Senado de Porto Rico
começa a discutir nesta semana descriminalização da maconha.
Além dele, outros países
do Caribe analisam a possibilidade de flexibilizar a legislação relativa à
droga.
Agência EFE
O Senado de Porto
Rico começa a discutir na próxima semana a descriminalização, a legalização da
venda e o consumo com fins medicinais da maconha. A ideia tem gerado grande
debate no país nas últimas semanas.
As emissoras de
rádio e televisão vêm abordando o assunto e cada vez mais personalidades locais
reconhecem abertamente ter consumido maconha e pedem flexibilização das leis.
"Vamos deixar
de hipocrisia", disse recentemente Miguel Pereira, senador do partido
governante que apresentou a proposta de descriminalizar a posse de 28 gramas de
uma planta que se acredita que pode ser até mais consumida do que o tabaco na
ilha. Ele foi promotor público por doze anos, chefe da polícia de Porto Rico e
secretário penitenciário.
Porto Rico e outros
países do Caribe começam a discutir a descriminalização da maconha
Nos setores
universitário e empresarial, também surgiram vozes apoiando a iniciativa, com o
argumento de que a penalização do consumo destruiu a carreira estudantil e
profissional de milhares de jovens.
Atualmente, as leis
porto-riquenhas preveem multas de até US$ 5.000 (pouco mais de R$ 11.000) e até
três anos de prisão para quem, “com pleno conhecimento ou intencionalmente,
possuir alguma substância controlada”. A discussão está programada para começar
na terça-feira (17/09).
Jamaica
Além de Porto Rico,
outros países do Caribe analisam a possibilidade de flexibilizar a legislação
relativa à maconha, tanto para reduzir despesas policiais, judiciárias e
penitenciárias, como para aumentar a receita, que poderia ser obtida com
impostos se a substância for vendida legalmente.
Entre eles, estão a
ilha de Santa Lúcia e a Jamaica, um dos principais fornecedores de maconha do
Caribe, onde inclusive existem visitas turísticas guiadas para plantações
ilegais.
Existe na Jamaica
uma forte pressão para regular o comércio de maconha, o que poderia se
transformar em fonte de renda por meio de impostos e turismo, e além disso,
ajudaria a diminuir a corrupção policial e os gastos com uma política
repressiva, argumentam os defensores de mudanças.
O primeiro-ministro
de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, propôs ao chefe de governo de
Trinidad e Tobago, Kamla Persad-Bissessar, que, na qualidade de presidente da
Comunidade do Caribe (Caricom) impulsione um debate sobre a legalização da
venda e consumo de maconha com fins medicinais na região.
Caricom
"Acho que já é
hora da Caricom abordar em nível regional este assunto de uma maneira sensível,
centrada e sem histerismos", afirmou Gonsalves em uma mensagem divulgada
nesta semana. "É certo que o mau uso da maconha e a consequente
penalização de seu cultivo, posse e fornecimento tiveram um impacto na saúde,
riqueza e segurança de nossos povos", acrescentou.
A Caricom é
integrada por Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada,
Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia, São
Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago.
A organização de
integração regional inclusive poderia iniciar os trabalhos preparatórios com
tempo suficiente para incluir o assunto na agenda da cúpula prevista para
fevereiro de 2014, segundo Gonsalves.
Nos Estados Unidos,
Colorado e Washington já permitem o consumo de maconha entre maiores de 21
anos, e outros 18 estados e Washington legalizaram a substância para fins
medicinais ou despenalizaram o consumo em pequenas quantidades.
Outros países que
adotaram medidas semelhantes foram Argentina, Austrália, Bélgica, Canadá,
Chile, Egito, Holanda, México, Portugal e Uruguai.
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Diário Catarinense
19.08.2013
Droga se combate
com educação
João Marcos Buch
Juiz da Vara de Execuções Penais.
AN – O senhor
costuma dizer que o combate às drogas é uma guerra perdida.
Buch - Essa guerra é
perdida. Tem provocado mais mortes do que a própria droga. Tem que haver uma
mudança de eixo. Acabamos de ver o Uruguai fazendo o encaminhamento para a
legalização da maconha, mas não significa que a droga será permitida de uma
forma irrestrita. O Uruguai passará a controlar a produção e o consumo.
Significa que vão acabar com o caos da guerra contra as drogas. A droga se
combate com educação e saúde. Do contrário, continuaremos vivendo num caos. E a
prova disso é que o número de prisões tem aumentado. O Brasil, desde a Lei dos
Crimes Hediondos, nessa linha de punir cada vez mais, tem mostrado um
crescimento impressionante da massa carcerária. São mais de 500 mil. Se
continuarmos assim, chegaremos em 2020 com um milhão de encarcerados.
AN - É possível
obter efeito positivo nas penas restritivas?
Buch - Muitas
pessoas que vão presas já sentaram na minha frente, chorando, dizendo “por
favor, eu preciso, eu quero um tratamento. Não aguento mais a minha vida do
jeito que está.” E muitas vezes já conseguimos esse encaminhamento ao Caps ad,
por exemplo.
AN - O senhor
consegue visualizar uma solução para o tráfico?
Buch - Dentro da
nossa realidade, não há muita solução. A Justiça, o Ministério Público e a
polícia devem compreender que a lei precisa ser aplicada conforme os princípios
constitucionais e tentar fazer com que vá para a cadeia apenas o traficante.
Tentar fazer com que, numa interpretação constitucional, diminua o número de
pessoas que vão para a prisão. Fora isso, campanhas educativas voltadas aos
adolescentes. Oferecer alternativas de esporte e lazer. Se eles têm
oportunidade de praticar esportes, música, não vão para o caminho das drogas.
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Maconha é encontrada em vasos públicos no País
de Gales
Mais de vinte plantas
de maconha foram encontradas no centro de Newport, no País de Gales, em seis
vasos públicos da cidade. As plantas foram descobertas por comerciantes locais,
que tiraram fotos da planta e as descreveram como “bonitas e que se destacavam
maravilhosamente” (tradução livre).
Depois, o jornal
Wales Online foi ao local e comprovou que as plantas de maconha tinham crescido
e se espalhado. Até agora existem três teorias para o nascimento da cannabis:
sementes oriundas da compostagem da terra, pássaros ou uma pegadinha
adolescente.
Algumas pessoas
chegaram a acusar o rapper Goldie
Lookin Chain que, por coincidência, tinha acabado de lançar um novo
álbum. Ele é conhecido por suas suas sátiras, mas disse não ter culpa do caso e
lembrou; “Não usem drogas, crianças”.
O local tem alta
movimentação e fica a menos de 3km da principal delegacia de polícia da cidade.
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Opera Mundi 28.08.2013
Sem tempo para
sonhar: EUA têm mais negros na prisão hoje do que escravos no século XIX
No dia histórico do
discurso “eu tenho um sonho”, de Martin Luther King, panorama social é
dramático aos afrodescendentes norte-americanos.
Dodô Calixto
O presidente
norte-americano, Barack Obama, participa nesta quarta-feira (28/08) em
Washington de evento comemorativo pelo aniversário de 50 anos do emblemático
discurso “Eu tenho um Sonho”, de Martin Luther King Jr. - considerado um marco
da igualdade de direitos civis aos afro-americanos. Enquanto isso, entre becos
e vielas dos EUA, os negros não vão ter muitos motivos para celebrar ou
"sonhar com a esperança", como bradou Luther King em 1963.
De acordo com
sociólogos e especialistas em estudos das camadas populares na América do
Norte, os índices sociais - que incluem emprego, saúde e educação - entre os
afrodescendentes norte-americanos são os piores em 25 anos. Por exemplo, um
homem negro que não concluiu os estudos tem mais chances de ir para prisão do
que conseguir uma vaga no mercado de trabalho. Uma criança negra tem hoje menos
chances de ser criada pelos seus pais que um filho de escravos no século XIX. E
o dado mais assombroso: há mais negros na prisão atualmente do que escravos nos
EUA em 1850, de acordo com estudo da socióloga da Universidade de Ohio,
Michelle Alexander.
“Negar a cidadania aos negros norte-americanos
foi a marca da construção dos EUA. Centenas de anos mais tarde, ainda não temos
uma democracia igualitária. Os argumentos e racionalizações que foram pregadas
em apoio da exclusão racial e da discriminação em suas várias formas mudaram e
evoluíram, mas o resultado se manteve praticamente o mesmo da época da
escravidão”, argumenta Alexander em seu livro The New Jim Crow.
No dia em que
médicos brasileiros chamaram médicos cubanos de “escravos”, a situação real,
comprovada por estudos de institutos como o centro de pesquisas sociais da
Universidade de Oxford e o African American Reference Sources, mostra que os
EUA têm mais características que lembram uma senzala aos afrodescendentes que
qualquer outro país do mundo.
Em entrevista a
Opera Mundi, a professora da Universidade de Washington e autora do livro
“Invisible Men: Mass Incarceration and the Myth of Black Progress”, Becky
Pettit,argumenta que os progressos sociais alcançados pelos negros nas últimas
décadas são muito pequenos quando comparados à sociedade norte-americana como
um todo. É a “estagnação social” que acaba trazendo as comparações com a época
da escravidão.
“Quando Obama assumiu a Presidência, alguns
jornalistas falaram em “sociedade pós-racial” com a ascensão do primeiro
presidente negro. Veja bem, eles falaram na ocasião do sucesso profissional do
presidente como exemplo que existem hoje mais afrodescendentes nas
universidades e em melhores condições sociais. No entanto, esqueceram de dizer
que a maioria esmagadora da população carcerária dos EUA é negra. Quando se
realizam pesquisas sobre o aumento do número de jovens negros em melhores
condições de vida se esquece que mais que dobrou o número de presos e mortos
diariamente. Esses não entram na conta dos centros de pesquisas governamentais,
promovendo o “mito do progresso entre nos negros”, argumenta.
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Cultura Verde 14.08.2013
Wallstreet e a lavagem internacional de dinheiro do narcotráfico
“A política dos EUA para o México é um
pesadelo. Ela minou a soberania mexicana, corrompeu o sistema político e
militarizou o país. Obteve também como resultado a morte violenta de milhares
de civis, pobres em sua maioria. Mas Washington não está nenhum pouco
preocupado com os “danos colaterais”, desde que possa vender mais armas,
fortalecer seu regime de livre comércio e lavar mais lucros das drogas em seus
grandes bancos. Os principais bancos dos EUA se tornaram sócios financeiros
ativos dos cartéis assassinos da droga. A guerra contra as drogas é uma fraude.
Ela não tem a ver com proibição, mas sim com controle.”
Mike Whitney – SinPermiso
Imagine qual seria sua reação se o governo mexicano
decidisse pagar 1,4 milhões de dólares a Barack Obama para usar tropas
norte-americanas e veículos blindados em operações militares em Nova York, Los
Angeles e Chicago, estabelecendo postos de controle, e elas acabassem se
envolvendo em tiroteios que resultassem na morte de 35 mil civis nas ruas de
cidades norte-americanas. Se o governo mexicano tratassem assim os Estados
Unidos, vocês o considerariam amigo ou inimigo? Pois é exatamente assim que os
EUA vêm tratando o México desde 2006.
A política dos EUA para o México – a Iniciativa
Mérida – é um pesadelo. Ela minou a soberania mexicana, corrompeu o sistema
político e militarizou o país. Obteve também como resultado a morte violenta de
milhares de civis, pobres em sua maioria. Mas Washington não está nenhum pouco
preocupado com os “danos colaterais”, desde que possa vender mais armas,
fortalecer seu regime de livre comércio e lavar mais lucros das drogas em seus
grandes bancos. É tudo muito lindo.
Há alguma razão para dignificar essa carnificina
chamando-a de “Guerra contra as drogas”?
Não faz nenhum sentido. O que vemos é uma
oportunidade descomunal de empoderamento por parte das grandes empresas, das
altas finanças e dos serviços de inteligência norteamericanos. E Obama segue
meramente fazendo seu leilão, razão pela qual – não é de surpreender – as
coisas ficaram tão ruins sob sua administração. Obama não só incrementou o
financiamento do Plano México (conhecido como Mérida), como deslocou mais
agentes norteamericanos para trabalharem em segredo enquanto aviões não
tripulados realizam trabalhos de vigilância. Deu para ter uma ideia do cenário?
Não se trata de uma pequena operação de apreensão
de drogas, é outro capítulo da guerra norteamericana contra a civilização. Vale
lembrar uma passagem de um artigo de Laura Carlsen, publicado no Counterpunch,
que nos mostra um elemento de fundo:
“A guerra contra as
drogas converteu-se no veículo principal de militarização da América Latina. Um
veículo financiado e impulsionado pelo governo norteamericano e alimentado por
uma combinação de falsa moral, hipocrisia e muito de temor duro e frio. A
chamada “guerra contra as drogas” constitui, na realidade, uma guerra contra o
povo, sobretudo contra os jovens, as mulheres, os povos indígenas e os
dissidentes. A guerra contra as drogas se converteu na forma principal do
Pentágono ocupar e controlar países à custa de sociedades inteiras e de muitas,
muitas vidas”.
“A militarização em nome da guerra contra as drogas
está ocorrendo mais rápida e conscienciosamente do que a maioria de nós
provavelmente imaginou com a administração de Obama. O acordo para estabelecer
bases na Colômbia, posteriormente suspenso, mostrou um dos sinais da
estratégia. E já vimos a extensão indefinida da Iniciativa de Mérida no México
e América Central, incluindo, tristemente, os navios de guerra enviados a Costa
Rica, uma nação com uma história de paz e sem exército…”
“A Iniciativa de Mérida financia interesses
norteamericanos para treinar forças de segurança, proporciona inteligência e
tecnologia bélica, aconselha sobre as reformas do Judiciário, do sistema penal
e a promoção dos direitos humanos, tudo isso no México” (“The Drug War Can’t Be
Improved Only be Ended” – “A Guerra contra as drogas não pode ser melhorada, só
terminada”, Laura Carlsen, Counterpunch)
A impressão que dá é que Obama está fazendo tudo o
que pode para converter o México em uma ditadura militar, pois é exatamente
isso o que ele está fazendo. O Plano México é uma farsa que esconde os
verdadeiros motivos do governo, que consiste em assegurar-se de que os lucros
do tráfico de drogas acabem nos bolsos das pessoas adequadas. É disso que se
trata: de muitíssimo dinheiro. E é por isso que o número de vítimas disparou,
enquanto a credibilidade do governo mexicano caiu como nunca em décadas. A
política norteamericana converteu grandes extensões do país em campos de morte
e a situação não para de piorar.
Veja-se esta entrevista com Charles Bowden, que
descreve como é a vida das pessoas que vivem na Zona Zero da guerra das drogas
no México, Ciudad Juárez:
“Isso ocorre em uma
cidade onde muita gente vive em caixas de papelão. No último ano, dez mil
negócios encerraram suas atividades. De 30 a 60 mil pessoas, sobretudo os
ricos, mudaram-se para El Paso, no outro lado do rio, por razões de segurança.
Entre eles, o prefeito de Juárez, que prefere ir dormir em El Paso. O editor do
diário local também vive em El Paso. Entre 100 e 400 mil pessoas simplesmente
saíram da cidade. Boa parte do problema é econômico. Não se trata simplesmente
da violência. Durante esta recessão desapareceram pelo menos 100 mil empregos
das empresas fronteiriças devido à competição asiática. As estimativas são de
que há entre 500 e 900 bandos de delinquentes”.
Há 10 mil soldados das tropas federais e agentes da
Polícia Federal vagando por ali. É uma cidade onde ninguém sai à noite, na qual
todos os pequenos negócios pagam extorsão, onde foram roubados oficialmente 20
mil automóveis no ano passado e assassinadas 2.600 pessoas no mesmo período. É
uma cidade onde ninguém segue o rastro das pessoas que foram sequestradas e não
reaparecem, onde ninguém conta as pessoas enterradas em cemitérios secretos
onde, de forma indecorosa, volta e meia aparecem alguns corpos em meio a alguma
escavação. O que temos é um desastre e um milhão de pessoas que são muito
pobres para poder ir embora. A cidade é isso”. (Charles Bowden, Democracy Now)
Isso não tem a ver com as drogas; trata-se de uma
política externa louca que apoia exércitos por delegação para impor a ordem por
meio da repressão e militarização do Estado policial. Trata-se de expandir o
poder norte-americano e de engordar os lucros de Wall Street. Vejamos mais
alguns dados de fundo proporcionados por Lawrence M. Vance, na Future of Freedom Foundation:
“Um número não revelado
de agentes da lei norteamericanos trabalha no México (…) A DEA tem mais de 60
agentes no México. A esses se somam os 40 agentes de Imigração e Aduanas, 20
auxiliares do Serviço de Comissários de Polícia e 18 agentes da Agência de
Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, mais os agentes do FBI, do Serviço
de Cidadãos e Imigração, Aduana e Proteção de Fronteiras, Serviço Secreto,
guarda-costas e Agência de Segurança no Transporte. O Departamento de Estado
mantém também uma Seção de Assuntos de Narcóticos. Os EUA também forneceram
helicópteros, cães farejadores de drogas e unidades de polígrafos para examinar
os candidatos a trabalhar em organismos de aplicação das leis”.
“Os aviões não tripulados norteamericanos espionam
os esconderijos dos carteis e os sinais rastreadores norte-americanos localizam
com exatidão os carros e telefones dos suspeitos. Agentes norteamericanos
seguem os rastros, localizam chamadas telefônicas, leem correios eletrônicos,
estudam padrões de comportamento, seguem rotas de contrabando e processam dados
sobre traficantes de drogas, responsáveis pela lavagem de dinheiro e chefes dos
cartéis. De acordo com um antigo agente anti-droga mexicano, os agentes
norteamericanos não estão limitados em suas escutas no México pelas leis dos
EUA, desde que não se encontrem em território norteamericano e não grampeiem
cidadãos norteamericanos. (“Why Is the U.S. Fighting Mexico’s Drug War?”, “Por
que os EUA travam a guerra contra as drogas no México?”, Laurence M. Vance, The
Future of Freedom Foundation).
Isso não é política externa, mas sim outra ocupação
norteamericana. E adivinhem quem enche os cofres com essa pequena fraude
sórdida? Wall Street. Os grandes bancos ficam com sua parte como sempre fazem.
Vejamos essa passagem de um artigo de James Petras intitulado “How Drug profits saved Capitalism” (“Como
os lucros das drogas salvaram o capitalismo”, publicado em Global Research). É
um estupendo resumo dos objetivos que estão configurando essa política:
“Enquanto o Pentágono
arma o governo mexicana e a DEA (Drug Enforcement Agency, a agência anti-droga
dos EUA) põe em prática a “solução militar”, os maiores bancos dos EUA recebem,
lavam e transferem centenas de bilhões de dólares nas contas dos senhores da
droga que, com esse dinheiro, compram armas modernas, pagam exércitos privados
de assassinos e corrompem um número indeterminado de funcionários encarregados
de fazer cumprir a lei de ambos os lados da fronteira…”
“Os lucros da droga, no sentido mais básico, são
assegurados mediante a capacidade dos carteis de lavar e transferir bilhões de
dólares para o sistema bancário norteamericano. A escala e a envergadura da
aliança entre a banca norteamericana e os carteis da droga ultrapassa qualquer
outra atividade do sistema financeiro privado norteamericano. De acordo com os
registros do Departamento de Justiça dos EUA, só um banco, o Wachovia Bank
(propriedade hoje de Wells Fargo), lavou 378.300 milhões de dólares entre 1° de
maio de 2004 e 31 de maio de 2007 (The Guardian, 11 de maio de 2011). Todos os
principais bancos dos EUA tornaram-se sócios financeiros ativos dos cartéis
assassinos da droga”.
“Se os principais bancos norteamericanos são os
instrumentos financeiros que permitem os impérios multimilionários da droga
operar, a Casa Branca, o Congresso dos EUA e os organismos de aplicação das
leis são os protetores essenciais destes bancos (…) A lavagem de dinheiro da
droga é uma das fontes mais lucrativas de lucros para Wall Street. Os bancos
cobram gordas comissões pela transferência dos lucros da droga que, por sua
vez, emprestam a instituições de crédito a taxas de juros muito superiores às
que pagam – se é que pagam – aos depositantes dos traficantes de drogas.
Inundados pelos lucros das drogas já desinfetados
esses titãs norteamericanos das finanças mundiais podem comprar facilmente os
funcionários eleitos para que perpetuem o sistema”. (“How Drug Profits saved Capitalism,
James Petras, Global Research).
Vamos repetir: “Todos os principais bancos dos EUA
se tornaram sócios financeiros ativos dos cartéis assassinos da droga”.
A guerra contra as drogas é uma fraude. Ela não tem
a ver com proibição, mas sim com controle. Washington emprega a força para que
os bancos possam garantir um bom lucro. Uma mão lava a outra, como ocorre com a
Máfia.
(*) Mike Whitney é um analista político
independente que vive no estado de Washington e colabora regularmente com a
revista norte americana CounterPunch.
Tradução: Katarina
Peixoto
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Valor Econômico 08/08/2013
México também debate a legalização da maconha
O Uruguai não é o único país latino-americano que
pode legalizar a maconha. Nas últimas semanas tem se intensificado no México o
debate em torno da droga. O Partido da Revolução Democrática (PRD) pretende
apresentar um projeto em setembro na Assembleia do Distrito Federal, onde tem
maioria, para regulamentar o uso da maconha na capital do país.
A iniciativa do PRD no Distrito Federal toma como
modelo alguns Estados americanos, como o Colorado, que legalizaram a droga no
âmbito regional. Em nível federal, um deputado do partido, Fernando
Belaunzarán, prepara um projeto para ser apresentado ao Congresso. A proposta
de Belaunzarán tem o objetivo de regulamentar a produção, distribuição e venda
da maconha, e de criar um sistema de arrecadação de impostos - o dinheiro seria
usado em um programa de prevenção de dependência da droga.
O prefeito da Cidade do México, Miguel Ángel
Mancera, que não tem partido, afirmou que se trata de uma questão da esfera
federal, mas que pretende estimular o debate sobre o assunto e que a prefeitura
pode atuar apresentando propostas de tratamento e de ações de prevenção.
O presidente do Tribunal Superior de Justiça do
Distrito Federal, Edgar Elías Azar, se manifestou contra o projeto do PRD. Azar
disse que, além de se tratar de um tema de responsabilidade do Congresso, a
descriminalização da maconha seria "muito arriscada".
Um dos principais defensores da legalização da
maconha no México é o ex-presidente Vicente Fox (2000-2006). No mês passado, ao
participar de um fórum sobre o tema, Fox advogou a mudança da lei afirmando que
o seu sucessor, Felipe Calderón, "embarcou o país em uma guerra
sanguinária", ao empreender em seu mandato uma ofensiva contra os cartéis
de narcotraficantes que, segundo as estatísticas oficiais, resultou na morte de
mais de 70 mil pessoas.
Na semana passada, a Câmara dos Deputados do
Uruguai aprovou lei que legaliza a maconha no país - a medida ainda tem que ser
votada no Senado, onde o governo, que patrocinou o projeto, tem maioria.
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Yahoo! 26.07.2013
Em protesto, jovens
plantam maconha em uma cidade inteira

Mudas crescem por toda a cidade.
Como parte de um
protesto pela revisão das leis relativas às drogas na Alemanha, um grupo
entitulado como A Few Autonomous Flower Children (na tradução livre, Algumas
Crianças Autônomas da Planta) plantou quilos de sementes de maconha na cidade
de Göttingen.
A "plantação"
das sementes aconteceu ainda em junho, quando o grupo se dividiu e espalhou
quilos da erva pela cidade. Agora, com o passar do tempo, centenas de plantas
têm florescido ao longo das ruas.
"Não podemos
ver pelas ruas essa planta bonita e útil por conta das severas leis da
Alemanha", anunciou o grupo em um comunicado após as sementes terem
florescido.
A polícia local está
trabalhando no caso e identificando pessoas por meio do site oficial do
movimento. Agentes também têm a tarefa de destruir todas as plantas de maconha
que encontrarem pela cidade.
O grupo responsável
pelo plantio das sementes faz parte da ala Green Youth (Juventude Verde, na
tradução), que por sua vez é comandada pelo movimento Green Party (Festa Verde,
na tradução), que luta pela legalização da maconha.
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O Globo 20.07.2013
Legalização da maconha no Colorado cria novos negócios com potencial
bilionário.
Grandes cidades como
Denver e Colorado Springs vivem um boom de ‘cannabis’
Flávia Barbosa
Washington - Ryan Loflin, 40 anos, é a terceira
geração de uma família de agricultores de Springfield, Colorado, que planta
desde a década de 1920 quase 6 mil hectares de alfafa todos os anos. Em 2013,
porém, serão cerca de 5.400. O resto está sendo reservado para a primeira
plantação comercial de cânhamo (maconha com quantidade residual de THC, o
princípio ativo entorpecente) em 60 anos nos EUA. Ela foi possibilitada pela
legalização do uso recreativo da maconha no Colorado, decidida em novembro do
ano passado em plebiscito histórico. Ecos da decisão estão por toda a parte —
nas grandes cidades do estado e além de suas fronteiras. Só no primeiro
semestre deste ano, 32 dos 50 estados americanos discutiram algum tipo de
flexibilização da legislação sobre a droga, que continua banida no plano
federal.
Grandes cidades como Denver e Colorado Springs
vivem um boom da maconha, com o cultivo particular de plantas, a criação de
cursos de jardinagem com dicas para ser seu autofornecedor, o surgimento demarijuana
clubs, onde adultos se reúnem para fumar, serviço de entrega noturna da
erva para uso medicinal e a expectativa de arrecadação de impostos com a
abertura das lojas que venderão a droga a partir de 1º de janeiro de 2014.
Loflin é parte do primeiro elo desta nova cadeia
econômica que brota nos EUA. O cânhamo é matéria-prima para roupas, calçados,
utensílios, cosméticos e alimentos, numa indústria incipiente nos EUA de
estimados US$ 500 milhões. Mas com potencial para a casa dos bilhões de
dólares.
— O que tenho em mente definitivamente é um hempire —
brinca o agricultor, unindo as palavras hemp (cânhamo) e empire (império).
Da jardinagem à
universidade
Com a Rocky Mountain Hemp, que fundou com um sócio,
plantou os primeiros 60 hectares em maio. No mês passado, adicionou outros 70
hectares. Também está investindo no processamento das sementes, com múltiplos
objetivos, desde separação da fibra até extração de óleo.
— Em breve, será senso comum, não tem sentido a
proibição nacional da plantação de cânhamo. O impacto ambiental, por exemplo, é
menor do que o do algodão, que consome 50% da irrigação agrícola nos EUA. E,
enquanto posso fazer US$ 900 por hectare com cânhamo, o trigo rende US$ 140 —
diz Loflin.
Como plantador de sua própria cannabis para
uso recreativo, ele ajuda também a girar o segundo elo desta cadeia: o
comércio. A nova legislação do Colorado libera o cultivo em casa de seis
plantas por consumidor maior de 21 anos, e as lojas de jardinagem que
enxergaram o novo mercado já estão acumulando lucro.
Entre equipamentos (como luz para locais fechados),
sementes e material, pode-se gastar entre US$ 150 e US$ 500 para produzir 450
gramas de maconha a cada 12 semanas. A variação do preço explica-se pela
quantidade de produtos novos que chegam ao mercado, como potencializadores de
sementes e adubos turbinados, afirma Ted Smith, gerente-geral da The Grow
Store, uma das grandes varejistas do gênero na região metropolitana de Denver.
— A aprovação da lei retirou o estigma de fumar
maconha. Não são jovens ávidos por drogas que têm nos procurado, e sim casais,
gente de meia-idade, aposentados. Há dinheiro a ser feito com a maconha, sem
distúrbio à sociedade — defende Smith.
Ele também foi convidado a orientar interessados no
autofornecimento na THC University, que abriu as portas assim que a Emenda 64,
que legalizou a maconha, passou pelo crivo dos eleitores. O objetivo é treinar
no cultivo, mas também abrir as portas para que os alunos transformem a
recreação em negócio.
Um dos cursos básicos, de cinco aulas de duas horas
cada (US$ 500 o presencial no campus de Denver e US$ 200 online), ensina as
melhores técnicas de cultivo e de identificação de sabores e tipos, como
extrair e preparar derivados, fabricar haxixe e “cozinhar como Martha Stewart”,
a Ana Maria Braga americana, na preparação de bolos e biscoitos de cannabis.
— E temos a oportunidade de educar as pessoas,
ensinando todos os aspectos e restrições legais. Até um dos principais
advogados da causa da legalização dá palestra — relata Smith.
Este comércio só tende a aumentar com a abertura
das lojas onde as pessoas poderão comprar maconha para uso recreativo, em 2014.
E a expectativa é grande com a arrecadação que o mercado vai gerar. Os armazéns
que vendem a droga para o uso medicinal — 300 abertos desde 2000 na Grande
Denver, mais do que franquias do Starbucks — ajudaram a levantar US$ 5 milhões
em 2012 aos cofres estaduais.
A legalização geral multiplica por mais de 20 este
número, prevê o Centro Futuros da Universidade Estadual do Colorado. A
regulamentação aprovada no fim de maio estabelece três impostos sobre a
maconha: 15% no atacado (que serão destinados à construção de escolas), 10% no
varejo e mais 2,9% do ICMS normal.
Os economistas Charles Brown e Phyllis Resnick
projetaram ao menos 642 mil consumidores de maconha em 2014, girando um mercado
de US$ 605,7 milhões. Isso permitiria ao erário recolher US$ 130,1 milhões em
impostos. Atualmente, o Colorado tem 109 mil portadores do cartão que dá acesso
à maconha medicinal.
Gastos com prevenção
Mas os autores das projeções alertam: os números
deverão cair após os primeiros anos e os gastos com programas de prevenção
associados vão crescer. Art Way, diretor da Drug Policy Alliance (um dos
maiores grupos de defesa da legalização e de políticas não repressivas) afirma
que estes mesmos programas fazem do Colorado um destaque no cenário americano.
Além da liberação do uso recreativo, nos últimos
dois anos o estado legalizou programas de distribuição de seringas, lançou uma
versão mais abrangente do programa de prevenção de overdose, reviu a política
de punição para portadores de maconha — substituindo prisão por trabalhos
comunitários e tratamento — e reformou a lei de acesso à maconha medicinal.
— O Colorado é hoje o epicentro da reforma da
política de drogas nos EUA — afirma Art Way.
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O Globo 17.07.2013
Ainda a tempo de
evitar a desastrosa lei antidroga
O Senado deveria
parar o furor na aprovação de projetos e, diante deste, fazer um balanço frio e
sério da atual política de combate ao tráfico apenas pela via da repressão.
editorial
Incluído na
“agenda positiva” do Congresso, criada pelo presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), sob pressão das ruas, projeto de lei aprovado na Câmara
para alterar a legislação antidrogas está no lugar errado — porque ele nada tem
de positivo. Um dos equívocos do projeto, agora no Senado, é inverter a
tendência de descriminalização do consumo de drogas, o envio de usuários para
tratamento de saúde e não aos presídios.
Ao aumentar a pena
por tráfico de cinco para oito anos de detenção, sem que esteja tipificada a
diferenciação entre traficante e usuário, a nova lei aumenta a possibilidade de
dependentes serem trancafiados e, devido ao tamanho da pena, terem de cumpri-la
em regime fechado. Caso o Senado a aprove em definitivo, o Estado brasileiro
cometerá, em maiores proporções, o crime social de forçar o convívio de
viciados — que às vezes praticam o pequeno tráfico para sustentar o vício — com
traficantes pós-graduados, prontos para aliciar dependentes e jogá-los, aí sim,
na criminalidade sem volta. Na edição de segunda, O GLOBO trouxe estatísticas
eloquentes sobre este enorme drama: nos últimos dois anos — portanto, ainda sem
a nova e draconiana legislação —, o número de condenados por tráfico cresceu
30%, três vezes mais que o da população carcerária total, no período. Segundo
os último dados, 25% dos presidiários — 138.198 de 548.003 — já são de
“traficantes”. A proporção só tende a crescer. Mais grave: 90% deles são
pequenos traficantes, informa o juiz Luís Lanfredi, de São Paulo, do Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). Menos de 10 % dos
condenados podem ser considerados grandes intermediários de drogas.
E se todo este
enorme e constante arrastão de encarceramento reduzisse o consumo de drogas e o
contingente de viciados, podia-se admitir o êxito da política. Mas não é o
caso. A curva das prisões continuará apontada para o alto, e o problema em si
da droga persistirá nas atuais dimensões — ou piores, como é mais provável.
Publicado na
edição de ontem, artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escrito para
o GDA (Grupo de Diários das Américas), do qual O GLOBO faz parte, elogia a
decisão do Uruguai de regular o uso da maconha, como em muitos lugares do
mundo. Presidente da Comissão Global de Política sobre Drogas, FH pergunta
quanto do dinheiro envolvido na droga no país vizinho, e que deixará de ir para
o tráfico, é usado para corromper forças de segurança. Para ilustrar, na
segunda-feira, em São Paulo, o xerife antidrogas do estado, delegado Clemente
Castilhone Júnior, foi preso, junto com seis agentes do departamento de
repressão ao narcotráfico, por receber alta propina de traficantes. Que estão
soltos, claro. O Senado deveria refrear o furor na aprovação de projetos para,
diante deste, fazer um balanço sério e frio da política de enfrentamento das
drogas apenas pela via da repressão policial, em que os figurões do crime
compram a liberdade e usuários entram nas estatísticas como “traficantes”.
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UOL 29/05/2013
Contra o tráfico,
investigar bancos é mais importante do que aumentar penas, dizem especialistas.
Gil Alessi
O aumento da pena
mínima para traficantes de drogas de cinco para oito anos, aprovado na
terça-feira (28) pela Câmara dos Deputados, não resolve o problema do crime
organizado, que depende da conivência de "paraísos fiscais e instituições
financeiras" para prosperar, segundo especialistas. O texto, que agora
segue para o Senado, enquadra criminosos que chefiem um grupo de quatro ou mais
pessoas.
"É um projeto
populista, que não resolve o problema estrutural do crime. O crime organizado
se combate com inteligência, e não apenas aumentando penas", diz Martim
Sampaio, coordenador da comissão de Direitos Humanos da OAB-SP (Ordem dos
Advogados do Brasil).
"O tráfico é
uma pirâmide: na base estão os soldados, 'aviõezinhos' e pequenos vendedores de
rua, e é nesta faixa que são feitas as prisões. Agora quem empresta dinheiro ao
tráfico? Quem lava o dinheiro da venda de drogas?".
Para Martim, as
instituições financeiras são "peça chave" no tráfico de drogas em
todos os países do mundo, e atacar o crime organizado sem combater lavagem de
dinheiro e o envolvimento de políticos e paraísos fiscais no processo é
'enxugar gelo'.
"O atacadista
que vende drogas movimenta grandes somas de dinheiro, que passam pelos bancos.
O topo da pirâmide é que precisa ser atacada para que se solucione o
problema".
O advogado Rafael
Custodio, coordenador de Justiça da Conectas Direitos Humanos, afirma que
"não dá para imaginar que o traficante que está na favela seja último elo
do crime organizado. Sabemos que acima dele existem outros envolvidos que não
moram nas comunidades. O dinheiro da venda de drogas não fica na favela, vai
para outro lugar: o traficante injeta o dinheiro sujo na economia lícita, e por
isso é necessário que a polícia rastreie essas quantias e investigue onde ele
está sendo lavado".
OPINIÃO
As drogas e a guerra
perdida
É provável que
endurecimento de pena não reduza tráfico
"Essa ideia de
que aumentar penas ou criminalizar condutas ajuda no combate ao tráfico já se
mostrou fracassada. A lei que está sendo modificada é de 2006, e já havia
aumentado muito as penas. Nem por isso o tráfico diminuiu".
Segundo Rafael
Galati Sábio, defensor público e integrante do Núcleo de Cidadania e Direitos
Humanos da Defensoria Pública do Estado de SP, "o aumento da pena não
terá efeito no tráfico, já que a questão das drogas é mais ampla. O
traficante deve ser preso, processado e condenado. Mas o que se vê é a
inexistência de investigações policiais. Geralmente as prisões são todas em
flagrante, envolvendo pequenos traficantes que são repostos facilmente no
mercado do tráfico".
O deputado Osmar
Terra (PMDB-RS), autor do projeto, afirma que "existem apenas dois
caminhos para se combater o tráfico: o aumento do rigor no enfrentamento às
drogas, o que nunca foi feito pelo Estado, ou liberar".
"Queremos
diminuir o número de doentes, usuários e viciados, e para isso é preciso
enfrentar o traficante. Eu sou a favor da prisão do pequeno traficante",
diz.
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R7 14/1/2013
Comissão britânica
defende descriminalização do uso de todas as drogas.
A comissão acredita
que as sanções criminais não evitam que os usuários se
tornem dependentes.
Reprodução BBC
A comissão acredita
que as sanções criminais não evitam que os usuários se tornem dependentes e só
marginalizam os usuários.
Um relatório de uma
comissão da Câmara dos Lordes (Câmara alta do parlamento) da Grã-Bretanha
recomendou que a posse e o uso de todas as drogas ilegais sejam
descriminalizados no país.
Segundo o documento
do Grupo Suprapartidário para a Reforma da Política sobre Drogas (APPG, na
sigla em inglês), as substâncias menos prejudiciais devem ser regulamentadas e
vendidas em lojas licenciadas, com rótulos detalhando os riscos.
A comissão acredita
que as sanções criminais não evitam que os usuários se tornem dependentes e só
marginalizam os usuários.
Primeiro filho de
príncipe William e Kate Middleton nascerá em julho
O APPG colheu dados
e ouviu conselhos de 31 especialistas e organizações, incluindo a Associação
Britânica dos Delegados de Polícia e o Conselho Consultivo sobre Abuso de
Drogas.
"Relativamente
seguros"
O relatório defende
que usuários flagrados com uma pequena quantidade de qualquer droga não sejam
penalizados, mas que a venda das substâncias mais perigosas permaneça proibida.
Segundo a presidente
do grupo, Molly Meacher, a atual Lei sobre Uso de Drogas, de 1971, "é
contraproducente na tentativa de reduzir a dependência e os danos de drogas
para os jovens". "O que estamos dizendo é que há uma grande
quantidade de drogas mais seguras do que o álcool e o tabaco".
"No momento, 60
milhões de comprimidos de ecstasy são vendidos a cada ano para os jovens, todos
por meio de gangues de criminosos e traficantes."
"Se os jovens
vão comprar essas coisas, não é melhor que eles saibam exatamente o que estão
comprando? Vamos garantir que não estarão usando substâncias contaminadas,
porque serão fornecidas por meio de canais legais. E os jovens vão de fato
estar relativamente seguros", explicou.
Em apoio à
descriminalização do uso de todas as drogas, o relatório faz referência ao
modelo de Portugal, onde houve uma queda no número de jovens viciados a partir
da mudança na legislação.
"Alguns jovens
sempre vão querer experimentar e eles estão correndo risco real se apenas
puderem comprar drogas menos nocivas de traficantes, que vão sempre querer
empurrar substâncias mais fortes. Os traficantes também têm um claro incentivo
(na proibição) para adulterar o seu produto e aumentar seus lucros", disse
o APPG.
Política eficiente
Um porta-voz do
Ministério do Interior britânico agradeceu ao APPG pelo relatório e disse que
as recomendações serão consideradas.
No entanto, um
recente pedido feito por deputados para a formação de uma comissão para avaliar
a descriminalização das drogas foi rejeitado pelo primeiro-ministro, David
Cameron, para quem a política atual, está funcionando.
Os números oficiais
mostram que o uso de drogas na Inglaterra e no País de Gales está em seu nível
mais baixo desde 1996.
"O Reino Unido
está liderando o caminho para reprimir novas substâncias psicoactivas, ou
'drogas legais'. Nós publicamos o Plano de Ação no ano passado e introduzimos
classificações temporárias de drogas, para que possamos agir rapidamente e
proibir drogas legais emergentes", disse um porta-voz do Ministério do
Interior.
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O Dia 18.12.2012
Secretário de Saúde
quer legalização das drogas
Sérgio Côrtes
levanta dúvidas sobre a eficácia da atual política de criminalização do usuário
e pede debate imediato
Caio Barbosa
Rio - A legalização
do uso de drogas ganhou um reforço de peso nesta segunda-feira no Rio. O
secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, defendeu o fim da proibição em um
seminário internacional sobre drogas realizado na Fiocruz.
“Já passou da hora de mudar isso”, disse
Côrtes ao DIA. O evento, que prossegue hoje, é organizado pelo Ministério da
Saúde e pela Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD). Côrtes pediu
pressa na revisão da política de proibição das drogas no país.
“Tenho muitas dúvidas quanto à eficácia desta
política e da criminalização do usuário. A repressão está funcionando? E mais:
acho que temos que resolver logo este problema, colocar um prazo”, afirmou
Côrtes.

O secr Sérgio Côrtes
foto: Fábio Gonçalves
O secretário disse
defender uma reforma “extremamente criteriosa”, para que o tiro não saia pela
culatra e para que a legalização, de fato, reduza os índices de violência e de
consumo.
“Precisamos olhar caso a caso as experiências
adotadas nos países que optaram pela legalização. Alguns tiveram experiências
positivas, outros não. Temos de ver quais as drogas entrariam nesta política.
Mas é preciso que seja rápido”, reiterou.
O antropólogo Rubem
Cesar Fernandes, secretário executivo da ONG Viva Rio, que também participa do
seminário na Fiocruz, disse que está otimista quanto à aceleração da discussão,
que foi tema de matéria publicada nesta segunda em O DIA.
“A CBDD levou ao Congresso Nacional a proposta
de discussão, mas não queríamos dar entrada este ano por conta do calendário
eleitoral. Tudo indica que, a partir de fevereiro, a gente comece a discutir
essa questão. Acho que em 2013 já teremos uma resposta positiva”, previu Rubem
Cesar Fernandes.
Para o antropólogo,
o maior desafio será unir a bancada religiosa em torno de tema tão polêmico:
“Precisamos valorizá-los, trazê-los para junto de nós porque as igrejas também
têm um papel fundamental neste processo. O problema afeta a todos nós.”
Três países como
espelhos
O seminário na
Fiocruz, em Manguinhos, reúne especialistas que saem do campo teórico e
mostram, na prática, como uma nova política sobre as drogas é possível de ser
adotada.
Portugal, Canadá e
Uruguai, países que têm conseguido estancar o aumento do consumo e reduzir
índices de violência e mortes decorrentes do vício, estão representados no
evento.
A ministra Maria do
Rosário Nunes, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República,
acompanhará, hoje, as conclusões do seminário.
Agentes da lei são a
favor
A edição desta
segunda-feira do DIA mostrou que já existe uma liga formada por agentes da lei
que acredita na legalização do consumo e na regulação da produção como medidas
capazes de conter a violência causada pela luta entre Estado e narcotráfico.
A Leap Brasil
(Agentes da Lei contra a Proibição) tem como integrantes o coronel Jorge da
Silva, ex-chefe do Estado Maior da PM, o delegado Orlando Zaccone, da 18ª DP
(Praça da Bandeira), e a juíza aposentada Maria Luiza Karam. “Legalizar não é
promover o consumo. O consumo já há em qualquer esquina. A solução é
regularizá-lo”, aponta Rubem Cesar Fernandes, diretor da ONG Viva Rio.
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Terra 29.11.2013
Argentina declara
inconstitucional punição a cultivo de maconha
Um tribunal
argentino declarou inconstitucional uma norma que pune o cultivo de maconha
para uso pessoal e inocentou um casal que tinha várias plantas e sementes em um
viveiro, anunciou o Centro de Informação Judicial (CIJ).
A decisão da II Sala
da Câmara Federal de La Plata (60 km ao sul de Buenos Aires) declarou a
inconstitucionalidade de um parágrafo de uma lei "que castiga quem planta
ou cultiva ou armazena sementes que podem ser utilizadas para produzir
entorpecentes para consumo pessoal", destacou o CIJ, órgão de imprensa da
Corte.
Os integrantes da II
Sala consideraram que o cultivo de maconha "se enquadra no âmbito das
ações privadas protegidas pela Constituição".
Com a decisão, o
tribunal inocentou um casal de professores que tinha nove plantas de maconha em
sua residência de Ensenada (sul). Em 2009, a Suprema Corte estabeleceu
jurisprudência ao declarar inconstitucional a punição penal para a posse de
escassa quantidade de drogas por maiores de idade, em um país onde o consumo
pessoal de maconha ainda é punido penalmente.
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Opera Mundi 10/07/2012
Tráfico de drogas
aumentou após restrição a "coffee shops" na Holanda.
Obrigatoriedade de carteira de identificação para os usuários de maconha
fez a venda ilegal crescer.
Em vigor desde 1 de
maio, as novas regras para a venda da maconha em "coffee shops" na
Holanda estão provocando um efeito adverso, segundo estudo realizado por
pesquisadores da Epicurus, fundação privada que se dedica a monitorar os
efeitos da cannabis na sociedade. Nesses dois meses, o tráfico
do entorpecente aumentou no país.
O governo holandês
introduziu em três províncias uma carteira de identificação obrigatória para
clientes desses estabelecimentos, com o intuito de diminuir o consumo de
maconha por turistas.
A ação, de acordo com
os pesquisadores Nicole Maalsté e Rutger Jan Hebben, resultou em um enorme
incremento da venda ilegal da droga nas ruas e no surgimento de uma ampla rede
de serviços de entrega.
"Queremos que o
resto da Holanda saiba o que os espera quando essa regulamentação chegar",
disse Maalsté, também pesquisadora da Universidade de Tilburgo. O governo do
país tem a intenção de estender o cartão de identidade para todas as províncias
ainda esse ano.
Ainda de acordo com
os estudiosos, a polícia holandesa não tem capacidade para controlar essa nova
forma de comércio. A maconha vendida em um "coffee shop" custa cerca
de 25% a mais do que nas ruas, pontuaram os pesquisadores, que lembraram que
alguns grupos específicos estão evitando esses estabelecimentos, como jovens
entre 18 e 24 anos.
"É muito pouco provável que esses grupos deixem de consumir a droga em
grandes quantidades", concluíram os especialistas. De acordo com eles, um
risco com o crescimento de traficantes é que os jovens têm mais contato com
outros tipos de droga, como cocaína.
Defensores da lei disseram que o estudo foi encomendado por donos de
"coffee shops", que viram as vendas caírem até 70% desde o início da
nova regulamentação. A Epicurus negou a acusação.
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EFE 16.05.2013
Mujica afirma que se opõe a maconha e aborto, mas prefere legalizá-los
Montevidéu – O presidente do Uruguai, José Mujica,
disse hoje (16) que se opõe ao consumo de maconha e à prática do aborto, mas
que prefere legalizá-los para que não cresçam "nas sombras" e causem
mais prejuízos à população. "A maconha é uma praga, mas o narcotráfico é
muito pior", disse o líder à Agência EFE, em referência a seu projeto de
lei para legalizar o consumo e a venda de cannabis, cedendo o controle do setor
ao Estado.
"Nunca fumei maconha porque sou de outra época e não defendo nenhuma
dependência", afirmou o líder em sua casa, uma chácara nos arredores de
Montevidéu que transformou em residência presidencial quando chegou ao poder em
2010.
"Propusemos a hipótese de regular o mercado da
maconha como uma tentativa para arrebatá-lo dos narcotraficantes",
justificou.
Além disso, segundo Mujica, a legalização permitirá
tratar os consumidores problemáticos. "Porque se continuarem clandestinos
ou escondidos, não poderemos fazer nada por eles."
O presidente uruguaio destacou que a humanidade
reprime há 100 anos o consumo de drogas e não propõe nenhuma alternativa.
"Os fatos demonstram que estamos fracassando", assinalou. "É
preciso ter a audácia de pensar novas variáveis porque o consumo nas sombras é
muito pior", opinou.
Um projeto de lei apresentado no ano passado e que
é analisado no Parlamento autoriza o Estado a assumir o controle e a regulação
de atividades de importação, exportação, plantação, cultivo, colheita,
produção, aquisição, armazenamento, comercialização e distribuição de cannabis
e seus derivados.
Segundo números da Junta Nacional de Drogas, 20%
dos uruguaios entre 15 e 65 anos de idade consumiram maconha alguma vez em sua
vida e 8,3% a consumiram no último ano.
Sobre o aborto, Mujica disse que ocorre algo parecido. "Contra esse
fenômeno estamos todos, mas por impedimentos sociais, problemas econômicos ou
outros abortos continuam sendo realizado nas sombras."
No ano passado, o Parlamento uruguaio
descriminalizou a interrupção da gravidez até a 12ª semana de gestação sempre
que sejam respeitados certos procedimentos regulados pelo Estado.
A paciente deve passar por uma comissão técnica que
a informa sobre seus riscos e inclusive sobre a possibilidade de não
interromper sua gravidez e encaminhar a criança à adoção.
Depois, tem cinco dias para refletir e, se
ratificar sua vontade, será submetida ao aborto farmacológico, seguindo os
critérios recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em janeiro deste ano, primeiro mês da aplicação efetiva da lei, foram
realizadas 200 interrupções de gravidezes no Uruguai.
Apesar de ser proibido por lei até ano passado, no
país ocorrem mais de 30 mil abortos anuais, segundo números oficiais, embora a
realidade possa dobrar esse número de acordo com organizações não
governamentais.
"A legalização tira o problema da sombra e nos
permite tentar incidir para que a mulher volte trás em sua decisão",
argumentou Mujica.
De acordo com o presidente, a ideia primária é
tentar ajudar a mulher e eventualmente convencê-la de evitar o aborto.
"Muitas vezes há um problema de falta de meios, solidão, falta de
informação ou preconceitos familiares", acrescentou o líder, que espera
que a legalização do aborto ajude a salvar vidas.
A menos de duas semanas de sua visita à Espanha, na
qual se reunirá com o rei Juan Carlos, Mujica, convidou empresas espanholas a
investir em seu país como uma forma de entrar no Mercosul.
"Vou à Espanha mais que nada como um regozijo,
pela afinidade entre os dois países", concluiu o ex-guerrilheiro que
passou 14 anos na prisão, a maioria durante a ditadura (1973-1985). Na segunda-feira
(20), Mujica completa 78 anos.
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O Globo 17.05.2013
OEA pede a despenalização do consumo de drogas
Informe divulgado nesta sexta-feira custou cerca de
U$$ 2,2 milhões e não abordou a legalização da maconha e cocaína
BOGOTÁ — A despenalização do consumo de drogas deve
ser a base fundamental de qualquer estratégia de saúde pública - e não as
prisões de consumidores de drogas, diz um relatório da Organização dos Estados
Americanos (OEA) divulgado nesta sexta-feira. O informe de 400 páginas, no
entanto, esquivou-se de tocar num dos mais sensíveis aspectos do debate: se
deve-se ou não legalizar completamente o consumo de maconha e cocaína.
“Mudanças drásticas ou dramáticas” também foram descartadas nas conclusões.
“Devem-se avaliar os sinais e tendências
existentes, de que há uma inclinação à descriminalização da produção, venda e
consumo de maconha. Cedo ou tarde, devem-se tomar decisões a respeito. Mas
nosso trabalho não encontra em nenhum país apoio significativo para
descriminalizar ou legalizar outras drogas”, destaca o texto.
O estudo foi elaborado com a colaboração de todos
os países do continente ao custo de cerca de US$ 2,2 milhões, e seus
resultados, divulgados pelo secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza.
- Trata-se de um chamado ao diálogo - declarou ele,
ao lado do presidente colombiano, Juan Manuel Santos.
Numa área multidisciplinar, que tange tanto à saúde
quanto à segurança públicas, o documento tem duas partes. A primeira é uma
análise escrita pelo próprio Insulza, e a segunda, um parecer técnico que
desenha quatro possíveis cenários e opções para a estratégia de combate às
drogas até 2025.
