação cultural e
arquitetônica do município. Todos os órgãos, com exceção do governo do estado,
são contrários à demolição. Temos um parecer do Conselho Regional de Engenharia
e Agronomia (Crea) contrário à demolição. Também o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan) está contra", enumera.
Até o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico
(Inepac) se opõe à decisão do governador. Em resposta a ofício
da Defensoria Pública da União, o órgão técnico garante que é a
favor da preservação do prédio e que pediu, inclusive, seu tombamento. No
entanto, ressalta que "não houve prosseguimento nas esferas
superiores":
Responsável pelo patrimônio histórico do estado do
Rio, Inepac recomendou o tombamento do prédio
Questionada sobre o documento da Fifa, a assessoria
de imprensa do governador deu nova versão. Segundo ela, a decisão de desocupar
o local nada tem a ver com a entidade futebolística. A demolição visa facilitar
a 'mobilidade', isto é, a locomoção das pessoas pela região.
Índios: "há interesses de empresários"
Apurinã explica que os índios permanecerão no
local. "Lutaremos até o final. É uma questão de justiça. Há muitos anos
somos humilhados e massacrados, eles não valorizam nossa cultura. Na cerimônia
de encerramento da Olimpíada de Londres, botaram funk para representar a
cultura brasileira, mas a cultura do índio eles não divulgam", questiona.
Oriundo de Boca do Acre, no Amazonas, ele acusa o
governador de querer destruir a cultura indígena, em prol de interesses
privados:
"O governador está construindo centros
culturais em diversos lugares, mas quer destruir a cultura do índio. Isso é o
interesse dos empresários que apoiaram a campanha dele. Vai deixar os
empresários fazerem o que quiser", acusa.
Além de prometerem fazer manifestações contra a
remoção, os índios também usam a internet para protestar. O grupo organizou um abaixo assinado para tentar impedir a demolição do
prédio.
JB 18.01.2013
O que move Sérgio
Cabral contra os índios?
Marcelo Auler
A cena protagonizada
no sábado (12) por policiais militares do Batalhão de Choque, fortemente
armados e com uniformes típicos de confronto, cercando um prédio onde estavam
indígenas munidos de arco e flecha, pode parecer bisonha em pleno século XXI,
mas além do ridículo da situação, demonstra a maneira pouco democrática com que
o governo do estado do Rio de Janeiro conduz a questão da reforma do Estádio do
Maracanã.
Naquele estádio, em
16 de julho de 1950, o Brasil se viu derrotado na Copa do Mundo quando, na
final, o uruguaio Alcides Ghiggia marcou o gol da virada que deu ao país
vizinho seu segundo e último título de campeão mundial.
Anos mais tarde, de
forma irônica, o jogador comentou a façanha destacando que “apenas três
pessoas, com um único gesto, calaram um Maracanã com 200 mil pessoas: Frank
Sinatra, o papa João Paulo II e eu”.
Isto apenas mostra
que o Maracanã, ao longo dos seus 62 anos, já recebeu públicos variados. Na
época em que suas arquibancadas eram corridas – sem cadeiras individuais – e que
existia a famosa “geralzona”, onde o público – a maioria pobre, mas não apenas
eles – assistia aos jogos em pé, ao redor do campo, o Estádio Mário Filho
abrigou facilmente quantidade muito superior aos 100 mil torcedores.
O governador Sérgio
Cabral Filho, vascaíno doente e descendente de um jornalista que além do samba
é vidrado no futebol, certamente quando criança e jovem esteve em jogos que
tenham atraído esta multidão de admiradores do esporte. Sempre em quantidade
muito superior aos 76 mil espectadores que o estádio abrigará, por exigência da
Fifa, na Copa do Mundo de 2014, após a reforma que está instalando cadeiras
individuais nas antigas arquibancadas.
Um grande aparato
policial foi usado para intimidar os índios, que ocupam a Aldeia Maracanã
Uma reforma que foi
decidida entre quatro paredes, sem a participação do público, nem nenhum tipo
de consulta mais aberta a especialistas ou órgãos de classe. Prevaleceram os
interesses da Fifa, da CBF, na época presidida por Ricardo Teixeira que, todos sabem,
comandou a entidade movido por propósitos nem sempre muito claros, e pelos
governantes do Rio, Sérgio Cabral à frente. Mas a reforma está sendo sustentada
com dinheiro público, de bancos oficiais, ou seja, em última instância, pelos
impostos que os torcedores – aqueles que não foram jamais ouvidos – recolhem.
Curiosamente, o
projeto estipulado entre quatro paredes e sem a participação popular decidiu
pela impossibilidade de convivência entre o estádio reformado e um prédio
erguido naquela região muito antes de se pensar em ali se instalar um estádio
de futebol.