“Um viciado é um doente crônico que não deve ser
castigado por seu vício, mas tratado adequadamente. Se não é possível haver uma
mudança radical da noite para o dia no tratamento de viciados, ao menos deveria
se iniciar métodos de transição, como os tribunais de drogas, a redução
substantiva das penas e a reabilitação”, afirma o relatório.
O relatório da OEA propõe quatro possíveis cenários
para o futuro das políticas de drogas, todos levando em conta a premissa de
reconhecimento do fracasso das medidas atuais. Para modificar o cenário,
segundo o informe, é preciso substituir a abordagem repressiva por uma que
privilegie a segurança e a redução da violência; experimentar modelos de
regulação das drogas ilícitas para reduzir o poder do crime organizado e
melhorar a saúde dos dependentes; e investir na resiliência de comunidades. O
quarto ponto tange tanto a saúde quanto a segurança pública, e pede “o
fortalecimento conjunto das instituições e da presença do Estado” para combater
a violência e a insegurança provocada por grupos criminosos ligados ao tráfico.
- Este relatório reitera a falência da guerra às
drogas, ainda tida como referência para setores conservadores e religiosos do
governo e da sociedade brasileira. Seguimos fazendo um consumo político das
drogas, e ignorando as evidências científicas e experiências internacionais e
nacionais bem-sucedidas que apontam a direção a seguir - afirma Ilona Szabó de
Carvalho, cofundadora da Rede Pense Livre e diretora do Instituto Igarapé.
Os chamados tribunais de drogas, que existem nos
Estados Unidos e começam a ser implementados em países como México e Chile,
promovem a substituição da prisão do dependente químico por um tratamento
controlado para o viciado. São também incentivados pelo documento.
“As medidas privativas da liberdade são antagônicas
nesta abordagem e só devem ser usadas quando a vida do viciado está em risco ou
quando seu comportamento representa um risco para a sociedade”, informa o
estudo.
A tarefa de avaliar o problema das drogas foi dada
à OEA há um ano pela Cúpula das Américas, em Cartagena, na Colômbia, para
viabilizar o debate rumo a uma política regional mais uniforme e bem-sucedida.
A disparidade acerca do tema drogas no continente é grande. Somente nos Estados
Unidos, 17 dos 50 estados americanos permitem o consumo para fins medicinais.
Ainda no ano passado, o presidente uruguaio, José Mujica, apresentou a seu país
um polêmico projeto de estatização da maconha. E no México, a violência dos
carteis só faz crescer.
- Magnífico. Era o que queríamos: evidência
empírica, sem pré-julgamentos. Agora vamos começar o verdadeiro trabalho, que é
a discussão no nível político para ver qual a melhor solução para enfrentar o
problema - declarou o presidente colombiano, Juan Manuel Santos.
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O Globo 06.05.2013
Antes clandestina, produção de maconha se expande
nos EUA e cria novo setor.

Os hoje mais de 2 mil produtores enfrentam percalços.
DENVER, EUA - O mercado de produtores de maconha
nos Estados Unidos está em franco crescimento. Já são 18 estados, além do
distrito de Columbia, a aprovarem o uso e a produção de maconha para fins
medicinais. Colorado e Washington liberaram até o uso recreativo. A
regulamentação dão grande impulso à indústria de produção: hoje, entre 2 mil e
4 mil pessoas produzem a erva para o comércio legal.
— Nós éramos os bandidos — disse ao jornal “Wall
Street Journal” Elliot Klug, o diretor do Pink House Blooms, responsável por
uma operação de produção e venda de maconha que envolve cerca de 70 pessoas e
só libera o produto para quem tem prescrição médica. — Agora, continuamos sendo
os bandidos, mas pagamos impostos.
De acordo com a publicação “Medical Marijuana
Business Daily”, do novo setor, as vendas no ano passado geraram cerca de US$
1,2 bilhão. Não é fácil, no entanto, fazer dinheiro com o negócio, reclamam os
produtores. A cultura da maconha tem algumas peculiaridades: exige colheita uma
vez por semana, só dá em locais abrigados e os produtores ainda testam, entre
erros e acertos, como entregar o produto dentro das normas estabelecidas.
Comercializada legalmente, a maconha torna-se uma
cultura bastante onerosa com altos custos para se começar o negócio, além de
ter de atender a padrões legais muito mais rigorosos do que outros produtos
agrícolas. No Colorado, por exemplo, os empreendedores têm de instalar câmeras
em cada espaço que contenha plantas. Klug, por exemplo, tem 48 delas.
Além disso, os preços da maconha caíram por causa
do aumento da concorrência. E o financiamento bancário simplesmente não é uma
opção: a lei federal nos Estados Unidos não permite esse tipo de negócio.
Muitos produtores, antes clandestinos, agora entraram no mercado legal. É o
caso do próprio Klug, que cultivava cerca de 40 pés da planta em seu porão e
hoje sua Pink Blosson tem aproximadamente 2 mil plantas e fatura US$ 3 milhões
por ano. Antes de atingir essa escala, no entanto, Klug disse que afundou cerca
de US$ 3 milhões, parte emprestado de sua família, na operação. Ele diz que a
demanda é crescente, mas os custos, que incluem uma conta de luz mensal de US$
14 mil são altíssimos.
Outro fabricante, a La Conte's Clone Bar &
Dispensary, associou-se a outro produtor para dividir custos. Mas só obteve um
lucro de 6% frente a sua receita de US$ 4,2 milhões no ano passado, informou o
diretor financeiro da empresa, Jeremy Hiedl. Para expandir os negócios, a firma
vende tudo relacionado à maconha: de cremes para o corpo a brownies de maconha.
Mas ainda assim, diz ele, “a economia da
cannabis é bastante difícil”.
Os ganhos com a maconha também escoam na folha de
pagamento, já que é uma cultura intensiva em mão de obra. E há ainda a
competição com os produtores ilegais e com os de outros países, submetidos a
regras mais frouxas.
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www.publico.pt 29.12.2010
Aprendemos que não
era uma loucura descriminalizar a droga
Amílcar Correia

A descriminalização do consumo de
drogas resultou de um processo único e irrepetível
No espaço de uma
década, o consumidor de drogas passou de criminoso a doente. A estratégia de
combate à toxicodependência aplicada em Portugal rompeu com a abordagem
moralista. Hoje é elogiada na Europa, mas há muito por fazer.
É mais do que
provável que da herança política de José Sócrates não venha a constar o papel
determinante que exerceu na descriminalização da posse e consumo de droga em
Portugal. Mas a verdade é que sem o então ministro adjunto do
primeiro-ministro, com as tutelas da Toxicodependência, Juventude e Desporto,
talvez ainda acreditássemos que o abuso de drogas se vencia dando as mãos e
largando com regularidade uma razoável quantidade de endorfinas.
A descriminalização
do consumo de drogas resultou de um processo único e irrepetível. Entre 1999 e
2001, uma comissão de peritos nomeada pelo Governo e dirigida por Alexandre
Quintanilha elaborou, com base em fundamentos científicos e longe do moralismo que
tanto tolhe o discurso ideológico, uma corajosa proposta de estratégia nacional
de luta contra a droga.
A estratégia
transformou-se em política aprovada em Assembleia da República e foi esta
talvez a mais extravagante decisão do segundo Governo de António Guterres.
Sócrates até tentou replicar o método no processo de co-incineração, mas essa
ainda se revelou uma questão mais fracturante.
Consumo não disparou
Sim, é verdade: há
um antes e um depois do dia 1 de Julho de 2001, data da entrada em vigor de uma
lei que deixou de condenar a penas de prisão pessoas que consumiam substâncias
que eram consideradas ilícitas. Sabemos hoje que as profecias de então não se
concretizaram e que, a despeito do que muitos temiam, o país não se transformou
numa Meca para os consumidores de droga.
Aprendemos nesta
década que as políticas na área da droga não devem ser gizadas em função de
posições preconceituosas e dogmáticas. Passámos a aceitar que a questão
sanitária se sobrepunha à questão jurídica; que as prisões estavam repletas de
pessoas que continuavam a consumir droga ao ritmo com que se propagavam as
doenças infecciosas. Nas prisões e fora delas.
Em Dezembro de 2004,
Hernâni Vieira, director do Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira,
dizia o que a avestruz se recusava a escutar: "O problema da droga nas
prisões resolve-se quando se resolver o problema da droga fora das
prisões." E acrescentava, para desagrado dos mais irrealistas: é possível
reduzir o seu consumo, mas acabar com a droga não passa de um sonho
bem-intencionado.
Sim, aprendemos que
o que mais valia era a expansão dos programas de substituição, após um
conturbado período de diabolização da metadona; que as políticas de redução de
riscos e de minimização de danos eram garantia de mais informação por parte dos
consumidores e de menos custos para todos; que as políticas de prevenção
deveriam ser cada vez mais sérias e profissionais.
A derrota do
proibicionismo
Aprendemos, nestes
últimos anos, que a insistência no proibicionismo não teve quaisquer resultados
e que era possível equilibrar a redução da procura com as tentativas
repressivas de diminuição da oferta; ou que era possível baixar o número de
casos de infecções e de mortes por causa da utilização de droga.
Tudo isto teve a
particularidade de diminuir o número de reclusos relacionados com posse e
consumo de droga; de contribuir para baixar a criminalidade que lhe estava
associada nos anos anteriores; e, desta forma, contribuir para um clima social
bem mais pacífico.
O balanço, hoje, quase
dez anos após a entrada em vigor desta lei, é, obviamente, positivo. No início
do século, o país ostentava excessivos problemas de consumo de opiáceos e de
infecções e mortalidade associada nos relatórios da agência europeia das drogas
(cuja sede Portugal recebeu contrafeito, como se fosse o corolário do seu
trajecto junkie na década de 90, mas cujo conhecimento coligido se revelou
muito útil).
O elogio europeu
Alguns anos depois,
a Europa passou a elogiar o que começou a ficar conhecido com o modelo
português - certamente com algum exagero - e que é, neste caso, a assunção do
paradigma sanitário, associado a uma contra-ordenação, espécie de recriminação
administrativa simbólica, da autoria das comissões de dissuasão.
Mas esse tão louvado
modelo está por concluir pelas mesmas razões de sempre. Tem sido uma litania
preconceituosa a impedir a existência de salas de injecção assistida, como as
que existem em vários parceiros europeus, ou a resistir à adopção de programas
de prevenção e de redução de riscos nas prisões.
Numa década, o
consumidor de drogas passou de criminoso a doente e talvez não falte muito até
que seja encarado como cidadão. O aparecimento de associações de consumidores,
como a que a Apdes, uma organização não governamental, criou recentemente,
talvez seja o que agora nos falte aprender. Agora que até já sabemos onde
comprar drogas às quais chamamos legais.
_________
Carta Capital
10.05.2013
Apesar da guerra às
drogas, uso de heroína cresce nos EUA.
Os EUA já gastaram 1
trilhão de dólares na guerra às drogas, mas o tráfico aumenta no país
Eduardo Graça
Apesar do trilhão de
dólares gasto na guerra às drogas, os Estados Unidos voltaram a conviver com a
epidemia do consumo de heroína. Segundo o relatório anual do instituto National
Survey on Drug Use and Health (NSDUH), houve um aumento expressivo do tráfico
em todo o país. E mais: a expansão migrou dos grandes centros urbanos para os
rincões da América profunda.
Na Carolina do
Norte, traficantes oferecem “pacotes especiais” a moradores de áreas nobres nas
imediações de Charlotte. No rico nordeste, o Northern New England Poison Center
anunciou uma explosão de casos de overdose nos estados do Maine, Vermont e New
Hampshire. De acordo com o National Institute of Drug Abuse (NIDA), um em cada
cinco pacientes em busca de internação nos hospitais públicos de Minnesota o
fazem por conta da dependência química de heroína e derivados.
“O uso de heroína é
impressionante. Nunca vimos nada assim anteriormente no estado. É uma droga
relativamente barata e com alto nível de pureza. E é surpreendente o aumento de
casos em locais distantes de Minneapolis e Saint Louis. Eles agora aparecem em
áreas mais pacatas, como as do Lago Woebegone” afirmou Carol Falkowski, do
NIDA.
Além do fechamento
de clínicas e do aumento da restrição de venda de drogas sintéticas, a alta
súbita do consumo de heroína está ligado, segundo especialistas, à redução do
orçamento das famílias americanas. Enquanto 80 miligramas de oxicodona custa de
80 a 100 dólares por comprimido, uma dose de heroína sai a 9 dólares nas
principais cidades americanas.
“Os novos usuários e
traficantes são em sua maioria jovens entre 17 e 29 anos. Os consumidores
buscam a heroína por motivos econômicos, pois se consegue um efeito maior
gastando menos do que com analgésicos comprados na farmácia com receita
médica”, afirmou à mídia Amy Roderick, da agência de combate às drogas.
_________________
Carta Capital 10.05.2013
Portugal ataca a
droga, não o viciado.
João Goulão,
responsável pela política antidrogas portuguesa, conta como o país reduziu pela
metade o número de viciados em heroína.
Willian Vieira
“Em Portugal
atacamos a droga, não o usuário.” Irônica, a frase é de um dos maiores
especialistas em políticas sobre entorpecentes do mundo. Presidente do
Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em inglês)
e diretor do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas
Dependências de Portugal, João Goulão é o mentor da reforma na política
portuguesa, hoje um modelo mundial. “E olha que fomos o último país europeu a
tratar do assunto.”
Após livrar-se da
ditadura em 1974, Portugal viveu uma maré de liberalização sem contrapartida do
Estado. Em 1997, quando Goulão assumiu o posto, havia uma escalada de
dependência de heroína e criminalidade sem precedentes. O Executivo solicitou
então a especialistas um projeto. A comissão advertiu: era preciso investir em
prevenção, tratamento público e reinserção social. Nada adiantaria, porém, sem
a descriminalização do usuário.
No Parlamento, os
debates foram acalorados. “Diziam que íamos fazer de Portugal um paraíso para
as drogas.” Em 2001, o país descriminalizou o porte e o consumo e criou uma
rede de assistência aos viciados, que começa com as “comissões de dissuasão da
toxidependência”, sob a tutela do Ministério da Saúde, e termina com incentivos
fiscais a empresas que queiram contratá-los.
Para os
consumidores, a descriminalização eliminou o motivo pelo qual os dependentes
tinham medo de se submeter a tratamento. “A polícia, quando intercepta um
usuário com problemas, leva-o às comissões. A preocupação é com a saúde. Não se
cria mais estigma.” Não há internação compulsória nem registro policial.
Em 1997, segundo as
estatísticas, 100 mil portugueses, ou mais de 1% da população, era viciada em
heroína. O número baixou pela metade. Do total, 35 mil são tratados pelo
Estado. Os índices de criminalidade despencaram, assim como o número de pessoas
encarceradas e de contaminados por Aids. Mesmo com um governo de direita no
poder e em meio à crise econômica, o programa é mantido. “Nosso modelo foi
chancelado mundo afora e temos orgulho”, diz Goulão. “O problema da dependência
deixou de ser a maior preocupação social de Portugal.”
________________
O Globo 20.04.2013
Conselho Nacional discute descriminalizar uso de
droga
Órgão também debate liberação da maconha em
tratamento médico
Vinicius Sassine
BRASÍLIA — O Conselho Nacional de Políticas sobre
Drogas (Conad), vinculado ao Ministério da Justiça, discute a possibilidade de
descriminalização do uso de drogas no Brasil, em especial a liberação da
maconha com finalidade médica, como no caso de tratamento de dependentes do
crack. Um grupo de trabalho foi constituído no ano passado e busca um consenso
sobre a melhor alternativa para a legislação referente ao assunto.
Representantes do Ministério das Relações
Exteriores que participaram das discussões sugeriram a criação de uma agência
reguladora específica para acompanhar um eventual uso medicinal da maconha no
país. Eles disseram ainda que o uso é contemplado em tratados e convenções
internacionais. A coordenação do grupo de trabalho coube a Vladimir Stempliuk,
que deixou nesta semana o cargo de diretor de Projetos Estratégicos e Assuntos
Internacionais da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad). A
titular da secretaria, Paulina Duarte, e a número dois do órgão, Cátia Chagas,
também foram exoneradas. Os três eram conselheiros do Conad e ainda não foram
substituídos.
Além da descriminalização, o grupo de trabalho do
Conad discute outros três cenários: legalização, manutenção da política atual e
eventuais “retrocessos” na legislação. O Conad está praticamente parado em
razão da debandada na Senad. Procurado pelo GLOBO, o Ministério da Justiça
disse que só se pronuncia sobre o assunto segunda-feira, em função da transição
na secretaria.
Num documento preliminar produzido no final do ano
passado, os técnicos envolvidos detalham a realidade de Portugal, que
descriminalizou o uso, mas manteve a proibição legal da venda de drogas. As
atas das reuniões realizadas no Ministério da Justiça, obtidas pelo GLOBO,
mostram que a situação de Portugal é a mais citada nos encontros. Também são
apontados projetos em cidades dos Estados Unidos e do Canadá onde a maconha é
utilizada como um substituto do crack, considerada uma droga mais pesada.
O Conad é o órgão superior que acompanha e atualiza
a política nacional sobre drogas. O colegiado tem representantes do governo e
da sociedade civil. Por meio de resoluções, estabelece regras relacionadas ao
setor. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, preside o conselho.
A constituição do grupo de trabalho ocorreu em maio
de 2012, um mês depois da participação da presidente Dilma Rousseff na Cúpula
das Américas em Cartagena das Índias, na Colômbia. “A presidente manifestou a
posição de que o governo brasileiro está aberto a debater ‘possíveis cenários’,
que incluam também eventual descriminalização”, cita o relatório preliminar.
A proposta do debate partiu do presidente da
Colômbia, Juan Manuel Santos. A Comissão Interamericana para o Controle do
Abuso de Drogas (Cicad), da Organização dos Estados Americanos (OEA), vai
produzir estudo sobre novos cenários para a política de drogas nas Américas.
No Congresso, um projeto de lei com a proposta de
descriminalização do uso das drogas deverá provocar intenso debate. O deputado
federal Paulo Teixeira (PT-SP) diz que vai apresentar projeto nesse sentido.
Pela proposta, ficaria permitido o porte de uma quantidade equivalente ao uso
pessoal por dez dias. Paulo Teixeira é crítico do projeto de lei nº 7.663/2010,
que prevê internações involuntárias de dependentes de drogas e eleva a pena
mínima a traficantes de drogas.
— A ideia do projeto é distinguir usuário de
traficante. A questão sairia da legislação penal e viraria infração
administrativa, como multa de trânsito. A venda continua a se configurar
tráfico, e o usuário passa a ser um destinatário de políticas de saúde — diz o
deputado.
_____________
BBC Brasil 19.04.2013
Portugal faz balanço
positivo de lei que descrimina drogas.
Organizações de
saúde agora doam material para usuários de drogas
Em uma barraca
improvisada no bairro do Fim do Mundo, perto de Lisboa, Maria fuma heroína,
cercada de seringas descartáveis abandonadas e manchas de sangue.
Portugal é um dos
poucos países do mundo em que ela não corre risco de ser presa por isso, já que
o uso e o porte de drogas é legal. Pelo contrário, no Fim do Mundo,
organizações de saúde e sociais ainda fornecem materiais limpos para o consumo
das drogas.
Há exatos oito anos,
quando a lei que descriminou as drogas foi aprovada no país, muitos disseram
que Portugal se transformaria em um centro para viciados da Europa.
No entanto,
estatísticas do governo português indicam que o consumo de drogas, em vez de
aumentar, caiu 10%. Ainda assim, a heroína continua a ser um problema grave em
Portugal, onde o consumo da droga está entre os maiores da Europa.
Mas hoje, em vez de
prender os usuários de drogas, o governo os encaminha para comissões que tentam
convencer o indivíduo a abandonar o uso ou, no caso de viciados, iniciar um
tratamento. O que não mudou foram as leis para tráfico, que continua a ser um
delito grave.
O governo português
manifesta orgulho por sua política para as drogas. O primeiro-ministro José
Sócrates destaca seu desempenho pessoal na introdução da lei, diz que os
resultados são conclusivos e que a filosofia é popular.
Resultados positivos
De acordo com o
repórter da BBC Mark Easton, cada vez mais pessoas iniciam tratamentos para
abandonar o vício no país. Outro indicador de que a guinada política está dando
resultados positivos é a queda no uso de drogas entre jovens desde a aprovação
da lei, em 2001.
Mesmo que alguns
contestem a metodologia usada para chegar a essa conclusão, segundo Easton, não
há qualquer indício de que o consumo tenha crescido desde a descriminação.
Easton afirma ainda
que as previsões pessimistas de que Portugal se transformaria em um paraíso de
"sol, praias e drogas liberadas", como previu um político, não se
confirmaram.
Brendan Hughes,
representante do Observatório Europeu de Drogas, com sede em Lisboa, afirma que
não se pode saber qual a influência direta da lei nos números.
"Não sabemos o
que é que faz as pessoas pararem de consumir drogas", diz Hughes. "O
que sabemos é que não houve uma explosão no consumo. O senso comum pode dizer
uma coisa, mas todas as estatísticas afirmam o contrário."
Menos mortes
A conclusão é confirmada
por um relatório do centro de estudos americano Cato. O grupo afirma que
"não se cumpriu qualquer dos horrores que os opositores da descriminação
em todo o mundo costumam invocar".
"Em muitos
casos, aconteceu exatamente o contrário, já que o consumo caiu em algumas
categorias chave e as doenças relacionadas ao consumo de drogas estão muito
mais contidas", diz o relatório.
A impressão foi
confirmada à BBC por Paula Vale de Andrade, integrante de uma das equipes
sociais que prestam assistência aos viciados.
Segundo ela, o
número de infectados pelo vírus HIV e de mortes provocadas pelo consumo de
drogas caiu drasticamente.
"Quando se
drogar era um crime, muitos tinham medo de se aproximar de nossas equipes, mas
desde a descriminação, eles sabem que a polícia não vai se meter e vêm até nós.
Esse foi um grande avanço", afirmou Andrade.
Mas nem todos
aplaudem a iniciativa. Nas ruas de Lisboa, alguns relativizam os resultados e
questionam as estatísticas e a mudança de tratamento dos usuários, que passaram
de criminosos a vítimas.
Outros criticam o
fato de um terço dos consumidores não se apresentarem às comissões. Até mesmo
um viciado em heroína entrevistado pelo BBC disse estar cético diante da
medida: "Se não é crime, vão continuar consumindo até morrer."
Atualmente, a posse
de pequenas quantidades de drogas não é considerada crime em dez países
europeus.
__________
18.04.2013
PF prende
traficantes donos de clínica de tratamento de usuários de drogas.
GABRIELA VIEIRA
A Polícia Federal em
Goiás realizou, na manhã desta quinta-feira, 18, uma operação contra o tráfico
internacional de drogas sintéticas e de produtos químicos. Oito mandados de
prisão e sete de busca e apreensão são cumpridos em quatro Estados (Bahia, Goiás,
Minas Gerais e Rio de Janeiro).
Segundo as
investigações da PF, a quadrilha importava clandestinamente, de países como o
Paraguai, produtos químicos que eram remetidos para a Holanda, onde as drogas
sintéticas eram fabricadas e reenviadas aos traficantes brasileiros. Aqui, as
drogas eram revendidas em Goiás, Minas Gerais, Bahia e São Paulo.
Não satisfeito com o
lucro do tráfico, o grupo abriu uma clínica - particular - para o tratamento de
dependentes de droga em Itumbiara (GO). Atualmente, o local está interditado
pela Vigilância Sanitária do Município.
Desde janeiro de
2012, as investigações já tinham levado à prisão de três pessoas, entre elas o
líder da organização criminosa, e a algumas das maiores apreensões de drogas
sintéticas já realizadas pela Polícia Federal. Em novembro do ano passado, a PF
encontrou 50.000 comprimidos de ecstasy no Aeroporto do Galeão, no Rio de
Janeiro. Em agosto, os policiais já tinham apreendido 28.000 comprimidos da
droga no Aeroporto de Guarulhos (SP). Com a prisão do líder do grupo, em
janeiro deste ano, foram recolhidos mais 4.500 micropontos de LSD.
____________
Do Estadão
Policiais
do Denarc desviaram 3 t de cocaína
Sequestro, tortura,
tráfico de drogas e até o relato de assassinatos fazem parte da investigação da
Polícia Federal (PF) que começou a desbaratar uma quadrilha encastelada no
Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc). Os papéis da
Operação Dark Side mostram que os homens do Denarc atraíam traficantes
internacionais para São Paulo para sequestrá-los e achacá-los, além de roubar a
droga e revendê-la a bandidos amigos. O esquema funcionaria desde 2004 e,
segundo o delegado-chefe da PF em Sorocaba, Roberto Boreli Zuzi, teria desviado
pelo menos três toneladas de cocaína.
A PF está apurando o
patrimônio dos sete policiais civis presos. Seis deles são do Denarc e um da
Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), de Sorocaba. Segundo o
delegado Zuzi, se não comprovarem a origem do patrimônio, os policiais também
serão acusados de lavagem de dinheiro. Alguns dos presos ostentariam patrimônio
incompatível com a renda e teriam usado dinheiro da droga para adquirir
apartamentos, chácaras e carros de luxo. O bloqueio dos bens foi pedido à
Justiça.
A PF desvendou o
esquema quando monitorava um suspeito de tráfico em Sorocaba, o empresário de
jogadores de futebol Marcelo Athiê, que está foragido. Ele seria o destinatário
de um carregamento de 133 kg de cocaína apreendido em 15 fevereiro na Rodovia
Castelo Branco - outros 175 quilos estavam no apartamento do investigador
Alexandre Lajes. Foram presos então dois traficantes e os investigadores Lajes
e Michael Ruiz, do Denarc, e Glauco Fernandes, de Sorocaba, que escoltariam a
droga. Eles alegam inocência.
Depois de preso,
Lajes conversou com a mulher pelo celular e pediu: "Abre meu cofre, tira
tudo que tem dentro e bota em uma sacola. Não queira saber o que tem porque
isso não te interessa". Uma câmera do apartamento do casal em Perdizes, na
zona oeste da capital, flagrou a mulher arrastando sacolas. Os federais
chegaram a tempo de apreender a cocaína, 70 mil e US$ 84 mil, além de reais. Na
última quarta-feira foram presos mais quatro suspeito: os investigadores
Gustavo Gomes, Edson Melin, Mariano Pinto e André Souza, todos do Denarc. Eles
também alegam inocência.
A chamada Operação
Dark Side mostra que os policiais forneceram a bandidos até um Fiat Strada,
apreendido pelo Denarc em 26 de outubro de 2010. Em fevereiro de 2012, o
veículo foi flagrado pelos federais sendo dirigido por Athiê e por um homem
suspeito de tráfico.
Mortes. Os federais
descobriram ainda que o investigador Lajes aparecia como testemunha no
inquérito sobre as mortes do colombiano Bernardo Castanho Estrada e do
argentino Fabian Alejandro Gugliese. O crime aconteceu em 26 de novembro de
2011, no Guarujá. Lajes disse que Estrada era seu informante. Segundo a versão
apresentada pelos envolvidos à Delegacia do Guarujá, o argentino teria tentado
assaltar a casa e o colombiano tentara impedi-lo. Ou seja, um teria matado o outro.
Em outubro de 2012,
os federais interceptaram um telefonema do investigador no qual ele diz ao seu
chefe no Denarc que estava levando "uns uisquinhos" supostamente para
o delegado responsável pelo inquérito das mortes no Guarujá.
O Guarujá era uma
das cidades que abrigavam cativeiros de traficantes. Um deles ficava em uma
casa na Avenida Veraneio, na Enseda. Um sítio em Ibiúna também fora usado para
o mesmo fim.
No total, foram
apreendidos 340 quilos de cocaína, carros e um celular com o traficante boliviano
Heber Carlos Berberi Escalante, com imagens de um traficante acorrentado,
pedindo à família para entregar US$ 300 mil aos policiais para não ser morto. O
próprio Escalante teria pago US$ 1 milhão para não ser preso. A Secretaria da
Segurança Pública abriu os processos administrativos contra os investigadores
presos. "As últimas prisões contaram com a cooperação da Corregedoria da
Polícia Civil", disse o secretário Fernando Grella Vieira.
____________
blog "Em Discussão"
http://www.senado.gov.br/NOTICIAS/JORNAL/EMDISCUSSAO/dependencia-quimica/mundo-e-as-drogas/as-drogas-na-holanda.aspx
Drogas na
Suíça
A experiência com as
drogas na Suíça se destaca sobretudo no tratamento de usuários de heroína,
maior problema do país na área das drogas nos anos 1980. A opção foi
implementar uma política baseada em saúde pública, com prevenção e terapia, em
vez de criminalizar o usuário.
Em 1994, foi adotada
na Suíça também a prevenção de danos: um programa de tratamento por
administração de heroína e a criação de salas para injeção supervisionada.
Cerca de 3 mil usuários problemáticos dessa droga (entre 10% e 15% dos
dependentes e entre 30% e 60% dos consumidores) passaram a recebê-la
gratuitamente. O governo da Suíça teve que negociar essa possibilidade,
baseando-se na avaliação de que, quem abusava da heroína, ao recebê-la
legalmente, deixaria os crimes e o tráfico de drogas.
O número anual de
novos usuários caiu de 850 em 1990 para 150 em 2005. E cerca de um terço dessas
pessoas deixaram a droga espontaneamente sem nem mesmo um tratamento associado.
A política fez com que o mercado ilegal de heroína se inviabilizasse e levou a
uma queda de 90% nos crimes contra a propriedade cometidos por participantes do
programa do governo.
Portugal
Em julho de 2001,
Portugal se tornou o primeiro país da Europa a descriminalizar o uso de drogas.
Elas continuam proibidas, mas seu consumo não é mais crime. Por lei, o usuário
agora é considerado doente crônico que precisa de tratamento, mas há sanções
penais para traficantes e produtores de drogas.
O usuário pego em
Portugal com quantidade de drogas equivalente a, no máximo, dez dias de consumo
(o que é detalhado na legislação), é encaminhado a uma comissão, composta por
um assistente social, um psiquiatra e um advogado, que avalia se o caso se
configura como tráfico, dependência ou simples consumo pessoal. O usuário,
então, pode ser multado, condenado a prestar serviço comunitário ou encaminhado
para tratamento.
O Ministério da
Saúde de Portugal coordena as ações de prevenção e tratamento às drogas, que
são articuladas com diversas áreas do governo. Houve grande expansão da rede de
tratamento e a meta é ter leitos de internação disponíveis para todos os
dependentes que necessitarem.
Outro foco da
legislação de Portugal é a redução de danos, que permite, por exemplo, o
fornecimento de seringas descartáveis a usuários de drogas injetáveis, com
redução de 71% no diagnóstico de HIV entre usuários de drogas.
Pesquisa de 2010
revelou pequeno aumento no uso de drogas em Portugal, na mesma proporção de
países que não descriminalizaram. Também não se pode afirmar que haja relação
entre essa política e redução da violência na sociedade. Mas houve redução do
peso das drogas na repressão policial e no sistema judiciário.
Do universo de
pacientes em tratamento da dependência de drogas, 70% são usuários de cannabis
(maconha) e o restante de heroína, cocaína, ecstasy e outros. Roberto
Kinoshita, coordenador da área de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do
Ministério da Saúde, lembra que, nos primeiros anos da política em Portugal,
houve muito medo sobre os resultados, mas nenhuma das previsões catastróficas
acabou se mostrando real.
Suécia
Ao contrário da
tendência europeia de descriminalização, na Suécia o consumo de drogas é
considerado crime, com punição de até três anos de prisão, desde 1993. Mais de
90% dos suecos rejeitam a tese da descriminalização ou da legalização das
drogas. Essa política é associada a fortes ações de prevenção e a tratamento
efetivo. Prioridade nacional na Suécia, ela envolve governo, ONGs, voluntários,
empresas, escolas, igrejas e famílias.
Nos últimos 30 anos,
o número de dependentes de drogas na Suécia caiu de 12% para 2%. A taxa de
usuários de cocaína é um quinto da taxa dos países vizinhos, como Inglaterra e
Espanha. E, segundo as informações trazidas ao Senado pela embaixadora da Suécia,
Annika Markovic, até o momento o país está livre do crack.
Há grande
investimento na repressão às drogas: 60% dos recursos da polícia de fronteira,
por exemplo, são usados com esse fim. “Rejeitamos todo e qualquer tipo de droga
não medicamentosa e não aceitamos a integração das drogas em nossa sociedade”,
afirmou a embaixadora. Dessa forma, não há distinção entre drogas leves ou
pesadas na Suécia.
As pessoas suspeitas
passam por testes para detecção do uso de drogas. No caso de condenação à
prisão, se o usuário representar um risco a si próprio ou à comunidade, o
tratamento pode ser compulsório, por no máximo seis meses. Depois disso, ele
escolhe se continua se tratando ou se vai para a prisão.
“O tratamento visa
preparar o dependente a retornar ao convívio social, incluindo trabalho
comunitário e terapêutico”, assinalou Annika, revelando que o serviço social da
Suécia mantém contato com cerca de 80% dos usuários de drogas injetáveis.
Holanda
A concepção do
modelo da Holanda leva em consideração que o problema das drogas não tem uma só
solução. Então, é melhor controlá-lo e reduzir danos em vez de continuar uma
política de repressão com resultados questionáveis.
A legislação sobre
drogas da Holanda é de 1976 e tem como base a diferenciação entre drogas de
risco aceitável (maconha e haxixe) daquelas de risco inaceitável para a saúde e
para a segurança públicas (cocaína, heroína, anfetaminas e LSD). O álcool,
considerado uma droga de risco alto, é legal e controlado pelo governo.
Apesar de ato
tecnicamente ilegal por conta dos tratados internacionais assinados pelo país,
quem é pego com até cinco gramas de cannabis sativa, na Holanda, não é punido.
Bares e cafés (coffee shops) que vendem até cinco gramas de maconha ou haxixe
podem ser encontrados em toda parte e, no interior desses locais, o consumo é
tolerado. Mas não se pode fumar maconha em locais públicos, por exemplo, e o
tráfico na rua é proibido e punido. O governo da Holanda afirma que não quer
que a polícia perca tempo com os pequenos infratores.
Por outro lado, a
posse, o comércio, o transporte e a produção de todas as outras drogas são
expressamente proibidas e reprimidas com eficiência; há previsão de penas que
podem chegar a 12 anos de prisão e de multas de até 45 mil euros.
A Holanda trata a
questão das drogas como de saúde pública, em que tratamento e recuperação são
oferecidos para todos que buscam ajuda. As junkiebonds (associações de usuários
de droga injetáveis) buscam melhorar as condições de vida dos usuários,
evitando o contágio por hepatite B e HIV/Aids, distribuindo agulhas e seringas
descartáveis.
A média de consumo
de drogas na Holanda é inferior à do restante do continente e o percentual de
pessoas que usam drogas injetáveis é o menor entre os 15 países da União
Europeia. O número de usuários de heroína diminuiu significativamente (de 28 a
30 mil em 2001 para 18 mil em 2008) e a média de idade dos usuários vem
aumentando.
_________
O Globo 14.03.2013
Câmara aprova urgência para
análise do projeto que cria cadastro de usuários de drogas
Proposta prevê a internação sem
consentimento do usuário e aumenta de 5 para 8 anos a pena mínima de prisão
para traficantes
BRASÍLIA - Depois de debates e polêmica, o plenário
da Câmara aprovou nesta terça-feira regime de urgência para análise do projeto
que cria o cadastro de usuários de drogas. A votação do mérito do texto está
marcada para logo depois da Semana Santa. A proposta, que também prevê a
internação involuntária - sem consentimento do usuário - e aumenta de 5 para 8
anos a pena mínima de prisão para traficantes, recebeu 344 votos a favor e
apenas 6 contra.
A liderança do PT,
num primeiro momento, orientou seus deputados a votarem a favor da urgência.
Como o projeto foi pouco difundido, conforme parlamentares petistas tomavam
conhecimento de seu teor, manifestavam receio com a proposta. Então, o líder do
PT, José Guimarães (CE), anunciou que o partido mudara de opinião e votaria
contra. Os petistas se retiraram do plenário na hora da votação, ciente da
derrota em curso.
O deputado Paulo
Teixeira (PT-SP) liderou um movimento contrário ao projeto. Ele foi procurado,
no plenário, pelo autor do projeto, Osmar Terra (PMDB-RS).
- Paulo, deixa
aprovar a urgência. Depois discutimos o mérito e podemos mudar alguma coisa -
disse Osmar Terra ao petista, que contra-argumentou:
- Não, Osmar, esse
projeto não é bom.
Teixeira explicou
porque é contra.
- Esse cadastro
cria um estigma. Aumentar pena para traficante vai é levar mais usuário para a
cadeia. A lei não distingue um do outro. Ou seja, esse projeto é um baita
retrocesso - disse Paulo Teixeira.
Relator do projeto
na comissão especial, Givaldo Carimbão (PSB-AL) era o mais árduo defensor do
texto nos microfones do plenário. Ele chegou a convocar os deputados a
comparecerem ao plenário para votar.
- O projeto é a
solução para os viciados. A droga faz mal para ele e para toda sua família. A
internação é um bem. Mas respeito os que são contra, são aqueles que defendem a
liberação da maconha. Respeito - disse Givaldo Carimbão.
________
Opera Mundi
10.07.2012
Tráfico de drogas
aumentou após restrição a "coffee shops" na Holanda, diz estudo
Obrigatoriedade de
carteira de identificação para os usuários de maconha fez a venda ilegal
crescer
Em vigor desde 1 de
maio, as novas regras para a venda da maconha em "coffee shops" na
Holanda estão provocando um efeito adverso, segundo estudo realizado por
pesquisadores da Epicurus, fundação privada que se dedica a monitorar os
efeitos da cannabis na sociedade. Nesses dois meses, o tráfico do entorpecente
aumentou no país.
O governo holandês
introduziu em três províncias uma carteira de identificação obrigatória para
clientes desses estabelecimentos, com o intuito de diminuir o consumo de
maconha por turistas.
A ação, de acordo
com os pesquisadores Nicole Maalsté e Rutger Jan Hebben, resultou em um enorme
incremento da venda ilegal da droga nas ruas e no surgimento de uma ampla rede
de serviços de entrega.
"Queremos que o
resto da Holanda saiba o que os espera quando essa regulamentação chegar",
disse Maalsté, também pesquisadora da Universidade de Tilburgo. O governo do
país tem a intenção de estender o cartão de identidade para todas as províncias
ainda esse ano.
Ainda de acordo com
os estudiosos, a polícia holandesa não tem capacidade para controlar essa nova
forma de comércio. A maconha vendida em um "coffee shop" custa cerca
de 25% a mais do que nas ruas, pontuaram os pesquisadores, que lembraram que
alguns grupos específicos estão evitando esses estabelecimentos, como jovens
entre 18 e 24 anos.
"É muito pouco
provável que esses grupos deixem de consumir a droga em grandes
quantidades", concluíram os especialistas. De acordo com eles, um risco
com o crescimento de traficantes é que os jovens têm mais contato com outros
tipos de droga, como cocaína.
Defensores da lei
disseram que o estudo foi encomendado por donos de "coffee shops",
que viram as vendas caírem até 70% desde o início da nova regulamentação. A
Epicurus negou a acusação.
_________
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Acordo
ultrajante com o HSBC prova que a guerra à droga é uma piada
Matt
Taibbi
Se
alguma vez foi preso por posse de droga, se alguma vez passou um dia na prisão
por ter um bocado de marijuana no seu bolso ou "equipamentos de
droga" na sua mochila, o procurador-geral assistente e amigo de longa de
data de Bill Clinton, Lanny Breuer, tem uma mensagem para si: Suma daqui.
Breuer
concluiu esta semana um acordo com o gigante bancário britânico HSBC que é o
insulto final a toda pessoa comum que alguma vez na vida teve a sua vida
alterada por uma acusação de narcóticos. Apesar do facto de o HSBC ter admitido
que lavava milhares de milhões de dólares para cartéis de droga colombianos e
mexicanos (entre outros) e violava um conjunto de importantes leis bancárias
(desde o Bank Secrecy Act até o Trading With the Enemy Act), Breuer e seu
Departamento da Justiça preferiu não efectuar processamentos criminais do
banco, optando ao invés por um acordo financeiro recorde de US$1,9 mil milhões, que um
analista observou corresponder a cerca de cinco semanas de rendimento do banco.
As
transacções de lavagem dos bancos eram tão descaradas que a National Security
Agency provavelmente podia tê-las detectado do espaço. Breuer admitiu que os
traficantes de droga por vezes vinham a agências mexicanas do HSBC e
"depositavam centenas de milhares de dólares em cash, num único dia, numa
única conta, utilizando caixas concebidas para ajustarem-se às dimensões
precisas das janelas dos caixas".
Isto
importa repetir: a fim de movimentar mais eficientemente tanto dinheiro ilegal
quanto possível para a instituição bancária "legítima" do HSBC,
traficantes de droga conceberam caixas destinadas a passar através das caixas
receptoras. O homem de confiança do [personagem] Tony Montana a marchar com
sacos de cash no [filme de ficção] "American City Bank", em Miami,
era realmente mais subtil do que aquilo que faziam os cartéis quando lavavam o
seu dinheiro por meio de uma das mais célebres instituições financeiras
britânicas.
Embora
não seja declarado explicitamente, a lógica do governo para não avançar com
processos criminais contra o banco aparentemente estava enraizada em
preocupações de que colocar executivos de uma "instituição sistemicamente
importante" na cadeia por lavagem de dinheiro da droga ameaçaria a
estabilidade do sistema financeiro. O New York Times colocou isto
desta forma:
Autoridades
federais e estaduais optaram por não acusar o HSBC, o banco com sede em
Londres, por ampla e prolongada lavagem de dinheiro, por receio de que a
acusação criminal derrubasse o banco e, no processo, pusesse em perigo sistema
financeiro.
Não
é preciso ser um génio para ver que o raciocínio aqui é altamente enviesado.
Quando se decide não processar banqueiros por crimes de milhares de milhões de
dólares conectados com o tráfico de droga e o terrorismo (alguns clientes
sauditas e bangladeshis do HSBC tinham ligações terroristas , segundo uma investigação do
Senado), isso não protege o sistema bancário, faz exactamente o oposto.
Aterroriza investidores e depositantes por toda a parte, deixando-os com a
impressão clara de que mesmo os bancos mais "reputados" podem de
facto ser instituições capturadas cujos executivos sénior estão ao serviço de
(isto não pode ser repetido demasiado repetido) assassinos e terroristas. Ainda
mais chocante, a resposta do Departamento da Justiça ao saber acerca de tudo isto
foi fazer exactamente a mesma coisa que os executivos do HSBC fizeram em
primeiro lugar para se meterem em perturbações – tomaram o dinheiro a olhar
para o outro lado.
E
eles não só liquidaram-se aos traficantes de droga, eles liquidaram-se barato.
Pode-se ouvir esta semana jactâncias da administração Obama de que conseguiram
uma penalidade recorde do HSBC, mas isso é uma piada. Algumas das penalidades
envolvidas são literalmente de dar gargalhada. Isto é do anúncio de Breuer:
Em
consequência da investigação do governo, o HSBC ... "recuperou" bónus
previstos para dar como compensação a alguns dos seus mais importantes
responsáveis nos EUA anti-lavagem e concordou em adiar bónus de compensação
para os seus principais responsáveis sénior durante o período de cinco anos do
acordo de acusação adiado.
Uau.
Então os executivos que passaram uma década a lavar milhares de milhões de
dólares terão de adiar parcialmente os seus bónus durante os cinco anos do
acordo de acusação adiada? Estão a brincar comigo? Isso é lá punição? Os
negociadores do governo não podiam manter-se firmes forçando os responsáveis do
HSBC a esperar para receber os seus mal fadados bónus? Eles tinham de decidir fazê-los
esperar "parcialmente"? Todo promotor honesto na América tem de estar
a vomitar as suas entranhas diante de tais tácticas de negociação. Qual foi a
oferta de abertura do Departamento de Justiça – pedir aos executivos para
restringirem sua temporada de férias no Caribe para nove semanas por ano?
Então,
pode-se perguntar, qual é a penalidade apropriado para um banco na posição do
HSCB? Exactamente quanto dinheiro deveria ser extraído de uma firma que
desavergonhadamente ao longo de anos e anos lucrou de negócios com criminosos?
Recorde-se, estamos a falar acerca de uma companhia que admitiu um vasto
conjunto de graves crimes bancários. Se você fosse o promotor, teria o banco
preso pelos colhões. Assim, quanto dinheiro deveria ser tomado?
O
que acha de tudo isto? O que acha de cada dólar que o banco ganhou desde que
começou a sua actividade ilegal? O que acha de mergulhar em cada conta bancária
de cada simples executivo envolvido nesta sujeira e tomar até o último dólar de
bónus que eles alguma vez ganharam? A seguir tomar suas casas, carros, as
pinturas que compraram em leilões do Sotheby's, as roupas nos seus armários, os
trocos soltos nos jarros sobre os balcões das suas cozinhas, tudo o que
restasse. Tome isso tudo e não pense duas vezes. E a seguir lance-os na prisão.
Soa
duro? Assim parece, não é? O único problema é que se trata exactamente do que o
governo faz todos os dias a pessoas comuns envolvidas em casos de droga
habituais.
Será
interessante, por exemplo, perguntar a residentes em Tenaha, Texas, o que
pensam acerca do acordo HSBC. É a cidade onde a polícia local rotineiramente detém motoristas (sobretudo negros) e,
sempre que encontram dinheiro, propõem uma escolha aos motoristas: Poderiam
deixar a polícia tomar o dinheiro ou enfrentar acusações de droga e lavagem de
dinheiro.
Ou
podiam perguntar a Anthony Smelley , residente em Indiana, que ganhou US$50
mil num acordo de acidente de carro e estava a transportar US$17 mil em cash no
seu carro quando foi detido pela polícia. Os polícias revistaram o seu carro e
tinham cães para cheirar droga. Os cães alertaram duas vezes. Não foram
encontradas drogas, mas a polícia ficou com o dinheiro na mesma. Mesmo depois
de Smelley ter apresentado documentação provando onde obtivera o dinheiro, responsáveis
do Putnam County tentaram manter o dinheiro com base no argumento de que ele
podia ter utilizado o dinheiro para comprar drogas no futuro.
Sem
brincadeira, isso aconteceu. Isso acontece o tempo todo, e mesmo o próprio
Departamento da Justiça de Lanny Breuer envolve-se nestes actos. Só em 2010,
gabinetes de Procuradores dos EUA depositaram aproximadamente US$1,8 mil
milhões em contas do governo em consequência de casos de apreensão, a maior
parte deles casos de droga. Pode ver neste gráfico as estatísticas do próprio
Departamento da Justiça:
Se
nos EUA for detido na estrada levando cash consigo e o governo pensar que é
dinheiro de droga, esse cash vai servir para comprar ao seu chefe de polícia
local uma nova Ford Expedition na tarde do dia seguinte.
E
isso é só a cobertura do bolo. O prémio real que você obtém por interagir com
um responsável pela aplicação da lei, se acontecer estar conectado de qualquer
forma às drogas, é uma ridícula e descomunal penalidade criminal. Mesmo aqui em
Nova York, um em cada sete casos que acaba em tribunal é um caso de marijuana.
Noutro
dia, enquanto Breuer anunciava seu tabefe no pulso dos mais produtivos
lavadores de dinheiro do mundo, eu estava num tribunal no Brooklyn a observar
como eles tratam pessoas reais. Um defensor público explicou o absurdo das
prisões por droga nesta cidade. Nova York realmente tem leis razoavelmente
liberais acerca da marijuana – não se supõe que a polícia o prenda se possuir a droga em privado .
Então como é que a polícia consegue fazer 50.377 prisões relacionadas a
marijuana num único ano só nesta cidade? (Isso foi em 2010, o número em 2009
era de 46.492).
"O
que ele fazem é pará-lo na rua e dizer-lhe para esvaziar os seus bolsos",
explicou o defensor público. "Então, no instante em que um cachimbo ou uma
semente está fora do bolso – bum, é de "uso público". E você fica
preso".
Pessoas
passam noites na prisão, ou pior. Em Nova York, mesmo se eles o deixam sair com
uma contravenção e tempo passado, você tem de pagar US$200 e tem o seu DNA
extraído – um processo que tem de ser pago por si (custa 50 dólares). Mas além
disso não é preciso investigar muito para encontrar casos de sentenças
draconianas, idiotas por crimes de droga não violentos.
Peça
só a Cameron Douglas, o filho de Michael Dougal, que foi condenado a cinco anos de prisão pela simples posse. Seus carcereiros
mantiveram-no em solitária durante 23 horas por dias durante 11 meses e
negaram-lhe visitas de família e amigos. Embora o típico condenado não violento
não o filho branco de uma celebridade, ele é habitualmente o utilizador que
obtém sentenças mais duras do que os garotos brancos ricos obtém por cometerem
os mesmos crimes – todos nós recordamos a controvérsia crack versus coca na
qual orientações federais e estaduais de sentenciamento deixavam que os
utilizadores de crack (uma minoria) obtivessem sentenças 100 vezes mais duras
do que aquelas administradas aos utilizadores predominantemente brancos da coca
em pó.
O
viés institucional nas orientações das sentenças por crack eram um ultraje
racista, mas este acordo do HSCB deixa aquilo longe. Ao abster-se de processos
criminais de grandes lavadores de dinheiro da droga com o argumento (claramente
absurdo, a propósito) de que o seu processamento põe em perigo o sistema
financeiro mundial, o governo acabou de formalizar o duplo padrão.
O
que eles agora estão a dizer é que se você não for um dente importante na
engrenagem do sistema financeiro global, você não pode escapar impune de coisa
alguma, nem mesmo pela simples posse. Você será encarcerado e qualquer dinheiro
que eles encontrem consigo será apreendido na hora, e convertido em novos
cruzadores ou brinquedos para a sua equipe local de agentes aplicadores da lei (SWAT
team), a qual estará pronta a arrombar as portas de casas onde vivem
dentes da engrenagem tão pouco essenciais como você. Se não tiver um emprego
sistemicamente importante a posição do governo é, por outras palavras, de que
os seus activos podem ser utilizados para financiar a sua própria privação de
direitos políticos.
Por
outro lado, se você for uma pessoa importante e trabalhar para um grande banco
internacional, você não será perseguido mesmo se lavar nove mil milhões de
dólares. Mesmo se se conluiar activamente com as pessoas no topo máximo do
comércio internacional de narcóticos, a sua punição será muito mais pequenas do
que aquela na base da pirâmide mundial da droga. Você será tratado com mais
deferência e simpatia do que um drogado desmaiado numa carruagem do metro em
Manhattan (utilizar dois assentos numa carruagem de metro é um delito comum processável nesta cidade). Um traficante
internacional de droga é um criminoso e habitualmente um assassino; um viciado
em droga a passear na rua é uma das suas vítimas. Mas graças a Breuer, agora
estamos no negócio, oficialmente, de encarcerar as vítimas e deixar os
criminosos.
Isto
é a desgraça das desgraças. Não faz mesmo qualquer sentido. Não havia razão
para que o Departamento da Justiça não pudesse ter agarrado toda a gente no
HSBC envolvida com o tráfico, processado criminalmente e actuado com
reguladores bancários para assegurar que o banco sobrevivesse à transição para
nova administração. Nessas circunstâncias, o HSBC não teve virtualmente de
substituir ninguém na sua administração de topo. As partes culpadas
aparentemente eram tão importantes para a estabilidade da economia mundial que
tiveram de ser deixados nas suas mesas de trabalho.
Não
há absolutamente nenhuma razão para que eles não pudessem enfrentar penalidades
criminais. Que não estejam a ser processados é covardia e corrupção pura, nada
mais. E ao aprovar este acordo, Breuer removeu a autoridade moral do governo
para processar qualquer um por qualquer delito de droga. Não é que a maior
parte das pessoas já não soubesse que a guerra à droga é uma piada, mas isto
torna-a oficial.
________
O Globo 25.12.2012
FHC: ‘Tratar o uso de
drogas como caso de polícia é inútil e desastroso’
Ex-presidente defende
a descriminalização das drogas
CAROLINA BENEVIDES
O senhor declarou que a
política de guerra às drogas está falida.
Os fatos falam por
si. Décadas de esforços imensos, liderados pelos Estados Unidos, não levaram
nem à erradicação da produção nem à redução do consumo. Enquanto houver demanda
por narcóticos haverá oferta. Os únicos que ganham com a proibição são os
traficantes. As medidas punitivas, por si só, não são capazes de reduzir o
consumo.
O que é possível
implementar no lugar?
Ao invés de insistir
em políticas ineficazes, mais vale buscar reduzir o consumo e o dano que as
drogas causam. Investir em ações de prevenção, tratamento e reabilitação. Abrir
um debate sobre o impacto desastroso da política repressiva tanto sobre a saúde
das pessoas quanto sobre a segurança dos cidadãos. E confrontar experiências.
Nos últimos anos viajei muito. Destes encontros, uma primeira ideia-força foi
emergindo com clareza: a proposta de descriminalizar o consumo de drogas. Não
faz sentido pôr na prisão pessoas que usam drogas mas não cometem crimes contra
terceiros. Podem causar danos a si mesmos e a suas famílias mas trancafiá-los
em cadeias superlotadas não os ajuda a se livrarem da dependência.
No Brasil, a lei não
especifica quem é usuário e quem é traficante.
É essencial que a lei
estabeleça uma diferença clara. Consumo de droga é um problema de Saúde
Pública. Dependentes de drogas não são criminosos a encarcerar e sim pacientes
a tratar. O medo do estigma e da prisão só faz tornar mais difícil o acesso ao
tratamento. O poder repressivo do Estado e a pressão da sociedade devem se
concentrar na luta contra os narcotraficantes, sobretudo os mais violentos e
corruptores, não em perseguir jovens ou doentes.
O senhor defende a
descriminalização das drogas?
Vamos ser claros. O
que estamos propondo à discussão pela sociedade é a descriminalização de todas
as drogas e o debate sobre a regulação da maconha. Descriminalização não é
sinônimo de despenalização. Em Portugal, ninguém é preso por consumir drogas,
mas o Estado tem todo um arsenal de medidas não criminais para dissuadir os
consumidores e promover o acesso ao tratamento.
Como fazer a regulação da
maconha?
Regular não é a mesma
coisa que legalizar. Regular é criar as condições para que o Estado possa impor
restrições e limites ao comércio e consumo do produto, sem colocá-lo na
ilegalidade. O que estamos propondo é abrir um debate sobre modelos de
regulação da maconha de maneira similar ao que já se faz com o tabaco e o
álcool.
O senhor acredita que a
sociedade brasileira reagirá bem a essa proposta?
Temas controversos
que afetam modos de pensar e valores precisam ser debatidos primeiro na
sociedade. As pessoas hoje pensam cada vez mais com a própria cabeça. É o que
está acontecendo na sociedade brasileira, como em tantas outras, a respeito das
drogas. A sociedade informada e conectada muda mais rápido do que o sistema
político, e tem a capacidade de formar opinião sobre qualquer tema.
Há um projeto de lei para alterar a política de drogas, endurecendo as
penas e regulamentando a internação compulsória.
Qual a melhor maneira de enfrentar o problema das
drogas? Criminalizando ou tratando os dependentes no sistema de saúde?
Tratar o uso de
drogas como caso de polícia é inútil e desastroso. A internação compulsória é
condenada internacionalmente como ineficiente, estigmatizadora e que viola
direitos humanos. A guerra às drogas fracassou. É preciso ousadia e pragmatismo
para explorar novas soluções. O que importa é um debate sério e rigoroso que
permita a cada país encontrar os caminhos adequados. O Brasil se atrasou neste
debate em relação a Colômbia e México. Há que acertar o passo e rápido.
__________
O Dia 17.12.2012
Agentes da lei defendem legalização das drogas
Formada por delegados,
policiais e juízes, Leap Brasil diz que guerra aos narcóticos é a grande
causadora da violência no país e defende regulação da produção pelo Estado.
André Balocco
Rio -
‘Quem morre na guerra contra as drogas não é o usuário: é o policial e o
traficante’. A frase, dita pelo ex-chefe do Estado-Maior da PM, coronel Jorge
da Silva, resume bem a ideia de um movimento que vem ganhando corpo entre os profissionais
responsáveis por aplicar a lei no Brasil: a guerra contra as
drogas está perdida. Formada por policiais, delegados e magistrados, a Leap
Brasil (Agentes da Lei contra a Proibição) acredita que somente a legalização
do consumo e a regulação da produção serão capazes de conter a espiral de
violência causada pela luta entre Estado e narcotráfico.
“Você já viu alguém tomando conta de uma vinícola com fuzis?”, emenda a juíza
aposentada Maria Lúcia Karam, presidenta da organização. “Não viu, mas nos EUA,
na época da proibição, era assim. A violência só acabou com a
descriminalização”, conclui.
O coronel da PM Jorge da Silva (E), a juíza Maria
Lúcia Karam e o delegado Orlando Zaccone: unidos pelo fim das mortes causadas
pela ‘guerra’
Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
Criada em 2010, a
Leap Brasil vai ampliar sua atuação em 2012. Ela é baseada na sua coirmã
norte-americana — de onde vem o maior interesse pela continuidade da política,
por conta do bilionário lucro do mercado das armas. “Foi uma política criada
pelo Nixon (presidente nos anos 60/70) para combater o movimento dos direitos civis nos
EUA, que questionava a Guerra do Vietnã. Como não podiam prender pelo ativismo,
prendiam pelo uso de drogas”, acrescenta o coronel Jorge da Silva. “Fui criado
no Morro do Adeus, no Alemão, e até os anos 70 as armas eram as pedras atiradas
pela garotada”.
O coronel acredita
que o fim da guerra às drogas levará as comunidades do Rio a uma nova onda de
solidariedade. E de paz. “Já enterrei muitos policiais. Quem morre é o preto, o
pobre e o favelado. Vi muito mais gente morrendo na guerra contra as drogas do
que por usar drogas”, conclui. “Ser a favor da legalização não é ser a favor da
glamourização da droga”.
Procurada, a
Secretaria de Segurança informou que não comentaria o assunto.
Delegado fala em
‘hipocrisia’
Delegado titular da
18ª DP, Orlando Zaccone tem pronto o discurso de defesa da Leap Brasil,
organização da qual é o primeiro-secretário. “A diferença entre o traficante e
o empresário é a legalização”, diz o policial. “Há hipocrisia neste tema.
Enquanto o banco HSBC aparece no noticiário de economia pagando multa por
lavagem de dinheiro do tráfico, só policiais e favelados morrem nesta guerra”,
diz. “A guerra contra as drogas afeta a vida e a saúde de muito mais pessoas do
que as próprias drogas”.
Pai, inspetor diz não temer ‘apologia’
Com 17 anos de
polícia e membro-fundador da Leap Brasil, o inspetor Francisco Chao garante:
não quer que sua filha, ainda criança, use
drogas. “Mas se ela quiser, não vou conseguir impedir, mesmo sendo policial.
Por isso, prefiro a droga legalizada, porque o Estado terá controle”, diz ele,
que tem no currículo a prisão do traficante Elias Maluco, assassino do
jornalista Tim Lopes, após intensa caçada no Alemão. “Na Europa, não se bebe na
rua. Com as drogas legalizadas, devem fazer a mesma coisa ”.
__________
BBC Mundo 22.11.2012
Cómo
afecta a México la legalización de la marihuana en EE.UU.
Will Grant
¿Caerán las ganancias de los carteles de México tras la legalización en
Estados Unidos?
Cada año, un grupo de activistas que abogan
por la legalización de la marihuana se reúne en Seattle, Estados Unidos, para
participar en el Hempfest, un festival de dos días en la costa de la ciudad.
Las nubes del humo acre de la marihuana flotan sobre la multitud que
escucha música en vivo o camina entre los puestos que venden pipas y toda la
parafernalia relacionada con esta práctica.
La policía está presente para asegurarse de que no haya compra-venta de
la droga. Pero en el próximo Hempfest puede que ni siquiera tengan que hacer
eso.
El mismo día en que los electores del estado de Washington votaron para
reelegir al presidente Barack Obama, también votaron a favor de legalizar el
uso recreativo de la marihuana. En Colorado ocurrió la misma historia.
"Lo que pasó en Washington y Colorado fue verdaderamente
revolucionario", dice Beau Kilmer, el codirector del Centro Rand para la
investigación sobre las políticas de drogas.
"Ningún país moderno ha quitado la prohibición sobre la producción
y distribución de la marihuana para usos no médicos".
Cuando la medida entre en vigor en Colorado a principios de diciembre,
será legal tener 28 gramos de marihuana si el portador tiene más de 21 años.
También será legal tener hasta seis plantas de marihuana en la casa y entregar
hasta 28 gramos.
Todavía hay preguntas complejas sobre la creación de un marco regulador
para la producción y la distribución de la droga, que puede demorarse al menos
un año más.
De más está decir que la decisión de los dos estados los pone en un
conflicto legal con el gobierno federal y sus políticas antinarcóticos.
Pero Kilmer cree que es un error ver el gobierno de Obama como una
entidad única en este sentido.
"En este punto nadie sabe cómo el gobierno federal va a
responderles a estos dos estados. Pero es importante que no lo pensemos como un
actor homogéneo".
La Agencia Antidrogas de Estados Unidos (DEA), la Oficina del Fiscal
General y el Servicio Federal de Impuestos (IRS) tienen cierto grado de
jurisdicción y discreción en estos temas, señala Kilmer.
Uso de la fuerza
Mientras tanto, a miles de kilómetros, en una tienda de venta de tabaco
en la Ciudad de México, la noticia de la decisión de Colorado y Washington fue
recibida con beneplácito.
Rodeado de vitrinas llenas de inhaladores que se ven caros, el
propietario dice que muchos de sus clientes esperan una ley similar en México.
"Las personas no quiere contribuir a las ganancias de los carteles
de las drogas y ya he vendido muchas copias de esto últimamente", dice,
mientras muestra un libro llamado "El cultivo ecológico del
cannabis".
El hombre que lidera en México los intentos para cambiar las leyes es el
político de izquierda Fernando Belaunzarán, quien introdujo un proyecto de ley
en el Congreso similar al de Colorado y que podría llevar a la marihuana a un
patrón de regulación igual al del alcohol.
"Lo que ha pasado en Estados Unidos ha permitido que las cosas
avancen, porque este debate es crucial", le dijo Belaunzarán a la BBC en
el día en que presentó su propuesta formalmente.
"Debemos preguntarnos si tiene sentido continuar con esta campaña
militar frontal, que ha generado tanta destrucción y muerte en nuestro país con
el objetivo de impedir la entrada de una sustancia a Estados Unidos que ahora
está permitida y regulada".
Belaunzarán no espera necesariamente que su propuesta sea aprobada en
esta sesión legislativa. Pero lo que importa, dice, es el nuevo discurso sobre
el tema.
En algunos sectores mediáticos en Estados Unidos y México, la decisión
de los estados de Washington y Colorado fue calificada como un "elemento
transformador" de la relación bilateral de México y Estados Unidos en lo
referente a la llamada guerra contra las drogas.
Tanto la administración saliente en México como la entrante indicaron
que esperan que la discusión en torno al tema de la marihuana se desarrolle
durante el segundo gobierno del presidente Barack Obama.
En una reunión con varios líderes centroamericanos, el presidente
mexicano Felipe Calderón dijo que la decisión en Estados Unidos es un
"cambio de paradigma" sobre el consumo de drogas. Pidió que Naciones
Unidas y la Organización de Estados Americanos ayuden a clarificar la
situación.
"Obviamente, no podemos manejar un producto que
es ilegal en México, tratando de detener su transferencia a Estados Unidos,
cuando en Estados Unidos -al menos en parte de Estados Unidos- ahora tiene un estatus
diferente."
Luis Videgaray, asesor de Enrique Peña Nieto
El gobierno entrante en México fue incluso un paso más allá.
"Obviamente, no podemos manejar un producto que es ilegal en
México, tratando de detener su transferencia a Estados Unidos, cuando en
Estados Unidos -al menos en parte de Estados Unidos- ahora tiene un estatus
diferente", dice Luis Videgaray, el asesor principal del presidente
electo, Enrique Peña Nieto.
Pero no sólo en México está cambiando el debate sobre la marihuana.
También Uruguay, bajo el presidente José Mujica, está intentando que el Estado
se encargue de regular el cultivo y el consumo de cannabis legal.
A nivel continental, todavía hay, obviamente, muchas discusiones
pendientes.
Los proponentes y los opositores no se ponen de acuerdo sobre qué tanto
podría afectar la legalización de la marihuana los ingresos de los carteles de
las drogas.
Y todavía falta mucho para que el presidente Obama formule una respuesta
coherente a la decisión de los electores en los dos estados.
Pero en medio del aire de secretismo, una cosa parece clara: cuando se
trata de marihuana en las Américas, ya están sembradas las semillas del cambio.
_________
Estadão
18.11.2012
Legalização
tomaria US$ 1,4 bilhão de cartéis, diz estudo
Instituto mexicano diz que perda de receitas dos narcotraficantes seria
maior do que qualquer política repressiva
Os referendos que aprovaram a legalização da maconha nos Estados de
Washington e Colorado, nos EUA, são o início do fim da proibição. É o que
acredita o Instituto Mexicano para a Competitividade (Imco, na sigla em espanhol).
Em estudo publicado recentemente, o instituto estima que os cartéis mexicanos
perderiam cerca de US$ 1,4 bilhão por ano - dos US$ 2 bilhões que faturam
anualmente com o tráfico da maconha- caso a droga seja legal do outro lado da
fronteira.
É claro que, segundo apontam analistas, restaria ainda aos
narcotraficantes o comércio ilegal de cocaína, que rende cerca de US$ 2,4
bilhões por ano, e os cartéis, provavelmente, começariam a explorar outras
atividades ilegais para tentar recuperar as perdas. No entanto, um golpe de US$
1,4 bilhão é muito mais do que a guerra às drogas de Washington jamais
conseguiu.
Acredita-se que de 40% a 70% da maconha consumida nos EUA seja cultivada
no México, país que vem realizando um esforço gigantesco para controlar o tráfico.
Desde 2006, quando o presidente Felipe Calderón, pressionado pelos EUA,
declarou guerra às drogas, cerca de 60 mil pessoas morreram em razão da
violência.
O desastre fez com que muitos no México, incluindo os ex-presidentes
Vicente Fox e Ernesto Zedillo, pedissem uma revisão da política do atual
governo. O presidente eleito, Enrique Peña Nieto, que assume dia 1.º de
dezembro, também mostrou insatisfação, embora tenha prometido manter a
repressão.
Um grupo de líderes latino-americanos declarou esta semana que a
legalização em Washington e Colorado afeta a região. Entre eles estavam
Calderón e os presidentes Porfirio Lobo, de Honduras, Laura Chinchilla, da
Costa Rica, e o premiê de Belize, Dean Barrow. Eles não disseram explicitamente
que relaxariam suas políticas antidrogas, mas deixaram claro que ficou mais
difícil manter a proibição.
Os quatro pediram que a Organização dos Estados Americanos (OEA) estude
o impacto da legalização da maconha e disseram que a Assembleia-Geral da ONU
deveria convocar uma sessão especial sobre o tema.
Há duas semanas, um dos mais próximos assessores de Peña Nieto disse que
seria muito difícil o país manter a proibição de cultivo e tráfico de uma droga
que agora é legal em alguns Estados americanos.
Luis Videgaray, chefe da equipe de transição de Peña Nieto, disse que os
acontecimentos nos EUA "complicam" o compromisso de seu país com o
combate ao narcotráfico. "Obviamente, não podemos lidar com um produto que
é ilegal no México, tentando impedir sua venda para os EUA, quando lá, pelo
menos em parte do país, ele agora tem um status diferente", disse.
A ameaça deve aumentar a pressão para que o presidente Barack Obama faça
cumprir a lei federal americana que ainda proíbe o uso da maconha. Obama,
porém, ainda não definiu como responderá aos referendos em Washington e
Colorado - se tentará impor a proibição ou respeitará a vontade dos eleitores.
"É preciso analisar em profundidade as implicações para as
políticas públicas e para a saúde em nossos países dos movimentos que estão surgindo
em escala local que permitem a produção, o consumo e a distribuição de maconha
em alguns países do continente", disse Calderón, após reunião como Lobo,
Laura e Barrow. "A legalização da maconha por Estados americanos é uma
mudança de paradigma." / AP
______________
FSP 01/07/2012
Cocaína vendida no
Brasil é 'batizada' até com vermífugo.
A Polícia Federal
desvendou o "DNA" das drogas que entram no Brasil. Após sete anos de
trabalho, peritos finalizaram um documento que indica a origem dos
carregamentos de cocaína e crack, o grau de pureza das drogas e o que os
traficantes misturam a elas.
Quando um usuário consome cocaína pode estar ingerindo, por
exemplo, antitérmicos, cafeína, anestésicos e até vermífugos, informa a
reportagem de Fernando Mello, no caderno
"Cotidiano" deste domingo.
Entre 2010 e 2011, a PF apreendeu 51 toneladas de cocaína.
Relatório enviado à Coordenação de Repressão a Drogas --a partir de análise de
amostras das apreensões-- indica que 54,3% da cocaína que entra no país tem
origem na Bolívia; 38% no Peru e 7,5% na Colômbia.
Os peritos procuram pela truxilina, um elemento natural que varia
de acordo com altitude, exposição ao sol e local onde a coca é plantada. A
partir dessa "assinatura" natural é possível saber se a droga é
boliviana, peruana ou colombiana.
O trabalho de laboratório serve para a PF montar sua estratégia da
proteção de fronteiras, estabelecer rotas do tráfico e produzir provas.
Para especialistas, desvendar rotas significa atingir a logística
da distribuição das drogas. "Sabendo por onde sai e por onde chega a
droga, fica mais fácil investigar a rota", diz o coronel José Vicente da
Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública.
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Mitos e Verdades sobre Drogas
________________
FSP 23/02/2012
Enxugando gelo
Hélio Schwartsman
Reportagem de André Caramante publicada
na edição de terça-feira da Folha mostra
que o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) precisaria aumentar em 81% o
número de vagas para presos no Estado de São Paulo para zerar o déficit e
acabar com a superlotação do sistema.
Há hoje 185.447 presos no Estado, para
102.242 vagas. Para resolver o problema, seria preciso construir 93 presídios
com capacidade para 768 detentos (referência padrão em São Paulo), além dos 15
já em obras.
O cálculo é gentil para com o governo,
pois não leva em conta o crescimento da população carcerária, que não é
desprezível. Dados de janeiro deste ano mostram que, para cada 100 pessoas que
deixam as celas, outras 121 entram. Ele também ignora o sempre elevado estoque
de mandados de prisão a executar. Em agosto do ano passado, eles eram 110 mil.
Mesmo lembrando que alguns deles ordenam a captura de pessoas já mortas ou
encarceradas, sobra um montão de gente para pôr atrás das grades.
Não é preciso ser um gênio da logística
para perceber que estamos diante de um problemão. O próprio secretário da
Administração Penitenciária de São Paulo, Lourival Gomes, reconheceu que a
superlotação não será resolvida apenas com a construção de presídios.
O que fazer?
O problema com o direito penal é que ele
mexe com emoções fortes. O ser humano, como todos os animais com algo parecido
com um cérebro, está programado para tentar colocar-se em segurança.
No passado darwiniano, essa atitude
assumia formas como dormir em cavernas, reunir-se em bandos e, principalmente,
fugir do que percebemos como perigos. Muitas das ameaças antigas, como
mastodontes enraivecidos e tigres-dentes-de-sabre à procura de refeições,
desapareceram, mas a urgência emocional de nos pôr a salvo permanece. Ela agora
se volta para problemas mais prementes como o crime.
Morremos de medo de bandidos, mesmo em
lugares onde a chance de sofrer um assalto ou ser vítima de um latrocínio é
significativamente menor do que a de ser atropelado ou sofrer um infarto.
Assim, pressionamos nossos parlamentares por leis mais duras contra o crime,
mas não nos preocupamos em exigir mais faixas de pedestres ou em começar um
programa de exercícios físicos.
O deputado, sensível que é aos anseios
do povo, não pensa duas vezes antes de votar a favor de peças legislativas que
criem novos tipos penais e agravem penas para criminosos, mesmo que as
consequências práticas sejam inócuas ou até contraproducentes.
Um bom exemplo dessa tendência foi a Lei
de Crimes Hediondos (LCH), a 8.072. Aprovada em 1990, ela alongou as sanções
previstas para uma série de delitos considerados especialmente graves, como
homicídio qualificado, tortura, sequestro, estupro, tráfico de drogas,
falsificação de remédios, e estabeleceu limitações ao regime de progressão,
algumas das quais foram depois consideradas inconstitucionais pelo STF.
Na verdade, a LCH nada mais é do que o
catálogo das grandes ocorrências policiais que ganharam as manchetes dos
jornais na década anterior a 1990 e, por isso, foram rapidamente transformadas
em "hediondas" por nossos valorosos parlamentares.
O problema com a LCH é que ela opera uma
simplificação da realidade grosseira demais para funcionar. A criminalidade
brasileira não é nem nunca foi o reflexo de leis e juízes indulgentes.
O buraco é mais embaixo. Nossa coleção
de fracassos começa com uma polícia que simplesmente não funciona. Segundo a
pesquisa Mapas da Violência 2011, de Julio Jacobo Weiselfisz, a polícia
brasileira esclarece apenas 8% dos homicídios que investiga. A título de
comparação, nos EUA e em países europeus, as taxas variam em torno dos 70% ou
80%. Basicamente, por aqui vale a pena resolver uma disputa eliminando a pessoa
que está criando dificuldades. As chances de jamais ser apanhado são bem
maiores que as de sê-lo.
Depois, ainda temos uma Justiça
excessivamente lenta e com claro viés econômico. Nossa população carcerária é
composta quase que exclusivamente de pobres, a grande maioria dos quais negros.
Evidentemente, não são apenas pessoas
com pouco dinheiro e muita melanina que cometem crimes por aqui.
Os absurdos continuam dentro do sistema
carcerário, que dá a impressão de ter sido concebido para converter-se numa
competitiva universidade do crime. São pouquíssimas as chances dadas ao
presidiário de efetivamente encontrar um meio de sobreviver dentro da lei
quando deixar a cadeia.
Mas, voltando ao problema das vagas, a
menos que adotemos a estratégia de ir encarcerando parcelas crescentes da
população --os EUA optaram por essa trilha e não se pode afirmar que tenham
colhido bons resultados--, precisamos antes de mais nada repensar a
oportunidade das penas de privação de liberdade.
Pessoalmente, penso que elas devem ser
reservadas a pessoas que representam uma ameaça física à sociedade, isto é, a
bandidos que se valem de violência. Para os demais casos, aplicaríamos as
chamadas penas alternativas, que incluem multas (às vezes bem pesadas),
restrição de direitos e prestação de serviços.
Em princípio, é fácil concordar com essa
tese. A coisa muda de figura quando se examinam os delitos que deixariam de
gerar penas de prisão. A lista inclui tráfico de drogas, fraude, lavagem de
dinheiro etc.
E, se já é difícil explicar para um
sujeito com genuínas inclinações liberais que é preciso soltar traficantes,
isso se torna quase impossível quando a pessoa a ser persuadida é um político
ou alguém com intuições mais viscerais de Justiça.
Vale aqui lembrar o episódio da demissão
de Pedro Abramovay da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas no ano
passado, por ter sugerido que pequenos vendedores de drogas não fossem
encarcerados, entendimento aliás respaldado pelo STF, que já considerou
constitucional a aplicação de penas alternativas nestes casos. Se apenas emitir
uma tese perfeitamente defensável, mas impopular, já é arriscado num governo
supostamente de esquerda, como seria o do PT, quais não serão os obstáculos
para implementar uma nova política penal?
A questão é complicada porque uma
abordagem mais puramente pragmática e racional contraria os impulsos da maioria
da população. É claro que não dá para defender que as decisões sejam todas
tomadas por bando de especialistas, pouco importando os sentimentos dos
cidadãos. Um direito fundado nestes termos falharia em um de seus propósitos
mais básicos que é o de propiciar às pessoas um ambiente onde se sintam
seguras.
O caminho, portanto, é mais pedregoso. É
preciso introduzir paulatinamente a noção de direito penal mínimo e ampliar as
discussões sobre o tema. A aplicação de novos paradigmas tem algum valor
pedagógico, ou ainda estaríamos esquartejando criminosos e salgando-lhes as
terras.
Não há, porém, como deixar de trilhar
essa rota. Se insistirmos em manter as coisas como estão ou, pior, em agravar
penas, como quer a bancada da bala, a construção de presídios vai se tornar a
principal atividade econômica do país e com poucos resultados concretos na
redução do crime.
___________
O Globo 14.10.2012
Defensores da legalização da maconha não
se elegeram
Com exceção de Renato Cinco (PSOL-RJ),
quem apostou no tema teve votação inexpressiva
SÉRGIO RAMALHO
RIO - O candidato a vereador que baseou a campanha na legalização da
maconha viu a aspiração política se dissipar feito fumaça com a abertura das
urnas. Trocadilhos à parte, a apuração dos votos revelou a rejeição dos
eleitores aos nomes associados à liberação da erva. Com exceção do sociólogo
Renato Cinco (PSOL-RJ), eleito para a Câmara Municipal com 12.498 votos, os
demais candidatos que apostaram no tema tiveram votação inexpressiva.
Foi o que aconteceu com o petista André
Barros, que também disputou uma vaga no Legislativo do Rio, mas obteve apenas
1.823 votos. André é advogado e, assim como Renato, é figura assídua na Marcha
da Maconha. Em Rio das Ostras, a candidata Mel Marquer, também do PSOL,
conquistou apenas 26 sufrágios. Em Nova Iguaçu, Núbio Revoredo (PV) terminou a
apuração com somente 307 votos.
1,5 milhão de consumidores
Fora do estado, o destaque fica para os
candidatos tucanos Mariana Marques e Lucas Oliveira, que disputaram vagas no
Legislativo de Florianópolis (SC) e também tiveram pequena votação: ela
conquistou 216 votos e ele, 1.115. Lucas chegou a usar um boneco, chamado de presidente
THC, numa referência ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, integrante da
Comissão Global de Políticas sobre Drogas. A entidade, que reúne figuras
notáveis de 15 países, elaborou relatório propondo uma nova estratégia de
enfrentamento às drogas.
Se a escolha da bandeira da legalização
visava a atrair os votos dos consumidores — 1,5 milhão de pessoas admitiram
usar a substância diariamente, de acordo com o Levantamento Nacional de Álcool
e Drogas (Lenad), divulgado em agosto pela Universidade Federal de São Paulo —,
a estratégia não deu certo. Em Curitiba, no Paraná, por exemplo, o candidato a
vereador Índio (PSL) conseguiu apenas 513 votos, ficando fora da Câmara da
cidade.
Para o cientista político e pesquisador
da Universidade Federal Fluminense (UFF) Márcio Malta, a votação conquistada
pelo sociólogo Renato Cinco não tem relação com o fato de ele ser um ativista
da Marcha da Maconha. Malta ressalta o momento político vivido pelo Rio, com a
campanha do deputado estadual Marcelo Freixo à sucessão municipal, que atraiu o
eleitorado jovem. O cientista político lembrou ainda que Renato sempre teve
participação política, desde os tempos de escola e universidade, e já concorreu
a outros cargos eletivos antes do último pleito:
— O candidato do PSOL não ficou limitado
ao tema da maconha, que sem dúvida ainda é encarado como tabu pela maioria dos
eleitores.
A socióloga e cientista política da
Fundação Getulio Vargas (FGV) Dulce Pandolfi concorda que Renato Cinco se
beneficiou da onda provocada pela candidatura de Freixo. O que explica o fato
de o petista André Barros não ter sido eleito. Já em cidades como Rio das
Ostras, Nova Iguaçu e em outros estados, Dulce ressalta as diferenças regionais
que refletem nos perfis dos eleitores.
Senado de Porto Rico
começa a discutir nesta semana descriminalização da maconha.
Além dele, outros países
do Caribe analisam a possibilidade de flexibilizar a legislação relativa à
droga.
Agência EFE
O Senado de Porto
Rico começa a discutir na próxima semana a descriminalização, a legalização da
venda e o consumo com fins medicinais da maconha. A ideia tem gerado grande
debate no país nas últimas semanas.
As emissoras de
rádio e televisão vêm abordando o assunto e cada vez mais personalidades locais
reconhecem abertamente ter consumido maconha e pedem flexibilização das leis.
"Vamos deixar
de hipocrisia", disse recentemente Miguel Pereira, senador do partido
governante que apresentou a proposta de descriminalizar a posse de 28 gramas de
uma planta que se acredita que pode ser até mais consumida do que o tabaco na
ilha. Ele foi promotor público por doze anos, chefe da polícia de Porto Rico e
secretário penitenciário.
Porto Rico e outros
países do Caribe começam a discutir a descriminalização da maconha
Nos setores
universitário e empresarial, também surgiram vozes apoiando a iniciativa, com o
argumento de que a penalização do consumo destruiu a carreira estudantil e
profissional de milhares de jovens.
Atualmente, as leis
porto-riquenhas preveem multas de até US$ 5.000 (pouco mais de R$ 11.000) e até
três anos de prisão para quem, “com pleno conhecimento ou intencionalmente,
possuir alguma substância controlada”. A discussão está programada para começar
na terça-feira (17/09).
Jamaica
Além de Porto Rico,
outros países do Caribe analisam a possibilidade de flexibilizar a legislação
relativa à maconha, tanto para reduzir despesas policiais, judiciárias e
penitenciárias, como para aumentar a receita, que poderia ser obtida com
impostos se a substância for vendida legalmente.
Entre eles, estão a
ilha de Santa Lúcia e a Jamaica, um dos principais fornecedores de maconha do
Caribe, onde inclusive existem visitas turísticas guiadas para plantações
ilegais.
Existe na Jamaica
uma forte pressão para regular o comércio de maconha, o que poderia se
transformar em fonte de renda por meio de impostos e turismo, e além disso,
ajudaria a diminuir a corrupção policial e os gastos com uma política
repressiva, argumentam os defensores de mudanças.
O primeiro-ministro
de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, propôs ao chefe de governo de
Trinidad e Tobago, Kamla Persad-Bissessar, que, na qualidade de presidente da
Comunidade do Caribe (Caricom) impulsione um debate sobre a legalização da
venda e consumo de maconha com fins medicinais na região.
Caricom
"Acho que já é
hora da Caricom abordar em nível regional este assunto de uma maneira sensível,
centrada e sem histerismos", afirmou Gonsalves em uma mensagem divulgada
nesta semana. "É certo que o mau uso da maconha e a consequente
penalização de seu cultivo, posse e fornecimento tiveram um impacto na saúde,
riqueza e segurança de nossos povos", acrescentou.
A Caricom é
integrada por Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada,
Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia, São
Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago.
A organização de
integração regional inclusive poderia iniciar os trabalhos preparatórios com
tempo suficiente para incluir o assunto na agenda da cúpula prevista para
fevereiro de 2014, segundo Gonsalves.
Nos Estados Unidos,
Colorado e Washington já permitem o consumo de maconha entre maiores de 21
anos, e outros 18 estados e Washington legalizaram a substância para fins
medicinais ou despenalizaram o consumo em pequenas quantidades.
Outros países que
adotaram medidas semelhantes foram Argentina, Austrália, Bélgica, Canadá,
Chile, Egito, Holanda, México, Portugal e Uruguai.
_____________
Diário Catarinense
19.08.2013
Droga se combate
com educação
João Marcos Buch
Juiz da Vara de Execuções Penais.
AN – O senhor
costuma dizer que o combate às drogas é uma guerra perdida.
Buch - Essa guerra é
perdida. Tem provocado mais mortes do que a própria droga. Tem que haver uma
mudança de eixo. Acabamos de ver o Uruguai fazendo o encaminhamento para a
legalização da maconha, mas não significa que a droga será permitida de uma
forma irrestrita. O Uruguai passará a controlar a produção e o consumo.
Significa que vão acabar com o caos da guerra contra as drogas. A droga se
combate com educação e saúde. Do contrário, continuaremos vivendo num caos. E a
prova disso é que o número de prisões tem aumentado. O Brasil, desde a Lei dos
Crimes Hediondos, nessa linha de punir cada vez mais, tem mostrado um
crescimento impressionante da massa carcerária. São mais de 500 mil. Se
continuarmos assim, chegaremos em 2020 com um milhão de encarcerados.
AN - É possível
obter efeito positivo nas penas restritivas?
Buch - Muitas
pessoas que vão presas já sentaram na minha frente, chorando, dizendo “por
favor, eu preciso, eu quero um tratamento. Não aguento mais a minha vida do
jeito que está.” E muitas vezes já conseguimos esse encaminhamento ao Caps ad,
por exemplo.
AN - O senhor
consegue visualizar uma solução para o tráfico?
Buch - Dentro da
nossa realidade, não há muita solução. A Justiça, o Ministério Público e a
polícia devem compreender que a lei precisa ser aplicada conforme os princípios
constitucionais e tentar fazer com que vá para a cadeia apenas o traficante.
Tentar fazer com que, numa interpretação constitucional, diminua o número de
pessoas que vão para a prisão. Fora isso, campanhas educativas voltadas aos
adolescentes. Oferecer alternativas de esporte e lazer. Se eles têm
oportunidade de praticar esportes, música, não vão para o caminho das drogas.
_____Maconha é encontrada em vasos públicos no País de Gales
Mais de vinte plantas
de maconha foram encontradas no centro de Newport, no País de Gales, em seis
vasos públicos da cidade. As plantas foram descobertas por comerciantes locais,
que tiraram fotos da planta e as descreveram como “bonitas e que se destacavam
maravilhosamente” (tradução livre).
Depois, o jornal
Wales Online foi ao local e comprovou que as plantas de maconha tinham crescido
e se espalhado. Até agora existem três teorias para o nascimento da cannabis:
sementes oriundas da compostagem da terra, pássaros ou uma pegadinha
adolescente.
Algumas pessoas
chegaram a acusar o rapper Goldie
Lookin Chain que, por coincidência, tinha acabado de lançar um novo
álbum. Ele é conhecido por suas suas sátiras, mas disse não ter culpa do caso e
lembrou; “Não usem drogas, crianças”.
O local tem alta
movimentação e fica a menos de 3km da principal delegacia de polícia da cidade.
_____________
Opera Mundi 28.08.2013
Sem tempo para
sonhar: EUA têm mais negros na prisão hoje do que escravos no século XIX
No dia histórico do
discurso “eu tenho um sonho”, de Martin Luther King, panorama social é
dramático aos afrodescendentes norte-americanos.
Dodô Calixto
O presidente
norte-americano, Barack Obama, participa nesta quarta-feira (28/08) em
Washington de evento comemorativo pelo aniversário de 50 anos do emblemático
discurso “Eu tenho um Sonho”, de Martin Luther King Jr. - considerado um marco
da igualdade de direitos civis aos afro-americanos. Enquanto isso, entre becos
e vielas dos EUA, os negros não vão ter muitos motivos para celebrar ou
"sonhar com a esperança", como bradou Luther King em 1963.
De acordo com
sociólogos e especialistas em estudos das camadas populares na América do
Norte, os índices sociais - que incluem emprego, saúde e educação - entre os
afrodescendentes norte-americanos são os piores em 25 anos. Por exemplo, um
homem negro que não concluiu os estudos tem mais chances de ir para prisão do
que conseguir uma vaga no mercado de trabalho. Uma criança negra tem hoje menos
chances de ser criada pelos seus pais que um filho de escravos no século XIX. E
o dado mais assombroso: há mais negros na prisão atualmente do que escravos nos
EUA em 1850, de acordo com estudo da socióloga da Universidade de Ohio,
Michelle Alexander.
“Negar a cidadania aos negros norte-americanos
foi a marca da construção dos EUA. Centenas de anos mais tarde, ainda não temos
uma democracia igualitária. Os argumentos e racionalizações que foram pregadas
em apoio da exclusão racial e da discriminação em suas várias formas mudaram e
evoluíram, mas o resultado se manteve praticamente o mesmo da época da
escravidão”, argumenta Alexander em seu livro The New Jim Crow.
No dia em que
médicos brasileiros chamaram médicos cubanos de “escravos”, a situação real,
comprovada por estudos de institutos como o centro de pesquisas sociais da
Universidade de Oxford e o African American Reference Sources, mostra que os
EUA têm mais características que lembram uma senzala aos afrodescendentes que
qualquer outro país do mundo.
Em entrevista a
Opera Mundi, a professora da Universidade de Washington e autora do livro
“Invisible Men: Mass Incarceration and the Myth of Black Progress”, Becky
Pettit,argumenta que os progressos sociais alcançados pelos negros nas últimas
décadas são muito pequenos quando comparados à sociedade norte-americana como
um todo. É a “estagnação social” que acaba trazendo as comparações com a época
da escravidão.
“Quando Obama assumiu a Presidência, alguns
jornalistas falaram em “sociedade pós-racial” com a ascensão do primeiro
presidente negro. Veja bem, eles falaram na ocasião do sucesso profissional do
presidente como exemplo que existem hoje mais afrodescendentes nas
universidades e em melhores condições sociais. No entanto, esqueceram de dizer
que a maioria esmagadora da população carcerária dos EUA é negra. Quando se
realizam pesquisas sobre o aumento do número de jovens negros em melhores
condições de vida se esquece que mais que dobrou o número de presos e mortos
diariamente. Esses não entram na conta dos centros de pesquisas governamentais,
promovendo o “mito do progresso entre nos negros”, argumenta.
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Cultura Verde 14.08.2013
Wallstreet e a lavagem internacional de dinheiro do narcotráfico
“A política dos EUA para o México é um
pesadelo. Ela minou a soberania mexicana, corrompeu o sistema político e
militarizou o país. Obteve também como resultado a morte violenta de milhares
de civis, pobres em sua maioria. Mas Washington não está nenhum pouco
preocupado com os “danos colaterais”, desde que possa vender mais armas,
fortalecer seu regime de livre comércio e lavar mais lucros das drogas em seus
grandes bancos. Os principais bancos dos EUA se tornaram sócios financeiros
ativos dos cartéis assassinos da droga. A guerra contra as drogas é uma fraude.
Ela não tem a ver com proibição, mas sim com controle.”
Mike Whitney – SinPermiso
Imagine qual seria sua reação se o governo mexicano
decidisse pagar 1,4 milhões de dólares a Barack Obama para usar tropas
norte-americanas e veículos blindados em operações militares em Nova York, Los
Angeles e Chicago, estabelecendo postos de controle, e elas acabassem se
envolvendo em tiroteios que resultassem na morte de 35 mil civis nas ruas de
cidades norte-americanas. Se o governo mexicano tratassem assim os Estados
Unidos, vocês o considerariam amigo ou inimigo? Pois é exatamente assim que os
EUA vêm tratando o México desde 2006.
A política dos EUA para o México – a Iniciativa
Mérida – é um pesadelo. Ela minou a soberania mexicana, corrompeu o sistema
político e militarizou o país. Obteve também como resultado a morte violenta de
milhares de civis, pobres em sua maioria. Mas Washington não está nenhum pouco
preocupado com os “danos colaterais”, desde que possa vender mais armas,
fortalecer seu regime de livre comércio e lavar mais lucros das drogas em seus
grandes bancos. É tudo muito lindo.
Há alguma razão para dignificar essa carnificina
chamando-a de “Guerra contra as drogas”?
Não faz nenhum sentido. O que vemos é uma
oportunidade descomunal de empoderamento por parte das grandes empresas, das
altas finanças e dos serviços de inteligência norteamericanos. E Obama segue
meramente fazendo seu leilão, razão pela qual – não é de surpreender – as
coisas ficaram tão ruins sob sua administração. Obama não só incrementou o
financiamento do Plano México (conhecido como Mérida), como deslocou mais
agentes norteamericanos para trabalharem em segredo enquanto aviões não
tripulados realizam trabalhos de vigilância. Deu para ter uma ideia do cenário?
Não se trata de uma pequena operação de apreensão
de drogas, é outro capítulo da guerra norteamericana contra a civilização. Vale
lembrar uma passagem de um artigo de Laura Carlsen, publicado no Counterpunch,
que nos mostra um elemento de fundo:
“A guerra contra as
drogas converteu-se no veículo principal de militarização da América Latina. Um
veículo financiado e impulsionado pelo governo norteamericano e alimentado por
uma combinação de falsa moral, hipocrisia e muito de temor duro e frio. A
chamada “guerra contra as drogas” constitui, na realidade, uma guerra contra o
povo, sobretudo contra os jovens, as mulheres, os povos indígenas e os
dissidentes. A guerra contra as drogas se converteu na forma principal do
Pentágono ocupar e controlar países à custa de sociedades inteiras e de muitas,
muitas vidas”.
“A militarização em nome da guerra contra as drogas
está ocorrendo mais rápida e conscienciosamente do que a maioria de nós
provavelmente imaginou com a administração de Obama. O acordo para estabelecer
bases na Colômbia, posteriormente suspenso, mostrou um dos sinais da
estratégia. E já vimos a extensão indefinida da Iniciativa de Mérida no México
e América Central, incluindo, tristemente, os navios de guerra enviados a Costa
Rica, uma nação com uma história de paz e sem exército…”
“A Iniciativa de Mérida financia interesses
norteamericanos para treinar forças de segurança, proporciona inteligência e
tecnologia bélica, aconselha sobre as reformas do Judiciário, do sistema penal
e a promoção dos direitos humanos, tudo isso no México” (“The Drug War Can’t Be
Improved Only be Ended” – “A Guerra contra as drogas não pode ser melhorada, só
terminada”, Laura Carlsen, Counterpunch)
A impressão que dá é que Obama está fazendo tudo o
que pode para converter o México em uma ditadura militar, pois é exatamente
isso o que ele está fazendo. O Plano México é uma farsa que esconde os
verdadeiros motivos do governo, que consiste em assegurar-se de que os lucros
do tráfico de drogas acabem nos bolsos das pessoas adequadas. É disso que se
trata: de muitíssimo dinheiro. E é por isso que o número de vítimas disparou,
enquanto a credibilidade do governo mexicano caiu como nunca em décadas. A
política norteamericana converteu grandes extensões do país em campos de morte
e a situação não para de piorar.
Veja-se esta entrevista com Charles Bowden, que
descreve como é a vida das pessoas que vivem na Zona Zero da guerra das drogas
no México, Ciudad Juárez:
“Isso ocorre em uma
cidade onde muita gente vive em caixas de papelão. No último ano, dez mil
negócios encerraram suas atividades. De 30 a 60 mil pessoas, sobretudo os
ricos, mudaram-se para El Paso, no outro lado do rio, por razões de segurança.
Entre eles, o prefeito de Juárez, que prefere ir dormir em El Paso. O editor do
diário local também vive em El Paso. Entre 100 e 400 mil pessoas simplesmente
saíram da cidade. Boa parte do problema é econômico. Não se trata simplesmente
da violência. Durante esta recessão desapareceram pelo menos 100 mil empregos
das empresas fronteiriças devido à competição asiática. As estimativas são de
que há entre 500 e 900 bandos de delinquentes”.
Há 10 mil soldados das tropas federais e agentes da
Polícia Federal vagando por ali. É uma cidade onde ninguém sai à noite, na qual
todos os pequenos negócios pagam extorsão, onde foram roubados oficialmente 20
mil automóveis no ano passado e assassinadas 2.600 pessoas no mesmo período. É
uma cidade onde ninguém segue o rastro das pessoas que foram sequestradas e não
reaparecem, onde ninguém conta as pessoas enterradas em cemitérios secretos
onde, de forma indecorosa, volta e meia aparecem alguns corpos em meio a alguma
escavação. O que temos é um desastre e um milhão de pessoas que são muito
pobres para poder ir embora. A cidade é isso”. (Charles Bowden, Democracy Now)
Isso não tem a ver com as drogas; trata-se de uma
política externa louca que apoia exércitos por delegação para impor a ordem por
meio da repressão e militarização do Estado policial. Trata-se de expandir o
poder norte-americano e de engordar os lucros de Wall Street. Vejamos mais
alguns dados de fundo proporcionados por Lawrence M. Vance, na Future of Freedom Foundation:
“Um número não revelado
de agentes da lei norteamericanos trabalha no México (…) A DEA tem mais de 60
agentes no México. A esses se somam os 40 agentes de Imigração e Aduanas, 20
auxiliares do Serviço de Comissários de Polícia e 18 agentes da Agência de
Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, mais os agentes do FBI, do Serviço
de Cidadãos e Imigração, Aduana e Proteção de Fronteiras, Serviço Secreto,
guarda-costas e Agência de Segurança no Transporte. O Departamento de Estado
mantém também uma Seção de Assuntos de Narcóticos. Os EUA também forneceram
helicópteros, cães farejadores de drogas e unidades de polígrafos para examinar
os candidatos a trabalhar em organismos de aplicação das leis”.
“Os aviões não tripulados norteamericanos espionam
os esconderijos dos carteis e os sinais rastreadores norte-americanos localizam
com exatidão os carros e telefones dos suspeitos. Agentes norteamericanos
seguem os rastros, localizam chamadas telefônicas, leem correios eletrônicos,
estudam padrões de comportamento, seguem rotas de contrabando e processam dados
sobre traficantes de drogas, responsáveis pela lavagem de dinheiro e chefes dos
cartéis. De acordo com um antigo agente anti-droga mexicano, os agentes
norteamericanos não estão limitados em suas escutas no México pelas leis dos
EUA, desde que não se encontrem em território norteamericano e não grampeiem
cidadãos norteamericanos. (“Why Is the U.S. Fighting Mexico’s Drug War?”, “Por
que os EUA travam a guerra contra as drogas no México?”, Laurence M. Vance, The
Future of Freedom Foundation).
Isso não é política externa, mas sim outra ocupação
norteamericana. E adivinhem quem enche os cofres com essa pequena fraude
sórdida? Wall Street. Os grandes bancos ficam com sua parte como sempre fazem.
Vejamos essa passagem de um artigo de James Petras intitulado “How Drug profits saved Capitalism” (“Como
os lucros das drogas salvaram o capitalismo”, publicado em Global Research). É
um estupendo resumo dos objetivos que estão configurando essa política:
“Enquanto o Pentágono
arma o governo mexicana e a DEA (Drug Enforcement Agency, a agência anti-droga
dos EUA) põe em prática a “solução militar”, os maiores bancos dos EUA recebem,
lavam e transferem centenas de bilhões de dólares nas contas dos senhores da
droga que, com esse dinheiro, compram armas modernas, pagam exércitos privados
de assassinos e corrompem um número indeterminado de funcionários encarregados
de fazer cumprir a lei de ambos os lados da fronteira…”
“Os lucros da droga, no sentido mais básico, são
assegurados mediante a capacidade dos carteis de lavar e transferir bilhões de
dólares para o sistema bancário norteamericano. A escala e a envergadura da
aliança entre a banca norteamericana e os carteis da droga ultrapassa qualquer
outra atividade do sistema financeiro privado norteamericano. De acordo com os
registros do Departamento de Justiça dos EUA, só um banco, o Wachovia Bank
(propriedade hoje de Wells Fargo), lavou 378.300 milhões de dólares entre 1° de
maio de 2004 e 31 de maio de 2007 (The Guardian, 11 de maio de 2011). Todos os
principais bancos dos EUA tornaram-se sócios financeiros ativos dos cartéis
assassinos da droga”.
“Se os principais bancos norteamericanos são os
instrumentos financeiros que permitem os impérios multimilionários da droga
operar, a Casa Branca, o Congresso dos EUA e os organismos de aplicação das
leis são os protetores essenciais destes bancos (…) A lavagem de dinheiro da
droga é uma das fontes mais lucrativas de lucros para Wall Street. Os bancos
cobram gordas comissões pela transferência dos lucros da droga que, por sua
vez, emprestam a instituições de crédito a taxas de juros muito superiores às
que pagam – se é que pagam – aos depositantes dos traficantes de drogas.
Inundados pelos lucros das drogas já desinfetados
esses titãs norteamericanos das finanças mundiais podem comprar facilmente os
funcionários eleitos para que perpetuem o sistema”. (“How Drug Profits saved Capitalism,
James Petras, Global Research).
Vamos repetir: “Todos os principais bancos dos EUA
se tornaram sócios financeiros ativos dos cartéis assassinos da droga”.
A guerra contra as drogas é uma fraude. Ela não tem
a ver com proibição, mas sim com controle. Washington emprega a força para que
os bancos possam garantir um bom lucro. Uma mão lava a outra, como ocorre com a
Máfia.
(*) Mike Whitney é um analista político
independente que vive no estado de Washington e colabora regularmente com a
revista norte americana CounterPunch.
Tradução: Katarina
Peixoto
______________
Valor Econômico 08/08/2013
México também debate a legalização da maconha
O Uruguai não é o único país latino-americano que
pode legalizar a maconha. Nas últimas semanas tem se intensificado no México o
debate em torno da droga. O Partido da Revolução Democrática (PRD) pretende
apresentar um projeto em setembro na Assembleia do Distrito Federal, onde tem
maioria, para regulamentar o uso da maconha na capital do país.
A iniciativa do PRD no Distrito Federal toma como
modelo alguns Estados americanos, como o Colorado, que legalizaram a droga no
âmbito regional. Em nível federal, um deputado do partido, Fernando
Belaunzarán, prepara um projeto para ser apresentado ao Congresso. A proposta
de Belaunzarán tem o objetivo de regulamentar a produção, distribuição e venda
da maconha, e de criar um sistema de arrecadação de impostos - o dinheiro seria
usado em um programa de prevenção de dependência da droga.
O prefeito da Cidade do México, Miguel Ángel
Mancera, que não tem partido, afirmou que se trata de uma questão da esfera
federal, mas que pretende estimular o debate sobre o assunto e que a prefeitura
pode atuar apresentando propostas de tratamento e de ações de prevenção.
O presidente do Tribunal Superior de Justiça do
Distrito Federal, Edgar Elías Azar, se manifestou contra o projeto do PRD. Azar
disse que, além de se tratar de um tema de responsabilidade do Congresso, a
descriminalização da maconha seria "muito arriscada".
Um dos principais defensores da legalização da
maconha no México é o ex-presidente Vicente Fox (2000-2006). No mês passado, ao
participar de um fórum sobre o tema, Fox advogou a mudança da lei afirmando que
o seu sucessor, Felipe Calderón, "embarcou o país em uma guerra
sanguinária", ao empreender em seu mandato uma ofensiva contra os cartéis
de narcotraficantes que, segundo as estatísticas oficiais, resultou na morte de
mais de 70 mil pessoas.
Na semana passada, a Câmara dos Deputados do
Uruguai aprovou lei que legaliza a maconha no país - a medida ainda tem que ser
votada no Senado, onde o governo, que patrocinou o projeto, tem maioria.
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Yahoo! 26.07.2013
Em protesto, jovens
plantam maconha em uma cidade inteira
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Mudas crescem por toda a cidade. |
Como parte de um
protesto pela revisão das leis relativas às drogas na Alemanha, um grupo
entitulado como A Few Autonomous Flower Children (na tradução livre, Algumas
Crianças Autônomas da Planta) plantou quilos de sementes de maconha na cidade
de Göttingen.
A "plantação"
das sementes aconteceu ainda em junho, quando o grupo se dividiu e espalhou
quilos da erva pela cidade. Agora, com o passar do tempo, centenas de plantas
têm florescido ao longo das ruas.
"Não podemos
ver pelas ruas essa planta bonita e útil por conta das severas leis da
Alemanha", anunciou o grupo em um comunicado após as sementes terem
florescido.
A polícia local está
trabalhando no caso e identificando pessoas por meio do site oficial do
movimento. Agentes também têm a tarefa de destruir todas as plantas de maconha
que encontrarem pela cidade.