Datado de 1862,
portanto com mais de 150 anos, o prédio do antigo Museu do Índio não tem valor
histórico apenas pela sua construção centenária, mas pelo que abrigou. Foi nele
que o marechal Rondon inicialmente, depois com a ajuda do antropólogo Darcy
Ribeiro e dos irmãos Villas Boas, traçou e conquistou para o país a política
nacional de preservação dos indígenas. Foi ali, por exemplo, que eles juntos
travaram a batalha em defesa do Parque Nacional do Xingu que, como o filme de
mesmo nome acaba de mostrar a milhões de pessoas, tanto nas salas de cinema
quanto pela Rede Globo, garantiu a sobrevivência de diversas nações indígenas.
E ali se manteve uma tradição indígena, fazendo do prédio abrigar a Aldeia
Maracanã, que se transformou em referência para os índios no Rio de Janeiro.
A convivência entre
o prédio com 150 anos e o estádio com 62 anos sempre foi pacífica. Mesmo tendo
abrigado algumas vezes até 200 mil pessoas, não há registro de que o antigo
prédio tenha atrapalhado a hoje denominada “mobilidade urbana”. Estas duas
centenas de milhares de pessoas entraram e saíram do estádio Mário Filho sem
maiores pertubações, às vezes incomodadas apenas pelos congestionamentos
causados por carros particulares transportando quantidade ínfima de
passageiros.
Ora, se no passado
por ali circularam sem maiores problemas duas centenas de milhares de pessoas,
sejam torcedores, fiéis que foram ver o papa ou fãs de Frank Sinatra, por que
motivos há de se alegar que o prédio atrapalhará a “mobilidade urbana” em jogos
onde são esperados muito menos espectadores?
Fala-se da
necessidade de construção de um grande estacionamento. Ou seja, mais uma vez as
autoridades priorizam o transporte individual, quando na verdade, em nome da
“mobilidade” e até da defesa do meio ambiente, deveriam se preocupar não em
derrubar um prédio, que em nada atrapalha o ir e vir dos torcedores, mas sim
criar corredores exclusivos de ônibus para que estes, ao lado dos trens da
SuperVia e do Metrô garantam o escoamento do publico sem maiores
congestionamentos.
Na verdade, toda
esta mobilização do governo, inclusive utilizando soldados do Batalhão de
Choque que vivenciaram o ridículo papel de cercarem uma aldeia cujos índios
possuíam apenas arcos, flechas e, talvez, tacapes improvisados, leva a crer que
o governo de Sérgio Cabral está sendo movido por outros interesses.
O que se percebe é a
vontade de limpar a área para que a iniciativa privada possa explorar a região
com estacionamentos que terão preços abusivos e shoppings onde o chamado
mercado irá faturar em cima dos 76 mil torcedores esperados nos jogos da Copa
do Mundo. Por detrás disto, consta, estariam também os interesses do
megaempresário Eike Batista, aquele que emprestava aviãozinho para os passeios
do senhor governador.
Por conta de
interesses não dos mais nobres é que toda a história do velho e centenário
prédio onde outrora se desenhou a política indigenista do país e, por isto,
abrigou o Museu do Índio e tornou-se referência para as tribos indígenas, está
sendo jogada no lixo. O pior é que tudo pode acontecer com a omissão ou mesmo a
participação do Judiciário Federal fluminense, uma vez que partiu da presidente
do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, Maria Helena Cisne, a decisão de
suspender a liminar que impedia a remoção da aldeia indígena. Ainda há tempo de
se evitar que se jogue um pedaço da História do Brasil na lata do lixo. Por
enquanto, apenas a Defensoria Pública da União, alguns poucos políticos e
movimentos sociais tentam evitar isto. Mas, quem sabe, outras entidades não
despertarão do sono profundo no raiar desta segunda-feira, antes do governador
promover nova cena dantesca, mandando fuzis e metralhadoras cercarem arcos,
flechas, tacapes e parte da História do Brasil?
Justiça Global
0..03.2012
COI visita RJ um dia
após NY Times destacar remoções arbitrárias na cidade.
O jornal The New York Times destacou nesta
segunda-feira, em matéria de capa, a situação das 170
mil pessoas ameaçadas de remoção forçada de suas casas em todo o Brasil por
causa das obras ligadas à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016. Conforme já foi
denunciado pelos Comitês Populares da Copa no dossiê
Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Brasil, as remoções
representam um flagrante desrespeito à legislação e aos compromissos
internacionais assumidos pelo Brasil para a defesa dos direitos humanos no
país.