O grupo responsável
pelo plantio das sementes faz parte da ala Green Youth (Juventude Verde, na
tradução), que por sua vez é comandada pelo movimento Green Party (Festa Verde,
na tradução), que luta pela legalização da maconha.
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O Globo 20.07.2013
Legalização da maconha no Colorado cria novos negócios com potencial
bilionário.
Grandes cidades como
Denver e Colorado Springs vivem um boom de ‘cannabis’
Flávia Barbosa
Washington - Ryan Loflin, 40 anos, é a terceira
geração de uma família de agricultores de Springfield, Colorado, que planta
desde a década de 1920 quase 6 mil hectares de alfafa todos os anos. Em 2013,
porém, serão cerca de 5.400. O resto está sendo reservado para a primeira
plantação comercial de cânhamo (maconha com quantidade residual de THC, o
princípio ativo entorpecente) em 60 anos nos EUA. Ela foi possibilitada pela
legalização do uso recreativo da maconha no Colorado, decidida em novembro do
ano passado em plebiscito histórico. Ecos da decisão estão por toda a parte —
nas grandes cidades do estado e além de suas fronteiras. Só no primeiro
semestre deste ano, 32 dos 50 estados americanos discutiram algum tipo de
flexibilização da legislação sobre a droga, que continua banida no plano
federal.
Grandes cidades como Denver e Colorado Springs
vivem um boom da maconha, com o cultivo particular de plantas, a criação de
cursos de jardinagem com dicas para ser seu autofornecedor, o surgimento demarijuana
clubs, onde adultos se reúnem para fumar, serviço de entrega noturna da
erva para uso medicinal e a expectativa de arrecadação de impostos com a
abertura das lojas que venderão a droga a partir de 1º de janeiro de 2014.
Loflin é parte do primeiro elo desta nova cadeia
econômica que brota nos EUA. O cânhamo é matéria-prima para roupas, calçados,
utensílios, cosméticos e alimentos, numa indústria incipiente nos EUA de
estimados US$ 500 milhões. Mas com potencial para a casa dos bilhões de
dólares.
— O que tenho em mente definitivamente é um hempire —
brinca o agricultor, unindo as palavras hemp (cânhamo) e empire (império).
Da jardinagem à
universidade
Com a Rocky Mountain Hemp, que fundou com um sócio,
plantou os primeiros 60 hectares em maio. No mês passado, adicionou outros 70
hectares. Também está investindo no processamento das sementes, com múltiplos
objetivos, desde separação da fibra até extração de óleo.
— Em breve, será senso comum, não tem sentido a
proibição nacional da plantação de cânhamo. O impacto ambiental, por exemplo, é
menor do que o do algodão, que consome 50% da irrigação agrícola nos EUA. E,
enquanto posso fazer US$ 900 por hectare com cânhamo, o trigo rende US$ 140 —
diz Loflin.
Como plantador de sua própria cannabis para
uso recreativo, ele ajuda também a girar o segundo elo desta cadeia: o
comércio. A nova legislação do Colorado libera o cultivo em casa de seis
plantas por consumidor maior de 21 anos, e as lojas de jardinagem que
enxergaram o novo mercado já estão acumulando lucro.
Entre equipamentos (como luz para locais fechados),
sementes e material, pode-se gastar entre US$ 150 e US$ 500 para produzir 450
gramas de maconha a cada 12 semanas. A variação do preço explica-se pela
quantidade de produtos novos que chegam ao mercado, como potencializadores de
sementes e adubos turbinados, afirma Ted Smith, gerente-geral da The Grow
Store, uma das grandes varejistas do gênero na região metropolitana de Denver.
— A aprovação da lei retirou o estigma de fumar
maconha. Não são jovens ávidos por drogas que têm nos procurado, e sim casais,
gente de meia-idade, aposentados. Há dinheiro a ser feito com a maconha, sem
distúrbio à sociedade — defende Smith.
Ele também foi convidado a orientar interessados no
autofornecimento na THC University, que abriu as portas assim que a Emenda 64,
que legalizou a maconha, passou pelo crivo dos eleitores. O objetivo é treinar
no cultivo, mas também abrir as portas para que os alunos transformem a
recreação em negócio.
Um dos cursos básicos, de cinco aulas de duas horas
cada (US$ 500 o presencial no campus de Denver e US$ 200 online), ensina as
melhores técnicas de cultivo e de identificação de sabores e tipos, como
extrair e preparar derivados, fabricar haxixe e “cozinhar como Martha Stewart”,
a Ana Maria Braga americana, na preparação de bolos e biscoitos de cannabis.
— E temos a oportunidade de educar as pessoas,
ensinando todos os aspectos e restrições legais. Até um dos principais
advogados da causa da legalização dá palestra — relata Smith.
Este comércio só tende a aumentar com a abertura
das lojas onde as pessoas poderão comprar maconha para uso recreativo, em 2014.
E a expectativa é grande com a arrecadação que o mercado vai gerar. Os armazéns
que vendem a droga para o uso medicinal — 300 abertos desde 2000 na Grande
Denver, mais do que franquias do Starbucks — ajudaram a levantar US$ 5 milhões
em 2012 aos cofres estaduais.
A legalização geral multiplica por mais de 20 este
número, prevê o Centro Futuros da Universidade Estadual do Colorado. A
regulamentação aprovada no fim de maio estabelece três impostos sobre a
maconha: 15% no atacado (que serão destinados à construção de escolas), 10% no
varejo e mais 2,9% do ICMS normal.
Os economistas Charles Brown e Phyllis Resnick
projetaram ao menos 642 mil consumidores de maconha em 2014, girando um mercado
de US$ 605,7 milhões. Isso permitiria ao erário recolher US$ 130,1 milhões em
impostos. Atualmente, o Colorado tem 109 mil portadores do cartão que dá acesso
à maconha medicinal.
Gastos com prevenção
Mas os autores das projeções alertam: os números
deverão cair após os primeiros anos e os gastos com programas de prevenção
associados vão crescer. Art Way, diretor da Drug Policy Alliance (um dos
maiores grupos de defesa da legalização e de políticas não repressivas) afirma
que estes mesmos programas fazem do Colorado um destaque no cenário americano.
Além da liberação do uso recreativo, nos últimos
dois anos o estado legalizou programas de distribuição de seringas, lançou uma
versão mais abrangente do programa de prevenção de overdose, reviu a política
de punição para portadores de maconha — substituindo prisão por trabalhos
comunitários e tratamento — e reformou a lei de acesso à maconha medicinal.
— O Colorado é hoje o epicentro da reforma da
política de drogas nos EUA — afirma Art Way.
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O Globo 17.07.2013
Ainda a tempo de
evitar a desastrosa lei antidroga
O Senado deveria
parar o furor na aprovação de projetos e, diante deste, fazer um balanço frio e
sério da atual política de combate ao tráfico apenas pela via da repressão.
editorial
Incluído na
“agenda positiva” do Congresso, criada pelo presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), sob pressão das ruas, projeto de lei aprovado na Câmara
para alterar a legislação antidrogas está no lugar errado — porque ele nada tem
de positivo. Um dos equívocos do projeto, agora no Senado, é inverter a
tendência de descriminalização do consumo de drogas, o envio de usuários para
tratamento de saúde e não aos presídios.
Ao aumentar a pena
por tráfico de cinco para oito anos de detenção, sem que esteja tipificada a
diferenciação entre traficante e usuário, a nova lei aumenta a possibilidade de
dependentes serem trancafiados e, devido ao tamanho da pena, terem de cumpri-la
em regime fechado. Caso o Senado a aprove em definitivo, o Estado brasileiro
cometerá, em maiores proporções, o crime social de forçar o convívio de
viciados — que às vezes praticam o pequeno tráfico para sustentar o vício — com
traficantes pós-graduados, prontos para aliciar dependentes e jogá-los, aí sim,
na criminalidade sem volta. Na edição de segunda, O GLOBO trouxe estatísticas
eloquentes sobre este enorme drama: nos últimos dois anos — portanto, ainda sem
a nova e draconiana legislação —, o número de condenados por tráfico cresceu
30%, três vezes mais que o da população carcerária total, no período. Segundo
os último dados, 25% dos presidiários — 138.198 de 548.003 — já são de
“traficantes”. A proporção só tende a crescer. Mais grave: 90% deles são
pequenos traficantes, informa o juiz Luís Lanfredi, de São Paulo, do Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). Menos de 10 % dos
condenados podem ser considerados grandes intermediários de drogas.
E se todo este
enorme e constante arrastão de encarceramento reduzisse o consumo de drogas e o
contingente de viciados, podia-se admitir o êxito da política. Mas não é o
caso. A curva das prisões continuará apontada para o alto, e o problema em si
da droga persistirá nas atuais dimensões — ou piores, como é mais provável.
Publicado na
edição de ontem, artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escrito para
o GDA (Grupo de Diários das Américas), do qual O GLOBO faz parte, elogia a
decisão do Uruguai de regular o uso da maconha, como em muitos lugares do
mundo. Presidente da Comissão Global de Política sobre Drogas, FH pergunta
quanto do dinheiro envolvido na droga no país vizinho, e que deixará de ir para
o tráfico, é usado para corromper forças de segurança. Para ilustrar, na
segunda-feira, em São Paulo, o xerife antidrogas do estado, delegado Clemente
Castilhone Júnior, foi preso, junto com seis agentes do departamento de
repressão ao narcotráfico, por receber alta propina de traficantes. Que estão
soltos, claro. O Senado deveria refrear o furor na aprovação de projetos para,
diante deste, fazer um balanço sério e frio da política de enfrentamento das
drogas apenas pela via da repressão policial, em que os figurões do crime
compram a liberdade e usuários entram nas estatísticas como “traficantes”.
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UOL 29/05/2013
Contra o tráfico,
investigar bancos é mais importante do que aumentar penas, dizem especialistas.
Gil Alessi
O aumento da pena
mínima para traficantes de drogas de cinco para oito anos, aprovado na
terça-feira (28) pela Câmara dos Deputados, não resolve o problema do crime
organizado, que depende da conivência de "paraísos fiscais e instituições
financeiras" para prosperar, segundo especialistas. O texto, que agora
segue para o Senado, enquadra criminosos que chefiem um grupo de quatro ou mais
pessoas.
"É um projeto
populista, que não resolve o problema estrutural do crime. O crime organizado
se combate com inteligência, e não apenas aumentando penas", diz Martim
Sampaio, coordenador da comissão de Direitos Humanos da OAB-SP (Ordem dos
Advogados do Brasil).
"O tráfico é
uma pirâmide: na base estão os soldados, 'aviõezinhos' e pequenos vendedores de
rua, e é nesta faixa que são feitas as prisões. Agora quem empresta dinheiro ao
tráfico? Quem lava o dinheiro da venda de drogas?".
Para Martim, as
instituições financeiras são "peça chave" no tráfico de drogas em
todos os países do mundo, e atacar o crime organizado sem combater lavagem de
dinheiro e o envolvimento de políticos e paraísos fiscais no processo é
'enxugar gelo'.
"O atacadista
que vende drogas movimenta grandes somas de dinheiro, que passam pelos bancos.
O topo da pirâmide é que precisa ser atacada para que se solucione o
problema".
O advogado Rafael
Custodio, coordenador de Justiça da Conectas Direitos Humanos, afirma que
"não dá para imaginar que o traficante que está na favela seja último elo
do crime organizado. Sabemos que acima dele existem outros envolvidos que não
moram nas comunidades. O dinheiro da venda de drogas não fica na favela, vai
para outro lugar: o traficante injeta o dinheiro sujo na economia lícita, e por
isso é necessário que a polícia rastreie essas quantias e investigue onde ele
está sendo lavado".
OPINIÃO
As drogas e a guerra
perdida
É provável que
endurecimento de pena não reduza tráfico
"Essa ideia de
que aumentar penas ou criminalizar condutas ajuda no combate ao tráfico já se
mostrou fracassada. A lei que está sendo modificada é de 2006, e já havia
aumentado muito as penas. Nem por isso o tráfico diminuiu".
Segundo Rafael
Galati Sábio, defensor público e integrante do Núcleo de Cidadania e Direitos
Humanos da Defensoria Pública do Estado de SP, "o aumento da pena não
terá efeito no tráfico, já que a questão das drogas é mais ampla. O
traficante deve ser preso, processado e condenado. Mas o que se vê é a
inexistência de investigações policiais. Geralmente as prisões são todas em
flagrante, envolvendo pequenos traficantes que são repostos facilmente no
mercado do tráfico".
O deputado Osmar
Terra (PMDB-RS), autor do projeto, afirma que "existem apenas dois
caminhos para se combater o tráfico: o aumento do rigor no enfrentamento às
drogas, o que nunca foi feito pelo Estado, ou liberar".
"Queremos
diminuir o número de doentes, usuários e viciados, e para isso é preciso
enfrentar o traficante. Eu sou a favor da prisão do pequeno traficante",
diz.
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R7 14/1/2013
Comissão britânica
defende descriminalização do uso de todas as drogas.
A comissão acredita
que as sanções criminais não evitam que os usuários se
tornem dependentes.
Reprodução BBC
A comissão acredita
que as sanções criminais não evitam que os usuários se tornem dependentes e só
marginalizam os usuários.
Um relatório de uma
comissão da Câmara dos Lordes (Câmara alta do parlamento) da Grã-Bretanha
recomendou que a posse e o uso de todas as drogas ilegais sejam
descriminalizados no país.
Segundo o documento
do Grupo Suprapartidário para a Reforma da Política sobre Drogas (APPG, na
sigla em inglês), as substâncias menos prejudiciais devem ser regulamentadas e
vendidas em lojas licenciadas, com rótulos detalhando os riscos.
A comissão acredita
que as sanções criminais não evitam que os usuários se tornem dependentes e só
marginalizam os usuários.
Primeiro filho de
príncipe William e Kate Middleton nascerá em julho
O APPG colheu dados
e ouviu conselhos de 31 especialistas e organizações, incluindo a Associação
Britânica dos Delegados de Polícia e o Conselho Consultivo sobre Abuso de
Drogas.
"Relativamente
seguros"
O relatório defende
que usuários flagrados com uma pequena quantidade de qualquer droga não sejam
penalizados, mas que a venda das substâncias mais perigosas permaneça proibida.
Segundo a presidente
do grupo, Molly Meacher, a atual Lei sobre Uso de Drogas, de 1971, "é
contraproducente na tentativa de reduzir a dependência e os danos de drogas
para os jovens". "O que estamos dizendo é que há uma grande
quantidade de drogas mais seguras do que o álcool e o tabaco".
"No momento, 60
milhões de comprimidos de ecstasy são vendidos a cada ano para os jovens, todos
por meio de gangues de criminosos e traficantes."
"Se os jovens
vão comprar essas coisas, não é melhor que eles saibam exatamente o que estão
comprando? Vamos garantir que não estarão usando substâncias contaminadas,
porque serão fornecidas por meio de canais legais. E os jovens vão de fato
estar relativamente seguros", explicou.
Em apoio à
descriminalização do uso de todas as drogas, o relatório faz referência ao
modelo de Portugal, onde houve uma queda no número de jovens viciados a partir
da mudança na legislação.
"Alguns jovens
sempre vão querer experimentar e eles estão correndo risco real se apenas
puderem comprar drogas menos nocivas de traficantes, que vão sempre querer
empurrar substâncias mais fortes. Os traficantes também têm um claro incentivo
(na proibição) para adulterar o seu produto e aumentar seus lucros", disse
o APPG.
Política eficiente
Um porta-voz do
Ministério do Interior britânico agradeceu ao APPG pelo relatório e disse que
as recomendações serão consideradas.
No entanto, um
recente pedido feito por deputados para a formação de uma comissão para avaliar
a descriminalização das drogas foi rejeitado pelo primeiro-ministro, David
Cameron, para quem a política atual, está funcionando.
Os números oficiais
mostram que o uso de drogas na Inglaterra e no País de Gales está em seu nível
mais baixo desde 1996.
"O Reino Unido
está liderando o caminho para reprimir novas substâncias psicoactivas, ou
'drogas legais'. Nós publicamos o Plano de Ação no ano passado e introduzimos
classificações temporárias de drogas, para que possamos agir rapidamente e
proibir drogas legais emergentes", disse um porta-voz do Ministério do
Interior.
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O Dia 18.12.2012
Secretário de Saúde
quer legalização das drogas
Sérgio Côrtes
levanta dúvidas sobre a eficácia da atual política de criminalização do usuário
e pede debate imediato
Caio Barbosa
Rio - A legalização
do uso de drogas ganhou um reforço de peso nesta segunda-feira no Rio. O
secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, defendeu o fim da proibição em um
seminário internacional sobre drogas realizado na Fiocruz.
“Já passou da hora de mudar isso”, disse
Côrtes ao DIA. O evento, que prossegue hoje, é organizado pelo Ministério da
Saúde e pela Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD). Côrtes pediu
pressa na revisão da política de proibição das drogas no país.
“Tenho muitas dúvidas quanto à eficácia desta
política e da criminalização do usuário. A repressão está funcionando? E mais:
acho que temos que resolver logo este problema, colocar um prazo”, afirmou
Côrtes.
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O secr Sérgio Côrtes
foto: Fábio Gonçalves
|
O secretário disse
defender uma reforma “extremamente criteriosa”, para que o tiro não saia pela
culatra e para que a legalização, de fato, reduza os índices de violência e de
consumo.
“Precisamos olhar caso a caso as experiências
adotadas nos países que optaram pela legalização. Alguns tiveram experiências
positivas, outros não. Temos de ver quais as drogas entrariam nesta política.
Mas é preciso que seja rápido”, reiterou.
O antropólogo Rubem
Cesar Fernandes, secretário executivo da ONG Viva Rio, que também participa do
seminário na Fiocruz, disse que está otimista quanto à aceleração da discussão,
que foi tema de matéria publicada nesta segunda em O DIA.
“A CBDD levou ao Congresso Nacional a proposta
de discussão, mas não queríamos dar entrada este ano por conta do calendário
eleitoral. Tudo indica que, a partir de fevereiro, a gente comece a discutir
essa questão. Acho que em 2013 já teremos uma resposta positiva”, previu Rubem
Cesar Fernandes.
Para o antropólogo,
o maior desafio será unir a bancada religiosa em torno de tema tão polêmico:
“Precisamos valorizá-los, trazê-los para junto de nós porque as igrejas também
têm um papel fundamental neste processo. O problema afeta a todos nós.”
Três países como
espelhos
O seminário na
Fiocruz, em Manguinhos, reúne especialistas que saem do campo teórico e
mostram, na prática, como uma nova política sobre as drogas é possível de ser
adotada.
Portugal, Canadá e
Uruguai, países que têm conseguido estancar o aumento do consumo e reduzir
índices de violência e mortes decorrentes do vício, estão representados no
evento.
A ministra Maria do
Rosário Nunes, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República,
acompanhará, hoje, as conclusões do seminário.
Agentes da lei são a
favor
A edição desta
segunda-feira do DIA mostrou que já existe uma liga formada por agentes da lei
que acredita na legalização do consumo e na regulação da produção como medidas
capazes de conter a violência causada pela luta entre Estado e narcotráfico.
A Leap Brasil
(Agentes da Lei contra a Proibição) tem como integrantes o coronel Jorge da
Silva, ex-chefe do Estado Maior da PM, o delegado Orlando Zaccone, da 18ª DP
(Praça da Bandeira), e a juíza aposentada Maria Luiza Karam. “Legalizar não é
promover o consumo. O consumo já há em qualquer esquina. A solução é
regularizá-lo”, aponta Rubem Cesar Fernandes, diretor da ONG Viva Rio.
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Terra 29.11.2013
Argentina declara
inconstitucional punição a cultivo de maconha
Um tribunal
argentino declarou inconstitucional uma norma que pune o cultivo de maconha
para uso pessoal e inocentou um casal que tinha várias plantas e sementes em um
viveiro, anunciou o Centro de Informação Judicial (CIJ).
A decisão da II Sala
da Câmara Federal de La Plata (60 km ao sul de Buenos Aires) declarou a
inconstitucionalidade de um parágrafo de uma lei "que castiga quem planta
ou cultiva ou armazena sementes que podem ser utilizadas para produzir
entorpecentes para consumo pessoal", destacou o CIJ, órgão de imprensa da
Corte.
Os integrantes da II
Sala consideraram que o cultivo de maconha "se enquadra no âmbito das
ações privadas protegidas pela Constituição".
Com a decisão, o
tribunal inocentou um casal de professores que tinha nove plantas de maconha em
sua residência de Ensenada (sul). Em 2009, a Suprema Corte estabeleceu
jurisprudência ao declarar inconstitucional a punição penal para a posse de
escassa quantidade de drogas por maiores de idade, em um país onde o consumo
pessoal de maconha ainda é punido penalmente.
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Opera Mundi 10/07/2012
Tráfico de drogas
aumentou após restrição a "coffee shops" na Holanda.
Obrigatoriedade de carteira de identificação para os usuários de maconha
fez a venda ilegal crescer.
Em vigor desde 1 de
maio, as novas regras para a venda da maconha em "coffee shops" na
Holanda estão provocando um efeito adverso, segundo estudo realizado por
pesquisadores da Epicurus, fundação privada que se dedica a monitorar os
efeitos da cannabis na sociedade. Nesses dois meses, o tráfico
do entorpecente aumentou no país.
O governo holandês
introduziu em três províncias uma carteira de identificação obrigatória para
clientes desses estabelecimentos, com o intuito de diminuir o consumo de
maconha por turistas.
A ação, de acordo com
os pesquisadores Nicole Maalsté e Rutger Jan Hebben, resultou em um enorme
incremento da venda ilegal da droga nas ruas e no surgimento de uma ampla rede
de serviços de entrega.
"Queremos que o
resto da Holanda saiba o que os espera quando essa regulamentação chegar",
disse Maalsté, também pesquisadora da Universidade de Tilburgo. O governo do
país tem a intenção de estender o cartão de identidade para todas as províncias
ainda esse ano.
Ainda de acordo com
os estudiosos, a polícia holandesa não tem capacidade para controlar essa nova
forma de comércio. A maconha vendida em um "coffee shop" custa cerca
de 25% a mais do que nas ruas, pontuaram os pesquisadores, que lembraram que
alguns grupos específicos estão evitando esses estabelecimentos, como jovens
entre 18 e 24 anos.
"É muito pouco provável que esses grupos deixem de consumir a droga em
grandes quantidades", concluíram os especialistas. De acordo com eles, um
risco com o crescimento de traficantes é que os jovens têm mais contato com
outros tipos de droga, como cocaína.
Defensores da lei disseram que o estudo foi encomendado por donos de
"coffee shops", que viram as vendas caírem até 70% desde o início da
nova regulamentação. A Epicurus negou a acusação.
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EFE 16.05.2013Mujica afirma que se opõe a maconha e aborto, mas prefere legalizá-los
Montevidéu – O presidente do Uruguai, José Mujica,
disse hoje (16) que se opõe ao consumo de maconha e à prática do aborto, mas
que prefere legalizá-los para que não cresçam "nas sombras" e causem
mais prejuízos à população. "A maconha é uma praga, mas o narcotráfico é
muito pior", disse o líder à Agência EFE, em referência a seu projeto de
lei para legalizar o consumo e a venda de cannabis, cedendo o controle do setor
ao Estado.
"Nunca fumei maconha porque sou de outra época e não defendo nenhuma
dependência", afirmou o líder em sua casa, uma chácara nos arredores de
Montevidéu que transformou em residência presidencial quando chegou ao poder em
2010.
"Propusemos a hipótese de regular o mercado da
maconha como uma tentativa para arrebatá-lo dos narcotraficantes",
justificou.
Além disso, segundo Mujica, a legalização permitirá
tratar os consumidores problemáticos. "Porque se continuarem clandestinos
ou escondidos, não poderemos fazer nada por eles."
O presidente uruguaio destacou que a humanidade
reprime há 100 anos o consumo de drogas e não propõe nenhuma alternativa.
"Os fatos demonstram que estamos fracassando", assinalou. "É
preciso ter a audácia de pensar novas variáveis porque o consumo nas sombras é
muito pior", opinou.
Um projeto de lei apresentado no ano passado e que
é analisado no Parlamento autoriza o Estado a assumir o controle e a regulação
de atividades de importação, exportação, plantação, cultivo, colheita,
produção, aquisição, armazenamento, comercialização e distribuição de cannabis
e seus derivados.
Segundo números da Junta Nacional de Drogas, 20%
dos uruguaios entre 15 e 65 anos de idade consumiram maconha alguma vez em sua
vida e 8,3% a consumiram no último ano.
Sobre o aborto, Mujica disse que ocorre algo parecido. "Contra esse
fenômeno estamos todos, mas por impedimentos sociais, problemas econômicos ou
outros abortos continuam sendo realizado nas sombras."
No ano passado, o Parlamento uruguaio
descriminalizou a interrupção da gravidez até a 12ª semana de gestação sempre
que sejam respeitados certos procedimentos regulados pelo Estado.
A paciente deve passar por uma comissão técnica que
a informa sobre seus riscos e inclusive sobre a possibilidade de não
interromper sua gravidez e encaminhar a criança à adoção.
Depois, tem cinco dias para refletir e, se
ratificar sua vontade, será submetida ao aborto farmacológico, seguindo os
critérios recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em janeiro deste ano, primeiro mês da aplicação efetiva da lei, foram
realizadas 200 interrupções de gravidezes no Uruguai.
Apesar de ser proibido por lei até ano passado, no
país ocorrem mais de 30 mil abortos anuais, segundo números oficiais, embora a
realidade possa dobrar esse número de acordo com organizações não
governamentais.
"A legalização tira o problema da sombra e nos
permite tentar incidir para que a mulher volte trás em sua decisão",
argumentou Mujica.
De acordo com o presidente, a ideia primária é
tentar ajudar a mulher e eventualmente convencê-la de evitar o aborto.
"Muitas vezes há um problema de falta de meios, solidão, falta de
informação ou preconceitos familiares", acrescentou o líder, que espera
que a legalização do aborto ajude a salvar vidas.
A menos de duas semanas de sua visita à Espanha, na
qual se reunirá com o rei Juan Carlos, Mujica, convidou empresas espanholas a
investir em seu país como uma forma de entrar no Mercosul.
"Vou à Espanha mais que nada como um regozijo,
pela afinidade entre os dois países", concluiu o ex-guerrilheiro que
passou 14 anos na prisão, a maioria durante a ditadura (1973-1985). Na segunda-feira
(20), Mujica completa 78 anos.
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O Globo 17.05.2013
OEA pede a despenalização do consumo de drogas
Informe divulgado nesta sexta-feira custou cerca de
U$$ 2,2 milhões e não abordou a legalização da maconha e cocaína
BOGOTÁ — A despenalização do consumo de drogas deve
ser a base fundamental de qualquer estratégia de saúde pública - e não as
prisões de consumidores de drogas, diz um relatório da Organização dos Estados
Americanos (OEA) divulgado nesta sexta-feira. O informe de 400 páginas, no
entanto, esquivou-se de tocar num dos mais sensíveis aspectos do debate: se
deve-se ou não legalizar completamente o consumo de maconha e cocaína.
“Mudanças drásticas ou dramáticas” também foram descartadas nas conclusões.
“Devem-se avaliar os sinais e tendências
existentes, de que há uma inclinação à descriminalização da produção, venda e
consumo de maconha. Cedo ou tarde, devem-se tomar decisões a respeito. Mas
nosso trabalho não encontra em nenhum país apoio significativo para
descriminalizar ou legalizar outras drogas”, destaca o texto.
O estudo foi elaborado com a colaboração de todos
os países do continente ao custo de cerca de US$ 2,2 milhões, e seus
resultados, divulgados pelo secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza.
- Trata-se de um chamado ao diálogo - declarou ele,
ao lado do presidente colombiano, Juan Manuel Santos.
Numa área multidisciplinar, que tange tanto à saúde
quanto à segurança públicas, o documento tem duas partes. A primeira é uma
análise escrita pelo próprio Insulza, e a segunda, um parecer técnico que
desenha quatro possíveis cenários e opções para a estratégia de combate às
drogas até 2025.
“Um viciado é um doente crônico que não deve ser
castigado por seu vício, mas tratado adequadamente. Se não é possível haver uma
mudança radical da noite para o dia no tratamento de viciados, ao menos deveria
se iniciar métodos de transição, como os tribunais de drogas, a redução
substantiva das penas e a reabilitação”, afirma o relatório.
O relatório da OEA propõe quatro possíveis cenários
para o futuro das políticas de drogas, todos levando em conta a premissa de
reconhecimento do fracasso das medidas atuais. Para modificar o cenário,
segundo o informe, é preciso substituir a abordagem repressiva por uma que
privilegie a segurança e a redução da violência; experimentar modelos de
regulação das drogas ilícitas para reduzir o poder do crime organizado e
melhorar a saúde dos dependentes; e investir na resiliência de comunidades. O
quarto ponto tange tanto a saúde quanto a segurança pública, e pede “o
fortalecimento conjunto das instituições e da presença do Estado” para combater
a violência e a insegurança provocada por grupos criminosos ligados ao tráfico.
- Este relatório reitera a falência da guerra às
drogas, ainda tida como referência para setores conservadores e religiosos do
governo e da sociedade brasileira. Seguimos fazendo um consumo político das
drogas, e ignorando as evidências científicas e experiências internacionais e
nacionais bem-sucedidas que apontam a direção a seguir - afirma Ilona Szabó de
Carvalho, cofundadora da Rede Pense Livre e diretora do Instituto Igarapé.
Os chamados tribunais de drogas, que existem nos
Estados Unidos e começam a ser implementados em países como México e Chile,
promovem a substituição da prisão do dependente químico por um tratamento
controlado para o viciado. São também incentivados pelo documento.
“As medidas privativas da liberdade são antagônicas
nesta abordagem e só devem ser usadas quando a vida do viciado está em risco ou
quando seu comportamento representa um risco para a sociedade”, informa o
estudo.
A tarefa de avaliar o problema das drogas foi dada
à OEA há um ano pela Cúpula das Américas, em Cartagena, na Colômbia, para
viabilizar o debate rumo a uma política regional mais uniforme e bem-sucedida.
A disparidade acerca do tema drogas no continente é grande. Somente nos Estados
Unidos, 17 dos 50 estados americanos permitem o consumo para fins medicinais.
Ainda no ano passado, o presidente uruguaio, José Mujica, apresentou a seu país
um polêmico projeto de estatização da maconha. E no México, a violência dos
carteis só faz crescer.
- Magnífico. Era o que queríamos: evidência
empírica, sem pré-julgamentos. Agora vamos começar o verdadeiro trabalho, que é
a discussão no nível político para ver qual a melhor solução para enfrentar o
problema - declarou o presidente colombiano, Juan Manuel Santos.
_______________
O Globo 06.05.2013![]() |
Os hoje mais de 2 mil produtores enfrentam percalços. |
DENVER, EUA - O mercado de produtores de maconha
nos Estados Unidos está em franco crescimento. Já são 18 estados, além do
distrito de Columbia, a aprovarem o uso e a produção de maconha para fins
medicinais. Colorado e Washington liberaram até o uso recreativo. A
regulamentação dão grande impulso à indústria de produção: hoje, entre 2 mil e
4 mil pessoas produzem a erva para o comércio legal.
— Nós éramos os bandidos — disse ao jornal “Wall
Street Journal” Elliot Klug, o diretor do Pink House Blooms, responsável por
uma operação de produção e venda de maconha que envolve cerca de 70 pessoas e
só libera o produto para quem tem prescrição médica. — Agora, continuamos sendo
os bandidos, mas pagamos impostos.
De acordo com a publicação “Medical Marijuana
Business Daily”, do novo setor, as vendas no ano passado geraram cerca de US$
1,2 bilhão. Não é fácil, no entanto, fazer dinheiro com o negócio, reclamam os
produtores. A cultura da maconha tem algumas peculiaridades: exige colheita uma
vez por semana, só dá em locais abrigados e os produtores ainda testam, entre
erros e acertos, como entregar o produto dentro das normas estabelecidas.
Comercializada legalmente, a maconha torna-se uma
cultura bastante onerosa com altos custos para se começar o negócio, além de
ter de atender a padrões legais muito mais rigorosos do que outros produtos
agrícolas. No Colorado, por exemplo, os empreendedores têm de instalar câmeras
em cada espaço que contenha plantas. Klug, por exemplo, tem 48 delas.
Além disso, os preços da maconha caíram por causa
do aumento da concorrência. E o financiamento bancário simplesmente não é uma
opção: a lei federal nos Estados Unidos não permite esse tipo de negócio.
Muitos produtores, antes clandestinos, agora entraram no mercado legal. É o
caso do próprio Klug, que cultivava cerca de 40 pés da planta em seu porão e
hoje sua Pink Blosson tem aproximadamente 2 mil plantas e fatura US$ 3 milhões
por ano. Antes de atingir essa escala, no entanto, Klug disse que afundou cerca
de US$ 3 milhões, parte emprestado de sua família, na operação. Ele diz que a
demanda é crescente, mas os custos, que incluem uma conta de luz mensal de US$
14 mil são altíssimos.
Outro fabricante, a La Conte's Clone Bar &
Dispensary, associou-se a outro produtor para dividir custos. Mas só obteve um
lucro de 6% frente a sua receita de US$ 4,2 milhões no ano passado, informou o
diretor financeiro da empresa, Jeremy Hiedl. Para expandir os negócios, a firma
vende tudo relacionado à maconha: de cremes para o corpo a brownies de maconha.
Mas ainda assim, diz ele, “a economia da
cannabis é bastante difícil”.
Os ganhos com a maconha também escoam na folha de
pagamento, já que é uma cultura intensiva em mão de obra. E há ainda a
competição com os produtores ilegais e com os de outros países, submetidos a
regras mais frouxas.
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www.publico.pt 29.12.2010
Aprendemos que não
era uma loucura descriminalizar a droga
Amílcar Correia
![]() |
A descriminalização do consumo de drogas resultou de um processo único e irrepetível |
No espaço de uma
década, o consumidor de drogas passou de criminoso a doente. A estratégia de
combate à toxicodependência aplicada em Portugal rompeu com a abordagem
moralista. Hoje é elogiada na Europa, mas há muito por fazer.
É mais do que
provável que da herança política de José Sócrates não venha a constar o papel
determinante que exerceu na descriminalização da posse e consumo de droga em
Portugal. Mas a verdade é que sem o então ministro adjunto do
primeiro-ministro, com as tutelas da Toxicodependência, Juventude e Desporto,
talvez ainda acreditássemos que o abuso de drogas se vencia dando as mãos e
largando com regularidade uma razoável quantidade de endorfinas.
A descriminalização
do consumo de drogas resultou de um processo único e irrepetível. Entre 1999 e
2001, uma comissão de peritos nomeada pelo Governo e dirigida por Alexandre
Quintanilha elaborou, com base em fundamentos científicos e longe do moralismo que
tanto tolhe o discurso ideológico, uma corajosa proposta de estratégia nacional
de luta contra a droga.
A estratégia
transformou-se em política aprovada em Assembleia da República e foi esta
talvez a mais extravagante decisão do segundo Governo de António Guterres.
Sócrates até tentou replicar o método no processo de co-incineração, mas essa
ainda se revelou uma questão mais fracturante.
Consumo não disparou
Sim, é verdade: há
um antes e um depois do dia 1 de Julho de 2001, data da entrada em vigor de uma
lei que deixou de condenar a penas de prisão pessoas que consumiam substâncias
que eram consideradas ilícitas. Sabemos hoje que as profecias de então não se
concretizaram e que, a despeito do que muitos temiam, o país não se transformou
numa Meca para os consumidores de droga.
Aprendemos nesta
década que as políticas na área da droga não devem ser gizadas em função de
posições preconceituosas e dogmáticas. Passámos a aceitar que a questão
sanitária se sobrepunha à questão jurídica; que as prisões estavam repletas de
pessoas que continuavam a consumir droga ao ritmo com que se propagavam as
doenças infecciosas. Nas prisões e fora delas.
Em Dezembro de 2004,
Hernâni Vieira, director do Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira,
dizia o que a avestruz se recusava a escutar: "O problema da droga nas
prisões resolve-se quando se resolver o problema da droga fora das
prisões." E acrescentava, para desagrado dos mais irrealistas: é possível
reduzir o seu consumo, mas acabar com a droga não passa de um sonho
bem-intencionado.
Sim, aprendemos que
o que mais valia era a expansão dos programas de substituição, após um
conturbado período de diabolização da metadona; que as políticas de redução de
riscos e de minimização de danos eram garantia de mais informação por parte dos
consumidores e de menos custos para todos; que as políticas de prevenção
deveriam ser cada vez mais sérias e profissionais.
A derrota do
proibicionismo
Aprendemos, nestes
últimos anos, que a insistência no proibicionismo não teve quaisquer resultados
e que era possível equilibrar a redução da procura com as tentativas
repressivas de diminuição da oferta; ou que era possível baixar o número de
casos de infecções e de mortes por causa da utilização de droga.
Tudo isto teve a
particularidade de diminuir o número de reclusos relacionados com posse e
consumo de droga; de contribuir para baixar a criminalidade que lhe estava
associada nos anos anteriores; e, desta forma, contribuir para um clima social
bem mais pacífico.
O balanço, hoje, quase
dez anos após a entrada em vigor desta lei, é, obviamente, positivo. No início
do século, o país ostentava excessivos problemas de consumo de opiáceos e de
infecções e mortalidade associada nos relatórios da agência europeia das drogas
(cuja sede Portugal recebeu contrafeito, como se fosse o corolário do seu
trajecto junkie na década de 90, mas cujo conhecimento coligido se revelou
muito útil).
O elogio europeu
Alguns anos depois,
a Europa passou a elogiar o que começou a ficar conhecido com o modelo
português - certamente com algum exagero - e que é, neste caso, a assunção do
paradigma sanitário, associado a uma contra-ordenação, espécie de recriminação
administrativa simbólica, da autoria das comissões de dissuasão.
Mas esse tão louvado
modelo está por concluir pelas mesmas razões de sempre. Tem sido uma litania
preconceituosa a impedir a existência de salas de injecção assistida, como as
que existem em vários parceiros europeus, ou a resistir à adopção de programas
de prevenção e de redução de riscos nas prisões.
Numa década, o
consumidor de drogas passou de criminoso a doente e talvez não falte muito até
que seja encarado como cidadão. O aparecimento de associações de consumidores,
como a que a Apdes, uma organização não governamental, criou recentemente,
talvez seja o que agora nos falte aprender. Agora que até já sabemos onde
comprar drogas às quais chamamos legais.
_________
Carta Capital
10.05.2013
Apesar da guerra às
drogas, uso de heroína cresce nos EUA.
Os EUA já gastaram 1
trilhão de dólares na guerra às drogas, mas o tráfico aumenta no país
Eduardo Graça

Na Carolina do
Norte, traficantes oferecem “pacotes especiais” a moradores de áreas nobres nas
imediações de Charlotte. No rico nordeste, o Northern New England Poison Center
anunciou uma explosão de casos de overdose nos estados do Maine, Vermont e New
Hampshire. De acordo com o National Institute of Drug Abuse (NIDA), um em cada
cinco pacientes em busca de internação nos hospitais públicos de Minnesota o
fazem por conta da dependência química de heroína e derivados.
“O uso de heroína é
impressionante. Nunca vimos nada assim anteriormente no estado. É uma droga
relativamente barata e com alto nível de pureza. E é surpreendente o aumento de
casos em locais distantes de Minneapolis e Saint Louis. Eles agora aparecem em
áreas mais pacatas, como as do Lago Woebegone” afirmou Carol Falkowski, do
NIDA.
Além do fechamento
de clínicas e do aumento da restrição de venda de drogas sintéticas, a alta
súbita do consumo de heroína está ligado, segundo especialistas, à redução do
orçamento das famílias americanas. Enquanto 80 miligramas de oxicodona custa de
80 a 100 dólares por comprimido, uma dose de heroína sai a 9 dólares nas
principais cidades americanas.
“Os novos usuários e
traficantes são em sua maioria jovens entre 17 e 29 anos. Os consumidores
buscam a heroína por motivos econômicos, pois se consegue um efeito maior
gastando menos do que com analgésicos comprados na farmácia com receita
médica”, afirmou à mídia Amy Roderick, da agência de combate às drogas.
_________________
Carta Capital 10.05.2013
Portugal ataca a
droga, não o viciado.
João Goulão,
responsável pela política antidrogas portuguesa, conta como o país reduziu pela
metade o número de viciados em heroína.
Willian Vieira
“Em Portugal
atacamos a droga, não o usuário.” Irônica, a frase é de um dos maiores
especialistas em políticas sobre entorpecentes do mundo. Presidente do
Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em inglês)
e diretor do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas
Dependências de Portugal, João Goulão é o mentor da reforma na política
portuguesa, hoje um modelo mundial. “E olha que fomos o último país europeu a
tratar do assunto.”
Após livrar-se da
ditadura em 1974, Portugal viveu uma maré de liberalização sem contrapartida do
Estado. Em 1997, quando Goulão assumiu o posto, havia uma escalada de
dependência de heroína e criminalidade sem precedentes. O Executivo solicitou
então a especialistas um projeto. A comissão advertiu: era preciso investir em
prevenção, tratamento público e reinserção social. Nada adiantaria, porém, sem
a descriminalização do usuário.
No Parlamento, os
debates foram acalorados. “Diziam que íamos fazer de Portugal um paraíso para
as drogas.” Em 2001, o país descriminalizou o porte e o consumo e criou uma
rede de assistência aos viciados, que começa com as “comissões de dissuasão da
toxidependência”, sob a tutela do Ministério da Saúde, e termina com incentivos
fiscais a empresas que queiram contratá-los.
Para os
consumidores, a descriminalização eliminou o motivo pelo qual os dependentes
tinham medo de se submeter a tratamento. “A polícia, quando intercepta um
usuário com problemas, leva-o às comissões. A preocupação é com a saúde. Não se
cria mais estigma.” Não há internação compulsória nem registro policial.
Em 1997, segundo as
estatísticas, 100 mil portugueses, ou mais de 1% da população, era viciada em
heroína. O número baixou pela metade. Do total, 35 mil são tratados pelo
Estado. Os índices de criminalidade despencaram, assim como o número de pessoas
encarceradas e de contaminados por Aids. Mesmo com um governo de direita no
poder e em meio à crise econômica, o programa é mantido. “Nosso modelo foi
chancelado mundo afora e temos orgulho”, diz Goulão. “O problema da dependência
deixou de ser a maior preocupação social de Portugal.”
________________
O Globo 20.04.2013
Conselho Nacional discute descriminalizar uso de
droga
Órgão também debate liberação da maconha em
tratamento médico
Vinicius Sassine
BRASÍLIA — O Conselho Nacional de Políticas sobre
Drogas (Conad), vinculado ao Ministério da Justiça, discute a possibilidade de
descriminalização do uso de drogas no Brasil, em especial a liberação da
maconha com finalidade médica, como no caso de tratamento de dependentes do
crack. Um grupo de trabalho foi constituído no ano passado e busca um consenso
sobre a melhor alternativa para a legislação referente ao assunto.
Representantes do Ministério das Relações
Exteriores que participaram das discussões sugeriram a criação de uma agência
reguladora específica para acompanhar um eventual uso medicinal da maconha no
país. Eles disseram ainda que o uso é contemplado em tratados e convenções
internacionais. A coordenação do grupo de trabalho coube a Vladimir Stempliuk,
que deixou nesta semana o cargo de diretor de Projetos Estratégicos e Assuntos
Internacionais da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad). A
titular da secretaria, Paulina Duarte, e a número dois do órgão, Cátia Chagas,
também foram exoneradas. Os três eram conselheiros do Conad e ainda não foram
substituídos.
Além da descriminalização, o grupo de trabalho do
Conad discute outros três cenários: legalização, manutenção da política atual e
eventuais “retrocessos” na legislação. O Conad está praticamente parado em
razão da debandada na Senad. Procurado pelo GLOBO, o Ministério da Justiça
disse que só se pronuncia sobre o assunto segunda-feira, em função da transição
na secretaria.
Num documento preliminar produzido no final do ano
passado, os técnicos envolvidos detalham a realidade de Portugal, que
descriminalizou o uso, mas manteve a proibição legal da venda de drogas. As
atas das reuniões realizadas no Ministério da Justiça, obtidas pelo GLOBO,
mostram que a situação de Portugal é a mais citada nos encontros. Também são
apontados projetos em cidades dos Estados Unidos e do Canadá onde a maconha é
utilizada como um substituto do crack, considerada uma droga mais pesada.
O Conad é o órgão superior que acompanha e atualiza
a política nacional sobre drogas. O colegiado tem representantes do governo e
da sociedade civil. Por meio de resoluções, estabelece regras relacionadas ao
setor. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, preside o conselho.
A constituição do grupo de trabalho ocorreu em maio
de 2012, um mês depois da participação da presidente Dilma Rousseff na Cúpula
das Américas em Cartagena das Índias, na Colômbia. “A presidente manifestou a
posição de que o governo brasileiro está aberto a debater ‘possíveis cenários’,
que incluam também eventual descriminalização”, cita o relatório preliminar.
A proposta do debate partiu do presidente da
Colômbia, Juan Manuel Santos. A Comissão Interamericana para o Controle do
Abuso de Drogas (Cicad), da Organização dos Estados Americanos (OEA), vai
produzir estudo sobre novos cenários para a política de drogas nas Américas.
No Congresso, um projeto de lei com a proposta de
descriminalização do uso das drogas deverá provocar intenso debate. O deputado
federal Paulo Teixeira (PT-SP) diz que vai apresentar projeto nesse sentido.
Pela proposta, ficaria permitido o porte de uma quantidade equivalente ao uso
pessoal por dez dias. Paulo Teixeira é crítico do projeto de lei nº 7.663/2010,
que prevê internações involuntárias de dependentes de drogas e eleva a pena
mínima a traficantes de drogas.
— A ideia do projeto é distinguir usuário de
traficante. A questão sairia da legislação penal e viraria infração
administrativa, como multa de trânsito. A venda continua a se configurar
tráfico, e o usuário passa a ser um destinatário de políticas de saúde — diz o
deputado.
_____________
BBC Brasil 19.04.2013
Portugal faz balanço
positivo de lei que descrimina drogas.
Organizações de
saúde agora doam material para usuários de drogas
Em uma barraca
improvisada no bairro do Fim do Mundo, perto de Lisboa, Maria fuma heroína,
cercada de seringas descartáveis abandonadas e manchas de sangue.
Portugal é um dos
poucos países do mundo em que ela não corre risco de ser presa por isso, já que
o uso e o porte de drogas é legal. Pelo contrário, no Fim do Mundo,
organizações de saúde e sociais ainda fornecem materiais limpos para o consumo
das drogas.
Há exatos oito anos,
quando a lei que descriminou as drogas foi aprovada no país, muitos disseram
que Portugal se transformaria em um centro para viciados da Europa.
No entanto,
estatísticas do governo português indicam que o consumo de drogas, em vez de
aumentar, caiu 10%. Ainda assim, a heroína continua a ser um problema grave em
Portugal, onde o consumo da droga está entre os maiores da Europa.
Mas hoje, em vez de
prender os usuários de drogas, o governo os encaminha para comissões que tentam
convencer o indivíduo a abandonar o uso ou, no caso de viciados, iniciar um
tratamento. O que não mudou foram as leis para tráfico, que continua a ser um
delito grave.
O governo português
manifesta orgulho por sua política para as drogas. O primeiro-ministro José
Sócrates destaca seu desempenho pessoal na introdução da lei, diz que os
resultados são conclusivos e que a filosofia é popular.
Resultados positivos
De acordo com o
repórter da BBC Mark Easton, cada vez mais pessoas iniciam tratamentos para
abandonar o vício no país. Outro indicador de que a guinada política está dando
resultados positivos é a queda no uso de drogas entre jovens desde a aprovação
da lei, em 2001.
Mesmo que alguns
contestem a metodologia usada para chegar a essa conclusão, segundo Easton, não
há qualquer indício de que o consumo tenha crescido desde a descriminação.
Easton afirma ainda
que as previsões pessimistas de que Portugal se transformaria em um paraíso de
"sol, praias e drogas liberadas", como previu um político, não se
confirmaram.
Brendan Hughes,
representante do Observatório Europeu de Drogas, com sede em Lisboa, afirma que
não se pode saber qual a influência direta da lei nos números.
"Não sabemos o
que é que faz as pessoas pararem de consumir drogas", diz Hughes. "O
que sabemos é que não houve uma explosão no consumo. O senso comum pode dizer
uma coisa, mas todas as estatísticas afirmam o contrário."
Menos mortes
A conclusão é confirmada
por um relatório do centro de estudos americano Cato. O grupo afirma que
"não se cumpriu qualquer dos horrores que os opositores da descriminação
em todo o mundo costumam invocar".
"Em muitos
casos, aconteceu exatamente o contrário, já que o consumo caiu em algumas
categorias chave e as doenças relacionadas ao consumo de drogas estão muito
mais contidas", diz o relatório.
A impressão foi
confirmada à BBC por Paula Vale de Andrade, integrante de uma das equipes
sociais que prestam assistência aos viciados.
Segundo ela, o
número de infectados pelo vírus HIV e de mortes provocadas pelo consumo de
drogas caiu drasticamente.
"Quando se
drogar era um crime, muitos tinham medo de se aproximar de nossas equipes, mas
desde a descriminação, eles sabem que a polícia não vai se meter e vêm até nós.
Esse foi um grande avanço", afirmou Andrade.
Mas nem todos
aplaudem a iniciativa. Nas ruas de Lisboa, alguns relativizam os resultados e
questionam as estatísticas e a mudança de tratamento dos usuários, que passaram
de criminosos a vítimas.
Outros criticam o
fato de um terço dos consumidores não se apresentarem às comissões. Até mesmo
um viciado em heroína entrevistado pelo BBC disse estar cético diante da
medida: "Se não é crime, vão continuar consumindo até morrer."
Atualmente, a posse
de pequenas quantidades de drogas não é considerada crime em dez países
europeus.
__________
18.04.2013
PF prende
traficantes donos de clínica de tratamento de usuários de drogas.
GABRIELA VIEIRA
A Polícia Federal em
Goiás realizou, na manhã desta quinta-feira, 18, uma operação contra o tráfico
internacional de drogas sintéticas e de produtos químicos. Oito mandados de
prisão e sete de busca e apreensão são cumpridos em quatro Estados (Bahia, Goiás,
Minas Gerais e Rio de Janeiro).
Segundo as
investigações da PF, a quadrilha importava clandestinamente, de países como o
Paraguai, produtos químicos que eram remetidos para a Holanda, onde as drogas
sintéticas eram fabricadas e reenviadas aos traficantes brasileiros. Aqui, as
drogas eram revendidas em Goiás, Minas Gerais, Bahia e São Paulo.
Não satisfeito com o
lucro do tráfico, o grupo abriu uma clínica - particular - para o tratamento de
dependentes de droga em Itumbiara (GO). Atualmente, o local está interditado
pela Vigilância Sanitária do Município.
Desde janeiro de
2012, as investigações já tinham levado à prisão de três pessoas, entre elas o
líder da organização criminosa, e a algumas das maiores apreensões de drogas
sintéticas já realizadas pela Polícia Federal. Em novembro do ano passado, a PF
encontrou 50.000 comprimidos de ecstasy no Aeroporto do Galeão, no Rio de
Janeiro. Em agosto, os policiais já tinham apreendido 28.000 comprimidos da
droga no Aeroporto de Guarulhos (SP). Com a prisão do líder do grupo, em
janeiro deste ano, foram recolhidos mais 4.500 micropontos de LSD.
____________
Policiais
do Denarc desviaram 3 t de cocaína
Sequestro, tortura,
tráfico de drogas e até o relato de assassinatos fazem parte da investigação da
Polícia Federal (PF) que começou a desbaratar uma quadrilha encastelada no
Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc). Os papéis da
Operação Dark Side mostram que os homens do Denarc atraíam traficantes
internacionais para São Paulo para sequestrá-los e achacá-los, além de roubar a
droga e revendê-la a bandidos amigos. O esquema funcionaria desde 2004 e,
segundo o delegado-chefe da PF em Sorocaba, Roberto Boreli Zuzi, teria desviado
pelo menos três toneladas de cocaína.