Nos últimos 16 meses,
milhares de famílias no Rio de Janeiro já foram arbitrariamente removidas de
suas casas ou estão ameaçadas em comunidades como Restinga, Vila Harmonia,
Largo do Campinho, Favela do Metrô, Rua Domingos Lopes, Rua Quáxima, Favela do
Sambódromo, Morro da Providência, Estradinha, Vila Recreio 2, Vila Autódromo e
Arroio Pavuna. Não se trata de casos isolados. Uma simples busca no YouTube
renderá mais de cem vídeos feitos por cidadãos e testemunhas documentando
remoções arbitrárias e violentas.
Nesta terça-feira
(6), membros do COI estarão no Rio de Janeiro para monitorar as obras e se
encontrarão com o prefeito Eduardo Paes às 8h30. A reunião será fechada e por
isso o Prefeito vai falar com a imprensa somente na chegada à Sede do Comitê
Organizador dos Jogos, na Avenida das Américas, 899 – Barra da Tijuca.
Sugerimos que os jornalistas presentes perguntem ao prefeito Eduardo Paes o que
os moradores atingidos, os Comitês Populares da Copa e toda a sociedade
brasileira querem saber.
Perguntas até agora sem resposta
1) A Prefeitura do
Rio tem condições de continuar negando – apesar dos relatos na imprensa, dos
documentos judiciais, e dos muitos vídeos de denúncia – que violações de
direitos humanos foram cometidas nas remoções forçadas de comunidades como a
Restinga, Vila Recreio 2, Favela do Metrô, Vila Harmonia, Largo do Campinho, e
outras? O que está sendo feito para remediar a situação dessas famílias?
2) Se os
reassentamentos estão sendo feitos dentro dos limites da lei, como alega o
Poder Público, porque vocês não conseguem provar esta afirmação com uma simples
divulgação de uma lista completa de todas as comunidades ameaçadas de remoção
no Rio hoje, assim como os nomes, os valores de remuneração e locais de
reassentamento de todos as famílias que já foram reassentadas desde 2009? Isso
deve, no mínimo, ser disponibilizado para a Defensoria Pública.
3) O padrão das
remoções forçadas no Rio tem sido a “derrubar primeiro, definir o
reassentamento depois”. Enquanto isso, o “aluguel social” de R$ 400 não é
suficiente para as famílias se manterem até que outra opção seja encontrada. A
relatora da ONU, Raquel Rolnik, tem defendido um reassentamento “chave por
chave”, em que nenhuma família seja despejada de sua casa antes de ter
participado (e concordado) com um reassentamento. Em todas as nossas pesquisas,
não conseguimos encontrar nenhum caso em que isso tenha ocorrido. Vocês podem
citar um único exemplo em que a comunidade atingida teve seu reassentamento
completamente finalizado antes que suas casas foram destruídas?
4) Na Favela do Metrô
e na Estradinha, as famílias vêm vivendo em meio a escombros perigosos há mais
de um ano no que mais parece uma cena de guerra. Como vocês podem justificar
demolições parciais de comunidades quando ainda existem famílias vivendo nelas?
O que o Poder Público fará para remediar a situação no Metrô e na Estradinha
imediatamente? O Poder Público pode se comprometer a pôr um fim definitivo à
prática de demolições parciais até que todos os moradores estejam de acordo com
as opções de reassentamento e devidamente reassentados?
Remoções no Brasil são pauta da imprensa internacional
Outros órgãos da
imprensa internacional, como o The Guardian, The
Huffington Post, Al-Jazeera e El País, já denunciaram as
remoções, assim como a Anistia
Internacional e própria Relatora da ONU para o direito à
moradia adequada, Raquel
Rolnik. As denúncias chegam agora ao jornal mais
influente do mundo, aumentando a pressão nas autoridades cariocas por mais
transparência, novas práticas, e o fim definitivo das remoções ilegais sob
qualquer pretexto.
Os Comitês Populares
da Copa não acreditam em desenvolvimento que viole os direitos humanos. Por
isso, na última visita do COI em novembro de 2011, foi entregue pelo
Comitê Popular Rio uma carta e
um DVD com essas mesmas denúncias e até agora não
houve resposta adequada. Espera-se que a matéria do NYTimes reacenda o debate
sobre o real legado dos megaeventos esportivos e abra uma nova oportunidade
para a imprensa nacional fazer as perguntas que continuam sem resposta.
Para ver e pensar...