A PF está apurando o
patrimônio dos sete policiais civis presos. Seis deles são do Denarc e um da
Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), de Sorocaba. Segundo o
delegado Zuzi, se não comprovarem a origem do patrimônio, os policiais também
serão acusados de lavagem de dinheiro. Alguns dos presos ostentariam patrimônio
incompatível com a renda e teriam usado dinheiro da droga para adquirir
apartamentos, chácaras e carros de luxo. O bloqueio dos bens foi pedido à
Justiça.
A PF desvendou o
esquema quando monitorava um suspeito de tráfico em Sorocaba, o empresário de
jogadores de futebol Marcelo Athiê, que está foragido. Ele seria o destinatário
de um carregamento de 133 kg de cocaína apreendido em 15 fevereiro na Rodovia
Castelo Branco - outros 175 quilos estavam no apartamento do investigador
Alexandre Lajes. Foram presos então dois traficantes e os investigadores Lajes
e Michael Ruiz, do Denarc, e Glauco Fernandes, de Sorocaba, que escoltariam a
droga. Eles alegam inocência.
Depois de preso,
Lajes conversou com a mulher pelo celular e pediu: "Abre meu cofre, tira
tudo que tem dentro e bota em uma sacola. Não queira saber o que tem porque
isso não te interessa". Uma câmera do apartamento do casal em Perdizes, na
zona oeste da capital, flagrou a mulher arrastando sacolas. Os federais
chegaram a tempo de apreender a cocaína, 70 mil e US$ 84 mil, além de reais. Na
última quarta-feira foram presos mais quatro suspeito: os investigadores
Gustavo Gomes, Edson Melin, Mariano Pinto e André Souza, todos do Denarc. Eles
também alegam inocência.
A chamada Operação
Dark Side mostra que os policiais forneceram a bandidos até um Fiat Strada,
apreendido pelo Denarc em 26 de outubro de 2010. Em fevereiro de 2012, o
veículo foi flagrado pelos federais sendo dirigido por Athiê e por um homem
suspeito de tráfico.
Mortes. Os federais
descobriram ainda que o investigador Lajes aparecia como testemunha no
inquérito sobre as mortes do colombiano Bernardo Castanho Estrada e do
argentino Fabian Alejandro Gugliese. O crime aconteceu em 26 de novembro de
2011, no Guarujá. Lajes disse que Estrada era seu informante. Segundo a versão
apresentada pelos envolvidos à Delegacia do Guarujá, o argentino teria tentado
assaltar a casa e o colombiano tentara impedi-lo. Ou seja, um teria matado o outro.
Em outubro de 2012,
os federais interceptaram um telefonema do investigador no qual ele diz ao seu
chefe no Denarc que estava levando "uns uisquinhos" supostamente para
o delegado responsável pelo inquérito das mortes no Guarujá.
O Guarujá era uma
das cidades que abrigavam cativeiros de traficantes. Um deles ficava em uma
casa na Avenida Veraneio, na Enseda. Um sítio em Ibiúna também fora usado para
o mesmo fim.
No total, foram
apreendidos 340 quilos de cocaína, carros e um celular com o traficante boliviano
Heber Carlos Berberi Escalante, com imagens de um traficante acorrentado,
pedindo à família para entregar US$ 300 mil aos policiais para não ser morto. O
próprio Escalante teria pago US$ 1 milhão para não ser preso. A Secretaria da
Segurança Pública abriu os processos administrativos contra os investigadores
presos. "As últimas prisões contaram com a cooperação da Corregedoria da
Polícia Civil", disse o secretário Fernando Grella Vieira.
____________
blog "Em Discussão"
http://www.senado.gov.br/NOTICIAS/JORNAL/EMDISCUSSAO/dependencia-quimica/mundo-e-as-drogas/as-drogas-na-holanda.aspx
Drogas na
Suíça
A experiência com as
drogas na Suíça se destaca sobretudo no tratamento de usuários de heroína,
maior problema do país na área das drogas nos anos 1980. A opção foi
implementar uma política baseada em saúde pública, com prevenção e terapia, em
vez de criminalizar o usuário.
Em 1994, foi adotada
na Suíça também a prevenção de danos: um programa de tratamento por
administração de heroína e a criação de salas para injeção supervisionada.
Cerca de 3 mil usuários problemáticos dessa droga (entre 10% e 15% dos
dependentes e entre 30% e 60% dos consumidores) passaram a recebê-la
gratuitamente. O governo da Suíça teve que negociar essa possibilidade,
baseando-se na avaliação de que, quem abusava da heroína, ao recebê-la
legalmente, deixaria os crimes e o tráfico de drogas.
O número anual de
novos usuários caiu de 850 em 1990 para 150 em 2005. E cerca de um terço dessas
pessoas deixaram a droga espontaneamente sem nem mesmo um tratamento associado.
A política fez com que o mercado ilegal de heroína se inviabilizasse e levou a
uma queda de 90% nos crimes contra a propriedade cometidos por participantes do
programa do governo.
Portugal
Em julho de 2001,
Portugal se tornou o primeiro país da Europa a descriminalizar o uso de drogas.
Elas continuam proibidas, mas seu consumo não é mais crime. Por lei, o usuário
agora é considerado doente crônico que precisa de tratamento, mas há sanções
penais para traficantes e produtores de drogas.
O usuário pego em
Portugal com quantidade de drogas equivalente a, no máximo, dez dias de consumo
(o que é detalhado na legislação), é encaminhado a uma comissão, composta por
um assistente social, um psiquiatra e um advogado, que avalia se o caso se
configura como tráfico, dependência ou simples consumo pessoal. O usuário,
então, pode ser multado, condenado a prestar serviço comunitário ou encaminhado
para tratamento.
O Ministério da
Saúde de Portugal coordena as ações de prevenção e tratamento às drogas, que
são articuladas com diversas áreas do governo. Houve grande expansão da rede de
tratamento e a meta é ter leitos de internação disponíveis para todos os
dependentes que necessitarem.
Outro foco da
legislação de Portugal é a redução de danos, que permite, por exemplo, o
fornecimento de seringas descartáveis a usuários de drogas injetáveis, com
redução de 71% no diagnóstico de HIV entre usuários de drogas.
Pesquisa de 2010
revelou pequeno aumento no uso de drogas em Portugal, na mesma proporção de
países que não descriminalizaram. Também não se pode afirmar que haja relação
entre essa política e redução da violência na sociedade. Mas houve redução do
peso das drogas na repressão policial e no sistema judiciário.
Do universo de
pacientes em tratamento da dependência de drogas, 70% são usuários de cannabis
(maconha) e o restante de heroína, cocaína, ecstasy e outros. Roberto
Kinoshita, coordenador da área de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do
Ministério da Saúde, lembra que, nos primeiros anos da política em Portugal,
houve muito medo sobre os resultados, mas nenhuma das previsões catastróficas
acabou se mostrando real.
Suécia
Ao contrário da
tendência europeia de descriminalização, na Suécia o consumo de drogas é
considerado crime, com punição de até três anos de prisão, desde 1993. Mais de
90% dos suecos rejeitam a tese da descriminalização ou da legalização das
drogas. Essa política é associada a fortes ações de prevenção e a tratamento
efetivo. Prioridade nacional na Suécia, ela envolve governo, ONGs, voluntários,
empresas, escolas, igrejas e famílias.
Nos últimos 30 anos,
o número de dependentes de drogas na Suécia caiu de 12% para 2%. A taxa de
usuários de cocaína é um quinto da taxa dos países vizinhos, como Inglaterra e
Espanha. E, segundo as informações trazidas ao Senado pela embaixadora da Suécia,
Annika Markovic, até o momento o país está livre do crack.
Há grande
investimento na repressão às drogas: 60% dos recursos da polícia de fronteira,
por exemplo, são usados com esse fim. “Rejeitamos todo e qualquer tipo de droga
não medicamentosa e não aceitamos a integração das drogas em nossa sociedade”,
afirmou a embaixadora. Dessa forma, não há distinção entre drogas leves ou
pesadas na Suécia.
As pessoas suspeitas
passam por testes para detecção do uso de drogas. No caso de condenação à
prisão, se o usuário representar um risco a si próprio ou à comunidade, o
tratamento pode ser compulsório, por no máximo seis meses. Depois disso, ele
escolhe se continua se tratando ou se vai para a prisão.
“O tratamento visa
preparar o dependente a retornar ao convívio social, incluindo trabalho
comunitário e terapêutico”, assinalou Annika, revelando que o serviço social da
Suécia mantém contato com cerca de 80% dos usuários de drogas injetáveis.
Holanda
A concepção do
modelo da Holanda leva em consideração que o problema das drogas não tem uma só
solução. Então, é melhor controlá-lo e reduzir danos em vez de continuar uma
política de repressão com resultados questionáveis.
A legislação sobre
drogas da Holanda é de 1976 e tem como base a diferenciação entre drogas de
risco aceitável (maconha e haxixe) daquelas de risco inaceitável para a saúde e
para a segurança públicas (cocaína, heroína, anfetaminas e LSD). O álcool,
considerado uma droga de risco alto, é legal e controlado pelo governo.
Apesar de ato
tecnicamente ilegal por conta dos tratados internacionais assinados pelo país,
quem é pego com até cinco gramas de cannabis sativa, na Holanda, não é punido.
Bares e cafés (coffee shops) que vendem até cinco gramas de maconha ou haxixe
podem ser encontrados em toda parte e, no interior desses locais, o consumo é
tolerado. Mas não se pode fumar maconha em locais públicos, por exemplo, e o
tráfico na rua é proibido e punido. O governo da Holanda afirma que não quer
que a polícia perca tempo com os pequenos infratores.
Por outro lado, a
posse, o comércio, o transporte e a produção de todas as outras drogas são
expressamente proibidas e reprimidas com eficiência; há previsão de penas que
podem chegar a 12 anos de prisão e de multas de até 45 mil euros.
A Holanda trata a
questão das drogas como de saúde pública, em que tratamento e recuperação são
oferecidos para todos que buscam ajuda. As junkiebonds (associações de usuários
de droga injetáveis) buscam melhorar as condições de vida dos usuários,
evitando o contágio por hepatite B e HIV/Aids, distribuindo agulhas e seringas
descartáveis.
A média de consumo
de drogas na Holanda é inferior à do restante do continente e o percentual de
pessoas que usam drogas injetáveis é o menor entre os 15 países da União
Europeia. O número de usuários de heroína diminuiu significativamente (de 28 a
30 mil em 2001 para 18 mil em 2008) e a média de idade dos usuários vem
aumentando.
_________
O Globo 14.03.2013
Câmara aprova urgência para
análise do projeto que cria cadastro de usuários de drogas
Proposta prevê a internação sem
consentimento do usuário e aumenta de 5 para 8 anos a pena mínima de prisão
para traficantes
BRASÍLIA - Depois de debates e polêmica, o plenário
da Câmara aprovou nesta terça-feira regime de urgência para análise do projeto
que cria o cadastro de usuários de drogas. A votação do mérito do texto está
marcada para logo depois da Semana Santa. A proposta, que também prevê a
internação involuntária - sem consentimento do usuário - e aumenta de 5 para 8
anos a pena mínima de prisão para traficantes, recebeu 344 votos a favor e
apenas 6 contra.
A liderança do PT,
num primeiro momento, orientou seus deputados a votarem a favor da urgência.
Como o projeto foi pouco difundido, conforme parlamentares petistas tomavam
conhecimento de seu teor, manifestavam receio com a proposta. Então, o líder do
PT, José Guimarães (CE), anunciou que o partido mudara de opinião e votaria
contra. Os petistas se retiraram do plenário na hora da votação, ciente da
derrota em curso.
O deputado Paulo
Teixeira (PT-SP) liderou um movimento contrário ao projeto. Ele foi procurado,
no plenário, pelo autor do projeto, Osmar Terra (PMDB-RS).
- Paulo, deixa
aprovar a urgência. Depois discutimos o mérito e podemos mudar alguma coisa -
disse Osmar Terra ao petista, que contra-argumentou:
- Não, Osmar, esse
projeto não é bom.
Teixeira explicou
porque é contra.
- Esse cadastro
cria um estigma. Aumentar pena para traficante vai é levar mais usuário para a
cadeia. A lei não distingue um do outro. Ou seja, esse projeto é um baita
retrocesso - disse Paulo Teixeira.
Relator do projeto
na comissão especial, Givaldo Carimbão (PSB-AL) era o mais árduo defensor do
texto nos microfones do plenário. Ele chegou a convocar os deputados a
comparecerem ao plenário para votar.
- O projeto é a
solução para os viciados. A droga faz mal para ele e para toda sua família. A
internação é um bem. Mas respeito os que são contra, são aqueles que defendem a
liberação da maconha. Respeito - disse Givaldo Carimbão.
Tráfico de drogas
aumentou após restrição a "coffee shops" na Holanda, diz estudo
Obrigatoriedade de
carteira de identificação para os usuários de maconha fez a venda ilegal
crescer
Em vigor desde 1 de
maio, as novas regras para a venda da maconha em "coffee shops" na
Holanda estão provocando um efeito adverso, segundo estudo realizado por
pesquisadores da Epicurus, fundação privada que se dedica a monitorar os
efeitos da cannabis na sociedade. Nesses dois meses, o tráfico do entorpecente
aumentou no país.
O governo holandês
introduziu em três províncias uma carteira de identificação obrigatória para
clientes desses estabelecimentos, com o intuito de diminuir o consumo de
maconha por turistas.
A ação, de acordo
com os pesquisadores Nicole Maalsté e Rutger Jan Hebben, resultou em um enorme
incremento da venda ilegal da droga nas ruas e no surgimento de uma ampla rede
de serviços de entrega.
"Queremos que o
resto da Holanda saiba o que os espera quando essa regulamentação chegar",
disse Maalsté, também pesquisadora da Universidade de Tilburgo. O governo do
país tem a intenção de estender o cartão de identidade para todas as províncias
ainda esse ano.
Ainda de acordo com
os estudiosos, a polícia holandesa não tem capacidade para controlar essa nova
forma de comércio. A maconha vendida em um "coffee shop" custa cerca
de 25% a mais do que nas ruas, pontuaram os pesquisadores, que lembraram que
alguns grupos específicos estão evitando esses estabelecimentos, como jovens
entre 18 e 24 anos.
"É muito pouco
provável que esses grupos deixem de consumir a droga em grandes
quantidades", concluíram os especialistas. De acordo com eles, um risco
com o crescimento de traficantes é que os jovens têm mais contato com outros
tipos de droga, como cocaína.
Defensores da lei
disseram que o estudo foi encomendado por donos de "coffee shops",
que viram as vendas caírem até 70% desde o início da nova regulamentação. A
Epicurus negou a acusação.
_________
www.rollingstone.com/...
Acordo
ultrajante com o HSBC prova que a guerra à droga é uma piada
Matt
Taibbi
Se
alguma vez foi preso por posse de droga, se alguma vez passou um dia na prisão
por ter um bocado de marijuana no seu bolso ou "equipamentos de
droga" na sua mochila, o procurador-geral assistente e amigo de longa de
data de Bill Clinton, Lanny Breuer, tem uma mensagem para si: Suma daqui.
Breuer
concluiu esta semana um acordo com o gigante bancário britânico HSBC que é o
insulto final a toda pessoa comum que alguma vez na vida teve a sua vida
alterada por uma acusação de narcóticos. Apesar do facto de o HSBC ter admitido
que lavava milhares de milhões de dólares para cartéis de droga colombianos e
mexicanos (entre outros) e violava um conjunto de importantes leis bancárias
(desde o Bank Secrecy Act até o Trading With the Enemy Act), Breuer e seu
Departamento da Justiça preferiu não efectuar processamentos criminais do
banco, optando ao invés por um acordo financeiro recorde de US$1,9 mil milhões, que um
analista observou corresponder a cerca de cinco semanas de rendimento do banco.
As
transacções de lavagem dos bancos eram tão descaradas que a National Security
Agency provavelmente podia tê-las detectado do espaço. Breuer admitiu que os
traficantes de droga por vezes vinham a agências mexicanas do HSBC e
"depositavam centenas de milhares de dólares em cash, num único dia, numa
única conta, utilizando caixas concebidas para ajustarem-se às dimensões
precisas das janelas dos caixas".
Isto
importa repetir: a fim de movimentar mais eficientemente tanto dinheiro ilegal
quanto possível para a instituição bancária "legítima" do HSBC,
traficantes de droga conceberam caixas destinadas a passar através das caixas
receptoras. O homem de confiança do [personagem] Tony Montana a marchar com
sacos de cash no [filme de ficção] "American City Bank", em Miami,
era realmente mais subtil do que aquilo que faziam os cartéis quando lavavam o
seu dinheiro por meio de uma das mais célebres instituições financeiras
britânicas.
Embora
não seja declarado explicitamente, a lógica do governo para não avançar com
processos criminais contra o banco aparentemente estava enraizada em
preocupações de que colocar executivos de uma "instituição sistemicamente
importante" na cadeia por lavagem de dinheiro da droga ameaçaria a
estabilidade do sistema financeiro. O New York Times colocou isto
desta forma:
Autoridades
federais e estaduais optaram por não acusar o HSBC, o banco com sede em
Londres, por ampla e prolongada lavagem de dinheiro, por receio de que a
acusação criminal derrubasse o banco e, no processo, pusesse em perigo sistema
financeiro.
Não
é preciso ser um génio para ver que o raciocínio aqui é altamente enviesado.
Quando se decide não processar banqueiros por crimes de milhares de milhões de
dólares conectados com o tráfico de droga e o terrorismo (alguns clientes
sauditas e bangladeshis do HSBC tinham ligações terroristas , segundo uma investigação do
Senado), isso não protege o sistema bancário, faz exactamente o oposto.
Aterroriza investidores e depositantes por toda a parte, deixando-os com a
impressão clara de que mesmo os bancos mais "reputados" podem de
facto ser instituições capturadas cujos executivos sénior estão ao serviço de
(isto não pode ser repetido demasiado repetido) assassinos e terroristas. Ainda
mais chocante, a resposta do Departamento da Justiça ao saber acerca de tudo isto
foi fazer exactamente a mesma coisa que os executivos do HSBC fizeram em
primeiro lugar para se meterem em perturbações – tomaram o dinheiro a olhar
para o outro lado.
E
eles não só liquidaram-se aos traficantes de droga, eles liquidaram-se barato.
Pode-se ouvir esta semana jactâncias da administração Obama de que conseguiram
uma penalidade recorde do HSBC, mas isso é uma piada. Algumas das penalidades
envolvidas são literalmente de dar gargalhada. Isto é do anúncio de Breuer:
Em
consequência da investigação do governo, o HSBC ... "recuperou" bónus
previstos para dar como compensação a alguns dos seus mais importantes
responsáveis nos EUA anti-lavagem e concordou em adiar bónus de compensação
para os seus principais responsáveis sénior durante o período de cinco anos do
acordo de acusação adiado.
Uau.
Então os executivos que passaram uma década a lavar milhares de milhões de
dólares terão de adiar parcialmente os seus bónus durante os cinco anos do
acordo de acusação adiada? Estão a brincar comigo? Isso é lá punição? Os
negociadores do governo não podiam manter-se firmes forçando os responsáveis do
HSBC a esperar para receber os seus mal fadados bónus? Eles tinham de decidir fazê-los
esperar "parcialmente"? Todo promotor honesto na América tem de estar
a vomitar as suas entranhas diante de tais tácticas de negociação. Qual foi a
oferta de abertura do Departamento de Justiça – pedir aos executivos para
restringirem sua temporada de férias no Caribe para nove semanas por ano?
Então,
pode-se perguntar, qual é a penalidade apropriado para um banco na posição do
HSCB? Exactamente quanto dinheiro deveria ser extraído de uma firma que
desavergonhadamente ao longo de anos e anos lucrou de negócios com criminosos?
Recorde-se, estamos a falar acerca de uma companhia que admitiu um vasto
conjunto de graves crimes bancários. Se você fosse o promotor, teria o banco
preso pelos colhões. Assim, quanto dinheiro deveria ser tomado?
O
que acha de tudo isto? O que acha de cada dólar que o banco ganhou desde que
começou a sua actividade ilegal? O que acha de mergulhar em cada conta bancária
de cada simples executivo envolvido nesta sujeira e tomar até o último dólar de
bónus que eles alguma vez ganharam? A seguir tomar suas casas, carros, as
pinturas que compraram em leilões do Sotheby's, as roupas nos seus armários, os
trocos soltos nos jarros sobre os balcões das suas cozinhas, tudo o que
restasse. Tome isso tudo e não pense duas vezes. E a seguir lance-os na prisão.
Soa
duro? Assim parece, não é? O único problema é que se trata exactamente do que o
governo faz todos os dias a pessoas comuns envolvidas em casos de droga
habituais.
Será
interessante, por exemplo, perguntar a residentes em Tenaha, Texas, o que
pensam acerca do acordo HSBC. É a cidade onde a polícia local rotineiramente detém motoristas (sobretudo negros) e,
sempre que encontram dinheiro, propõem uma escolha aos motoristas: Poderiam
deixar a polícia tomar o dinheiro ou enfrentar acusações de droga e lavagem de
dinheiro.
Ou
podiam perguntar a Anthony Smelley , residente em Indiana, que ganhou US$50
mil num acordo de acidente de carro e estava a transportar US$17 mil em cash no
seu carro quando foi detido pela polícia. Os polícias revistaram o seu carro e
tinham cães para cheirar droga. Os cães alertaram duas vezes. Não foram
encontradas drogas, mas a polícia ficou com o dinheiro na mesma. Mesmo depois
de Smelley ter apresentado documentação provando onde obtivera o dinheiro, responsáveis
do Putnam County tentaram manter o dinheiro com base no argumento de que ele
podia ter utilizado o dinheiro para comprar drogas no futuro.
Sem
brincadeira, isso aconteceu. Isso acontece o tempo todo, e mesmo o próprio
Departamento da Justiça de Lanny Breuer envolve-se nestes actos. Só em 2010,
gabinetes de Procuradores dos EUA depositaram aproximadamente US$1,8 mil
milhões em contas do governo em consequência de casos de apreensão, a maior
parte deles casos de droga. Pode ver neste gráfico as estatísticas do próprio
Departamento da Justiça:
Se
nos EUA for detido na estrada levando cash consigo e o governo pensar que é
dinheiro de droga, esse cash vai servir para comprar ao seu chefe de polícia
local uma nova Ford Expedition na tarde do dia seguinte.
E
isso é só a cobertura do bolo. O prémio real que você obtém por interagir com
um responsável pela aplicação da lei, se acontecer estar conectado de qualquer
forma às drogas, é uma ridícula e descomunal penalidade criminal. Mesmo aqui em
Nova York, um em cada sete casos que acaba em tribunal é um caso de marijuana.
Noutro
dia, enquanto Breuer anunciava seu tabefe no pulso dos mais produtivos
lavadores de dinheiro do mundo, eu estava num tribunal no Brooklyn a observar
como eles tratam pessoas reais. Um defensor público explicou o absurdo das
prisões por droga nesta cidade. Nova York realmente tem leis razoavelmente
liberais acerca da marijuana – não se supõe que a polícia o prenda se possuir a droga em privado .
Então como é que a polícia consegue fazer 50.377 prisões relacionadas a
marijuana num único ano só nesta cidade? (Isso foi em 2010, o número em 2009
era de 46.492).
"O
que ele fazem é pará-lo na rua e dizer-lhe para esvaziar os seus bolsos",
explicou o defensor público. "Então, no instante em que um cachimbo ou uma
semente está fora do bolso – bum, é de "uso público". E você fica
preso".
Pessoas
passam noites na prisão, ou pior. Em Nova York, mesmo se eles o deixam sair com
uma contravenção e tempo passado, você tem de pagar US$200 e tem o seu DNA
extraído – um processo que tem de ser pago por si (custa 50 dólares). Mas além
disso não é preciso investigar muito para encontrar casos de sentenças
draconianas, idiotas por crimes de droga não violentos.
Peça
só a Cameron Douglas, o filho de Michael Dougal, que foi condenado a cinco anos de prisão pela simples posse. Seus carcereiros
mantiveram-no em solitária durante 23 horas por dias durante 11 meses e
negaram-lhe visitas de família e amigos. Embora o típico condenado não violento
não o filho branco de uma celebridade, ele é habitualmente o utilizador que
obtém sentenças mais duras do que os garotos brancos ricos obtém por cometerem
os mesmos crimes – todos nós recordamos a controvérsia crack versus coca na
qual orientações federais e estaduais de sentenciamento deixavam que os
utilizadores de crack (uma minoria) obtivessem sentenças 100 vezes mais duras
do que aquelas administradas aos utilizadores predominantemente brancos da coca
em pó.
O
viés institucional nas orientações das sentenças por crack eram um ultraje
racista, mas este acordo do HSCB deixa aquilo longe. Ao abster-se de processos
criminais de grandes lavadores de dinheiro da droga com o argumento (claramente
absurdo, a propósito) de que o seu processamento põe em perigo o sistema
financeiro mundial, o governo acabou de formalizar o duplo padrão.
O
que eles agora estão a dizer é que se você não for um dente importante na
engrenagem do sistema financeiro global, você não pode escapar impune de coisa
alguma, nem mesmo pela simples posse. Você será encarcerado e qualquer dinheiro
que eles encontrem consigo será apreendido na hora, e convertido em novos
cruzadores ou brinquedos para a sua equipe local de agentes aplicadores da lei (SWAT
team), a qual estará pronta a arrombar as portas de casas onde vivem
dentes da engrenagem tão pouco essenciais como você. Se não tiver um emprego
sistemicamente importante a posição do governo é, por outras palavras, de que
os seus activos podem ser utilizados para financiar a sua própria privação de
direitos políticos.
Por
outro lado, se você for uma pessoa importante e trabalhar para um grande banco
internacional, você não será perseguido mesmo se lavar nove mil milhões de
dólares. Mesmo se se conluiar activamente com as pessoas no topo máximo do
comércio internacional de narcóticos, a sua punição será muito mais pequenas do
que aquela na base da pirâmide mundial da droga. Você será tratado com mais
deferência e simpatia do que um drogado desmaiado numa carruagem do metro em
Manhattan (utilizar dois assentos numa carruagem de metro é um delito comum processável nesta cidade). Um traficante
internacional de droga é um criminoso e habitualmente um assassino; um viciado
em droga a passear na rua é uma das suas vítimas. Mas graças a Breuer, agora
estamos no negócio, oficialmente, de encarcerar as vítimas e deixar os
criminosos.
Isto
é a desgraça das desgraças. Não faz mesmo qualquer sentido. Não havia razão
para que o Departamento da Justiça não pudesse ter agarrado toda a gente no
HSBC envolvida com o tráfico, processado criminalmente e actuado com
reguladores bancários para assegurar que o banco sobrevivesse à transição para
nova administração. Nessas circunstâncias, o HSBC não teve virtualmente de
substituir ninguém na sua administração de topo. As partes culpadas
aparentemente eram tão importantes para a estabilidade da economia mundial que
tiveram de ser deixados nas suas mesas de trabalho.
Não
há absolutamente nenhuma razão para que eles não pudessem enfrentar penalidades
criminais. Que não estejam a ser processados é covardia e corrupção pura, nada
mais. E ao aprovar este acordo, Breuer removeu a autoridade moral do governo
para processar qualquer um por qualquer delito de droga. Não é que a maior
parte das pessoas já não soubesse que a guerra à droga é uma piada, mas isto
torna-a oficial.
________
O Globo 25.12.2012
FHC: ‘Tratar o uso de
drogas como caso de polícia é inútil e desastroso’
Ex-presidente defende
a descriminalização das drogas
CAROLINA BENEVIDES
O senhor declarou que a
política de guerra às drogas está falida.
Os fatos falam por
si. Décadas de esforços imensos, liderados pelos Estados Unidos, não levaram
nem à erradicação da produção nem à redução do consumo. Enquanto houver demanda
por narcóticos haverá oferta. Os únicos que ganham com a proibição são os
traficantes. As medidas punitivas, por si só, não são capazes de reduzir o
consumo.
O que é possível
implementar no lugar?
Ao invés de insistir
em políticas ineficazes, mais vale buscar reduzir o consumo e o dano que as
drogas causam. Investir em ações de prevenção, tratamento e reabilitação. Abrir
um debate sobre o impacto desastroso da política repressiva tanto sobre a saúde
das pessoas quanto sobre a segurança dos cidadãos. E confrontar experiências.
Nos últimos anos viajei muito. Destes encontros, uma primeira ideia-força foi
emergindo com clareza: a proposta de descriminalizar o consumo de drogas. Não
faz sentido pôr na prisão pessoas que usam drogas mas não cometem crimes contra
terceiros. Podem causar danos a si mesmos e a suas famílias mas trancafiá-los
em cadeias superlotadas não os ajuda a se livrarem da dependência.
No Brasil, a lei não
especifica quem é usuário e quem é traficante.
É essencial que a lei
estabeleça uma diferença clara. Consumo de droga é um problema de Saúde
Pública. Dependentes de drogas não são criminosos a encarcerar e sim pacientes
a tratar. O medo do estigma e da prisão só faz tornar mais difícil o acesso ao
tratamento. O poder repressivo do Estado e a pressão da sociedade devem se
concentrar na luta contra os narcotraficantes, sobretudo os mais violentos e
corruptores, não em perseguir jovens ou doentes.
O senhor defende a
descriminalização das drogas?
Vamos ser claros. O
que estamos propondo à discussão pela sociedade é a descriminalização de todas
as drogas e o debate sobre a regulação da maconha. Descriminalização não é
sinônimo de despenalização. Em Portugal, ninguém é preso por consumir drogas,
mas o Estado tem todo um arsenal de medidas não criminais para dissuadir os
consumidores e promover o acesso ao tratamento.
Como fazer a regulação da
maconha?
Regular não é a mesma
coisa que legalizar. Regular é criar as condições para que o Estado possa impor
restrições e limites ao comércio e consumo do produto, sem colocá-lo na
ilegalidade. O que estamos propondo é abrir um debate sobre modelos de
regulação da maconha de maneira similar ao que já se faz com o tabaco e o
álcool.
O senhor acredita que a
sociedade brasileira reagirá bem a essa proposta?
Temas controversos
que afetam modos de pensar e valores precisam ser debatidos primeiro na
sociedade. As pessoas hoje pensam cada vez mais com a própria cabeça. É o que
está acontecendo na sociedade brasileira, como em tantas outras, a respeito das
drogas. A sociedade informada e conectada muda mais rápido do que o sistema
político, e tem a capacidade de formar opinião sobre qualquer tema.
Há um projeto de lei para alterar a política de drogas, endurecendo as
penas e regulamentando a internação compulsória.
Qual a melhor maneira de enfrentar o problema das
drogas? Criminalizando ou tratando os dependentes no sistema de saúde?
Tratar o uso de
drogas como caso de polícia é inútil e desastroso. A internação compulsória é
condenada internacionalmente como ineficiente, estigmatizadora e que viola
direitos humanos. A guerra às drogas fracassou. É preciso ousadia e pragmatismo
para explorar novas soluções. O que importa é um debate sério e rigoroso que
permita a cada país encontrar os caminhos adequados. O Brasil se atrasou neste
debate em relação a Colômbia e México. Há que acertar o passo e rápido.
__________
Agentes da lei defendem legalização das drogas
Formada por delegados,
policiais e juízes, Leap Brasil diz que guerra aos narcóticos é a grande
causadora da violência no país e defende regulação da produção pelo Estado.
André Balocco
Rio -
‘Quem morre na guerra contra as drogas não é o usuário: é o policial e o
traficante’. A frase, dita pelo ex-chefe do Estado-Maior da PM, coronel Jorge
da Silva, resume bem a ideia de um movimento que vem ganhando corpo entre os profissionais
responsáveis por aplicar a lei no Brasil: a guerra contra as
drogas está perdida. Formada por policiais, delegados e magistrados, a Leap
Brasil (Agentes da Lei contra a Proibição) acredita que somente a legalização
do consumo e a regulação da produção serão capazes de conter a espiral de
violência causada pela luta entre Estado e narcotráfico.
“Você já viu alguém tomando conta de uma vinícola com fuzis?”, emenda a juíza
aposentada Maria Lúcia Karam, presidenta da organização. “Não viu, mas nos EUA,
na época da proibição, era assim. A violência só acabou com a
descriminalização”, conclui.
O coronel da PM Jorge da Silva (E), a juíza Maria
Lúcia Karam e o delegado Orlando Zaccone: unidos pelo fim das mortes causadas
pela ‘guerra’
Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
Criada em 2010, a
Leap Brasil vai ampliar sua atuação em 2012. Ela é baseada na sua coirmã
norte-americana — de onde vem o maior interesse pela continuidade da política,
por conta do bilionário lucro do mercado das armas. “Foi uma política criada
pelo Nixon (presidente nos anos 60/70) para combater o movimento dos direitos civis nos
EUA, que questionava a Guerra do Vietnã. Como não podiam prender pelo ativismo,
prendiam pelo uso de drogas”, acrescenta o coronel Jorge da Silva. “Fui criado
no Morro do Adeus, no Alemão, e até os anos 70 as armas eram as pedras atiradas
pela garotada”.
O coronel acredita
que o fim da guerra às drogas levará as comunidades do Rio a uma nova onda de
solidariedade. E de paz. “Já enterrei muitos policiais. Quem morre é o preto, o
pobre e o favelado. Vi muito mais gente morrendo na guerra contra as drogas do
que por usar drogas”, conclui. “Ser a favor da legalização não é ser a favor da
glamourização da droga”.
Procurada, a
Secretaria de Segurança informou que não comentaria o assunto.
Delegado fala em
‘hipocrisia’
Delegado titular da
18ª DP, Orlando Zaccone tem pronto o discurso de defesa da Leap Brasil,
organização da qual é o primeiro-secretário. “A diferença entre o traficante e
o empresário é a legalização”, diz o policial. “Há hipocrisia neste tema.
Enquanto o banco HSBC aparece no noticiário de economia pagando multa por
lavagem de dinheiro do tráfico, só policiais e favelados morrem nesta guerra”,
diz. “A guerra contra as drogas afeta a vida e a saúde de muito mais pessoas do
que as próprias drogas”.
Pai, inspetor diz não temer ‘apologia’
Com 17 anos de
polícia e membro-fundador da Leap Brasil, o inspetor Francisco Chao garante:
não quer que sua filha, ainda criança, use
drogas. “Mas se ela quiser, não vou conseguir impedir, mesmo sendo policial.
Por isso, prefiro a droga legalizada, porque o Estado terá controle”, diz ele,
que tem no currículo a prisão do traficante Elias Maluco, assassino do
jornalista Tim Lopes, após intensa caçada no Alemão. “Na Europa, não se bebe na
rua. Com as drogas legalizadas, devem fazer a mesma coisa ”.
__________
BBC Mundo 22.11.2012
Cómo
afecta a México la legalización de la marihuana en EE.UU.
Will Grant
¿Caerán las ganancias de los carteles de México tras la legalización en
Estados Unidos?
Cada año, un grupo de activistas que abogan
por la legalización de la marihuana se reúne en Seattle, Estados Unidos, para
participar en el Hempfest, un festival de dos días en la costa de la ciudad.
Las nubes del humo acre de la marihuana flotan sobre la multitud que
escucha música en vivo o camina entre los puestos que venden pipas y toda la
parafernalia relacionada con esta práctica.
La policía está presente para asegurarse de que no haya compra-venta de
la droga. Pero en el próximo Hempfest puede que ni siquiera tengan que hacer
eso.
El mismo día en que los electores del estado de Washington votaron para
reelegir al presidente Barack Obama, también votaron a favor de legalizar el
uso recreativo de la marihuana. En Colorado ocurrió la misma historia.
"Lo que pasó en Washington y Colorado fue verdaderamente
revolucionario", dice Beau Kilmer, el codirector del Centro Rand para la
investigación sobre las políticas de drogas.
"Ningún país moderno ha quitado la prohibición sobre la producción
y distribución de la marihuana para usos no médicos".
Cuando la medida entre en vigor en Colorado a principios de diciembre,
será legal tener 28 gramos de marihuana si el portador tiene más de 21 años.
También será legal tener hasta seis plantas de marihuana en la casa y entregar
hasta 28 gramos.
Todavía hay preguntas complejas sobre la creación de un marco regulador
para la producción y la distribución de la droga, que puede demorarse al menos
un año más.
De más está decir que la decisión de los dos estados los pone en un
conflicto legal con el gobierno federal y sus políticas antinarcóticos.
Pero Kilmer cree que es un error ver el gobierno de Obama como una
entidad única en este sentido.
"En este punto nadie sabe cómo el gobierno federal va a
responderles a estos dos estados. Pero es importante que no lo pensemos como un
actor homogéneo".
La Agencia Antidrogas de Estados Unidos (DEA), la Oficina del Fiscal
General y el Servicio Federal de Impuestos (IRS) tienen cierto grado de
jurisdicción y discreción en estos temas, señala Kilmer.
Uso de la fuerza
Mientras tanto, a miles de kilómetros, en una tienda de venta de tabaco
en la Ciudad de México, la noticia de la decisión de Colorado y Washington fue
recibida con beneplácito.
Rodeado de vitrinas llenas de inhaladores que se ven caros, el
propietario dice que muchos de sus clientes esperan una ley similar en México.
"Las personas no quiere contribuir a las ganancias de los carteles
de las drogas y ya he vendido muchas copias de esto últimamente", dice,
mientras muestra un libro llamado "El cultivo ecológico del
cannabis".
El hombre que lidera en México los intentos para cambiar las leyes es el
político de izquierda Fernando Belaunzarán, quien introdujo un proyecto de ley
en el Congreso similar al de Colorado y que podría llevar a la marihuana a un
patrón de regulación igual al del alcohol.
"Lo que ha pasado en Estados Unidos ha permitido que las cosas
avancen, porque este debate es crucial", le dijo Belaunzarán a la BBC en
el día en que presentó su propuesta formalmente.
"Debemos preguntarnos si tiene sentido continuar con esta campaña
militar frontal, que ha generado tanta destrucción y muerte en nuestro país con
el objetivo de impedir la entrada de una sustancia a Estados Unidos que ahora
está permitida y regulada".
Belaunzarán no espera necesariamente que su propuesta sea aprobada en
esta sesión legislativa. Pero lo que importa, dice, es el nuevo discurso sobre
el tema.
En algunos sectores mediáticos en Estados Unidos y México, la decisión
de los estados de Washington y Colorado fue calificada como un "elemento
transformador" de la relación bilateral de México y Estados Unidos en lo
referente a la llamada guerra contra las drogas.
Tanto la administración saliente en México como la entrante indicaron
que esperan que la discusión en torno al tema de la marihuana se desarrolle
durante el segundo gobierno del presidente Barack Obama.
En una reunión con varios líderes centroamericanos, el presidente
mexicano Felipe Calderón dijo que la decisión en Estados Unidos es un
"cambio de paradigma" sobre el consumo de drogas. Pidió que Naciones
Unidas y la Organización de Estados Americanos ayuden a clarificar la
situación.
"Obviamente, no podemos manejar un producto que
es ilegal en México, tratando de detener su transferencia a Estados Unidos,
cuando en Estados Unidos -al menos en parte de Estados Unidos- ahora tiene un estatus
diferente."
Luis Videgaray, asesor de Enrique Peña Nieto
El gobierno entrante en México fue incluso un paso más allá.
"Obviamente, no podemos manejar un producto que es ilegal en
México, tratando de detener su transferencia a Estados Unidos, cuando en
Estados Unidos -al menos en parte de Estados Unidos- ahora tiene un estatus
diferente", dice Luis Videgaray, el asesor principal del presidente
electo, Enrique Peña Nieto.
Pero no sólo en México está cambiando el debate sobre la marihuana.
También Uruguay, bajo el presidente José Mujica, está intentando que el Estado
se encargue de regular el cultivo y el consumo de cannabis legal.
A nivel continental, todavía hay, obviamente, muchas discusiones
pendientes.
Los proponentes y los opositores no se ponen de acuerdo sobre qué tanto
podría afectar la legalización de la marihuana los ingresos de los carteles de
las drogas.
Y todavía falta mucho para que el presidente Obama formule una respuesta
coherente a la decisión de los electores en los dos estados.
Pero en medio del aire de secretismo, una cosa parece clara: cuando se
trata de marihuana en las Américas, ya están sembradas las semillas del cambio.
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Estadão
18.11.2012
Legalização
tomaria US$ 1,4 bilhão de cartéis, diz estudo
Instituto mexicano diz que perda de receitas dos narcotraficantes seria
maior do que qualquer política repressiva
Os referendos que aprovaram a legalização da maconha nos Estados de
Washington e Colorado, nos EUA, são o início do fim da proibição. É o que
acredita o Instituto Mexicano para a Competitividade (Imco, na sigla em espanhol).
Em estudo publicado recentemente, o instituto estima que os cartéis mexicanos
perderiam cerca de US$ 1,4 bilhão por ano - dos US$ 2 bilhões que faturam
anualmente com o tráfico da maconha- caso a droga seja legal do outro lado da
fronteira.
É claro que, segundo apontam analistas, restaria ainda aos
narcotraficantes o comércio ilegal de cocaína, que rende cerca de US$ 2,4
bilhões por ano, e os cartéis, provavelmente, começariam a explorar outras
atividades ilegais para tentar recuperar as perdas. No entanto, um golpe de US$
1,4 bilhão é muito mais do que a guerra às drogas de Washington jamais
conseguiu.
Acredita-se que de 40% a 70% da maconha consumida nos EUA seja cultivada
no México, país que vem realizando um esforço gigantesco para controlar o tráfico.
Desde 2006, quando o presidente Felipe Calderón, pressionado pelos EUA,
declarou guerra às drogas, cerca de 60 mil pessoas morreram em razão da
violência.
O desastre fez com que muitos no México, incluindo os ex-presidentes
Vicente Fox e Ernesto Zedillo, pedissem uma revisão da política do atual
governo. O presidente eleito, Enrique Peña Nieto, que assume dia 1.º de
dezembro, também mostrou insatisfação, embora tenha prometido manter a
repressão.
Um grupo de líderes latino-americanos declarou esta semana que a
legalização em Washington e Colorado afeta a região. Entre eles estavam
Calderón e os presidentes Porfirio Lobo, de Honduras, Laura Chinchilla, da
Costa Rica, e o premiê de Belize, Dean Barrow. Eles não disseram explicitamente
que relaxariam suas políticas antidrogas, mas deixaram claro que ficou mais
difícil manter a proibição.
Os quatro pediram que a Organização dos Estados Americanos (OEA) estude
o impacto da legalização da maconha e disseram que a Assembleia-Geral da ONU
deveria convocar uma sessão especial sobre o tema.
Há duas semanas, um dos mais próximos assessores de Peña Nieto disse que
seria muito difícil o país manter a proibição de cultivo e tráfico de uma droga
que agora é legal em alguns Estados americanos.
Luis Videgaray, chefe da equipe de transição de Peña Nieto, disse que os
acontecimentos nos EUA "complicam" o compromisso de seu país com o
combate ao narcotráfico. "Obviamente, não podemos lidar com um produto que
é ilegal no México, tentando impedir sua venda para os EUA, quando lá, pelo
menos em parte do país, ele agora tem um status diferente", disse.
A ameaça deve aumentar a pressão para que o presidente Barack Obama faça
cumprir a lei federal americana que ainda proíbe o uso da maconha. Obama,
porém, ainda não definiu como responderá aos referendos em Washington e
Colorado - se tentará impor a proibição ou respeitará a vontade dos eleitores.
"É preciso analisar em profundidade as implicações para as
políticas públicas e para a saúde em nossos países dos movimentos que estão surgindo
em escala local que permitem a produção, o consumo e a distribuição de maconha
em alguns países do continente", disse Calderón, após reunião como Lobo,
Laura e Barrow. "A legalização da maconha por Estados americanos é uma
mudança de paradigma." / AP
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FSP 01/07/2012
Cocaína vendida no
Brasil é 'batizada' até com vermífugo.
A Polícia Federal
desvendou o "DNA" das drogas que entram no Brasil. Após sete anos de
trabalho, peritos finalizaram um documento que indica a origem dos
carregamentos de cocaína e crack, o grau de pureza das drogas e o que os
traficantes misturam a elas.
Quando um usuário consome cocaína pode estar ingerindo, por
exemplo, antitérmicos, cafeína, anestésicos e até vermífugos, informa a
reportagem de Fernando Mello, no caderno
"Cotidiano" deste domingo.
Entre 2010 e 2011, a PF apreendeu 51 toneladas de cocaína.
Relatório enviado à Coordenação de Repressão a Drogas --a partir de análise de
amostras das apreensões-- indica que 54,3% da cocaína que entra no país tem
origem na Bolívia; 38% no Peru e 7,5% na Colômbia.
Os peritos procuram pela truxilina, um elemento natural que varia
de acordo com altitude, exposição ao sol e local onde a coca é plantada. A
partir dessa "assinatura" natural é possível saber se a droga é
boliviana, peruana ou colombiana.
O trabalho de laboratório serve para a PF montar sua estratégia da
proteção de fronteiras, estabelecer rotas do tráfico e produzir provas.
Para especialistas, desvendar rotas significa atingir a logística
da distribuição das drogas. "Sabendo por onde sai e por onde chega a
droga, fica mais fácil investigar a rota", diz o coronel José Vicente da
Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública.
Mitos e Verdades sobre Drogas
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FSP 23/02/2012
Enxugando gelo
Hélio Schwartsman
Reportagem de André Caramante publicada
na edição de terça-feira da Folha mostra
que o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) precisaria aumentar em 81% o
número de vagas para presos no Estado de São Paulo para zerar o déficit e
acabar com a superlotação do sistema.
Há hoje 185.447 presos no Estado, para
102.242 vagas. Para resolver o problema, seria preciso construir 93 presídios
com capacidade para 768 detentos (referência padrão em São Paulo), além dos 15
já em obras.
O cálculo é gentil para com o governo,
pois não leva em conta o crescimento da população carcerária, que não é
desprezível. Dados de janeiro deste ano mostram que, para cada 100 pessoas que
deixam as celas, outras 121 entram. Ele também ignora o sempre elevado estoque
de mandados de prisão a executar. Em agosto do ano passado, eles eram 110 mil.
Mesmo lembrando que alguns deles ordenam a captura de pessoas já mortas ou
encarceradas, sobra um montão de gente para pôr atrás das grades.
Não é preciso ser um gênio da logística
para perceber que estamos diante de um problemão. O próprio secretário da
Administração Penitenciária de São Paulo, Lourival Gomes, reconheceu que a
superlotação não será resolvida apenas com a construção de presídios.
O que fazer?
O problema com o direito penal é que ele
mexe com emoções fortes. O ser humano, como todos os animais com algo parecido
com um cérebro, está programado para tentar colocar-se em segurança.
No passado darwiniano, essa atitude
assumia formas como dormir em cavernas, reunir-se em bandos e, principalmente,
fugir do que percebemos como perigos. Muitas das ameaças antigas, como
mastodontes enraivecidos e tigres-dentes-de-sabre à procura de refeições,
desapareceram, mas a urgência emocional de nos pôr a salvo permanece. Ela agora
se volta para problemas mais prementes como o crime.
Morremos de medo de bandidos, mesmo em
lugares onde a chance de sofrer um assalto ou ser vítima de um latrocínio é
significativamente menor do que a de ser atropelado ou sofrer um infarto.
Assim, pressionamos nossos parlamentares por leis mais duras contra o crime,
mas não nos preocupamos em exigir mais faixas de pedestres ou em começar um
programa de exercícios físicos.
O deputado, sensível que é aos anseios
do povo, não pensa duas vezes antes de votar a favor de peças legislativas que
criem novos tipos penais e agravem penas para criminosos, mesmo que as
consequências práticas sejam inócuas ou até contraproducentes.
Um bom exemplo dessa tendência foi a Lei
de Crimes Hediondos (LCH), a 8.072. Aprovada em 1990, ela alongou as sanções
previstas para uma série de delitos considerados especialmente graves, como
homicídio qualificado, tortura, sequestro, estupro, tráfico de drogas,
falsificação de remédios, e estabeleceu limitações ao regime de progressão,
algumas das quais foram depois consideradas inconstitucionais pelo STF.
Na verdade, a LCH nada mais é do que o
catálogo das grandes ocorrências policiais que ganharam as manchetes dos
jornais na década anterior a 1990 e, por isso, foram rapidamente transformadas
em "hediondas" por nossos valorosos parlamentares.
O problema com a LCH é que ela opera uma
simplificação da realidade grosseira demais para funcionar. A criminalidade
brasileira não é nem nunca foi o reflexo de leis e juízes indulgentes.
O buraco é mais embaixo. Nossa coleção
de fracassos começa com uma polícia que simplesmente não funciona. Segundo a
pesquisa Mapas da Violência 2011, de Julio Jacobo Weiselfisz, a polícia
brasileira esclarece apenas 8% dos homicídios que investiga. A título de
comparação, nos EUA e em países europeus, as taxas variam em torno dos 70% ou
80%. Basicamente, por aqui vale a pena resolver uma disputa eliminando a pessoa
que está criando dificuldades. As chances de jamais ser apanhado são bem
maiores que as de sê-lo.
Depois, ainda temos uma Justiça
excessivamente lenta e com claro viés econômico. Nossa população carcerária é
composta quase que exclusivamente de pobres, a grande maioria dos quais negros.
Evidentemente, não são apenas pessoas
com pouco dinheiro e muita melanina que cometem crimes por aqui.
Os absurdos continuam dentro do sistema
carcerário, que dá a impressão de ter sido concebido para converter-se numa
competitiva universidade do crime. São pouquíssimas as chances dadas ao
presidiário de efetivamente encontrar um meio de sobreviver dentro da lei
quando deixar a cadeia.
Mas, voltando ao problema das vagas, a
menos que adotemos a estratégia de ir encarcerando parcelas crescentes da
população --os EUA optaram por essa trilha e não se pode afirmar que tenham
colhido bons resultados--, precisamos antes de mais nada repensar a
oportunidade das penas de privação de liberdade.
Pessoalmente, penso que elas devem ser
reservadas a pessoas que representam uma ameaça física à sociedade, isto é, a
bandidos que se valem de violência. Para os demais casos, aplicaríamos as
chamadas penas alternativas, que incluem multas (às vezes bem pesadas),
restrição de direitos e prestação de serviços.
Em princípio, é fácil concordar com essa
tese. A coisa muda de figura quando se examinam os delitos que deixariam de
gerar penas de prisão. A lista inclui tráfico de drogas, fraude, lavagem de
dinheiro etc.
E, se já é difícil explicar para um
sujeito com genuínas inclinações liberais que é preciso soltar traficantes,
isso se torna quase impossível quando a pessoa a ser persuadida é um político
ou alguém com intuições mais viscerais de Justiça.
Vale aqui lembrar o episódio da demissão
de Pedro Abramovay da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas no ano
passado, por ter sugerido que pequenos vendedores de drogas não fossem
encarcerados, entendimento aliás respaldado pelo STF, que já considerou
constitucional a aplicação de penas alternativas nestes casos. Se apenas emitir
uma tese perfeitamente defensável, mas impopular, já é arriscado num governo
supostamente de esquerda, como seria o do PT, quais não serão os obstáculos
para implementar uma nova política penal?
A questão é complicada porque uma
abordagem mais puramente pragmática e racional contraria os impulsos da maioria
da população. É claro que não dá para defender que as decisões sejam todas
tomadas por bando de especialistas, pouco importando os sentimentos dos
cidadãos. Um direito fundado nestes termos falharia em um de seus propósitos
mais básicos que é o de propiciar às pessoas um ambiente onde se sintam
seguras.
O caminho, portanto, é mais pedregoso. É
preciso introduzir paulatinamente a noção de direito penal mínimo e ampliar as
discussões sobre o tema. A aplicação de novos paradigmas tem algum valor
pedagógico, ou ainda estaríamos esquartejando criminosos e salgando-lhes as
terras.
Não há, porém, como deixar de trilhar
essa rota. Se insistirmos em manter as coisas como estão ou, pior, em agravar
penas, como quer a bancada da bala, a construção de presídios vai se tornar a
principal atividade econômica do país e com poucos resultados concretos na
redução do crime.
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O Globo 14.10.2012___________
R7
07.07.2012
Cocaína
se alastra pelo País e apreensões já são registradas em quase toda fronteira
Quantidade da droga recolhida por autoridades federais aumentou
329% em dez anos
Gabriel Mestieri
Imagem de 2004
mostra apreensão de 492 quilos de cocaína num caminhão em São José do Rio
Preto. Policiais federais de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Brasília
e Rio Preto participaram da operação. Motorista disse que droga vinha da
Bolívia e teria entrado no País pela fronteira com o Mato Grosso.
As grandes
apreensões de cocaína feitas por autoridades federais no País - que, no início
da década passada, estavam concentradas nos Estados de São Paulo e Mato Grosso
do Sul - passaram a ser registradas também no Paraná, Mato Grosso,
Rondônia, Acre e Amazonas. Agora, quase todos os Estados que estão na linha da
fronteira seca do Brasil (limites terrestres) com seus vizinhos
latino-americanos registram expressivas apreensões da droga.
O aumento do número de Estados no mapa do tráfico de
cocaína coincide com a explosão do total da droga apreendido, verificada
nos últimos dez anos. De acordo com o mais recente balanço da Polícia Federal,
enquanto em 2001 8,2 toneladas da droga foram apreendidas no País, em
2010 esse total pulou para 27 toneladas, um aumento de mais de três vezes, ou de 329%. As
estatísticas das apreensões incluem cocaína pronta para consumo, crack e pasta
base (quando a droga ainda não foi totalmente refinada). Em 2011, houve uma ligeira
queda no volume apreendido, no total foram 24 toneladas.
São Paulo está no topo da lista dos Estados onde mais se
apreende cocaína. A quantidade recolhida pela PF cresceu de 1,7 tonelada,
em 2001, para 8,8 toneladas em 2010. No total, foram 42 toneladas em dez anos.
Já o Amazonas, ao lado dos outros Estados fronteiriços, ganhou relevância: no
início da década passada, as apreensões ali eram de cerca de 400 kg
ao ano; em 2010, foram quase duas toneladas recolhidas. De 2001 a 2011, foram
16,3 toneladas de cocaína apreendidas no Estado.
Os Estados do Mato Grosso (que pulou de 1,3 tonelada apreendida
em 2001 para 4,9 toneladas em 2011), Paraná (de 140 kg em 2001 para 1,8
tonelada em 2011), Rondônia (de 215 kg em 2001 para 1,4 tonelada em 2010) e
Acre (374 kg em 2001 contra uma tonelada em 2009) também entraram com
força na rota do tráfico. Mato Grosso do Sul, que já era relevante no início da
década (com 1,4 tonelada recolhida em 2001), manteve a o segundo lugar no
ranking de apreensão (3,8 toneladas em 2011). Em dez anos, foram 22
toneladas.
Rotas flexíveis
Para especialistas em narcotráfico ouvidos pelo R7, o aparecimento de outros Estados no topo do
ranking de apreensões indica que os traficantes estão diversificando
as rotas pelas quais o entorpecente é transportado. Os “fluxos da droga são
flexíveis”, explica Thiago Rodrigues, professor no Instituto de Estudos
Estratégicos da UFF (Universidade Federal Fluminense) e autor do
livro "Narcotráfico, uma guerra na guerra".
— Se,
tradicionalmente, a entrada principal era no Mato Grosso do Sul e houve
concentração da repressão ali, novas rotas são experimentadas. A tendência é
que se encontrem outras passagens. O negócio é muito lucrativo, ele vale a
pena, ele paga o risco de se encontrar novas entradas.
O ex-secretário de
Políticas Sobre Drogas e ex-secretário Nacional de Justiça Pedro Abramovay,
afastado do governo Dilma Rousseff após defender penas alternativas
para pequenos traficantes, diz que as rotas se expandem para o sul do País e
para “os lados da Venezuela”.
— A produção de
folha de coca continua concentrada nos Andes. Para o mundo inteiro, sai de lá.
Agora, as rotas têm variado. Sem dúvida, você tem uma dispersão das
entradas pelo Brasil.
Os especialistas
concordam, também, que houve aumento no consumo da droga no Brasil, puxado,
segundo Abramovay, pelo aumento do poder aquisitivo da população.
— Temos um período
no qual a economia brasileira aumentou de maneira exponencial, não só a
economia como o número de consumidores. E, quando aumenta o consumo, aumenta de
tudo. De roupa, de banana, de carro, de álcool, de café e de drogas ilícitas
também.
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O Globo 15.10.2012
Pesquisa britânica recomenda descriminalizar
uso de drogas
Para órgão que aconselha o governo, não
haverá aumento no consumo de tóxicos no país.
RIO - Um estudo de seis anos da Comissão de Políticas de Drogas do Reino
Unido (UKDPC, na sigla em inglês) concluiu que o uso e a posse de pequenas
quantidades de drogas deveriam ser descriminalizados. Segundo detalhes do
relatório do órgão, divulgados nesta segunda-feira pelo jornal britânico
“Guardian”, a iniciativa não iria aumentar o consumo de drogas ilícitas e
poderia contribuir para enfraquecer o tráfico de tóxicos.
A pesquisa foi realizada por cientistas,
policiais e acadêmicos que contribuem com o UKDPC, um grupo independente que
aconselha o governo britânico. Os especialistas afirmam que punições criminais
impostas a 42 mil pessoas condenadas ao ano por posse de pequenas quantidades
de drogas poderiam ser substituídas por penas civis, como pagamento de fiança e
introdução a tratamentos contra o vício.
O estudo também afirma que impor sanções
mínimas e ou nenhuma punição àqueles que plantam maconha para uso próprio pode
ajudar a combater o tráfico e o crescimento de plantações controladas pelo
crime organizado.
Apesar de recomendar a descriminalização
do uso, o relatório condena qualquer movimento radical em direção à legalização
das drogas, afirmando que permitir a venda legal de substâncias, como heroína e
cocaína, poderia causar mais danos à sociedade do que a existência do
narcotráfico.
O levantamento também afirma que os
números sobre o uso de drogas no Reino Unido caíram nos últimos anos, mas que
ainda são muito maiores que em muitos outros países europeus. O governo
britânico registra um média de 2 mil mortes por ano pelo uso de drogas e 380
mil incidentes relacionados a dependentes químicos.
A comissão critica de forma radical a
atual política antidrogas do Reino Unido, considerando que a abordagem é
“simplista em considerar que todo o uso de drogas é problemático”, falhando em
“reconhecer que problemas relacionados a drogas estão ligados à exclusão
social”, segundo o “Guardian”. O relatório também afirma que a maior parte dos
3 bilhões de libras (cerca de US$ 4,8 bilhões) usados por ano no combate às
drogas ilícitas é desperdiçado em políticas que não são rentáveis.
No mês passado, a ministra do Interior
britânica, Theresa May, afastou qualquer movimento relacionado à
descriminalização do uso de drogas, afirmando que a decisão traria mais
problemas para o governo, salienta o “Guardian”.
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iG 19/07/2012
Preço do crack está mais baixo para traficantes cariocas.
Com anúncio da proibição da venda da droga no Jacarezinho, fornecedores que trazem o crack de SP cobram menos dos chefes do tráfico no Rio.
Mario Hugo Monken
Placa na favela do Jacarezinho indica proibição da venda do crack
O anúncio feito em junho por traficantes da favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro, de que a venda do crack seria proibida fez baixar o preço da droga vendida por fornecedores que adquirem o produto em São Paulo. A comunidade era considerada a maior cracolândia da cidade.
Segundo informações que chegaram a um agente da Dcod (Delegacia de Combate às Drogas), no Rio de Janeiro, no atacado, o quilo do crack puro custava R$ 11 mil e com mistura R$ 9 mil. Após o anúncio de que a venda seria proibida, o preço teria caído para R$ 9 mil e R$ 7 mil respectivamente.
O policial explicou ao iG que traficantes "intermediários" adquirem o quilo do crack em São Paulo por R$ 5 mil a R$ 7 mil. Quando repassam o produto para criminosos do Rio, vendem cada quilo com um "ágio" de R$ 1.000 se o pagamento for à vista ou R$ 2.000, se for parcelado, como normalmente acontece. A droga chegaria em tabletes nas favelas.
De acordo com o agente, em favelas do Rio, para cada quilo vendido do crack nas bocas de fumo (varejo), seja ele puro ou misturado, os traficantes arrecadariam R$ 30 mil, tendo um lucro de quase R$ 20 mil. Nas bocas de fumo, a pedra mais barata de crack custaria R$ 5 e a mais cara, R$ 50.
A fonte da polícia disse ao iG ter informações de que, por mês, os traficantes venderiam cerca de meia tonelada de crack em favelas de todo o Estado. Só o Jacarezinho e Manguinhos seriam responsáveis por, pelo menos, 100 kg.
Fiscais da Secretaria Municipal de Assistência Social recolhem usuários de crack no Jacarezinho
A polêmica em torno da proibição da venda do crack começou na segunda quinzena de junho quando apareceram no Jacarezinho cartazes e placas anunciando que a comercialização seria proibida. Na ocasião, a ONG Rio de Paz, que descobriu os cartazes, revelou ter recebido informações de que a proibição se estenderia para as comunidades vizinhas da Mandela e de Manguinhos e que poderia se espalhar também por outros redutos da facção criminosa Comando Vermelho (CV).
Passado um mês do início da polêmica, o crack continua sendo apreendido no Jacarezinho e pessoas continuam sendo vistas consumindo a droga nos arredores da favela. A delegada Valéria Aragão, titular da Dcod, afirmou ao iG que a proibição da venda ainda não é algo totalmente confirmado e questiona se os traficantes vão cumprir o que anunciaram. Ela disse investigar se o crack que continua sendo apreendido na comunidade faria parte de algum estoque ou seria distribuído para outras favelas do CV.
Uma investigação recente feita pela 81ª DP (Itaipu, Niterói) captou uma conversa entre um traficante do Jacarezinho e um comparsa em que o primeiro fala sobre a proibição da venda do crack na comunidade e o plano de se tornar abastecedor da droga para outras favelas.
De acordo com o agente da Dcod ouvido pelo iG, o anúncio para a proibição teria chegado também ao morro da Mangueira, na zona norte, que está ocupado por uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), em comunidades da Tijuca e em favelas da zona sul, inclusive da facção Amigos dos Amigos (ADA), rival do CV. Afirmou ainda que as pessoas que ainda consomem a droga nos arredores do Jacarezinho comprariam o crack em Manguinhos, que estaria no estoque final.
Estratégia
Para a delegada Valéria Aragão, o anúncio da proibição da venda do crack pode ser uma estratégia do tráfico para diminuir o número de operações policiais nas favelas como também evitar transtornos que os usuários do crack provocariam aos traficantes. Segundo ela, os consumidores furtam até armas dos bandidos para vender e conseguir dinheiro para comprar droga.
"O crack dá muito lucro aos traficantes. Na favela, não existe cracolândia, mas existe cracolândia porque o usuário consome muito mais droga. E isso traz muito mais visibilidade ao local, pois vira alvo de ações para acolhimento dos usuários sempre acompanhadas de aparato policial. E com a presença da polícia na comunidade, os consumidores de outras drogas podem deixar de ir comprar", afirmou a delegada.
Um representante da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, que pediu para não ser identificado, disse ao iG que moradores do Jacarezinho procuraram os traficantes para reclamar sobre problemas que estariam sendo causados por usuários de crack. Segundo ele, antes do anúncio da proibição, os traficantes teriam prometido aos moradores vender o crack somente em determinados horários.
Faixa da Rio de Paz na orla da zona sul carioca alerta sobre a migração dos usuários de crack
Migração
Com o anúncio de que a venda do crack estaria proibida no Jacarezinho, a ONG Rio de Paz alertou as autoridades para a possível migração dos usuários para outras regiões da cidade. De acordo com fontes da polícia, a suspeita é de que a venda da droga tende a aumentar na zona oeste da capital, Baixada Fluminense e Niterói.
“Milhares de maltrapilhos, imundos, alucinados, pobres, invisíveis urbanos, que vivem da mendicância e prostituição vão vagar pelas ruas em busca da droga”, diz Antônio Carlos Costa, presidente da Rio de Paz. “O que tememos? Os milhares de consumidores da droga não vão permanecer nas áreas onde a venda será proibida.
Haverá uma migração. Certamente, não serão bem recebidos onde quer que cheguem, correndo o risco de viver em crises de abstinência em locais públicos, e até mesmo morrer ao ter que buscar as pedras de crack em favelas onde não são conhecidos", completa Costa.
O presidente da Rio de Paz revelou a situação de três crianças do Jacarezinho que recebiam cestas básicas da ONG. Segundo ele, toda vez que a entidade visitava a comunidade, as encontrava com fome. Posteriormente, foi descoberto que os menores de idade vendiam os alimentos e o dinheiro era usado para comprar crack.
A Secretaria Municipal de Assistência Social, que vem realizando um trabalho de recolhimento de usuários de crack, tem um mapeamento informal sobre as cracolândias na cidade. Segundo a pasta, além do Jacarezinho e de Manguinhos, existiriam pontos de consumo nas comunidades Parque União (Complexo da Maré), Cajueiro e Patolinha (Madureira, zona norte), e nos bairros da Ilha do Governador, Tijuca, Vila Isabel e Lins de Vasconcelos, na zona norte, Catete, na zona sul, e Lapa, na
região central da capital.
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26/08/2012 Diário Catarinense
Justiça autoriza cartório a dar registro a
Instituto da Cannabis, em Florianópolis
Ministério
Público vê apologia à maconha e anunciou recurso no Tribunal de Justiça
Diogo
Vargas
Uma decisão judicial
autorizou um cartório de Florianópolis a conceder registro de estatuto social à
entidade criada por estudantes universitários chamada de Instituto da Cannabis,
a planta conhecida como maconha. O grupo afirma atuar na pesquisa, estudo,
debate e também o uso recreativo, industrial e medicinal da droga.
A sentença, que saiu
no mês passado, é do juiz Alexandre Morais da Rosa, da 4ª Vara Criminal. O
magistrado fez uma única ressalva: que o instituto mude a sua sigla
"InCa" para evitar transtornos - Inca é a sigla oficial do Instituto
Nacional de Câncer, órgão ligado ao Ministério da Saúde.
Na decisão, o juiz
afirma que há necessidade de se manter a liberdade de manifestação. Ele cita o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos defensores da descriminalização
da maconha, que nem por isso foi processado por apologia.
O promotor Henrique
Limongi se diz inconformado com a autorização do registro ao instituto e entrou
com recurso no Tribunal de Justiça (TJ/SC), ainda não julgado. Limongi diz que
a autorização é absurda e a define como uma aberração, pois na sua visão a
entidade estaria dedicada à disseminação e incentivo ao uso da maconha.
A intenção do
instituto em se oficializar gera discussão na Justiça desde o ano passado. Foi
quando o grupo formalizou um pedido de registro de estatuto social no cartório Faria,
no Centro, que ficou em dúvida e consultou a Justiça.
Na época, o promotor
determinou o envio a uma das promotorias criminais. Os integrantes do instituto
negam apologia à droga e afirmam que a intenção do grupo é fazer pesquisas
sobre o entorpecente e que o registro possibilitaria a busca por recursos.
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26.09.2012 O Globo
Calderón pede que países detenham fluxo de dinheiro do tráfico
Líderes da Colômbia e Guatemala também pedem alternativas no combate às drogas
O presidente mexicano, Felipe Calderón, durante discurso na Assembleia Geral da ONU Spencer Platt/Getty Images/AFP
NOVA YORK — Com um tom enérgico fora do comum, o presidente mexicano, Felipe Calderón, pediu aos países consumidores de drogas que detenham o fluxo de dinheiro do narcotráfico. Durante seu último discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas - já que deixará o cargo em dezembro -, ele exigiu da ONU que promova um debate sobre formas alternativas para combater o crime. Além do presidente mexicano, os líderes da Colômbia e da Guatemala, dois países devastados pelo narcotráfico, fizeram apelos à ONU e à comunidade internacional.
Mas, apesar das críticas, nenhum dos presidentes usou o termo “legalização”, ainda que tenham defendido “políticas alternativas”. Calderón foi mais enfático e pediu aos países mais desenvolvidos que “consomem toneladas e toneladas de drogas” que, se não podem ou não querem reduzir o consumo, “ao menos que detenham o fluxo exorbitante de dinheiro com que se financia a morte de milhares de jovens”.
- E se isso não pode ser feito, é o momento de explorar outras alternativas com o objetivo de reduzir o consumo - disse. - Exijo que as Nações Unidas não só participem, mas liderem uma discussão a altura do século XXI - disse Calderón.
Pérez Molina, presidente da Guatemala e principal defensor das políticas alternativas, revelou que antes de seu discurso, havia conversado com Juan Manoel Santos, presidente colombiano, e com Calderón.
- Os três países consideram a possibilidade de emitir uma declaração conjunta a respeito da política antidrogas - declarou o líder da Guatemala.
Durante o discurso, Molina também pediu passos concretos da ONU. Calderón já havia ressaltado que as Nações Unidas deviam “explorar especificamente as alternativas regulatórias ou do mercado, para avaliar se são válidas”.
- Proponho formalmente que a ONU se comprometa com o tema, que haja uma valoração profunda dos alcances e dos limites do atual enfoque proibitivo em relação às drogas. Isso não implica que se deva baixar a guarda. Não vamos ceder um milímetro às organizações criminosas - disse Calderón.
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Usuário de droga não é criminoso, diz autor
de anteprojeto.
Paulo Gadelha liderou grupo que levou à Câmara proposta para
descriminalizar uso de drogas
MÁRCIO ALLEMAND
RIO - À frente da Comissão Brasileira
sobre Drogas e Democracia (CBDD), que na quarta-feira entregou um anteprojeto
de lei ao presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), propondo a
descriminalização dos usuários de drogas no país, está o médico Paulo Gadelha.
Graduado em medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, tem
mestrado em Medicina Social e doutorado em Saúde Pública, Gadelha ocupa a
presidência da Fundação Oswaldo Cruz desde 2009. É lá que ele costuma se reunir
para discutir questões a respeito da legislação brasileira sobre drogas e
garantir uma diferenciação mais clara entre usuários e traficantes. O
anteprojeto entregue em Brasília já conta com mais de 100 mil assinaturas de
apoio. Mas a expectativa de Gadelha é que este número chegue a mais de um
milhão em três meses.
Qual o teor do anteprojeto entregue ao
presidente da Câmara?
PAULO GADELHA: É centrado na visão de que o
usuário não pode ser considerado criminoso. Desde 2006 a lei garante que o
usuário não seja preso, mas é preciso diferenciar o que é um traficante do que
é um usuário. Apesar da lei dizer que o usuário não pode ser preso, ela não diz
se uma pessoa que está portando 1 ou 100 gramas seja usuário ou traficante.
Fica a cargo da autoridade policial decidir, criando insegurança para todos os
agentes envolvidos e uma enorme vulnerabilidade para os usuários.
O que mudou depois da lei que entrou em
vigor em 2006?
PAULO GADELHA: Dobrou o número de prisões de
supostos traficantes por porte de drogas e aumentou a população prisional. Isso
porque há em nossa sociedade traços de discriminação e preconceito social e
racial. No caso de um dependente, o que ele está precisando é de ajuda e
tratamento de saúde, e não ser penalizado com detenção. Ele acaba preso e sem
tratamento.
Como a sociedade deveria lidar com isso?
PAULO GADELHA: O álcool, por exemplo, que é
considerado uma droga lícita, também causa um sofrimento enorme e é responsável
por 70% das internações por dependência de drogas e por 90% da mortalidade.
Precisamos educar a população. Nossa proposta no que se refere às drogas
ilícitas é para que haja um debate com a sociedade para que ela saiba lidar com
o problema. Atualmente a guerra contra as drogas tem como principal bandeira a
repressão ao tráfico e ao usuário. Gastam uma fortuna e fracassam. O consumo
aumenta, aumenta a violência.
Quem usa a droga é criminoso?
PAULO GADELHA: Nossa proposta vai justamente
contra esta máxima. Antes de mais nada é preciso encarar o problema das drogas
como problema de saúde pública. Se a legislação continuar como está, o usuário
ou dependente dificilmente vai procurar um serviço de saúde para se tratar. O
que estas pessoas precisam é de tratamento e elas não querem e nem podem ser
confundidas ou rotuladas como criminosas.
O senhor procurou exemplos bem-sucedidos
de outros países?
PAULO GADELHA: Sem dúvida. Hoje há uma
consciência internacional de que é preciso mudar. Estudos mostram que nos 21
países que resolveram despenalizar o usuário, como Portugal, por exemplo, houve
vários avanços importantes. Não houve aumento do consumo, a população prisional
reduziu, os recursos para o aparato policial foram transferidos para outras
áreas e os índices de saúde relacionados às drogas melhoraram sensivelmente.
E qual a importância da sociedade nesse
debate?
PAULO GADELHA: O mais importante do processo é o
debate público. Uma mudança desta natureza só acontece se toda a sociedade
participar. A questão da AIDS, por exemplo, só foi possível porque houve um
programa de enfrentamento e iniciativas de discutir tudo o que envolvia a
doença: religião, diversidade sexual, uso de camisinha, liberdade sexual. A
sociedade inteira foi mobilizada para permitir ações eficazes. Queremos algo
semelhante. Se a questão das drogas continuar a ser abordada e carregada de
muito preconceito não haverá regressão nem de consumo, nem de tráfico, nem de
violência e, sim, haverá aumento de sofrimento.
Quais serão os próximos passos da
comissão?
PAULO GADELHA: Vamos começar um debate junto ao
pessoal da educação e tentar angariar apoio de formadores de opinião. Nesse
ponto, a mídia será fundamental. Nossa proposta em nenhum momento propõe o
incentivo ao uso e muito menos à legalização. Nossa proposta é para despenalizar
criminalmente o usuário.
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09.08.2012 Opera Mundi
Senadores chilenos apresentam projeto de
lei para legalizar maconha
Texto faz
crítica a modelo “proibicionista” de combate às drogas e apresenta vantagens da
descriminalização
O Chile entrou na discussão
internacional sobre a política pública para entorpecentes com um projeto de lei
que critica o modelo de combate às drogas em vigor na grande maioria dos
países. O texto foi apresentado nesta quinta-feira (09/08) pelos senadores Fulvio
Rossi, do PS (Partido Socialista) e Ricardo Lagos Weber, do PPD (Partido pela
Democracia) responsáveis por sua autoria, e inova mais pela argumentação do que
pela proposta.
“Queremos
começar a abrir um debate na sociedade chilena, que está ocorrendo na América
Latina, em relação ao que foi feito para regulamentar a droga e se este foi o
caminho correto”, explicou o senador Lagos Weber segundo nota em seu site
oficial.
O projeto sugere a inclusão de uma
cláusula na lei nacional de Tráfico Ilícito de Narcóticos que permite o cultivo
domiciliar da maconha para fins de uso, autoriza seu consumo, incluindo para
fins terapêuticos, e o porte em pequenas porções. A quantidade exata tolerada
deve ser estabelecida depois de discussões no Parlamento, informou Rossi.
A partir de pesquisas, estudiosos e
casos, o projeto de lei sustenta que a proibição do uso de drogas e não sua
descriminalização que fortalece o crime organizado e aumenta o número de
consumidores, provocando aquilo que pretende combater. “O que tem que ser entendido é que quando
você permite o cultivo para fins de consumo pessoal, está atacando a compra
ilegal, o narcotráfico, porque reduz o mercado do narcotraficante, porque você
pode plantar”, acrescenta Rossi.
“A
estratégia para enfrentar o narcotráfico tem sido extremamente
contraproducentes ao se basear em modelos que replicam o proibicionismo e a
criminalização dos consumidores”, diz o texto. Estabelecido no México e em
diversos outros países latino-americanos, este modelo de política foi
responsável pelo encarceramento e morte de milhares de pessoas, informa o
projeto.
Exemplos de sucesso
Em países onde o consumo de drogas foi
legalizado e regularizado, os danos sociais foram reduzidos, argumentam os
senadores. Em Portugal, o uso de drogas entre estudantes, as mortes
relacionadas com o consumo de drogas, o número de pessoas contaminadas pela
AIDS e o número de presos por questões vinculadas à droga diminuíram e a
quantidade de drogas apreendida pelo estado aumentou após a descriminalização
do consumo da maconha.
Com a regularização do uso da maconha, o
governo chileno vai separar o tratamento do usuário de droga e do grande
vendedor, o narcotraficante. Por esta razão, os senadores também propõem, no
documento, que a política de drogas do governo chileno deixe de estar sob o
controle do Ministério do Interior e da Segurança Pública e passe a ser
administrada pelo Ministério da Saúde.
“Estamos
frente a uma política que requer uma mudança estrutural, para garantir um papel
mais eficiente do Estado separando sua ação em duas grandes áreas: a da saúde e
do combate ao crime organizado”, explica o texto.
O Uruguai também está caminhando na
direção de uma transformação na política de drogas, ainda mais radical por
propor a legalização da produção, venda e consumo da maconha. No entanto, no
caso uruguaio, o poder executivo que impulsiona a medida sob a liderança do
presidente, José Mujica.
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10/08/12 Agência Brasil
Uruguai propõe estatizar produção e comércio de maconha.

O governo do presidente do Uruguai, José
Pepe Mujica, encaminhou ao Congresso um projeto de lei para que o Estado
passe a controlar e regulamentar a importação, produção, compra,
comercialização e distribuição de maconha. O secretário adjunto da Presidência
da República do Uruguai, Diego Cánepa, disse que o objetivo é
reduzir o tráfico de drogas no país e controlar o consumo
da erva.
Pela proposta, ficam mantidos os termos
de um decreto de 1974, que proíbe a venda de maconha sem a
interferência do governo. O novo texto estabelece que o Estado controla
a importação, produção, compra, comercialização e distribuição da
substância. Segundo o secretário, a expressão importação é aplicada apenas para
as sementes da erva.
Integrantes do governo Mujica acreditam
que, com o Estado no controle da produção e do comércio da maconha, não
somente haverá a redução do tráfico como também deve diminuir a
dependência do álcool, tabaco e drogas em geral. ”Não há dúvida de que o álcool e o tabaco são prejudiciais. Porém, não
são proibidos, o que se faz são campanhas de conscientização para tentar
reduzir os danos”, disse Cánepa.
O secretário disse que a proposta não é
defender a maconha, mas estabelecer uma nova política pública de combate ao
tráfico e controle do uso da erva. ”Ninguém
está dizendo que a maconha é boa”, disse ele. “Acho que a decisão do presidente de ter a audácia ao dar esse passo
permitirá ao governo promover um amplo debate.” Mais detalhes da proposta
estão na página da Presidência da República do Uruguai.
O texto enviado ao
Parlamento reúne análises de vários órgãos do governo e especialistas
uruguaios e estrangeiros. O ex-presidente brasileiro Fernando
Henrique Cardoso é citado como um dos defensores da proposta apresentada pela
Comissão Mundial sobre Políticas de Drogas. Também são mencionados o
ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas Kofi Annan e o escritores
Mario Vargas Llosa e Carlos Fuentes.
A comissão observa a necessidade de
se rever a política sobre drogas. “A
pior coisa é cair em uma discussão com slogans,
preconceitos, sem um debate claro e verdadeiro.”, disse Cánepa. ”Há problemas com o abuso de álcool e
alcoolismo em si, mas ninguém em sã consciência pensaria em proibir álcool.
Vimos o que aconteceu com a proibição nos Estados Unidos, que foi uma
grande derrota das políticas proibicionistas.“, disse o secretário.
Material MUITO interessante.
Vale a pena ler.
(Link na própria figura)
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7/07/2012 Opera Mundi
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Correio Internacional 01.04.20127/07/2012 Opera Mundi
HSBC é acusado de lavar dinheiro de cartéis mexicanos e do terrorismo
Senado dos Estados Unidos apresentou dossiê com mais de 300 páginas; executivos darão explicações aos senadores hoje.
Marina Mattar
O banco britânico HSBC expôs o sistema financeiro dos Estados Unidos a uma ampla rede de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e financiamento de terroristas devido ao seu fraco sistema de controle, diz um relatório do Senado dos Estados Unidos que investigou as filias do banco no país por um ano.
Executivos do banco devem responder às acusações nesta terça-feira (17/07) em uma audiência perante o Comitê Permanente de Investigações do órgão norte-americano, responsável pela produção do documento de mais de 300 páginas que foi divulgado nesta segunda-feira (16/07).
As investigações do Senado reforçam as suspeitas de envolvimento do HSBC com redes de lavagem de dinheiro dos cartéis mexicanos e introduzem novas acusações quanto possíveis vínculos com bancos sauditas e bengaleses como também com contas iranianas, rompendo com diversas sanções estabelecidas pelo governo dos EUA.
“Em uma época de terrorismo internacional, de violência relacionada às drogas nas nossas ruas e fronteiras e crime organizado, parar com fluxos de dinheiro ilício vinculados a essas atrocidades é um imperativo da segurança nacional”, afirmou o senador Carl Levin, presidente do Comitê.
Cartéis mexicanos
O HSBC continuou a realizar negócios com casas de câmbio mexicanas apesar das crescentes suspeitas de que estariam ligadas à lavagem de dinheiro do narcotráfico, enquanto outros bancos pararam de se relacionar com essas instituições. O banco "não tomou medidas decisivas para enfrentar essas filiais e colocar um fim à conduta", disse o documento.
Segundo o relatório, o negócio mexicano possuía uma filial nas Ilhas Cayman que mesmo movimentando 2,1 bilhões de dólares em apenas um ano, não possuía funcionários nem escritório. O documento também aponta que unidades do banco nos EUA receberam sete bilhões de dólares das casas transportados por aviões ou carros durante os anos de 2007 e 2008.
Desrespeito a sanções
O Senado também denunciou o banco por movimentar dinheiro vinculado ao Irã e a Cuba, ambos sancionados pelos EUA. Para burlar as regras norte-americanas, o HSBC apagou todas as referências das transações de seus registros, explicou o jornal britânico The Telegraph.
Acredita-se que mais de 28 mil transações irregulares foram realizadas pelo HSBC durante o período de 2001 a 2008. O Irã estaria envolvido em 25 mil dessas movimentações que envolveram cerca de 19,4 bilhões de dólares, informou o jornal britânico The Guardian.
O HSBC providenciou dólares e serviços bancários a bancos da Arábia Saudita e de Bangladesh, suspeitos de financiarem organizações terroristas.
Em um dos casos descritos no relatório, o Al Rajhi Bank, instituição saudita suspeita de financiar a Al-Qaeda, ameaçou retirar todos os seus investimentos do HSBC em 2006 caso não recuperasse acesso à transação em massa. Um executivo do HSBC argumentou que o banco deveria retomar os negócios com o saudita, informou o diário norte-americano The New York Times.
Em outro exemplo de negociações ilícitas travadas pelo banco britânico, o relatório informa que o HSBC lavou 290 milhões de dólares durante quatro anos por meio do envio de cheques para um banco japonês. Segundo o britânico The Guardian, esta transação deve ter beneficiado russos envolvidos no negócio de carros usados.
A falta de controle dos EUA
O Comitê do Senado também criticou o papel dos órgãos de controle das instituições financeiras nos EUA. “O escritório regulador do banco federal, o OCC (Escritório de Controle da Moeda), tolerou o fraco sistema contra lavagem de dinheiro do HSBC por anos”, disse o senador Carl Levin, presidente do Comitê. “Se um banco internacional não vai policiar as suas próprias filiais para parar de dinheiro ilícito, as agências reguladoras devem considerar a possibilidade de revogar a carta do banco dos EUA sendo usada para ajudar e estimular este dinheiro ilícito”, criticou.
Esta não é a primeira vez, no entanto, que investigações comprovam a relação de uma relevante instituição financeira com o crime organizado. Em um escândalo de 2007, ficou conhecido que um dos maiores bancos dos EUA, o Wachovia (filiado, atualmente, ao Wells Fargo) lavou 378,4 bilhões de dólares do narcotráfico – quantia equivalente a um terço do PIB do México – por meio de transações financeiras com casas de cambio mexicanas.
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América Latina: Por que devemos urgentemente falar sobre a legalização de drogas
Luciana Brandão
Na Cúpula das Américas 2012, que acontecerá em abril na cidade de Cartagena, Colômbia, uma porta ao debate acerca da questão das drogas parece se abrir: os chefes de Estado se dispõem a discutir suas políticas e opiniões. Para os países latinoamericanos que sofrem com as consequências do tráfico, essa discussão deve ser imediata.
Uma porta em direção ao debate da revisão da política antidrogas e à legalização das drogas poderia ser aberta no continente americano. As palavras do secretário de Estado adjunto para Assuntos Públicos dos Estados Unidos, Mike Hammer, soaram com força: “Estamos dispostos a discutir o tema para expressar nossa opinião de porque não é esta a maneira de enfrentar o problema”.
Suas palavras foram imediatamente mencionadas pelo presidente colombiano Juan Manuel Santos: “Me parece muito importante a posição dos Estados Unidos de abrir-se para discutir o tema das drogas. É algo que se deve valorar e repassar de forma positiva para que essa discussão possa dar ao mundo uma melhor solução, se é que a encontramos, ao terrível tema do narcotráfico”, disse o governante.
Entretanto, os motivos pelos quais a Cúpula das Américas poderia ser o cenário perfeito para delinear o debate não são unicamente esses. São mais. O fato de que Santos, presidente anfitrião, queira carregar a bandeira do debate da legalização; de que o México não suporte mais a guerra aberta da qual padece por conta do narcotráfico; de que sejam vários os presidentes que respaldem esta iniciativa, e que a atual política antidrogas tenha sido pontuada como um fracasso por vários especialistas, geram um ambiente propício para que a América fale de drogas.
Então, além desses ingredientes, quais são os verdadeiros motivos para iniciar o diálogo?
Produtores e consumidores na mesma mesa
“Abrir o tema já é perder para os proibicionistas”, disse à Semana.com Francisco Thoumi, investigador especialista em economia política das drogas e diretor do Informe Mundial das Drogas das Nações Unidas no ano 2000.
“Abrir o debate já é importante, porém isso não vai resolver os problemas da Colômbia. O país deve explicar porque sua violência é tão alta. Na discussão se deve ver quais políticas se podem melhorar, discutir seriamente os fundamentos do regime das drogas e centrar-se nas consequências e na violência de que padece”, explica.
Segundo o especialista, as drogas não geraram violência desde sempre, e nos casos do México e da Colômbia, a violência começou com o narcoterrorismo, então, é necessário explicar “porque quando há grandes ganâncias envolvidas, acabamos por matar uns aos outros, enquanto isso não ocorre ou não ocorreu em muitos outros países que tem ou tiveram narcotráfico”.
O último parecer, e o mais importante, sobre o comportamento das drogas no mundo, apresentados em setembro de 2011 pela Oficina das Nações Unidas contra as Drogas e o Delito (UNODC), estima que, em todo o mundo, cerca de 210 milhões de pessoas (ou seja, 4,8% da população entre 15 e 64 anos) consumiram substâncias ilícitas ao menos uma vez durante o ano de 2011. E que, como consequência direta de seu uso, morrem anualmente cerca de 200.000 pessoas.
Apesar de se tratar de um problema global, os principais consumidores e produtores de cocaína se encontram no mesmo continente e sentaram-se na mesma mesa durante a cúpula de abril. Segundo a UNODC, Colômbia, Peru e Bolívia são os principais produtores de cocaína do mundo, com um total de 150.000 hectares cultivados entre os três.
Por outro lado, o principal consumidor é os Estados Unidos, que, ainda que tenha experimentado notáveis quedas nos últimos anos, segue sendo o maior mercado de cocaína do mundo, com 157 toneladas anuais, equivalentes a 36% do consumo mundial. Essa quantidade é maior do que a consumida em toda a Europa, onde estima-se que sejam alcançadas as 123 toneladas.
“O debate é um primeiro ato de desobediência por parte dos países produtores aos Estados Unidos, de expor porque a legalização é necessária e de falar do fracasso daquilo que chamam de guerra frontal contra a droga, a qual já se entende por mais de 50 anos”, diz Antonio Caballero, escritor e jornalista que investigou a fundo este tema.
Quem vai levar a culpa?
Durante o referendo na Califórnia sobre a legalização da maconha, o presidente Juan Manuel Santos garantiu que as políticas globais antidrogas deveriam ser reformulados e advertiu que os países produtores não podem ser os que seguem “colocando os mortos”. Embora seja muito difícil quantificar os assassinatos e as vítimas causadas pelos cartéis de drogas, a Procuradoria Geral do México informou, em 2011, que foram apresentadas naquele país 47.515 mortes vinculadas às drogas, desde dezembro de 2006 até setembro de 2011, período em que o presidente Calderón lançou uma ofensiva militar contra o narcotráfico.
Um trampolim para outros cenários internacionais
“Se o debate for levado a cabo na Cúpula das Américas poderia passar às Nações Unidas e à outras instituições onde se possa questionar a responsabilidade que tem os Estados Unidos como consumidor e proibicionista”, explica Antonio Caballero.
Thoumi acredita que se deva saber traçar o debate em um cenário internacional. “O maior argumento é que isto está fazendo com que seja cada vez mais difícil ter uma sociedade democrática na América Latina. Quando se tem uma sociedade mafiosa, se está em um lugar sumamente antidemocrático”, afirma Thoumi, acrescentando que o país que tem menos problemas com drogas é a Coréia do Norte, e que, efetivamente, não é uma democracia.
“Os Estados Unidos insiste em querer ser a grande democracia, mas seus cidadãos não podem fumar maconha”, reforça o especialista e analista do Razón Pública.
Os ex-presidentes têm mais voz que os atuais líderes?
Vários ex-presidentes, líderes internacionais de destaque, intelectuais e empresários fazem parte da Comissão Global sobre Política de Drogas, grupo que expressou sua intenção de levar ao nível internacional uma discussão informada sobre o dano causado pelas drogas às pessoas e às sociedades.
Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, do Brasil; César Gaviria, da Colômbia, e Ernesto Zedillo, do México, membros desta comissão, pronunciaram-se a respeito e advertiram acerca do fracasso da guerra contra o narcotráfico tal e como a concebem os governos dos Estados Unidos e do México, entre outros.
Apesar da importância que suscitam estas vozes, analistas indicam que as vozes dos “ex” são muito valiosas para discussão, mas é de suma importância que sejam os chefes de Estado atuais aqueles que debatam sobre o tema.
“Na cúpula, os Estados Unidos vão explicar porque se opõem, assim, ainda se está longe de que eles aceitem o fracasso absoluto desta política proibicionista. No entanto, o fato de que Santos, em sua qualidade de presidente, e outros governantes da América Central queiram enfrentá-los é muito importante porque é um ato de indisciplina, porque se trata da rebelião na granja”, finaliza Antonio Caballero.
Embora seja difícil chegar a um número preciso, devido a certas características dos processos patológicos relacionados a cada tipo de droga, e das prováveis associações entre o uso de algumas drogas e o alcoolismo, o jornal se arrisca a apostar em um número quando trata de avaliar o prejuízo para o Estado causado pela necessidade de prover a sobrevivência desses cidadãos e seus familiares.
Com um valor médio mensal pago a cada dependente calculado em R$ 861, chegou-se a uma despesa anual de, no mínimo, R$ 107 milhões em 2011.
Estado ineficiente
Em dois anos, segundo o jornal, a Previdência precisou liberar mais de 350 mil licenças de trabalho porque o uso de drogas se configurou como doença a impedir a atividade produtiva.
Um dos aspectos mais obscuros da reportagem é a constatação de que esse auxílio não está sendo destinado necessariamente às famílias dos beneficiários, mas que possa estar sendo desviado para a compra de drogas.
Não há qualquer exigência para que o trabalhador afastado comprove que usa o dinheiro para se tratar da dependência e, isoladamente, a Previdência não tem como fiscalizar. Portanto, o dinheiro do Estado pode estar sendo desviado diretamente para o narcotráfico.
O maior número de contribuintes afastados por causa do uso de drogas ocorre no estado de São Paulo, dado que remete às imagens fortes da Cracolândia que ocuparam as páginas dos jornais nas primeiras semanas do ano.
A reportagem também faz lembrar que o problema social, que se apresenta agora com sua grave repercussão na saúde pública e na economia do país, precisa ser atacado de maneira sistêmica e abrangente. Segundo o jornal, aumentou em 900%, nos últimos oito anos, o número de atendimento de usuários de drogas no Sistema Único de Saúde. No ano passado foram mais de 3 milhões de ocorrências.
As ligações de traficantes com policiais corruptos e suas incursões na vida pública por meio do financiamento de candidatos têm sido divulgadas pela imprensa. A constatação de que o descontrole sobre a ação do narcotráfico pode afetar as contas da Previdência coloca essa questão num nível de gravidade muito maior.
Trata-se de um sinal claro de como a ineficiência do Estado em relação a um problema social pode ser crucial quanto a suas chances de proporcionar um processo sustentável de desenvolvimento – o crescimento do número de usuários de drogas, principalmente entre os mais jovens, pode limitar as perspectivas futuras de milhões de brasileiros.
Além das manchetes
Sabe-se que traficantes atuam sem constrangimento em escolas públicas e universidades, muitas vezes cooptando estudantes como distribuidores de drogas no interior das instituições.
Há quase trinta anos, a mesma Folha de S.Paulo publicou uma reportagem demonstrando que as direções de algumas das principais universidades paulistas não tinham políticas de prevenção contra a circulação de drogas em seus territórios. De lá para cá, tudo indica que as coisas continuam na mesma.
Os rituais de recepção de calouros quase sempre incluem um processo de iniciação no álcool e na maconha, o que, para adolescentes imaturos, pode representar um marco decisório em suas carreiras acadêmicas e profissionais.
Essas são questões que não costumam frequentar os debates sobre descriminalização das drogas consideradas mais “leves”, embora o relato publicado pela Folha na edição de segunda-feira inclua usuários de maconha entre os brasileiros invalidados para o trabalho.
A reportagem merece uma extensão, com a ampliação dos debates e a divulgação das políticas públicas que precisam ser revistas, para evitar que o problema se transforme em desafio insuperável não apenas na Previdência Social.
Observe-se que o levantamento dos dados sobre trabalhadores afastados da atividade produtiva por uso de drogas foi realizado pelo Ministério da Previdência a pedido do jornal, ou seja, a questão não parece estar entre as prioridades da instituição.
Registre-se, então, que, quando quer, a imprensa sabe usar suas atribuições como gestora de certa agenda pública para levantar questões relevantes. Resta esperar para ver se o interesse se estende para além da manchete eventual.
Uma lei criada na mesma época da lei seca dos Estados Unidos (que proibiu o consumo do álcool no país) gerou uma onda de proibição da maconha que percorreu o mundo. Para ser mais preciso, a maconha foi proibida posteriormente ao álcool, devido a uma reportagem panfletária, regada a preconceito, de um pastor conservador que demonizava a ervinha e dizia que ela seria o fim da geração jovem do país, sem que nenhuma evidência científica fosse apresentada. A mentira foi se espalhando pelo nosso planeta e hoje poucas pessoas sabem que a proibição da cannabis tem a mesma origem da proibição da adorada cervejinha e que o lobby das empresas de bebidas venceu o conservadorismo americano. A maconha não teve a mesma sorte e hoje ela é proibida, criminalizada e dominada em toda a cadeia produtiva pelo crime organizado.
Muitos vão dizer que a maconha deve continuar a ser proibida por causar mal e ser entrada para drogas mais pesadas. Primeiro: causar mal até causa, mas realizadas sobre o dano gerado pelo uso contínuo da cannabismostraram que é um dano mínimo se comparado ao causado pelo uso de fármacos distribuídos e altamente disseminado na comunidade médica, para não falar dos danos de longo prazo do cigarro e do álcool. O fato de causar mal não é justificativa para a proibição, por que, bem ou mal, até o salgadinho com gordura trans faz mal e a escolha entre o prazer e o dano à saúde é um trade off que deve ser feito pelo usuário, visto que o perfil do usuário não é o de provocar danos à outrem, da mesma forma que deve ser feito pelo cara do bar da esquina ou pela garota comendo um cachorro quente cheio de maionese no bar da escola.
Agora, a segunda razão, talvez a que gere mais consenso entre os setores conservadores da sociedade, é a maconha ser entrada para drogas mais pesadas, como antidepressivos, álcool, tabaco, calmantes e tantas outras. É aquele famoso mito da busca incansável pelo maior teto. Entretanto, da mesma forma que nem todo mundo que bebe procura outra droga mais forte que o deixe mais doidão do que quando está bêbado, o usuário não procura uma droga que o deixe mais louco de quando ele fica chapado. Até por que o princípio ativo das outras famosas drogas ilícitas é completamente diferente do princípio ativo da maconha, dando assim baratos diferentes, o que desmitifica o fato do cara querer ficar mais chapado. Se o maconheiro quiser ficar mais chapado, ele vai ter que fumar mais maconha e não fumar crack.
A proibição gera a criminalização do usuário e isso é preocupante, principalmente pelo recorte de classe estabelecido em função da subjetividade e da arbitrariedade concedida às autoridades ao determinar judicialmente a condição de usuário e de traficante, pois vemos muitos jovens, de qualquer classe social, sendo tratados como bandidos por acenderem um baseado. Não dá para ignorar o fato de que a criminalização do usuário da maconha se intensifica no usuário de baixa renda, pois o ‘playboy’ na maioria das vezes vai levar um TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência) e uma bronca dos pais, enquanto o morador da favela muitas vezes responde por tráfico e é esculachado pela polícia truculenta e repressiva, mesmo após terem sido pegos com a mesma quantidade de maconha que o usuário de classe média. Mas, existe uma criminalização que é tão ruim quanta a da nossa jurisdição: a criminalização da sociedade, que julga o usuário como se fumar maconha determinasse o caráter da pessoa ou até mesmo a sua qualidade como profissional.
A maconha não é só usada por jovens inconsequentes ou por hippies, ela é usada por médicos, advogados, políticos e empresários. Trata-se de uma planta que tem a capacidade de baixar o stress da rotina e é uma forma de desligar, não só dos problemas da nossa sociedade movida pela ambição capitalista das pessoas, uma forma de refletir sobre o nosso mundo ou simplesmente um subterfúgio para rir com bons amigos e compartilhar momentos juntos sem consequencias alarmantes ou irresponsáveis
Entretanto, a maconha não tem só o caráter de droga recreativa ou espiritual, ela também é um forte remédio para a ansiedade, dor, e falta de apetite. Sendo utilizada em diversos países de forma medicinal, até mesmo na casa do Tio Sam, onde ela foi proibida primeiramente. Mas não é só na medicina que a maconha pode ser utilizada. O cânhamo, a fibra da planta, é uma fibra mais forte que o algodão, ou seja, com ela podem ser fabricadas roupas mais resistentes e baratas. Sem contar que a cannabis sativa é uma planta que requer bastante sol e pouca água, e eu conheço um lugar no Brasil que tem a condição perfeita para a sua produção: o nordeste brasileiro. O que mudaria não só a condição econômica da região, mas a vida dos agricultores familiares que, por meio de cooperativas, poderiam mudar sua vida e de sua comunidade.
Isso que ainda nem falamos que a produção legal da erva gerará impostos que serão revertidos em educação, saúde e infraestrutura do nosso país. Sem contar que com a produção controlada o usuário terá acesso a uma maconha de qualidade superior, sem uma série de produtos que são colocados pelos traficantes para render na quantificação da mercadoria. A legalização trará outros benefícios como o enfraquecimento do tráfico, a possibilidade de uma campanha do uso consciente, como atualmente são as de utilização de preservativos da cannabis, e do maior acesso à informações que levem o jovem a fazer uma escolha por fumar ou não fumar com maior propriedade. É por esses e tantos outros motivos que defendemos a legalização como principal luta, pois entendemos que a descriminalização é um avanço importante; mas não deve ser o fim de nossa luta e sim o próximo passo.
[1] Thiago Carvalho é estudante da UFRGS, secretário-geral da UEE Livre RS e militante do Movimento Mudança e Lucas Fuhr é estudante da UFRGS e militante do Movimento Mudança do Rio Grande do Sul
O Brasil comprometeu-se cedo com o regime internacional de coibição das drogas – o proibicionismo. Ainda nos anos 1920, foram aprovadas as primeiras leis para enfrentar o suposto problema de saúde pública causado pelo uso de substâncias psicoativas. A proibição de algumas delas, vindas na sequência, não pôs fim à venda e ao consumo; todavia, produziu, efetivamente, um problema de segurança pública. E assim, convertendo usuários e comerciantes de drogas em criminosos, o já amplo exercício seletivo do direito penal e da repressão policial sobre pobres, negros, migrantes e favelados ganhou um reforço significativo.
A adesão ao proibicionismo, no Brasil, não distinguiu períodos democráticos e ditatoriais. A Convenção Única da ONU, por exemplo, tratado que estabeleceu as bases do atual regime internacional de drogas, foi assinada pelo governo Jânio Quadros, em 1961, mas ratificada apenas em 1964, após o golpe de Estado. A própria distinção entre “usuário” e “traficante” – saudada por muitos reformistas hoje em dia – apareceu na legislação brasileira na Lei de Tóxicos (Lei nº 6.368), editada em 1976, durante a ditadura. Essa diferenciação fixou o consumidor de drogas como “doente” propenso a praticar crimes para manter seu “vício”, enquanto elevou as penas para os negociantes ilegais.
Quando a Lei de Tóxicos foi publicada, já estava em marcha a war on drugs declarada pelo presidente estadunidense Richard Nixon, em 1971. Essa guerra fundou-se na divisão maniqueísta e simplista do mundo entre países produtores e consumidores, justificando intervenções diplomático-militares dos Estados Unidos a título de combate ao narcotráfico. O modelo da guerra às drogas prescreve militarizar o enfrentamento do tráfico, com apoio financeiro e de treinamento patrocinados pelos EUA. Esse programa foi ampliado, desde os anos 1980, em governos tanto democratas quanto republicanos. O Plano Colômbia, por exemplo – bilionário programa de combate ao narcotráfico e às guerrilhas colombianas –, foi aprovado no governo do democrata Bill Clinton, em 2000, e aplicado no do republicano George W. Bush, já associado à sua guerra ao terror. Na passagem para o século 21, enfim, a guerra às drogas havia transformado o narcotráfico numa questão de segurança internacional, com ênfase especial na América Latina.
Questão continua associada à lei e à ordem
Em princípios dos anos 1990, a war on drugs continuava sendo a tônica internacional e o Brasil seguia seus rumos. A década começou com a promulgação, durante o governo Collor de Mello, da Lei de Crimes Hediondos (nº 8.072/90), que equiparava o tráfico de drogas às práticas de tortura e terrorismo. As ações da guerra às drogas nacional continuaram no governo de Fernando Henrique Cardoso com o início das operações do Sistema de Vigilância Amazônico (Sivam), para o monitoramento do espaço aéreo, superfície e subsolo amazônicos, sob controle da Força Aérea, justificado, em larga medida, pela necessidade de combate ao narcotráfico.
Em 1996, foi criada a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), vinculada à Casa Militar da Presidência da República e idealizada para ser uma agência com capacidade de coordenação das ações antidrogas no país. No entanto, tais pretensões entraram em conflito com a competência constitucional de combate ao tráfico da Polícia Federal, fato que fez dela um órgão de elaboração de campanhas e debates sobre drogas. Apesar do esvaziamento, o comando da Senad foi confiado a um general – Paulo Roberto Y.M. Uchôa –, mantido no cargo pelo presidente Lula em seus dois mandatos.