(clik na figura abaixo)

________
Opera Mundi 07/08/2012
O outro lado da
Olimpíada de Londres em cinco protestos
Nem tudo é festa na capital britânica: ativistas denunciam ações
obscuras de alguns patrocinadores e são reprimidos por autoridades
Roberto Almeida
Na contramão dos furores
patrióticos por medalhas, manifestantes britânicos realizaram protestos contra
a Olimpíada de Londres. Sem o mesmo holofote de Usain Bolt, Michael Phelps e
Andy Murray, cinco ações anti-Jogos questionaram seus polêmicos patrocinadores,
colocando em xeque a lógica dos “benefícios” do megaevento e a controversa
reformulação da região leste da capital britânica para construção do Parque
Olímpico.
Poucas linhas de jornal contaram sobre
as prisões em uma bicicletada pacífica e outras detenções em um protesto
bem-humorado com creme de baunilha na Trafalgar Square, centro de Londres.
Um grupo de ativistas conseguiu
autorização do comitê olímpico local – a única para o dia da abertura – e
realizou um die-in (tipo de protesto pelos mortos de uma tragédia realizado por
simulações) homenageando as vítimas da catástrofe de Bhopal, na Índia. Enquanto
isso, na cidade de Bhopal, crianças deficientes realizaram uma “Olimpíada
paralela”.
As manifestações, mesmo que à sombra do
megaevento, mostraram que o modelo de negócios da Olimpíada de Londres está
longe de ser unanimidade. Ele é, acima de tudo, controverso, e deixa diversas
lições para os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, daqui a quatro anos.
Veja quem foi às ruas (ou às redes
sociais) e por quê:
Die-in
Há 28 anos, a cidade de Bhopal, norte da
Índia, foi vítima de uma das maiores catástrofes ambientais da história. Em
1984, falhas em uma fábrica de pesticidas, de propriedade da Union Carbide,
lançaram 27 toneladas de um gás tóxico, o isocianato de metila, e contaminaram
120 mil pessoas. A área nunca foi descontaminada e há indícios de que há
grandes quantidades de mercúrio em seus lençóis freáticos.
Em 2001, a Dow Chemical Company, gigante
do setor químico, comprou a Union Carbide, mas não assumiu total
responsabilidade pela tragédia. Os efeitos foram devastadores. Os chamados
“filhos de Bhopal” nasceram com deformidades. A empresa afirma que as
indenizações pagas são suficientes para apagar a mancha da catástrofe, mas a
área continua contaminada.
O caso raramente volta às páginas dos
jornais. No dia 27 de julho, data da cerimônia de abertura, manifestantes
mobilizados pela ONG DropDowNow foram às proximidades do Parque Olímpico e
realizaram um die-in. Qual a relação disso com a Olimpíada?
A Dow Chemical, que também fabricou
napalm para a Guerra do Vietnã, aportou 7 milhões de libras esterlinas (cerca
de 21 milhões de reais) para ser patrocinadora dos Jogos Olímpicos. O acerto
com o Comitê Olímpico Internacional, levou à renúncia ao vivo, na rede estatal
BBC, de Meredith Alexander, ex-agente da Comissão para uma Londres Sustentável
2012.
O premiê conservador David Cameron saiu
em defesa da multinacional e disse que a Olimpíada de Londres seria a mais
verde da história. Segundo o contrato com o Comitê Olímpico Internacional, a
Dow Chemical já é patrocinadora da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016.
Contra a
isenção
“Stratford [região do Parque
Olímpico] será um paraíso fiscal”, escreveu Tim Hunt, da revista Ethical
Consumer. A frase apontou o dedo para atletas e patrocinadores da Olimpíada,
como McDonald’s e Visa, ambos com monopólio sobre suas respectivas áreas. Enquanto
toda comida “de marca” vendida em Stratford é necessariamente do McDonald’s, a
bandeira de cartões Visa está em todas as compras de bilhetes para os Jogos.
A isenção fiscal, segundo Hunt, foi
preponderante para que os Jogos fossem sediados em Londres neste ano, com
anuência do comitê olímpico local, chefiado por Sebastian Coe, do Partido
Conservador. A legislação britânica sofreu mudanças para que isso acontecesse,
em operação conjunta com o Tesouro.
A irritação de ativistas era questão de
tempo. Eles rapidamente sublinharam a contradição entre isenção fiscal a
multinacionais e políticas de austeridade do governo britânico, que enfrenta o
mais longo período de recessão em 50 anos. A ONG 38 Degrees fez um
abaixo-assinado virtual pedindo a todas as empresas patrocinadoras dos Jogos
Olímpicos que paguem seus impostos sobre a exploração do megaevento.
Houve uma enxurrada nas redes sociais e
deu certo. Em duas semanas, 14 multinacionais enviaram comunicados à ONG
informando que concordavam em pagar as taxas.