A chegada de Lula à Presidência, em 2003, foi recebida com expectativa por muitos críticos do proibicionismo. Contava a favor dessa esperança o pioneirismo de membros do Partido dos Trabalhadores na discussão do tema das drogas e de políticas alternativas, como a redução de danos (como tentou Telma de Souza na Prefeitura de Santos em 1989, sendo, então, duramente atacada). Esperava-se, ainda, que a nova lei de drogas, em discussão no Congresso havia anos, pudesse ser finalmente aprovada, introduzindo alterações significativas. A Lei nº 11.343 foi, de fato, promulgada em 2006, mas seus supostos “ganhos progressistas” logo foram questionados. Muitos consideraram uma boa medida a separação entre “usuário” e “traficante”, qualificando o primeiro como um caso de “saúde pública”, e o segundo, de “segurança pública”. A distinção, redimensionada a partir da feita pela ditadura, previu oferecer aos “usuários” prevenção, orientação, tratamento ou penas alternativas; enquanto para os “traficantes” continuariam valendo os rigores da lei penal.
Apesar de abrandar em parte o discurso (com a substituição da expressão “contra as drogas” por “política sobre drogas”), a lei de 2006 não definiu a quantidade de droga ilícita que tipificaria “usuário” e “traficante”, deixando a cargo dos delegados a definição. Ficou aberta, assim, a brecha para que a seletividade punitiva seguisse operando. O resultado imediato é que, segundo dados do Ministério da Justiça, o número de presos relacionados ao crime de tráfico de drogas cresceu no país após 2006, perdendo (por pouco) dos crimes contra o patrimônio como meio principal para o encarceramento no país1.
Nesse mesmo período, outras medidas do governo federal reforçaram o compromisso com a guerra às drogas. Em 2004, a “Lei do Abate” (Decreto nº 5.144) regulamentou a possibilidade de que aeronaves fossem derrubadas caso entrassem no espaço aéreo brasileiro sem autorização. E, em 2010, a Lei Complementar nº 136 registrou duas importantes decisões: a autorização às Forças Armadas para revistar veículos e pessoas nas fronteiras nacionais – o chamado “poder de polícia”, antes exclusivo da PF –, e a regulamentação do emprego das Forças Armadas em questões de segurança pública – dispositivo constitucional denominado “garantia da lei e ordem”.
Em novembro do mesmo ano, amparado nessa lei complementar, o governo do Rio de Janeiro articulou com o governo federal a ocupação do Complexo do Alemão, em ação coordenada entre as polícias civil, militar e federal e as Forças Armadas. Grande evento político e midiático, tal medida veio acoplada ao programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), iniciado pelo governo estadual fluminense em 2008. Inspiradas em iniciativas semelhantes na Colômbia, as UPPs visam à retomada territorial de favelas por meio de ações policial-militares, abrindo espaço para a chegada de serviços oferecidos pelo estado (programa “UPP Social”), associado a organizações não governamentais.
Política proibicionista
Da implantação do Sivam e da Senad, nos anos 1990, às leis e aos programas instituídos na primeira década do século 21, nota-se o continuado processo de endurecimento da guerra às drogas no Brasil. Este inclui a crescente militarização do combate ao narcotráfico, política defendida e patrocinada pelos Estados Unidos desde os anos 1970. Nas últimas décadas, países como Peru, Bolívia, Colômbia – e mais recentemente o México – envolveram suas forças armadas no enfrentamento aos narcos, resultando em dezenas de milhares de mortes e na potencialização da violência praticada pelo Estado e pelas organizações ilegais sem barrar a expansão do tráfico de drogas. No Brasil, as medidas tomadas desde os anos 1990 sinalizam o aumento da presença dos militares no combate ao tráfico.
Nesse contexto, a passagem do governo Lula para o de Dilma Rousseff não demonstrou, até o momento, descontinuidade. A tônica do governo da presidenta tem sido a questão do tráfico e consumo de crack, diretriz herdada do governo anterior. Dois documentos editados ainda no governo Lula – o Plano Emergencial de Ampliação ao Acesso a Tratamento e Prevenção em Álcool e outras Drogas (2009) e o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas (2010) – indicavam o despontar de uma “epidemia urbana” do uso de crack associado, principalmente, aos moradores de rua. Os programas procuram colocar a questão no campo da “saúde pública”, fazendo da redução de danos o princípio a orientar a abordagem dos usuários por agentes de saúde treinados (os redutores), visando acolher para depois, possivelmente, recolher para tratamento2.
O limite entre a atenção para com a saúde de consumidores de crack e seu aprisionamento é tênue. As ações de internação involuntária de dependentes da droga, iniciada no Rio de Janeiro, em março de 2011, e depois levada a outras cidades como São Paulo, são justificadas diante dos “riscos” à saúde e à “incapacidade” dos crackeiros de avaliar sua condição. No entanto, como a questão do crack é tratada como a “epidemia” de uma droga que devasta a vontade própria do indivíduo, a possibilidade de internação involuntária aumenta expressivamente. Assim, as operações concertadas entre polícia e assistência social têm se concentrado em bairros degradados conhecidos como cracolândias. Esses bairros estão em regiões centrais de metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro ou Salvador que são alvos de projetos de revitalização. Parte crucial desses projetos de especulação imobiliária passa pela remoção de edifícios reduzidos a escombros e dessas pessoas transformadas em andrajos ambulantes pela miséria e pelo uso de uma droga que despotencializa a vida (surgida nos EUA, no final dos anos 1980, como uma segmentação do mercado ilegal diante do preço mais elevado da cocaína em pó).
As operações nas cracolândias alinham governos federal, estaduais e municipais, por vezes adversários políticos, mas de acordo no que diz respeito ao crack e aos crackeiros. É digno de nota o caso paulista, em que o governo do estado (do PSDB) e o municipal (do PSD), apesar de adversários, decidiram agir em conjunto antes que qualquer iniciativa do governo federal (do PT) provocasse constrangimento político a Geraldo Alckmin ou Gilberto Kassab. Apesar disso, anunciou-se recentemente a oferta que Kassab fez ao Instituto Lula para que instale sua sede em edifício localizado no bairro da Luz, cujo projeto de revitalização passa pela remoção dos consumidores da droga.
Os bem-intencionados defensores do acolhimento aos usuários de crack, todavia, não podem perder de vista a dimensão histórica e política do proibicionismo. Atentos a isso, descobrirão que tratar o tema das drogas como uma questão de saúde pública associada a outra de segurança pública não é novidade, tampouco um “avanço progressista”, mas a base mesma do proibicionismo, lastreando-o desde o início. A política de drogas brasileira segue proibicionista. Isso significa que mantém as bases repressivas, moralistas e seletivas contra determinados segmentos da sociedade (o que denota o corte racista e higienista que marca o proibicionismo).
Na atual legislação, o deslocamento da pena de reclusão para penas alternativas e de recolhimento compulsório – no caso dos “usuários” – não amaina a ênfase punitiva: “pena alternativa” continua pena. Até mesmo a recente atenção dada às propostas de descriminalização precisa ser problematizada. Entre elas, ganhou visibilidade a iniciativa encabeçada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, à frente da Comissão Global sobre Política de Drogas, formada em 2011, que reúne antigos mandatários – como Cesar Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo (México), tanto quanto ele adeptos do proibicionismo quando presidentes – para criticar os efeitos políticos, econômicos e sociais da guerra às drogas, levantando a bandeira da descriminalização do “usuário” (mas mantendo a criminalização do “traficante”). Não obstante, a permanência da ilegalidade e da punição ampliada e redimensionada não abala a existência do mercado ilegal e, portanto, não mina o narcotráfico.
Em 2012, completa-se um século da Convenção de Haia sobre Ópio, marco da formação do proibicionismo, que não cumpriu aquilo a que se propôs: “um mundo livre das drogas”. Ao contrário, em nome do combate a um “problema de saúde pública” e de “segurança pública” produziram-se e ampliaram-se tais problemas, que se desdobraram além, configurando questões de segurança regional e internacional. No Brasil, a adesão ao proibicionismo alinha historicamente governos de procedências político-ideológicas diferentes, gerando curiosas – e, talvez, incômodas – continuidades.
Muitos dizem que o Brasil nada pode fazer, pois está comprometido com tratados internacionais. Ora, quem celebra e faz cumprir tais tratados senão os Estados? E onde fica, então, a tentativa de construir uma política externa “altiva e ativa”, mote do chanceler Celso Amorim em seus anos à frente do Itamaraty nos mandatos de Lula? Em 2008, a delegação diplomática brasileira presente no encontro da ONU em Viena que revisaria a política mundial sobre drogas não fez mais que endossar o prosseguimento do proibicionismo, frustrando ativistas que esperavam, ao menos, a defesa das políticas de redução de danos (já absorvidas pelo Ministério da Saúde).
Uma atitude diferenciada sobre as drogas exige reconhecer como está acontecendo a problematização e se há ataques diretos ao proibicionismo. Fora disso, há apenas retórica, mesmo que autodenominada “progressista”. O “progressismo”, aliás, pode ser absorvido pelas novas políticas de drogas que não funcionam mais, apenas, pela ação do Estado em nome da saúde e segurança individual e coletiva, mas pela associação ao trabalho ativo e participativo da sociedade civil para a preservação desses bens, comportando tolerâncias e admitindo flexibilizações legais, normativas e normalizadoras. Assim, nessa articulação Estado/sociedade civil, se redimensionam os modos de punir e controlar ruas, comunidades e condutas (tanto de miseráveis que vagueiam pelas ruas, quanto da “nova” e da “antiga” classe média). Antes de perguntar o que fazer, a análise do proibicionismo e de suas atualizações indica explicitamente o que está sendo feito.
Thiago Rodrigues é professor adjunto no Departamento de Estudos Estratégicos e Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense e pesquisador no Núcleo de Sociabilidade Libertária (Nu-Sol/PUC-SP). Autor, entre outras obras, de Narcotráfico, uma Guerra na Guerra(Desatino, 2003) e Política e Drogas nas Américas (Educ/Fapesp, 2004)
"El gran problema es que las víctimas son nuestros ciudadanos, y Estados Unidos, el gran consumidor, no necesariamente quiere controlarlo", dijo a IPS la activista Carmen Rosa De León, del no gubernamental Instituto de Enseñanza para el Desarrollo Sostenible.
Según De León, "la región centroamericana, de 42 millones de habitantes, está librando una lucha que no es nuestra porque en Estados Unidos el uso de drogas es casi generalizado dentro de un estrato social poderoso que no está dispuesto a renunciar a él".
Cifras de la Organización de las Naciones Unidas colocan a Estados Unidos como el mayor consumidor mundial de drogas ilegales, seguido por países de la Unión Europea.
En 2010 había en ese país 22,6 millones de consumidores de drogas mayores de 12 años, el equivalente a 8,9 por ciento de su población, según el estudio "Respondiendo a la violencia en Centroamérica", divulgado el año pasado.
El informe, elaborado por dos senadores estadounidenses, la demócrata Dianne Feinstein y el republicano Charles Grassley, concluyó que el consumo de drogas en Estados Unidos "alimenta la violencia en América Central y en toda América Latina y el Caribe".
En 2010, en Honduras se registró un promedio de 77 asesinatos por cada 100.000 habitantes, en El Salvador de 66 y en Guatemala de 50, mientras que en el norte de México esa proporción fue de 18 asesinados por cada 100.000 personas, sostiene el reporte.
En ese contexto, De León considera que la despenalización del consumo de estupefacientes podría significar una salida a esta matanza, aunque esta opción no resulta fácil.
"No es tan simple. No se puede hablar solo de despenalizar el consumo si no se da en el contexto de un conjunto más amplio de medidas porque también hay países productores y países de tránsito de estupefacientes", explicó.
Aun así, la legalización de las drogas "sería una alternativa" frente a una lucha encarnizada contra los carteles del narcotráfico, "que solo nos lleva a la violencia contra el ciudadano común", matizó.
La discusión regional en torno a la legalización de las drogas tomó aire luego de que el derechista presidente guatemalteco, el general retirado Otto Pérez Molina, anunciara el 17 de enero que esa opción debe ser abordada "lo antes posible" y "con seriedad".
"Creo que la despenalización de las drogas tendría que ser una estrategia en la que estuviera de acuerdo toda la región", junto con Estados Unidos, para de esa forma combatir el crimen organizado, expresó el presidente tres días después de comenzar su mandato de cuatro años.
El mandatario de Colombia, el conservador Juan Manuel Santos, le prendió más fuego a la polémica iniciativa y dijo el 28 de enero que "esa solución sería aceptable para Colombia, si el mundo entero la toma". Pero Washington le salió al paso.
"El presidente estadounidense, Barack Obama, no respalda la legalización como vía para superar el problema de las drogas", dijo el lunes 30 de enero la subsecretaria de Estado para Asuntos Políticos, Wendy Sherman, de visita en Colombia.
La funcionaria abogó más bien por una reducción "sustancial" en la producción de drogas en Colombia, así como del consumo en Estados Unidos.
El mexicano-costarricense David Martínez-Amador, catedrático de crimen organizado trasnacional, dijo a IPS que habría que considerar si se despenaliza el consumo o el tráfico en los territorios centroamericanos, qué drogas serán legalizadas y si México o Colombia deben dar el primer paso.
Además, estimó "muy importante" que Estados Unidos combata el consumo de droga en su territorio y sensibilice a su juventud sobre sus efectos colaterales.
"Si tienen ganas de jugar con soldaditos, que militaricen los barrios que en Estados Unidos son tradicionales puntos de venta y tránsito de droga. Con ello tendrían una probadita de su propia receta tan sugerida en América Latina", satirizó.
Martínez-Amador, quien imparte cursos en varias universidades de México y América Central, reconoce que lograr la despenalización de las drogas no sería algo sencillo.
"La violencia ya no es únicamente debido al trasiego, hay demasiada sangre y rivalidad entre los grupos criminales. Incluso si liberamos la marihuana, la heroína y la cocaína, las drogas sintéticas son la mayor ganancia actual y legalizarlas tiene un riesgo enorme pues dañan el sistema nervioso central", explicó.
Además, "hay rubros como secuestro, extorsión, tráfico de armas y órganos con los que lucran los cárteles. ¿También los vamos a legalizar?", ironizó.
Pero a la vez criticó la denominada "guerra antidrogas" al considerar que "es la guerra personal de Felipe Calderón, (el conservador) presidente de México, contra algunos cárteles del narcotráfico, la cual está mal diseñada pues no da salida".
"Antes de haber militarizado había que depurar y depurar policías, fiscalías, ministerios y no se hizo. Y luego había que congelar el dinero a los criminales, pero poco se logró", añadió.
Otros, como el escritor nicaragüense Sergio Ramírez, no dudan de los efectos positivos que traería la legalización de las drogas para contrarrestar la violencia en la región. "La solución es despenalizar", disparó el mes pasado, uniéndose a otras figuras de las letras latinoamericanas que abogan por esta salida, el mexicano Carlos Fuentes entre ellos.
El literato dijo que así como México se "colombianizó", América Central se está "mexicanizando", en alusión a la embestida de los carteles del narcotráfico en ambos territorios.
Aunque la despenalización del consumo de drogas ha tomado cierto auge como un antídoto frente a la violencia, no todos la ven con buenos ojos en el istmo.
"No creo que la legalización disminuya la violencia. Un ejemplo es el licor que siendo una droga legalizada sigue produciendo grandes problemas en Centroamérica", dijo a IPS el analista político costarricense Claudio Alpízar.
"La solución no está en la legalización, sino en el control del consumo", añadió.
El analista considera que el istmo no ha hecho los esfuerzos necesarios para dialogar con Estados Unidos sobre ese tema y plantear "una propuesta conjunta y seria, con hoja de ruta y plazos".
"Estoy convencido que de ser así, ellos lo apoyarían encantados", concluyó.
Aprovada em 2006 pelo Congresso e envolta em polêmicas discussões, a lei de entorpecentes ficou famosa por endurecer as punições a traficantes – a pena mínima para o tráfico subiu de 3 para 5 anos, por exemplo – enquanto abrandava as penas voltadas aos usuários de drogas.
O objetivo era combater o tráfico e, ao mesmo tempo, focar na recuperação do usuário. A nova resolução, porém, relativiza essas diferenças, permitindo que pequenos traficantes que sejam réus primários com bons antecedentes e não tenham vínculos comprovados com organizações criminosas também possam prestar serviços comunitários, de acordo com o julgamento de cada caso.
O STF já havia decidido em alguns casos que penas alternativas poderiam ser aplicadas aos traficantes – o entendimento é de que a Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas, ratificada pelo Brasil em 1991, é de hierarquia superior à lei e permite a adoção de sanções mais brandas. Agora que a resolução do Senado foi editada, todos os juízes estão obrigados a seguir esse entendimento – o que causou polêmica entre juristas, advogados e magistrados. "Isso é um desserviço ao combate ao tráfico. Estamos vivendo uma situação muito difícil, porque as penas restritivas de direitos são extremamente benevolentes", afirma o desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo José Damião Cogan.
Segundo ele, a possibilidade de reduzir a pena de traficantes não é necessariamente ruim, mas deve ser usada com "parcimônia". "Conheço dois ou três juízes que aplicam penas mínimas sempre, não só em casos excepcionais. Vedar as penas restritivas foi longe demais. Acho que, do jeito que as coisas estão crescendo no Brasil, com droga a gente não pode brincar."
Liberais. Advogados e juristas que defendem a diminuição das prisões por causa de crimes mais leves, por outro lado, são favoráveis à mudança. "Defendo plenamente a conversão da pena em casos específicos. Quando são pequenas quantidades de drogas e não se trata de um traficante conhecido ou que tenha tido condenações reiteradas, a pena alternativa de prestar serviços à comunidade acaba sendo mais útil tanto ao próprio condenado quanto à sociedade", rebate o advogado criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira.
Para ele, a pena de prisão deve ser exclusiva para quem causa graves riscos à sociedade. "A prisão pode ser uma escola do crime para pequenos traficantes sem antecedentes."
Felizmente, nós temos um exemplo real dos resultados de se por fim na guerra contra as drogas e substituí-la por um sistema de tratamento para usuários e dependentes.
Dez anos atrás, Portugal descriminalizou todas as drogas. Uma década após este experimento sem precedentes, o abuso de drogas caiu pela metade:
"Especialistas em saúde de Portugal disseram na sexta que a decisão de descriminalizar o uso de drogas e tratar viciados, ao invés de puní-los, é um experimento que deu certo.
'Não há dúvidas de que o vício está em declínio em Portugal', afirmou João Goulão, presidente do Instituto de Drogas e Adicção em Drogas, em uma conferência que marca o décimo aniversário da lei.
Outros fatores também foram importantes, diz Goulão. 'Este resultado não pode ser atribuido apenas à descriminalização, mas também à confluência de tratamento e políticas de redução de danos'".
Muitas dessas políticas de tratamento não teriam surgido se os dependentes continuassem a ser presos e encarcerados ao invés de tratados por médicos especialistas e psicólogos.
E isto é uma maneira bem mais econômica e humana de resolver o problema. Ao invés de prender 10 mil indivíduos, os portugueses estão trabalhando para curar 40 mil pacientes, e fazendo pequenos ajustes no tratamento contra a dependência, ao mesmo tempo em que adquirem mais conhecimento sobre o assunto.
O levantamento feito na base de dados do Datasus, obtido pelo Estado, informa que a bebida tirou a vida de 34.573 pessoas – 84,9% dos casos informados por médicos em formulários que avisam o governo federal sobre a causa da morte nesse grupo da população. Em segundo lugar aparece o fumo, com 4.625 mortos (11,3%). A cocaína matou pelo menos 354 pessoas no período.
Feita pelo Observatório do Crack, da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), a pesquisa aponta que, na comparação por gênero, há mais registros de morte de homens por álcool e fumo. Em cinco anos, 31.118 homens perderam a vida por causa da bebida. Outros 3.250 morreram em casos associados diretamente ao cigarro.
Na comparação da devastação por Estado, os mineiros lideram as mortes por álcool, com 0,82 morte para cada 100 mil habitantes, seguidos pelos cearenses, com 0,77 morte/100 mil pessoas. Depois aparecem os sergipanos, com 0,73/100 mil. São Paulo registra 0,53 morte para cada 100 mil habitantes.
O levantamento da CNM revela que em São Paulo houve 1.120 vítimas do uso abusivo do álcool em 2006. Em 2010, porém, o sistema registra uma queda de 14% nas informações. O SIM alcança 979 pessoas mortas por consumo de bebida. O Estado que menos apresenta perda de vidas por álcool é o Amapá: quatro em 2006, dez em 2009 e cinco em 2010.
Quando a causa do óbito é o fumo, o campeão de mortes de usuários é o Rio Grande do Sul. A taxa de óbitos pelo tabaco chega a 0,36 para cada 100 mil. A seguir aparecem Piauí e Rio Grande do Norte, ambos com 0,33/100 mil.
A duas principais drogas legalizadas no País, álcool e fumo, juntas, segundo o estudo, mataram 39.198 pessoas em cinco anos. – ou 96,2% do total. Os técnicos da CNM alertam, no entanto, que os dados de 2010 ainda são preliminares.
A devastação pode ser maior. O preenchimento das fichas para informação não é simples e o sistema tem casos de mortes classificadas como óbito por substâncias psicoativas (480). São os casos nos quais é informado no formulário um código que junta mais de uma droga associada à morte.
A Declaração de Óbito (DO) é composta por 9 blocos e 62 variáveis que apontam causa e local da morte. O preenchimento é de responsabilidade do médico, conforme estabelecido pelos Conselhos Federal e Estadual de Medicina, diz o estudo.
Para o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, há uma urgente necessidade de combater o problema das drogas nos municípios. “E não se está fazendo isso. O problema estoura é nos municípios”, afirma.
Ziulkoski diz que a média de cerca de 8 mil óbitos, encontrada no SIM, é um número subestimado. “Não há uma cultura de informação dos médicos”, acrescenta. Para ele, “o País precisa ver que a política de prevenção do uso de drogas é precária”. O estudo abrange 2 mil municípios. “A situação é alarmante.”
Para o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Mauro Aranha, o problema é bem maior. “Há aí uma clara subnotificação das mortes”, afirma. Segundo ele, o governo precisa melhorar a logística nos municípios para que os médicos possam informar os dados reais. “Isso é fundamental para que se possa trabalhar políticas públicas sobre drogas”, defende Aranha.
Pesquisando nas bases de dados do Datasus, técnicos do CNM elaboraram também uma lista com os 50 municípios com maiores taxas de mortalidade por drogas. No caso da mapa das mortes por álcool, Minas Gerais tem 23 municípios, Paraná, 9, e São Paulo, 5.
Quando a conta do dano causado pelo cigarro é feita na lista de 50 municípios, o Rio Grande do Sul se destaca com 17, seguido de Minas, com 7, e Santa Catarina com 6. São Paulo tem 2 municípios na lista dos 50 com maior incidência de mortes por fumo.
Em nota, o Ministério da Saúde explica que os números de 2010, divulgados pelo estudo, podem sofrer ajustes. De acordo com a nota, entre 2006 e 2009 foram notificados 31.951 óbitos com causa básica de consumo de álcool, fumo e substâncias psicoativas (como cocaína canabinoides e alucinógenos). Os dados do SIM são fornecidos pelas secretarias estaduais e municipais de Saúde e gerenciados pelo ministério.
Os óbitos de 2011 só serão conhecidos no final do ano. “O Ministério da Saúde vem desenvolvendo um conjunto de ações para aperfeiçoar o registro de óbitos no País, assim como a qualidade das informações. Uma das medidas foi a intensificação de registros de óbitos por causas mal definidas (parada cardíaca, por exemplo), que caiu de 15% (2004) para 7,8% (2011)”, diz a nota. Outra medida adotada foi a criação, em 2006, da rede nacional do Sistema de Verificação de Óbitos, utilizado para a identificação das causas de mortes naturais. “Com isso”, argumenta o governo, “houve ampliação da notificação no País, por meio do SIM. O sistema capta atualmente 94% dos óbitos ocorridos no território nacional. Esse porcentual está acima do padrão internacional (90%)”.
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rev Samuel nº 2
UMA GUERRA PERDIDA
O fracasso da política internacional antidrogas
Um estudo recente realizado pela Comissão Mundial para Políticas Antidrogas, que conta com o aval da ONU, chegou a uma conclusão óbvia, mas nem por isso menos eloqüente: o que o mundo anda fazendo para combater o uso de drogas ilegais, a tal "guerra às drogas" iniciada há quatro décadas pelo presidente norte-americano Richard Nixon, é um fracasso rotundo, contundente e irremediável. E a razão de terem chegado a essa conclusão é simples: bilhões de dólares e milhares de vidas mais tarde, a produção, o comércio e o uso das drogas ilegais continua crescendo a todo vapor. Aliás, cresce tanto que hoje em dia cocaína e heroína custam muito menos do que custavam há vinte anos.
Calcula-se que existam no mundo 270 milhões de usuários de drogas. Um Brasil e meio. Uma população 27 vezes maior que a de Portugal, quatro vezes e meia maior que a da França, seis vezes maior que a colombiana. Enfim, um número de pessoas que, reunidas, formaria o quarto país mais populoso do mundo.
O maior mercado consumidor é os Estados Unidos, que consome anualmente, segundo os cálculos mais fiáveis, cerca de 165 toneladas de cocaína. Em segundo lugar, mas avançando rapidamente, vem a Europa, que consome cerca de 124 toneladas anuais. Esses dois mercados são abastecidos basicamente pela produção latino-americana de cocaína, mais especificamente da região andina, ou seja, Bolívia, Peru, Colômbia e, em medida quase insignificante, Equador. A maior parte do que chega aos Estados Unidos passa pelo México, onde, aliás, se consome 17 toneladas anuais, deixando o Canadá, com suas 14 toneladas, para trás.
Para a Europa, outras rotas são mais utilizadas, levando a cocaína latino-americana via África do Sul e, em muito menor medida, através do Brasil.
Para a América Latina, esse mundo de droga produzida e negociada tornou-se um problema que em alguns países ameaça escapar de controle. Sabe-se bem da convulsão enfrentada pelo México, fala-se de como a Colômbia pouco a pouco procura voltar aos eixos, mas pouco ou nada se fala do que acontece nos países da América Central. Lá, pelo menos três países – El Salvador, Honduras e Guatemala – que mal se recompõem do flagelo de prolongadas guerras civis correm o gravíssimo risco de se tornarem vítimas terminais do crime organizado pelo narcotráfico.
Se economias aparentemente prósperas, se países que vivem tempos de bonança, enfrentam a ameaça de poderes paralelos formados pelos grandes cartéis de drogas, o que dizer de países pequenos, que mal cicatrizam as chagas de um passado recente? Vale recordar um estudo do Banco Mundial, indicando que, na América Central, o custo do crime e da violência corresponde a 8% do PIB da região.
Muito se menciona a Colômbia como exemplo bem sucedido da luta contra o tráfico de drogas. Um exame mais sereno e meticuloso mostra que a realidade não é bem essa. Diminuiu, e muito, a violência, é verdade. Mata-se e morre-se hoje menos do que há dez ou quinze anos. O volume de drogas exportadas, porém, permaneceu praticamente inalterado. Uma série de fatores que são impossíveis de se reproduzir em outros países funcionou na Colômbia, que, além de drogas, exportou o caos – basta ver o que acontecia há dez ou quinze anos no México e na América Central, e o que acontece agora. Ou seja, cura-se aqui enquanto feridas são abertas ali e acolá.
Resta ver, além do mais, que medidas os Estados Unidos pretendem tomar para impedir o fluxo de armas para os países exportadores de drogas. De cada dez armas aprendidas no México, sete saíram dos Estados Unidos. O governo colombiano detectou e apreendeu vários carregamentos de armas de pequeno calibre – revólveres, pistolas – despachados dos Estados Unidos pelo correio.
A questão é vasta e profunda, mas até agora não conseguiu levar a trilha alguma que seja capaz de encaminhar, se não para uma solução, ao menos para um paliativo eficaz. E nesse mercado em franca expansão, nessa festança macabra, enquanto norte-americanos e europeus continuam pondo os usuários, os latino-americanos continuam pondo as drogas e os mortos. Na Colômbia, perdeu-se a conta. No México, pelo menos 42 mil nos últimos cinco anos, e caminha-se rápido para a marca dos 50 mil.
Na América Latina, os produtores e exportadores de drogas são empresários bem sucedidos, sem dúvida. Lucram cada vez mais, e mostram que sabem defender seus interesses, não importa ao custo de quantas vidas.
Pena que esses latino-americanos, empreendedores bem sucedidos, tenham preferido manter seus negócios em nossas comarcas. Bem que poderiam seguir o exemplo dos plantadores de maconha na Califórnia. Lá, os empreendedores locais conseguiram um feito notável: hoje em dia, a maconha é o mais bem sucedido cultivo em todo o estado. Rende cerca de 14 bilhões de dólares por ano. Plantam, processam, comercializam – e nenhum latino-americano morre por causa deles.
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rev Samuel nº 2
O BOM EXEMPLO PORTUGUÊS
Com a descriminalização, mortes relacionadas às drogas caíram 50%
O governo de Portugal não planeja voltar atrás. Apesar da Holanda ser o país europeu mais associado à legislação liberal de drogas, já faz 10 anos que Portugal se tornou a primeiranação europeia a dar o passo corajoso de descriminalizar a posse de todas as drogas dentro de suas fronteiras – de maconha até heroína, e tudo o mais. Esta medida controversa entrou em vigor em junho de 2001 em resposta às crescentesestatísticas de HIV/AIDS.
Enquanto muitos críticos do país pobre e amplamente conservador atacavam a mudança radical na política de narcóticos, temendo que levasse a um turismo de drogas e ao mesmo tempo agravasse a já assustadora alta taxa de uso de drogas pesadas no país, um relatório publicado em 2009 pelo Cato Institute contauma história diferente. Glenn Greenwald, o advogado e autor que conduziu a pesquisa, disse à Time: “A descriminalizaçãodas drogas em Portugal tem sido um sucesso estrondoso. Ela permitiu que o governo português pudesse gerenciar e controlar a questão muito melhor do que praticamente todos os outros países ocidentais”.
Em 2001, Portugal tinha o índice mais alto da União Europeia de vírus HIV entre usuários de drogas injetáveis – incríveis dois mil novos casos por ano, em um país com população de somente 10 milhões. Apesar da controvérsia previsível, o governo português sentiu que não havia nenhuma outra forma com a qual poderia efetivamente dominar este problema crescente. Enquanto nos Estados Unidos os pedidos por descriminalização total das drogas ainda são descartados como uma espécie de preocupação marginal, os portugueses decidiram fazê-lo, e têm silenciosamente lidado com isso há uma década. Surpreendentemente, a maioria dos relatórios confi áveis parecem apontar que a descriminalização tem sido um sucesso impressionante.
Programas de tratamento
O DEA (Drug Enforcement Administration), órgão que centraliza o combate às drogas nosEUA, vê esta questão de uma maneira diferente. Portugal, eles afirmam, era um desastre, com taxas de heroína e HIV fora do controle. “A população viciada de Portugal e os problemas que acompanham o vício continuam a crescer”, afi rma o DEA. “Em um esforço para reduzir o número de dependentes no sistema prisional, o governo português tem promulgado algumas políticas radicais nos últimos anos com a eventual descriminalização de todas as drogas ilícitas em julho de 2001”.
Contudo, a situação é outra, como explica Greenwald: ao libertar seus cidadãos do medo da perseguição e prisão por uso de drogas, Portugal melhorou drasticamente sua habilidade em encorajar os dependentes a recorrerem ao tratamento.
“Os recursos antes destinados para a perseguição e prisão dos viciados em drogas estão agora disponíveis para prover programas de tratamento para eles”, diz. Sob o sistema perfeito, o tratamento também seria voluntário, mas como alternativa à prisão, o tratamento obrigatório economiza dinheiro. Mas, por ora, “a maioria dos Estados da União Europeia tem taxas de consumo de drogas que são o dobro ou o triplo das taxas portuguesas pós-descriminalização”, diz Greenwald.
Para aqueles que procuram dicas de como o governo dos Estados Unidos pode enfrentar seu problema doméstico de drogas, os números portugueses são atraentes. Após a descriminalização, Portugal acabou vendo-se com a menor taxa do uso de maconha por pessoas acima de 15 anos da União Europeia: por volta de 10%. Compare isso com os 40% de pessoas acima de 12 que fumam maconha regularmente nos Estados Unidos, um país com algumasdas leis antinarcóticos mais punitivas no mundo desenvolvido. O uso de drogas de todos os tipos diminuiu em Portugal: o uso na vida entre adolescentes de 12 a 15 anos caiu de 14,01% para 10,6%. O de heroína na vida entre jovens de 16-18 anos caiu de 2,5% para 1,8%. E aquelas taxas horríveis de infecção do vírus HIV que causou, em primeiro lugar, a mudança? Astaxas de infecção de HIV dentre os usuários de droga caiu incríveis 17%, enquanto as mortes relacionadas às drogas foram reduzidas para mais do que a metade.
“Não há dúvidas de que o fenômeno do vício esteja em declínio em Portugal”, disse João Goulão, presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência, numa entrevista coletiva que marcou o décimo aniversário da lei.
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FSP 01/08/2011
Freud e o frenesi da cocaína nas rodas intelectuais do século 19
DWIGHT GARNER / "NEW YORK TIMES"
O primeiro milionário da cocaína no mundo foi provavelmente Angelo Mariani, um químico francês natural da Córsega, como escreve o médico Howard Markel em seu novo livro, "An Anatomy of Addiction" (uma anatomia do vício). Nos anos 1860, Mariani juntou folhas de coca moídas a vinho de Bordeaux e vendeu seu "vinho tônico" sob a marca Vin Mariani. Cada 29 ml do Vin Mariani continham seis miligramas de cocaína.
Um dos admiradores do Vin Mariani foi o ex-presidente americano Ulysses S. Grant (1822-85), que, aproximando-se da morte por câncer da garganta, tomava-o enquanto redigia suas memórias. O vinho foi elogiado por celebridades como Júlio Verne (1828-1905), Henrik Ibsen (1828-1906), Thomas Edison (1847-1931), Robert Louis Stevenson (1850-94), Alexandre Dumas (1802-70) e Arthur Conan Doyle (1859-1930). É divertido imaginar cada um deles em um anúncio de jornal do Vin Mariani, com legenda anunciando, como diria o comediante Lenny Bruce (1925-66) mais tarde sobre seu consumo de heroína: "Vou morrer jovem, mas é como beijar Deus".
Markel é professor de história da medicina na Universidade do Michigan e autor de livros que incluem "When Germs Travel" (quando os micróbios viajam) e "Quarantine!" (quarentena!). Ele relata a história do Vin Mariani para revelar o grau de adesão de intelectuais à cocaína, uma substância inebriante até então desconhecida nos Estados Unidos e na Europa, na segunda metade do século 19.
Cientistas se apressaram em explorar os usos possíveis da cocaína. Alguns acreditavam na capacidade dela de "energizar o mais indolente dos pacientes", escreve o autor, "e curar uma grande variedade de males crônicos como dispepsia, flatulência, cólicas, histeria, hipocondria, dores nas costas, dores musculares e disposições nervosas". Os pacientes podiam comprar cocaína nas farmácias, sem receita médica, do mesmo modo como hoje você pode comprar uma lata de Red Bull.
Entre os que aderiram ao fervor que cercava a cocaína na década de 1880 estavam o jovem Sigmund Freud (1856-1939), o futuro pai da psicanálise, que na época praticava medicina em Viena, e o cirurgião William Halsted (1852-1922), que fazia o mesmo em Nova York e se tornaria um cirurgião inovador. Freud acreditava, desastrosamente, que a cocaína pudesse ser usada para curar a dependência de morfina; sua primeira publicação científica importante, "Über Coca" (1884), tratava da droga. Halsted estudou a cocaína como anestésico local para uso em cirurgias. Ambos fizeram experimentos livres com o pó branco. Ambos se tornaram dependentes.
INSIPIDEZ
Em "Anatomy of Addiction", Markel entrelaça as histórias desses dois homens de maneira estreita, inteligente e, em vários momentos, elegante. Seu livro, elogiável em muitos níveis, sofre de uma insipidez difusa. Há poucas frases memoráveis ou insights encantadores. Frases feitas à moda de "pálido como um defunto" ou "evitar como uma praga" estão por toda parte. A impressão que se tem é de que esse livro foi escrito não a base de um pó estimulante boliviano, mas de chá de camomila.
Mas Markel escreve bem, entre outras coisas, sobre a atração que a cocaína representava para médicos sobrecarregados de trabalho. Um célebre professor de medicina da época repreendia seus alunos, dizendo que "aquele que precisa de mais de cinco horas diárias de sono não deve estudar medicina".
O que poderia haver de errado com a cocaína? Sobre os efeitos da droga, o autor escreve: "Não se trata da alegria despreocupada, do tipo 'amo todo mundo' que surge após algumas doses de uísque. Sob a influência da cocaína, uma pessoa experimenta uma sensação de autoconfiança extrema, sente-se quase eletricamente carregada de pensamentos mais rápidos e ideias melhores (pelo menos em sua própria visão, no momento da euforia induzida pela droga), fala mais rapidamente e tem uma apreciação maior de sensações como visão, som e tato".
Freud gostava tanto da coisa que mais ou menos entre 1884 e 1896, quando estava na casa dos 20 e 30 anos e em seu período de consumo mais intenso de cocaína, não raro aparecia com o nariz vermelho e úmido. Ele dava cocaína a seus familiares e amigos. Usava-a para "fazer os dias ruins ficarem bons, e os dias bons, melhores", escreve o autor, e para aliviar "a dor de ser Sigmund".
Suas cartas à noiva às vezes eram repletas de sentimento sexual, do tipo que uma fileira de pó pode instigar. "Vou beijar você até deixá-la vermelha e alimentar você até deixá-la gordinha", escreveu Freud. "E, se você for ousada, vai ver quem é mais forte: uma menininha meiga que não come o suficiente ou um homem grandão e selvagem com cocaína em seu corpo."
Freud deixou de usar cocaína por volta de 1896, quando tinha 40 anos, antes de escrever as obras que o fizeram famoso. Markel toma o cuidado de não vincular estreitamente o consumo da droga por Freud às ideias posteriores dele. Mas oferece pequenas porções de especulação tentadora.
COCAÍNA E INCONSCIENTE
Estudos acadêmicos recentes, ele escreve, ofereceram "ponderações nuançadas sobre a ligação entre o abuso de cocaína por Sigmund e suas ideias singulares acerca do acesso ao inconsciente por meio da terapia da fala; a divisão entre como nossa mente processa o prazer e lê a realidade; a interpretação dos sonhos; a natureza de nossos pensamentos e de nosso desenvolvimento sexual; o complexo de Édipo, e o desenvolvimento do id, ego e superego".
Ele cita o historiador Peter Swales: "O conceito de libido de Freud não passa de uma máscara e de um símbolo da cocaína; a droga, ou, melhor, seu espectro invisível, espreita o conjunto dos escritos de Freud, até o final."
Freud usava cocaína por via oral e nasal. Halsted, enquanto estudava as utilizações da droga como anestésico local, a injetava diretamente em suas veias. Ele se tornou muito mais dependente da cocaína, e esta quase arruinou sua carreira. Os dois homens eram contemporâneos e transitavam em círculos semelhantes, mas não há indicação de que tenham se conhecido.
Halsted acabaria por passar algum tempo em um hospício, tentando livrar-se da dependência. Markel apresenta o argumento de que Halsted nunca chegou a superar seus vícios por completo e que continuou a abusar da cocaína e da morfina -mantendo-se funcional-- até o final da vida.
Travar conhecimento com Halsted talvez seja um dos prazeres proporcionados por este livro. Ele foi possivelmente o maior cirurgião do mundo em sua época, pioneiro das salas de cirurgia livres de germes no hospital Johns Hopkins e de uma escola de cirurgia chamada Escola da Segurança. Criou as hoje onipresentes luvas de borracha para uso por profissionais médicos, depois de ver médicos e enfermeiras esfregarem as mãos com desinfetantes químicos até deixá-las em carne viva.
Halsted não era um homem especialmente fácil de se gostar. Ao longo de sua vida, provavelmente em consequência dos picos e vales da dependência química, foi se tornando mais e mais rude, errático, irônico e raivoso. Mas é ele quem injeta alguma vivacidade áspera no plácido livro de Markel.
Tradução de Clara Allain
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Alguns produtos que eram vendidos em farmácias e comércio em geral...
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27.03. 2012 Diário da Liberdade
Mulheres e narcotráfico: entre a guerra delirante e a impunidade
Vermelho - Há centenas de milhares de mulheres - sem nome, sem idade, sem rosto - que por circunstâncias da vida ou por decisão própria somam-se às filas do narcotráfico.
Gabriela Oliveros e Marcela Salas
Cidade do México. Carregam cartuchos, o mesmo que carregar bebês. Disparam, e amam também. Transportam drogas, às vezes em suas roupas, às vezes em seus corpos, às vezes em seus filhos. Lidam com sangue, com ossos. Explodem granadas, e algumas vezes são explodidas. São as mulheres do narcotráfico, as quais, no vai e vem da compra e venda de substâncias ilícitas, oscilam entre os limites da vítima ou do agressor. Seu papel se manteve velado durante décadas, mas, diante do crescimento do clima de violência que flagela o país, adquirem cada vez mais visibilidade.
As mulheres também estão desaparecidas, raptadas com fins de exploração sexual pelas mesmas redes, torturadas e assassinadas. E, por outro lado e no mesmo âmbito, estão as mulheres jornalistas que mostram com valentia os bastidores das máfias, as defensoras de direitos humanos, as mulheres que combatem. Todo um mundo feminino que denuncia, se rebela e se defende.
No mundo do narco
Digna rainha das rainhas
diante da lei, não se inclina
caminha com pés de gato
domina a corda solta
entre a mais bela rosa
mais perigoso o espinho
Esse é um trecho da música "A rainha das rainhas", que o grupo Os Tigres do Norte dedicou a Sandra Ávila Beltrán, mulher ligada ao narcotráfico cujo nome se soma ao de outras – todas elas com a característica em comum de serem mulheres bonitas – que estão relacionadas com o mundo do contrabando de drogas como Zayda Peña, Liliana Lozano, Alicia Machado, Dolly Cifuentes, Laura Zúñiga.
No entanto, além da beleza e da fama, há centenas de milhares de mulheres – sem nome, sem idade, sem rosto – que por circunstâncias da vida ou por decisão própria unem-se às filas do narcotráfico.
Recentemente a Central de Organizações Camponesas e Populares informou que existem cerca de 200 mil mulheres mexicanas que trabalham de forma direta ou indireta para quadrilhas de narcotráfico, e que sete em cada dez mulheres no norte do país estão ligadas ou são beneficiadas pelo dinheiro do narcotráfico.
Estratégicas no tabuleiro da droga
Dados da DEA mostram que há 10 mil mulheres encarceradas por crimes relacionados à fabricação, venda e distribuição de drogas, e que a porcentagem de detidas por esta causa aumentou 400% desde 2007.
A participação feminina no negócio das drogas não é inédita, mas os papeis que ocupam dentro das organizações criminosas está mudando. Liliana Carbajal Larios, especialista em mulheres e segurança nacional, destaca os três principais papeis desempenhados atualmente nas fileiras do narcotráfico: articulação e mediação, administração e distribuição de recursos e agentes de reestruturação e coesão no núcleo familiar, quando morre o chefe da família.
Elas, no entanto, têm o custo de muitas outras tarefas. Entre elas, Carbajal Larios destaca "as mulheres troféu, que desempenham o papel de 'acompanhantes' dos narcotraficantes, as 'burreras' ou 'mulas' que transportam drogas de uma fronteira para outra, carregando bebês mortos que também estão carregados com drogas, ou fazendo-se enxertos de cocaína e outras substâncias no busto; as 'buchonas', que são mulheres que estão em pontos estratégicos e informam os grupos de narcotraficantes quando policiais ou militares estão para prendê-los, e que não podem ser julgadas devido à impossibilidade de comprovar sua participação no negócio".
As mulheres também estão consumidoras, cuja atuação é indireta, e as mães, irmãs, filhas e esposas de narcotraficantes, que não participam ativamente, mas tampouco podem sair dessa situação – apesar de viverem na mais pródiga opulência – são focos de sequestros e ajustes de contas.
Outras mulheres desempenham papeis que antes estavam destinados apenas aos homens, como as varejistas, diretamente relacionadas com a venda de substâncias ilegais em pequena escala, ou as mulheres mercenárias, que "se preparam para assassinar a sangue frio, veem como decapitar e logo reproduzem, o que tem ocasionado também que aumentem os assassinatos sangrentos de mulheres cometidos por mulheres", pontua Liliana Carbajal.
Violência e morte
Em 2011, por exemplo, "Monterreu começou o ano com a notícia da "ruiva da ponte Gonzalitos', uma mulher que apareceu enforcada em 31 de dezembro na zona de Linhares", explica San Juana Martínez, jornalista especializada em violência de gênero, direitos humanos e narcotráfico.
A jornalista assinala que, somente em Nuevo León, seu estado natal, os crimes contra mulheres aumentaram 689% de 2005 a 2011, com três feminicídios em 2005 e 211 em 2011.
"Há mulheres desaparecidas que se enquadram como vítimas do tráfico ou de exploração sexual. Também ocorrem casos de os "arrastões do prazer", onde os narcotraficantes recolhem as meninas que eles gostam e às vezes as devolvem, mas em outras ocasiões não", explica Martínez e assinala que o "México é uma terra de feminicídios, produto do redemoinho da barbárie do narcotráfico que já não faz distinções de nenhuma classe".
Mulheres que combatem o narcotráfico
Em meio ao aumento generalizado da violência, registra-se um aumento da presença feminina em forças policiais. Não somente há mais mulheres policiais, mas também agora elas querem ocupar chefias e altos postos, cargos em que anteriormente não podiam se posicionar. Esse fenômeno, no entanto, "não deve necessariamente ser considerado como um triunfo de gênero", adverte a doutora em Sociologia Olivia Tena Guerrero, coordenadora do Programa de Investigação Feminista da UNAM.
Em alguns casos, destaca Olivia Tena, as mulheres conseguiram alcançar altos postos "somente porque os homens os recusaram". Esse é o caso de Marisol Valles García, jovem de 20 anos que foi nomeada por alguns meios de comunicação "a mulher mais valente do México" depois de aceitar a chefia da polícia do violento município de Praxedis Guerrero, em Chihuahua. O cargo que ocupou ninguém mais quis, pois seu sucessor, Manuel Castro, havia sido sequestrado, torturado e decapitado. Dois meses depois de assumir o cargo – e de logo receber numerosas ameaças – Marisol foi tirada do posto por ausentar-se de seus trabalhos e solicitou asilo nos Estados Unidos.
Apesar dos avanços no reconhecimento do direito que as mulheres têm de se empregar no que elas decidirem, as causas que levam muitas às instituições policiais não são precisamente a vontade de ajudar "os demais a servir a sociedade". "Muitas delas", reconhece Tena Guerrero, "aproximam-se desse trabalho porque se dão conta que – apesar do perigo que implica – podem ganhar mais sem ter muitos estudos, e porque buscam a obtenção de um poder que antes não conheciam".
A também diretora de um projeto de empoderamento de mulheres policiais na Cidade do México acrescenta que, por causa do aumento da violência e criminalidade, que se originam de não haver modificações da estratégia de combate ao crime organizado no momento oportuno, "a função das mulheres policiais é mais repressora que preventiva".
Seja qual for seu papel no narcotráfico, é claro que as mulheres têm adquirido paulatinamente poder e têm deixado de desempenhar tão somente papeis auxiliares ou de acompanhamento. "Escutamos e lemos histórias diariamente", disse a jornalista Sanjuana Martínez, autora do livro "A fronteira do narcotráfico". "Às vezes são difundidas e muitas outras ficam no esquecimento, mas é preciso ter em conta a situação em que estamos imersas como gênero. Devemos nos cuidar entre nós, fazer redes e nos protegermos, essa é a única maneira de nos defendermos diante dessa guerra delirante", adverte a repórter de La Jornada.
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Observatório da Imprensa 27.02.2012
O prejuízo das drogas
Luciano Martins Costa
Reportagem publicada pela Folha de S.Paulo na segunda-feira (27/2) informa o crescimento de custos na previdência social causados pelo afastamento de trabalhadores por abuso de drogas. No ano passado, já foram mais de 124 mil concessões de auxílio- doença a dependentes químicos e o número tende a crescer. Segundo o texto, o volume de pessoas que precisam depender do Estado por conta do uso de crack, cocaína, anfetaminas e maconha chega a ser oito vezes maior do que o dos que se tornam inabilitados para o trabalho por causa do abuso de álcool e cigarros.Embora seja difícil chegar a um número preciso, devido a certas características dos processos patológicos relacionados a cada tipo de droga, e das prováveis associações entre o uso de algumas drogas e o alcoolismo, o jornal se arrisca a apostar em um número quando trata de avaliar o prejuízo para o Estado causado pela necessidade de prover a sobrevivência desses cidadãos e seus familiares.
Com um valor médio mensal pago a cada dependente calculado em R$ 861, chegou-se a uma despesa anual de, no mínimo, R$ 107 milhões em 2011.
Estado ineficiente
Em dois anos, segundo o jornal, a Previdência precisou liberar mais de 350 mil licenças de trabalho porque o uso de drogas se configurou como doença a impedir a atividade produtiva.
Um dos aspectos mais obscuros da reportagem é a constatação de que esse auxílio não está sendo destinado necessariamente às famílias dos beneficiários, mas que possa estar sendo desviado para a compra de drogas.
Não há qualquer exigência para que o trabalhador afastado comprove que usa o dinheiro para se tratar da dependência e, isoladamente, a Previdência não tem como fiscalizar. Portanto, o dinheiro do Estado pode estar sendo desviado diretamente para o narcotráfico.
O maior número de contribuintes afastados por causa do uso de drogas ocorre no estado de São Paulo, dado que remete às imagens fortes da Cracolândia que ocuparam as páginas dos jornais nas primeiras semanas do ano.
A reportagem também faz lembrar que o problema social, que se apresenta agora com sua grave repercussão na saúde pública e na economia do país, precisa ser atacado de maneira sistêmica e abrangente. Segundo o jornal, aumentou em 900%, nos últimos oito anos, o número de atendimento de usuários de drogas no Sistema Único de Saúde. No ano passado foram mais de 3 milhões de ocorrências.
As ligações de traficantes com policiais corruptos e suas incursões na vida pública por meio do financiamento de candidatos têm sido divulgadas pela imprensa. A constatação de que o descontrole sobre a ação do narcotráfico pode afetar as contas da Previdência coloca essa questão num nível de gravidade muito maior.
Trata-se de um sinal claro de como a ineficiência do Estado em relação a um problema social pode ser crucial quanto a suas chances de proporcionar um processo sustentável de desenvolvimento – o crescimento do número de usuários de drogas, principalmente entre os mais jovens, pode limitar as perspectivas futuras de milhões de brasileiros.
Além das manchetes
Sabe-se que traficantes atuam sem constrangimento em escolas públicas e universidades, muitas vezes cooptando estudantes como distribuidores de drogas no interior das instituições.
Há quase trinta anos, a mesma Folha de S.Paulo publicou uma reportagem demonstrando que as direções de algumas das principais universidades paulistas não tinham políticas de prevenção contra a circulação de drogas em seus territórios. De lá para cá, tudo indica que as coisas continuam na mesma.
Os rituais de recepção de calouros quase sempre incluem um processo de iniciação no álcool e na maconha, o que, para adolescentes imaturos, pode representar um marco decisório em suas carreiras acadêmicas e profissionais.
Essas são questões que não costumam frequentar os debates sobre descriminalização das drogas consideradas mais “leves”, embora o relato publicado pela Folha na edição de segunda-feira inclua usuários de maconha entre os brasileiros invalidados para o trabalho.