Bicicletada
pacífica
Toda última sexta-feira do mês,
ciclistas do grupo Critical Mass (ou Massa Crítica) saem pedalando por Londres.
Desde 1994, eles se encontram no South Bank, perto da ponte Waterloo, e
passeiam sem itinerário pela capital britânica como uma celebração do “andar de
bicicleta”.
A última sexta-feira de julho caiu no
dia 27, data da cerimônia de abertura da Olimpíada. Cerca de 500 ciclistas se
reuniram para pedalar, mas não conseguiram cruzar a ponte Waterloo. O acesso à
margem norte do rio Tâmisa estava fechado.
Motocicletas policiais com sirenes
altíssimas escoltavam vans e ônibus que levavam os atletas ao Parque Olímpico,
bloqueando ruas de toda a região central e leste de Londres. Segundo a polícia,
era proibido pedalar na capital britânica naquela noite. Ciclistas disseram ter
sido empurrados pela polícia para deixar o astro do futebol David Beckham
passar e tiveram suas bicicletas confiscadas.
Ao todo, segundo dados oficiais da
polícia britânica, 182 ciclistas foram presos durante a bicicletada, que contou
com uso de spray de pimenta e da tática de contenção de manifestantes conhecida
como “kettling”. Os policiais, unidos, formaram círculos em torno dos
ciclistas, mantendo-os “presos” na rua.
Dos 182 detidos, 178 saíram no dia
seguinte e quatro foram acusados de diversos crimes. “As pessoas não têm o
direito de realizar um protesto que atrapalhe o direito de outras pessoas de
seguir com suas vidas – atletas que treinaram durante anos por uma chance de
competir, milhões de portadores de ingressos que queriam ver o maior evento
esportivo do mundo e todo mundo em Londres que queria se locomover”, afirmou a
polícia britânica em nota.
Creme de
baunilha
Ativistas da Greenwash Gold 2012,
campanha contra os patrocinadores “verdes” dos Jogos Olímpicos, foram até a
Trafalgar Square, centro de Londres, para um pódio de mentirinha. Três pessoas,
representando Rio Tinto, Dow Chemical e British Petroleum, posariam em frente
ao relógio da contagem regressiva da Olimpíada e então jogariam um creme de
baunilha com corante verde na cabeça, simulando lixo tóxico. Seis acabaram
presos.
“Greenwash” é o termo usado por
ativistas para empresas que fazem “lavagem verde de dinheiro”, ou seja, usam
parte de seus lucros em patrocínios e projetos direcionados ao meio-ambiente,
mas o destroem em suas atividades principais. A performance do grupo durou
cerca de 15 minutos, tempo suficiente para que a polícia prendesse seis pessoas
por “dano criminal” ao piso da Trafalgar Square – tudo isso porque caiu um
pouco de creme de baunilha no chão.
“Era um protesto pacífico e legítimo
contra patrocinadores terríveis, e os manifestantes acabaram presos por
derrubar creme de baunilha”, disse o diretor da Bhopal Medical Appeal, Colin
Toogood.
Além da norte-americana Dow Chemical,
acusada como a responsável legal pela tragédia de Bhopal, a British Petroleum
foi responsável pelo vazamento de petróleo no Golfo do México, em 2010. E a Rio
Tinto, especialista em mineração, é duramente criticada por sua atuação em
países como Indonésia e Papua Nova Guiné.
Badminton
Duas reportagens de jornal, uma do Daily
Telegraph, mais à direita, e outra do The Independent, mais à esquerda,
mostraram que a Adidas estava fabricando material esportivo para a Olimpíada à
custa de trabalhadores em regimes desumanos, pagando salários baixíssimos e com
carga horária de até 65 horas por semana. Os esforços foram grandes para
revelar a história. O Telegraph foi até Camboja, enquanto o Independent viajou
à Indonésia em busca de informações sobre a fabricação das roupas.
A ONG War on Want, de combate à pobreza,
foi às ruas contra a Adidas e realizou um protesto em frente à principal loja
da marca, em Oxford Street, e projetou um enorme logo da companhia em um prédio
vizinho ao Parque Olímpico com os dizeres: “Exploitation. Not OK here, not OK
anywhere. (Exploração. Não é OK aqui nem em qualquer outro lugar)”.
Todos os atletas do time olímpico do
Reino Unido vestem Adidas e seus agasalhos estavam entre os mais vendidos. O
design é de Stella McCartney, estrela mundial da moda. A empresa nega utilizar
trabalhadores em regime de escravidão, cujos salários/hora não chegariam a um
real.
Nenhum comentário:
Postar um comentário