A reportagem merece uma extensão, com a ampliação dos debates e a divulgação das políticas públicas que precisam ser revistas, para evitar que o problema se transforme em desafio insuperável não apenas na Previdência Social.
Observe-se que o levantamento dos dados sobre trabalhadores afastados da atividade produtiva por uso de drogas foi realizado pelo Ministério da Previdência a pedido do jornal, ou seja, a questão não parece estar entre as prioridades da instituição.
Registre-se, então, que, quando quer, a imprensa sabe usar suas atribuições como gestora de certa agenda pública para levantar questões relevantes. Resta esperar para ver se o interesse se estende para além da manchete eventual.
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E porque não legalizar.
Thiago Carvalho e Lucas Fuhr [1]
A pergunta do título provavelmente é a pergunta mais frequente feita pelos usuários da famosa cannabis sativa, conhecida também pelo nome de maconha. Entretanto, a pergunta que deveria ser feita é: por que ela é proibida? Muitos dos leitores não devem fazer ideia do motivo pelo qual o “cigarrinho de artista” é proibido, enquanto drogas que causam danos maiores à nossa saúde são legalizadas, e oferecidas nas prateleiras dos melhores supermercados, ou receitadas por médicos, como, por exemplo, os emagrecedores.Uma lei criada na mesma época da lei seca dos Estados Unidos (que proibiu o consumo do álcool no país) gerou uma onda de proibição da maconha que percorreu o mundo. Para ser mais preciso, a maconha foi proibida posteriormente ao álcool, devido a uma reportagem panfletária, regada a preconceito, de um pastor conservador que demonizava a ervinha e dizia que ela seria o fim da geração jovem do país, sem que nenhuma evidência científica fosse apresentada. A mentira foi se espalhando pelo nosso planeta e hoje poucas pessoas sabem que a proibição da cannabis tem a mesma origem da proibição da adorada cervejinha e que o lobby das empresas de bebidas venceu o conservadorismo americano. A maconha não teve a mesma sorte e hoje ela é proibida, criminalizada e dominada em toda a cadeia produtiva pelo crime organizado.
Muitos vão dizer que a maconha deve continuar a ser proibida por causar mal e ser entrada para drogas mais pesadas. Primeiro: causar mal até causa, mas realizadas sobre o dano gerado pelo uso contínuo da cannabismostraram que é um dano mínimo se comparado ao causado pelo uso de fármacos distribuídos e altamente disseminado na comunidade médica, para não falar dos danos de longo prazo do cigarro e do álcool. O fato de causar mal não é justificativa para a proibição, por que, bem ou mal, até o salgadinho com gordura trans faz mal e a escolha entre o prazer e o dano à saúde é um trade off que deve ser feito pelo usuário, visto que o perfil do usuário não é o de provocar danos à outrem, da mesma forma que deve ser feito pelo cara do bar da esquina ou pela garota comendo um cachorro quente cheio de maionese no bar da escola.
Agora, a segunda razão, talvez a que gere mais consenso entre os setores conservadores da sociedade, é a maconha ser entrada para drogas mais pesadas, como antidepressivos, álcool, tabaco, calmantes e tantas outras. É aquele famoso mito da busca incansável pelo maior teto. Entretanto, da mesma forma que nem todo mundo que bebe procura outra droga mais forte que o deixe mais doidão do que quando está bêbado, o usuário não procura uma droga que o deixe mais louco de quando ele fica chapado. Até por que o princípio ativo das outras famosas drogas ilícitas é completamente diferente do princípio ativo da maconha, dando assim baratos diferentes, o que desmitifica o fato do cara querer ficar mais chapado. Se o maconheiro quiser ficar mais chapado, ele vai ter que fumar mais maconha e não fumar crack.
A proibição gera a criminalização do usuário e isso é preocupante, principalmente pelo recorte de classe estabelecido em função da subjetividade e da arbitrariedade concedida às autoridades ao determinar judicialmente a condição de usuário e de traficante, pois vemos muitos jovens, de qualquer classe social, sendo tratados como bandidos por acenderem um baseado. Não dá para ignorar o fato de que a criminalização do usuário da maconha se intensifica no usuário de baixa renda, pois o ‘playboy’ na maioria das vezes vai levar um TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência) e uma bronca dos pais, enquanto o morador da favela muitas vezes responde por tráfico e é esculachado pela polícia truculenta e repressiva, mesmo após terem sido pegos com a mesma quantidade de maconha que o usuário de classe média. Mas, existe uma criminalização que é tão ruim quanta a da nossa jurisdição: a criminalização da sociedade, que julga o usuário como se fumar maconha determinasse o caráter da pessoa ou até mesmo a sua qualidade como profissional.
A maconha não é só usada por jovens inconsequentes ou por hippies, ela é usada por médicos, advogados, políticos e empresários. Trata-se de uma planta que tem a capacidade de baixar o stress da rotina e é uma forma de desligar, não só dos problemas da nossa sociedade movida pela ambição capitalista das pessoas, uma forma de refletir sobre o nosso mundo ou simplesmente um subterfúgio para rir com bons amigos e compartilhar momentos juntos sem consequencias alarmantes ou irresponsáveis
Entretanto, a maconha não tem só o caráter de droga recreativa ou espiritual, ela também é um forte remédio para a ansiedade, dor, e falta de apetite. Sendo utilizada em diversos países de forma medicinal, até mesmo na casa do Tio Sam, onde ela foi proibida primeiramente. Mas não é só na medicina que a maconha pode ser utilizada. O cânhamo, a fibra da planta, é uma fibra mais forte que o algodão, ou seja, com ela podem ser fabricadas roupas mais resistentes e baratas. Sem contar que a cannabis sativa é uma planta que requer bastante sol e pouca água, e eu conheço um lugar no Brasil que tem a condição perfeita para a sua produção: o nordeste brasileiro. O que mudaria não só a condição econômica da região, mas a vida dos agricultores familiares que, por meio de cooperativas, poderiam mudar sua vida e de sua comunidade.
Isso que ainda nem falamos que a produção legal da erva gerará impostos que serão revertidos em educação, saúde e infraestrutura do nosso país. Sem contar que com a produção controlada o usuário terá acesso a uma maconha de qualidade superior, sem uma série de produtos que são colocados pelos traficantes para render na quantificação da mercadoria. A legalização trará outros benefícios como o enfraquecimento do tráfico, a possibilidade de uma campanha do uso consciente, como atualmente são as de utilização de preservativos da cannabis, e do maior acesso à informações que levem o jovem a fazer uma escolha por fumar ou não fumar com maior propriedade. É por esses e tantos outros motivos que defendemos a legalização como principal luta, pois entendemos que a descriminalização é um avanço importante; mas não deve ser o fim de nossa luta e sim o próximo passo.
[1] Thiago Carvalho é estudante da UFRGS, secretário-geral da UEE Livre RS e militante do Movimento Mudança e Lucas Fuhr é estudante da UFRGS e militante do Movimento Mudança do Rio Grande do Sul
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Coletivo DAR 12.02.2012
Guerra as Drogas, ainda e sempre?
Thiago Rodrigues
O debate sobre as drogas ilícitas passa por novo período de incandescência. As ações de pacificação de favelas no Rio de Janeiro, a internação involuntária de usuários de crack moradores de rua, as marchas da maconha promovendo discussões sobre os limites democráticos da liberdade de expressão, as declarações “progressistas” de personalidades públicas sobre a descriminalização das drogas, entre outros acontecimentos, põem em evidência as questões relacionadas ao tema. Sob os holofotes, no entanto, range um confronto contínuo e violento, que só tem feito agravar nas últimas décadas: o conflito cotidiano da chamada guerra às drogas.O Brasil comprometeu-se cedo com o regime internacional de coibição das drogas – o proibicionismo. Ainda nos anos 1920, foram aprovadas as primeiras leis para enfrentar o suposto problema de saúde pública causado pelo uso de substâncias psicoativas. A proibição de algumas delas, vindas na sequência, não pôs fim à venda e ao consumo; todavia, produziu, efetivamente, um problema de segurança pública. E assim, convertendo usuários e comerciantes de drogas em criminosos, o já amplo exercício seletivo do direito penal e da repressão policial sobre pobres, negros, migrantes e favelados ganhou um reforço significativo.
A adesão ao proibicionismo, no Brasil, não distinguiu períodos democráticos e ditatoriais. A Convenção Única da ONU, por exemplo, tratado que estabeleceu as bases do atual regime internacional de drogas, foi assinada pelo governo Jânio Quadros, em 1961, mas ratificada apenas em 1964, após o golpe de Estado. A própria distinção entre “usuário” e “traficante” – saudada por muitos reformistas hoje em dia – apareceu na legislação brasileira na Lei de Tóxicos (Lei nº 6.368), editada em 1976, durante a ditadura. Essa diferenciação fixou o consumidor de drogas como “doente” propenso a praticar crimes para manter seu “vício”, enquanto elevou as penas para os negociantes ilegais.
Quando a Lei de Tóxicos foi publicada, já estava em marcha a war on drugs declarada pelo presidente estadunidense Richard Nixon, em 1971. Essa guerra fundou-se na divisão maniqueísta e simplista do mundo entre países produtores e consumidores, justificando intervenções diplomático-militares dos Estados Unidos a título de combate ao narcotráfico. O modelo da guerra às drogas prescreve militarizar o enfrentamento do tráfico, com apoio financeiro e de treinamento patrocinados pelos EUA. Esse programa foi ampliado, desde os anos 1980, em governos tanto democratas quanto republicanos. O Plano Colômbia, por exemplo – bilionário programa de combate ao narcotráfico e às guerrilhas colombianas –, foi aprovado no governo do democrata Bill Clinton, em 2000, e aplicado no do republicano George W. Bush, já associado à sua guerra ao terror. Na passagem para o século 21, enfim, a guerra às drogas havia transformado o narcotráfico numa questão de segurança internacional, com ênfase especial na América Latina.
Questão continua associada à lei e à ordem
Em princípios dos anos 1990, a war on drugs continuava sendo a tônica internacional e o Brasil seguia seus rumos. A década começou com a promulgação, durante o governo Collor de Mello, da Lei de Crimes Hediondos (nº 8.072/90), que equiparava o tráfico de drogas às práticas de tortura e terrorismo. As ações da guerra às drogas nacional continuaram no governo de Fernando Henrique Cardoso com o início das operações do Sistema de Vigilância Amazônico (Sivam), para o monitoramento do espaço aéreo, superfície e subsolo amazônicos, sob controle da Força Aérea, justificado, em larga medida, pela necessidade de combate ao narcotráfico.
Em 1996, foi criada a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), vinculada à Casa Militar da Presidência da República e idealizada para ser uma agência com capacidade de coordenação das ações antidrogas no país. No entanto, tais pretensões entraram em conflito com a competência constitucional de combate ao tráfico da Polícia Federal, fato que fez dela um órgão de elaboração de campanhas e debates sobre drogas. Apesar do esvaziamento, o comando da Senad foi confiado a um general – Paulo Roberto Y.M. Uchôa –, mantido no cargo pelo presidente Lula em seus dois mandatos.
A chegada de Lula à Presidência, em 2003, foi recebida com expectativa por muitos críticos do proibicionismo. Contava a favor dessa esperança o pioneirismo de membros do Partido dos Trabalhadores na discussão do tema das drogas e de políticas alternativas, como a redução de danos (como tentou Telma de Souza na Prefeitura de Santos em 1989, sendo, então, duramente atacada). Esperava-se, ainda, que a nova lei de drogas, em discussão no Congresso havia anos, pudesse ser finalmente aprovada, introduzindo alterações significativas. A Lei nº 11.343 foi, de fato, promulgada em 2006, mas seus supostos “ganhos progressistas” logo foram questionados. Muitos consideraram uma boa medida a separação entre “usuário” e “traficante”, qualificando o primeiro como um caso de “saúde pública”, e o segundo, de “segurança pública”. A distinção, redimensionada a partir da feita pela ditadura, previu oferecer aos “usuários” prevenção, orientação, tratamento ou penas alternativas; enquanto para os “traficantes” continuariam valendo os rigores da lei penal.
Apesar de abrandar em parte o discurso (com a substituição da expressão “contra as drogas” por “política sobre drogas”), a lei de 2006 não definiu a quantidade de droga ilícita que tipificaria “usuário” e “traficante”, deixando a cargo dos delegados a definição. Ficou aberta, assim, a brecha para que a seletividade punitiva seguisse operando. O resultado imediato é que, segundo dados do Ministério da Justiça, o número de presos relacionados ao crime de tráfico de drogas cresceu no país após 2006, perdendo (por pouco) dos crimes contra o patrimônio como meio principal para o encarceramento no país1.
Nesse mesmo período, outras medidas do governo federal reforçaram o compromisso com a guerra às drogas. Em 2004, a “Lei do Abate” (Decreto nº 5.144) regulamentou a possibilidade de que aeronaves fossem derrubadas caso entrassem no espaço aéreo brasileiro sem autorização. E, em 2010, a Lei Complementar nº 136 registrou duas importantes decisões: a autorização às Forças Armadas para revistar veículos e pessoas nas fronteiras nacionais – o chamado “poder de polícia”, antes exclusivo da PF –, e a regulamentação do emprego das Forças Armadas em questões de segurança pública – dispositivo constitucional denominado “garantia da lei e ordem”.
Em novembro do mesmo ano, amparado nessa lei complementar, o governo do Rio de Janeiro articulou com o governo federal a ocupação do Complexo do Alemão, em ação coordenada entre as polícias civil, militar e federal e as Forças Armadas. Grande evento político e midiático, tal medida veio acoplada ao programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), iniciado pelo governo estadual fluminense em 2008. Inspiradas em iniciativas semelhantes na Colômbia, as UPPs visam à retomada territorial de favelas por meio de ações policial-militares, abrindo espaço para a chegada de serviços oferecidos pelo estado (programa “UPP Social”), associado a organizações não governamentais.
Política proibicionista
Da implantação do Sivam e da Senad, nos anos 1990, às leis e aos programas instituídos na primeira década do século 21, nota-se o continuado processo de endurecimento da guerra às drogas no Brasil. Este inclui a crescente militarização do combate ao narcotráfico, política defendida e patrocinada pelos Estados Unidos desde os anos 1970. Nas últimas décadas, países como Peru, Bolívia, Colômbia – e mais recentemente o México – envolveram suas forças armadas no enfrentamento aos narcos, resultando em dezenas de milhares de mortes e na potencialização da violência praticada pelo Estado e pelas organizações ilegais sem barrar a expansão do tráfico de drogas. No Brasil, as medidas tomadas desde os anos 1990 sinalizam o aumento da presença dos militares no combate ao tráfico.
Nesse contexto, a passagem do governo Lula para o de Dilma Rousseff não demonstrou, até o momento, descontinuidade. A tônica do governo da presidenta tem sido a questão do tráfico e consumo de crack, diretriz herdada do governo anterior. Dois documentos editados ainda no governo Lula – o Plano Emergencial de Ampliação ao Acesso a Tratamento e Prevenção em Álcool e outras Drogas (2009) e o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas (2010) – indicavam o despontar de uma “epidemia urbana” do uso de crack associado, principalmente, aos moradores de rua. Os programas procuram colocar a questão no campo da “saúde pública”, fazendo da redução de danos o princípio a orientar a abordagem dos usuários por agentes de saúde treinados (os redutores), visando acolher para depois, possivelmente, recolher para tratamento2.
O limite entre a atenção para com a saúde de consumidores de crack e seu aprisionamento é tênue. As ações de internação involuntária de dependentes da droga, iniciada no Rio de Janeiro, em março de 2011, e depois levada a outras cidades como São Paulo, são justificadas diante dos “riscos” à saúde e à “incapacidade” dos crackeiros de avaliar sua condição. No entanto, como a questão do crack é tratada como a “epidemia” de uma droga que devasta a vontade própria do indivíduo, a possibilidade de internação involuntária aumenta expressivamente. Assim, as operações concertadas entre polícia e assistência social têm se concentrado em bairros degradados conhecidos como cracolândias. Esses bairros estão em regiões centrais de metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro ou Salvador que são alvos de projetos de revitalização. Parte crucial desses projetos de especulação imobiliária passa pela remoção de edifícios reduzidos a escombros e dessas pessoas transformadas em andrajos ambulantes pela miséria e pelo uso de uma droga que despotencializa a vida (surgida nos EUA, no final dos anos 1980, como uma segmentação do mercado ilegal diante do preço mais elevado da cocaína em pó).
As operações nas cracolândias alinham governos federal, estaduais e municipais, por vezes adversários políticos, mas de acordo no que diz respeito ao crack e aos crackeiros. É digno de nota o caso paulista, em que o governo do estado (do PSDB) e o municipal (do PSD), apesar de adversários, decidiram agir em conjunto antes que qualquer iniciativa do governo federal (do PT) provocasse constrangimento político a Geraldo Alckmin ou Gilberto Kassab. Apesar disso, anunciou-se recentemente a oferta que Kassab fez ao Instituto Lula para que instale sua sede em edifício localizado no bairro da Luz, cujo projeto de revitalização passa pela remoção dos consumidores da droga.
Os bem-intencionados defensores do acolhimento aos usuários de crack, todavia, não podem perder de vista a dimensão histórica e política do proibicionismo. Atentos a isso, descobrirão que tratar o tema das drogas como uma questão de saúde pública associada a outra de segurança pública não é novidade, tampouco um “avanço progressista”, mas a base mesma do proibicionismo, lastreando-o desde o início. A política de drogas brasileira segue proibicionista. Isso significa que mantém as bases repressivas, moralistas e seletivas contra determinados segmentos da sociedade (o que denota o corte racista e higienista que marca o proibicionismo).
Na atual legislação, o deslocamento da pena de reclusão para penas alternativas e de recolhimento compulsório – no caso dos “usuários” – não amaina a ênfase punitiva: “pena alternativa” continua pena. Até mesmo a recente atenção dada às propostas de descriminalização precisa ser problematizada. Entre elas, ganhou visibilidade a iniciativa encabeçada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, à frente da Comissão Global sobre Política de Drogas, formada em 2011, que reúne antigos mandatários – como Cesar Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo (México), tanto quanto ele adeptos do proibicionismo quando presidentes – para criticar os efeitos políticos, econômicos e sociais da guerra às drogas, levantando a bandeira da descriminalização do “usuário” (mas mantendo a criminalização do “traficante”). Não obstante, a permanência da ilegalidade e da punição ampliada e redimensionada não abala a existência do mercado ilegal e, portanto, não mina o narcotráfico.
Em 2012, completa-se um século da Convenção de Haia sobre Ópio, marco da formação do proibicionismo, que não cumpriu aquilo a que se propôs: “um mundo livre das drogas”. Ao contrário, em nome do combate a um “problema de saúde pública” e de “segurança pública” produziram-se e ampliaram-se tais problemas, que se desdobraram além, configurando questões de segurança regional e internacional. No Brasil, a adesão ao proibicionismo alinha historicamente governos de procedências político-ideológicas diferentes, gerando curiosas – e, talvez, incômodas – continuidades.
Muitos dizem que o Brasil nada pode fazer, pois está comprometido com tratados internacionais. Ora, quem celebra e faz cumprir tais tratados senão os Estados? E onde fica, então, a tentativa de construir uma política externa “altiva e ativa”, mote do chanceler Celso Amorim em seus anos à frente do Itamaraty nos mandatos de Lula? Em 2008, a delegação diplomática brasileira presente no encontro da ONU em Viena que revisaria a política mundial sobre drogas não fez mais que endossar o prosseguimento do proibicionismo, frustrando ativistas que esperavam, ao menos, a defesa das políticas de redução de danos (já absorvidas pelo Ministério da Saúde).
Uma atitude diferenciada sobre as drogas exige reconhecer como está acontecendo a problematização e se há ataques diretos ao proibicionismo. Fora disso, há apenas retórica, mesmo que autodenominada “progressista”. O “progressismo”, aliás, pode ser absorvido pelas novas políticas de drogas que não funcionam mais, apenas, pela ação do Estado em nome da saúde e segurança individual e coletiva, mas pela associação ao trabalho ativo e participativo da sociedade civil para a preservação desses bens, comportando tolerâncias e admitindo flexibilizações legais, normativas e normalizadoras. Assim, nessa articulação Estado/sociedade civil, se redimensionam os modos de punir e controlar ruas, comunidades e condutas (tanto de miseráveis que vagueiam pelas ruas, quanto da “nova” e da “antiga” classe média). Antes de perguntar o que fazer, a análise do proibicionismo e de suas atualizações indica explicitamente o que está sendo feito.
Thiago Rodrigues é professor adjunto no Departamento de Estudos Estratégicos e Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense e pesquisador no Núcleo de Sociabilidade Libertária (Nu-Sol/PUC-SP). Autor, entre outras obras, de Narcotráfico, uma Guerra na Guerra(Desatino, 2003) e Política e Drogas nas Américas (Educ/Fapesp, 2004)
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IPS 17 de febrero de 2012
América Central Considera Legalizar las Drogas
Danilo Valladares
GUATEMALA, feb (IPS) - Desangrados y desesperados ante la feroz batalla entre carteles de la droga y fuerzas de seguridad, los países de América Central, que cuentan por miles el número anual de homicidios, han volteado hacia la despenalización del consumo de drogas para atajar la mortandad, aunque no todos coinciden"El gran problema es que las víctimas son nuestros ciudadanos, y Estados Unidos, el gran consumidor, no necesariamente quiere controlarlo", dijo a IPS la activista Carmen Rosa De León, del no gubernamental Instituto de Enseñanza para el Desarrollo Sostenible.
Según De León, "la región centroamericana, de 42 millones de habitantes, está librando una lucha que no es nuestra porque en Estados Unidos el uso de drogas es casi generalizado dentro de un estrato social poderoso que no está dispuesto a renunciar a él".
Cifras de la Organización de las Naciones Unidas colocan a Estados Unidos como el mayor consumidor mundial de drogas ilegales, seguido por países de la Unión Europea.
En 2010 había en ese país 22,6 millones de consumidores de drogas mayores de 12 años, el equivalente a 8,9 por ciento de su población, según el estudio "Respondiendo a la violencia en Centroamérica", divulgado el año pasado.
El informe, elaborado por dos senadores estadounidenses, la demócrata Dianne Feinstein y el republicano Charles Grassley, concluyó que el consumo de drogas en Estados Unidos "alimenta la violencia en América Central y en toda América Latina y el Caribe".
En 2010, en Honduras se registró un promedio de 77 asesinatos por cada 100.000 habitantes, en El Salvador de 66 y en Guatemala de 50, mientras que en el norte de México esa proporción fue de 18 asesinados por cada 100.000 personas, sostiene el reporte.
En ese contexto, De León considera que la despenalización del consumo de estupefacientes podría significar una salida a esta matanza, aunque esta opción no resulta fácil.
"No es tan simple. No se puede hablar solo de despenalizar el consumo si no se da en el contexto de un conjunto más amplio de medidas porque también hay países productores y países de tránsito de estupefacientes", explicó.
Aun así, la legalización de las drogas "sería una alternativa" frente a una lucha encarnizada contra los carteles del narcotráfico, "que solo nos lleva a la violencia contra el ciudadano común", matizó.
La discusión regional en torno a la legalización de las drogas tomó aire luego de que el derechista presidente guatemalteco, el general retirado Otto Pérez Molina, anunciara el 17 de enero que esa opción debe ser abordada "lo antes posible" y "con seriedad".
"Creo que la despenalización de las drogas tendría que ser una estrategia en la que estuviera de acuerdo toda la región", junto con Estados Unidos, para de esa forma combatir el crimen organizado, expresó el presidente tres días después de comenzar su mandato de cuatro años.
El mandatario de Colombia, el conservador Juan Manuel Santos, le prendió más fuego a la polémica iniciativa y dijo el 28 de enero que "esa solución sería aceptable para Colombia, si el mundo entero la toma". Pero Washington le salió al paso.
"El presidente estadounidense, Barack Obama, no respalda la legalización como vía para superar el problema de las drogas", dijo el lunes 30 de enero la subsecretaria de Estado para Asuntos Políticos, Wendy Sherman, de visita en Colombia.
La funcionaria abogó más bien por una reducción "sustancial" en la producción de drogas en Colombia, así como del consumo en Estados Unidos.
El mexicano-costarricense David Martínez-Amador, catedrático de crimen organizado trasnacional, dijo a IPS que habría que considerar si se despenaliza el consumo o el tráfico en los territorios centroamericanos, qué drogas serán legalizadas y si México o Colombia deben dar el primer paso.
Además, estimó "muy importante" que Estados Unidos combata el consumo de droga en su territorio y sensibilice a su juventud sobre sus efectos colaterales.
"Si tienen ganas de jugar con soldaditos, que militaricen los barrios que en Estados Unidos son tradicionales puntos de venta y tránsito de droga. Con ello tendrían una probadita de su propia receta tan sugerida en América Latina", satirizó.
Martínez-Amador, quien imparte cursos en varias universidades de México y América Central, reconoce que lograr la despenalización de las drogas no sería algo sencillo.
"La violencia ya no es únicamente debido al trasiego, hay demasiada sangre y rivalidad entre los grupos criminales. Incluso si liberamos la marihuana, la heroína y la cocaína, las drogas sintéticas son la mayor ganancia actual y legalizarlas tiene un riesgo enorme pues dañan el sistema nervioso central", explicó.
Además, "hay rubros como secuestro, extorsión, tráfico de armas y órganos con los que lucran los cárteles. ¿También los vamos a legalizar?", ironizó.
Pero a la vez criticó la denominada "guerra antidrogas" al considerar que "es la guerra personal de Felipe Calderón, (el conservador) presidente de México, contra algunos cárteles del narcotráfico, la cual está mal diseñada pues no da salida".
"Antes de haber militarizado había que depurar y depurar policías, fiscalías, ministerios y no se hizo. Y luego había que congelar el dinero a los criminales, pero poco se logró", añadió.
Otros, como el escritor nicaragüense Sergio Ramírez, no dudan de los efectos positivos que traería la legalización de las drogas para contrarrestar la violencia en la región. "La solución es despenalizar", disparó el mes pasado, uniéndose a otras figuras de las letras latinoamericanas que abogan por esta salida, el mexicano Carlos Fuentes entre ellos.
El literato dijo que así como México se "colombianizó", América Central se está "mexicanizando", en alusión a la embestida de los carteles del narcotráfico en ambos territorios.
Aunque la despenalización del consumo de drogas ha tomado cierto auge como un antídoto frente a la violencia, no todos la ven con buenos ojos en el istmo.
"No creo que la legalización disminuya la violencia. Un ejemplo es el licor que siendo una droga legalizada sigue produciendo grandes problemas en Centroamérica", dijo a IPS el analista político costarricense Claudio Alpízar.
"La solución no está en la legalización, sino en el control del consumo", añadió.
El analista considera que el istmo no ha hecho los esfuerzos necesarios para dialogar con Estados Unidos sobre ese tema y plantear "una propuesta conjunta y seria, con hoja de ruta y plazos".
"Estoy convencido que de ser así, ellos lo apoyarían encantados", concluyó.
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O Estado de S. Paulo 19.02.2012
Pequeno traficante não vai mais para prisão
Nova resolução suspende trecho da lei que proibia trocar cadeia por pena alternativa
Rodrigo Burgarelli
Uma resolução do Senado publicada nesta semana abriu brecha para que pequenos traficantes possam cumprir penas alternativas, em vez de ficar na prisão. O ato suspendeu um trecho da legislação de entorpecentes que proibia a conversão do cumprimento de pena na cadeia nos casos de tráfico de drogas em punições mais leves, como a prestação de serviços comunitários. A decisão foi tomada a pedido do Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu que essa proibição da troca de penas era inconstitucional.Aprovada em 2006 pelo Congresso e envolta em polêmicas discussões, a lei de entorpecentes ficou famosa por endurecer as punições a traficantes – a pena mínima para o tráfico subiu de 3 para 5 anos, por exemplo – enquanto abrandava as penas voltadas aos usuários de drogas.
O objetivo era combater o tráfico e, ao mesmo tempo, focar na recuperação do usuário. A nova resolução, porém, relativiza essas diferenças, permitindo que pequenos traficantes que sejam réus primários com bons antecedentes e não tenham vínculos comprovados com organizações criminosas também possam prestar serviços comunitários, de acordo com o julgamento de cada caso.
O STF já havia decidido em alguns casos que penas alternativas poderiam ser aplicadas aos traficantes – o entendimento é de que a Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas, ratificada pelo Brasil em 1991, é de hierarquia superior à lei e permite a adoção de sanções mais brandas. Agora que a resolução do Senado foi editada, todos os juízes estão obrigados a seguir esse entendimento – o que causou polêmica entre juristas, advogados e magistrados. "Isso é um desserviço ao combate ao tráfico. Estamos vivendo uma situação muito difícil, porque as penas restritivas de direitos são extremamente benevolentes", afirma o desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo José Damião Cogan.
Segundo ele, a possibilidade de reduzir a pena de traficantes não é necessariamente ruim, mas deve ser usada com "parcimônia". "Conheço dois ou três juízes que aplicam penas mínimas sempre, não só em casos excepcionais. Vedar as penas restritivas foi longe demais. Acho que, do jeito que as coisas estão crescendo no Brasil, com droga a gente não pode brincar."
Liberais. Advogados e juristas que defendem a diminuição das prisões por causa de crimes mais leves, por outro lado, são favoráveis à mudança. "Defendo plenamente a conversão da pena em casos específicos. Quando são pequenas quantidades de drogas e não se trata de um traficante conhecido ou que tenha tido condenações reiteradas, a pena alternativa de prestar serviços à comunidade acaba sendo mais útil tanto ao próprio condenado quanto à sociedade", rebate o advogado criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira.
Para ele, a pena de prisão deve ser exclusiva para quem causa graves riscos à sociedade. "A prisão pode ser uma escola do crime para pequenos traficantes sem antecedentes."
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Forbes 15.02.2012
Dez anos após a descriminalização, uso de drogas cai pela metade
Defensores da guerra contra as drogas frequentemente dizem que o uso de drogas explodiria se nós legalizássemos ou descriminalizássemos seu consumo.Felizmente, nós temos um exemplo real dos resultados de se por fim na guerra contra as drogas e substituí-la por um sistema de tratamento para usuários e dependentes.
Dez anos atrás, Portugal descriminalizou todas as drogas. Uma década após este experimento sem precedentes, o abuso de drogas caiu pela metade:
"Especialistas em saúde de Portugal disseram na sexta que a decisão de descriminalizar o uso de drogas e tratar viciados, ao invés de puní-los, é um experimento que deu certo.
'Não há dúvidas de que o vício está em declínio em Portugal', afirmou João Goulão, presidente do Instituto de Drogas e Adicção em Drogas, em uma conferência que marca o décimo aniversário da lei.
Outros fatores também foram importantes, diz Goulão. 'Este resultado não pode ser atribuido apenas à descriminalização, mas também à confluência de tratamento e políticas de redução de danos'".
Muitas dessas políticas de tratamento não teriam surgido se os dependentes continuassem a ser presos e encarcerados ao invés de tratados por médicos especialistas e psicólogos.
E isto é uma maneira bem mais econômica e humana de resolver o problema. Ao invés de prender 10 mil indivíduos, os portugueses estão trabalhando para curar 40 mil pacientes, e fazendo pequenos ajustes no tratamento contra a dependência, ao mesmo tempo em que adquirem mais conhecimento sobre o assunto.
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O Estado de S. Paulo 04.02.2012
Consumo de drogas legais e ilegais mata 8 mil pessoas por ano no País
Levantamento em sistema do Datasus mostra que álcool, fumo, psicotrópicos e cocaína tiraram a vida de 40 mil brasileiros entre os anos de 2006 e 2010
Pablo Pereira
O uso de drogas matou 40.692 pessoas no País entre 2006 e 2010, uma média de 8 mil óbitos por ano. Estudo sobre mortes por drogas legais ou ilegais, registradas no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, mostra que o álcool é o campeão na mortandade.O levantamento feito na base de dados do Datasus, obtido pelo Estado, informa que a bebida tirou a vida de 34.573 pessoas – 84,9% dos casos informados por médicos em formulários que avisam o governo federal sobre a causa da morte nesse grupo da população. Em segundo lugar aparece o fumo, com 4.625 mortos (11,3%). A cocaína matou pelo menos 354 pessoas no período.
Feita pelo Observatório do Crack, da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), a pesquisa aponta que, na comparação por gênero, há mais registros de morte de homens por álcool e fumo. Em cinco anos, 31.118 homens perderam a vida por causa da bebida. Outros 3.250 morreram em casos associados diretamente ao cigarro.
Na comparação da devastação por Estado, os mineiros lideram as mortes por álcool, com 0,82 morte para cada 100 mil habitantes, seguidos pelos cearenses, com 0,77 morte/100 mil pessoas. Depois aparecem os sergipanos, com 0,73/100 mil. São Paulo registra 0,53 morte para cada 100 mil habitantes.
O levantamento da CNM revela que em São Paulo houve 1.120 vítimas do uso abusivo do álcool em 2006. Em 2010, porém, o sistema registra uma queda de 14% nas informações. O SIM alcança 979 pessoas mortas por consumo de bebida. O Estado que menos apresenta perda de vidas por álcool é o Amapá: quatro em 2006, dez em 2009 e cinco em 2010.
Quando a causa do óbito é o fumo, o campeão de mortes de usuários é o Rio Grande do Sul. A taxa de óbitos pelo tabaco chega a 0,36 para cada 100 mil. A seguir aparecem Piauí e Rio Grande do Norte, ambos com 0,33/100 mil.
A duas principais drogas legalizadas no País, álcool e fumo, juntas, segundo o estudo, mataram 39.198 pessoas em cinco anos. – ou 96,2% do total. Os técnicos da CNM alertam, no entanto, que os dados de 2010 ainda são preliminares.
A devastação pode ser maior. O preenchimento das fichas para informação não é simples e o sistema tem casos de mortes classificadas como óbito por substâncias psicoativas (480). São os casos nos quais é informado no formulário um código que junta mais de uma droga associada à morte.
A Declaração de Óbito (DO) é composta por 9 blocos e 62 variáveis que apontam causa e local da morte. O preenchimento é de responsabilidade do médico, conforme estabelecido pelos Conselhos Federal e Estadual de Medicina, diz o estudo.
Para o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, há uma urgente necessidade de combater o problema das drogas nos municípios. “E não se está fazendo isso. O problema estoura é nos municípios”, afirma.
Ziulkoski diz que a média de cerca de 8 mil óbitos, encontrada no SIM, é um número subestimado. “Não há uma cultura de informação dos médicos”, acrescenta. Para ele, “o País precisa ver que a política de prevenção do uso de drogas é precária”. O estudo abrange 2 mil municípios. “A situação é alarmante.”
Para o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Mauro Aranha, o problema é bem maior. “Há aí uma clara subnotificação das mortes”, afirma. Segundo ele, o governo precisa melhorar a logística nos municípios para que os médicos possam informar os dados reais. “Isso é fundamental para que se possa trabalhar políticas públicas sobre drogas”, defende Aranha.
Pesquisando nas bases de dados do Datasus, técnicos do CNM elaboraram também uma lista com os 50 municípios com maiores taxas de mortalidade por drogas. No caso da mapa das mortes por álcool, Minas Gerais tem 23 municípios, Paraná, 9, e São Paulo, 5.
Quando a conta do dano causado pelo cigarro é feita na lista de 50 municípios, o Rio Grande do Sul se destaca com 17, seguido de Minas, com 7, e Santa Catarina com 6. São Paulo tem 2 municípios na lista dos 50 com maior incidência de mortes por fumo.
Em nota, o Ministério da Saúde explica que os números de 2010, divulgados pelo estudo, podem sofrer ajustes. De acordo com a nota, entre 2006 e 2009 foram notificados 31.951 óbitos com causa básica de consumo de álcool, fumo e substâncias psicoativas (como cocaína canabinoides e alucinógenos). Os dados do SIM são fornecidos pelas secretarias estaduais e municipais de Saúde e gerenciados pelo ministério.
Os óbitos de 2011 só serão conhecidos no final do ano. “O Ministério da Saúde vem desenvolvendo um conjunto de ações para aperfeiçoar o registro de óbitos no País, assim como a qualidade das informações. Uma das medidas foi a intensificação de registros de óbitos por causas mal definidas (parada cardíaca, por exemplo), que caiu de 15% (2004) para 7,8% (2011)”, diz a nota. Outra medida adotada foi a criação, em 2006, da rede nacional do Sistema de Verificação de Óbitos, utilizado para a identificação das causas de mortes naturais. “Com isso”, argumenta o governo, “houve ampliação da notificação no País, por meio do SIM. O sistema capta atualmente 94% dos óbitos ocorridos no território nacional. Esse porcentual está acima do padrão internacional (90%)”.
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"Guerra as drogas": discriminação, preconceito, racismo, limpeza étnica, exclusão dos já excluídos...
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Terra 06.04.2012
Cúpula das Américas debaterá pela 1ª vez problema das drogas
A sexta edição da Cúpula das Américas abrirá pela primeira vez em nível continental o debate sobre a necessidade de mudar as políticas antidrogas, após a Casa Branca aceitar levar ao espaço público a discussão proposta pela Colômbia, país anfitrião, que é um dos dois principais produtores de cocaína. O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, foi um dos primeiros a propor a necessidade de pôr sobre a mesa o problema do narcotráfico nas Américas, onde estão os produtores de cocaína, as rotas de passagem e os consumidores.
Sua chanceler, María Ángela Holguín, deixou claro nos dias prévios à cúpula de governantes que acontecerá em Cartagena nos dias 14 e 15 de abril que este "é um problema que afeta todos", e por isso não teme uma suposta "narcotização" da agenda da reunião continental. Os dados aprovam a iniciativa: mais de 700 toneladas de cocaína processadas em 2010 eram da região andina, enquanto o Canadá, cujo primeiro-ministro Stephen Harper também estará na cúpula, é um grande produtor de drogas sintéticas, segundo o Relatório Mundial sobre Drogas da ONU.
Além disso, os Estados Unidos continuam sendo o maior consumidor de drogas, enquanto cresce o consumo em todo América Latina, especialmente no Brasil e nas nações do Cone Sul.
Dessas mais de 700 toneladas, 350 foram produzidas na Colômbia e 325 no Peru, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
Em 2011, de acordo com projeções da Comissão Nacional peruana para o Desenvolvimento e Vida sem Drogas (Devida), o Peru teria superado a Colômbia como produtor.
Uma boa parte da cocaína tem como destino final EUA, Europa e os países emergentes, entre eles China e Rússia, onde chega após percorrer uma rota que passa pelos vulneráveis estados centro-americanos e México, deixando um rastro de sangue.
Só no México morreram 50 mil pessoas desde que o presidente Felipe Calderón declarou guerra contra as drogas em dezembro de 2006.
Esta realidade levou alguns governantes da América Latina a se darem conta que as políticas antidrogas fracassaram, porque, enquanto se mantém o consumo, e este inclusive cresce nos países emergentes, nas nações produtoras ocorre um efeito balão e a violência se expande de forma incontrolada.
Na 6ª Cúpula das Américas serão analisados os diferentes cenários e suas consequências em médio e longo prazo, como propôs o anfitrião, ou seja, desde a descriminalização até o endurecimento das penas para os narcotraficantes.
"Só analisando todos os cenários se pode observar qual é a melhor proposta", afirmou Santos, depois que a Casa Branca aceitou que em Cartagena se leve a público esta discussão após negar-se a fazê-lo durante décadas.
Passados mais de 40 anos desde que Richard Nixon empreendeu em 1971 a "guerra contra as drogas" e criou a Força Administrativa de Narcóticos (DEA, na sigla em inglês), Washington gastou mais de US$ 2,5 trilhões e prendeu mais de 40 milhões de pessoas por crimes de narcotráfico e posse de substâncias ilícitas, sem os resultados esperados.
A Colômbia, sim, mostrou avanços, ao reduzir em uma década sua produção à metade devido ao Plano Colômbia, no qual os EUA gastaram desde 2001 mais de US$ 8 bilhões no país andino, mas repassou o problema aos vizinhos pelo denominado "efeito balão".
Além do Peru, por um exponencial crescimento da produção de cocaína, os centro-americanos estão especialmente afetados pela violência da mesma forma que o México, e por isso o presidente da Guatemala, Otto Pérez, elegeu a descriminalização das drogas como ponto de partida para frear o problema.
A América Central buscará nos dias 9 e 10 de abril, antes da Cúpula das Américas, unificar uma posição em Tegucigalpa após os atritos gerados pela proposta de Otto Pérez.
O presidente hondurenho Porfirio Lobo fez a convocação após a fracassada reunião de Antígua (Guatemala) no dia 24 de março, que marcou a divisão, já que Lobo, da mesma forma que seus colegas da Nicarágua, Daniel Ortega, e El Salvador, Mauricio Funes, não se apresentaram por discordar da proposta de descriminalização do guatemalteco.
A essa reunião só foram o panamenho Ricardo Martinelli e a costarriquenha Laura Chinchila.
Ainda com divergências haverá debate em Cartagena sobre drogas porque a Casa Branca está de acordo e assim indica o fato de que no último mês viajaram para diferentes países da América Central até quatro altos funcionários de Washington para tratar este espinhoso tema, entre eles, o vice-presidente Joseph Biden.
A chanceler colombiana, María Ángela Holguín, deixou claro que a discussão sobre drogas não vai se centrar na legalização exclusivamente porque se for assim "não haverá debate".
Consultor Jurídico, 30.12.2011
Lei de Drogas viola intimidade e vida privada
Alexandre Bahia[1]
Está em discussão no Supremo Tribunal Federal o Recurso Extraordinário 635.659 no qual a Defensoria Pública de São Paulo questiona a constitucionalidade da lei que tipifica como crime o porte de substâncias entorpecentes (ilícitas) para consumo próprio[1], A matéria foi considerada como tendo repercussão geral, pelo que, após julgada, servirá de precedente para casos análogos.
Os fundamentos para o questionamento da constitucionalidade são os direitos fundamentais à intimidade e à vida privada, previstos no inciso X do artigo 5º da Constituição[2], De acordo com notícia publicada pelo site do STF, para o recorrente, o dispositivo contraria o princípio da intimidade e vida privada, pois a conduta de portar drogas para uso próprio não implica lesividade, princípio básico do direito penal, uma vez que não causa lesão a bens jurídicos alheios.
A Defensoria Pública argumenta que “o porte de drogas para uso próprio não afronta a chamada ‘saúde pública’ (objeto jurídico do delito de tráfico de drogas), mas apenas, e quando muito, a saúde pessoal do próprio usuário”[3].
Não é nosso objetivo aqui discutir a questão pelo viés do Direito Penal e enveredarmos pelo que é o “bem juridicamente protegido” na atual lei sobre drogas no Brasil. Deixemos para os penalistas tal trabalho. Contudo, há dois pontos que nos chamam a atenção no presente caso.
O primeiro é que a atual Lei de Drogas, que é de 2006, evoluiu muito frente à anterior, a Lei 6.368, de 1976, que tratava o uso como um crime sujeito a prisão[4]. Ou seja, entre a total “descriminalização” e a “prisão” do usuário preferiu-se, em 2006, pelo caminho do meio. De qualquer forma é um avanço porque não se pune mais o usuário com “cadeia”, uma vez que o legislador entende que este é uma vítima do seu próprio vício. Já aí se percebe que houve uma mudança valorativa do comportamento.
Contudo, paradoxalmente, a mudança era tão significativa que já há pesquisas mostrando uma “subnotificação” policial (e subcondenação judicial) quanto ao uso em comparação ao aumento da notificação de “tráfico” (este sim punido com prisão). Pessoas flagradas com pequenas quantidades de droga são logo “enquadradas” como traficantes[5], já que como usuárias elas não seriam presas. Isso contraria a iniciativa da lei, que era diminuir o número de encarcerados e, principalmente, dar um tratamento público diferenciado — e mais eficiente — para os usuários de drogas.
O segundo é a discussão da punição criminal do porte de drogas esbarrar na proteção da intimidade e da vida privada, direitos garantidos constitucionalmente. Mais uma vez, sem querer entrar no mérito sobre qual o “bem protegido” na Lei de Drogas, se a saúde pública ou individual, é interessante pensarmos na discussão sobre o que esses direitos significam. Um dos supostos fundamentais do Direito é a “autonomia”, isto é, do ponto de vista público, a autonomia é o direito de participação na formação da vontade pública – em democracias representativas isso se dá com o voto em representantes que devem aprovar/não leis no interesse daqueles que representam. Do ponto de vista privado se traduz na garantia de liberdade e igualdade.
Ora, leis são, necessariamente, limitações à liberdade “total”. Leis limitam a possibilidade de um indivíduo fazer algo que ofenda/prejudique a outrem[6], mas também que possam ofender a eles mesmos — como, por exemplo, a lei que nos obriga a usar cinto de segurança (isso porque, apesar da saúde individual e a vida serem direitos “individuais”, ao mesmo tempo são em tese indisponíveis pelo indivíduo, logo, cabe ao Estado sua proteção). A questão, logo, não é se a lei anti-drogas ofende “em tese” a intimidade e a vida privada dos indivíduos, mas se tal ofensa é aceitável de um ponto de vista democrático-constitucional.
Pagar um tributo ofende, “em tese”, o meu direito de propriedade, contudo se justifica pelo benefício que traz para a coletividade, sendo aceito como uma limitação legítima pelos contribuintes — desde que resulte, realmente, em benefícios coletivos e não seja privatizado por alguns, mas essa é outra questão.
Como saber, então, se uma limitação legal à liberdade individual é legítima? Do ponto de vista do procedimento legislativo, representantes eleitos podem, dando seguimento à vontade dos que os representam, estabelecer restrições a direitos visando a obtenção de resultados que beneficiem “a sociedade” como um todo (ex. tributos) ou suas partes (ex. cinto de segurança). No campo penal especificamente não é nada novo se falar em sua natural “seletividade”: pune-se o consumo de certas substâncias entorpecentes como a maconha, que causa dependência e danos à saúde, mas não se proíbe/pune da mesma forma outras, como o tabaco e do álcool. Ora, se “onde há a mesma razão de fato deve haver a mesma razão de direito”, seguindo-se o velho brocardo latino (ubi eadem ratio ibi eadem dispositio), apenas a discricionariedade legislativa (que, sabemos, é levada por certoslobbies muito poderosos) pode fazer discriminações como essa e utilizar “dois pesos e duas medidas”.
É claro que a vontade da maioria nem sempre é aceitável, pois pode ser que ofenda a Constituição. Uma lei que hoje aprovasse a pena de morte, mesmo que contasse com 99% de aprovação popular seria nula porque ofenderia a Constituição — aliás, nem ela pode ser alterada nesse ponto, porque é a própria Constituição que proíbe emendas que sejam “tendentes a abolir” direitos fundamentais.
Isso faz retornar o problema: se nem a democracia pode legitimar de forma absoluta, vemos que há uma tensão entre constitucionalismo e democracia que sempre irá retornar, seja no debate legislativo, seja no judicial. Nos EUA, em 1973, no polêmico caso Roe vs. Wade, a Suprema Corte entendeu que a lei que proibia o aborto era inconstitucional porque violava o direito à intimidade (e privacidade) da mulher.
Dessa forma, seja qual for a decisão do STF nesse caso, entre a proteção do indivíduo (inclusive contra ele mesmo) e a intimidade (e vida privada), o tribunal irá dar curso à eterna tensão mencionada (constitucionalismo versus democracia); de qualquer forma, deverá mostrar, no caso, qual daquelas duas pretensões é a adequada para resolver o caso concreto. Não se trata de “julgar o valor das opções do legislador”, se são “proporcionalmente razoáveis ou não” — como postula o princípio da proporcionalidade e da razoabilidade —, mas sim, como dissemos, se considerando o aparente conflito entre aqueles direitos, a reconstrução do caso e do ordenamento jurídico proporciona, perceba-se qual dos princípios é o “adequado”.
[1] Artigo 28 da lei 11.343/2006: “Artigo 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo”.
[2] “X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
[3] <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=196670>
[4] “Artigo 16. Adquirir, guardar ou trazer consigo, para o uso próprio, substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de (vinte) a 50 (cinqüenta) dias-multa”.
[5] Matéria da Folha de São Paulo de Julho/2011 fala sobre isso: “Nova legislação aumentou prisões no país, mas deveria resultar em penas comunitárias, afirmam especialistas. Número de pessoas presas por tráfico cresce 118% entre 2006 e o ano passado, segundo dados do governo federal. O estivador M.V, 19, foi condenado a seis anos de prisão na última terça-feira por ter sido apanhado com 25 gramas de maconha em Angra dos Reis (RJ). Réu primário, vai cumprir pena em Bangu, no Rio, um dos piores presídios do país. O estudante R. T., 21, ficou dois anos preso em Porto Alegre (RS) por carregar 100 gramas de maconha. Após uma série de recursos, os juízes chegaram à conclusão de que não era traficante -e o mandaram para casa. Os casos são exemplos extremos da lei que deveria acabar com a pena de prisão para usuários de maconha. Às vésperas de completar cinco anos, no próximo mês, a lei provocou o efeito contrário ao previsto: é a responsável pela superlotação de presídios, dizem especialistas. A ideia original era que usuários fossem encaminhados para prestar serviços comunitários ou para assistir palestras sobre drogas -a internação compulsória é vetada no Brasil. Entre 2006 e 2010, a população carcerária cresceu 37%, segundo o Depen (Departamento Penitenciário Nacional), do Ministério da Justiça. O índice equivale a mais de dez vezes a proporção de aumento da população no período (2,5%). O número dos presos por tráfico no país saltou de 39.700 para 86.591 entre 2006 e 2010-um aumento de 118%, segundo o Depen. (...) O tráfico aumentou nesses cinco anos, mas a explosão de prisões é resultado da mudança da lei, segundo Luciana Boiteux, professora de direito da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Há duas razões para explicar o aumento, segundo ela: a pena mínima para traficantes cresceu de três para cinco anos e os juízes estão condenando usuários como traficantes. ‘A lei deixou um poder muito grande na mão de policiais e juízes, e eles têm sido muito conservadores’. Pesquisa feita no Rio e em Brasília pela UFRJ confirma, segundo ela, a tese de que os que vão para a prisão são bagrinhos. No Rio, 66,4% dos condenados por tráfico são réus primários, segundo análise feita em processos de 2008 e 2009. Em Brasília, esse índice chega a 38%. ‘Do ponto de vista carcerário, essa lei é um desastre’, afirma Marcelo Mayora, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Um dos problemas da lei, na visão dele, é que não há limites mínimos para caracterizar tráfico, como ocorre na Espanha. Lá, até 50 gramas de haxixe, não há pena. De 50 gramas a um quilo, é tráfico simples. A pena só fica mais grave quando quantidade vai de um a 2,5 quilos. O governo reconhece que a lei é mal aplicada e diz que vai dar cursos para 15 mil juízes e promotores para tentar melhorar o uso da legislação. Juízes encarregados de aplicar a lei rechaçam a pecha de conservadores e a ideia de uma tabela para caracterizar tráfico. ‘É normal que juízes tenham critérios diferentes’, diz Roberto Barcellos, presidente da Escola Nacional da Magistratura, pela qual já passaram 18 mil juízes. Segundo ele, a lei é boa porque tirou do horizonte a ideia de que punir é prender (...)” (disponível em: <http://www.abead.com.br/midia/exibMidia/?midia=7894>).
[6] Ao mesmo tempo, se garantem ao indivíduo um espaço dentro do qual não pode sofrer ações lesivas de outrem, as leis também são fonte de liberdade, como amplamente discutido pela tradição contratualista desde Hobbes, passando por Kant, Rousseau e Locke.
[1] Alexandre Bahia é advogado.
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O Globo 11.11.2011
Traficante Nem diz que metade do faturamento era para subornar polícia de Cabral
Num longo depoimento na sede da Polícia Federal na madrugada de quinta-feira, acompanhado por um grupo restrito de policiais federais, o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na Rocinha, preso na quarta-feira na Lagoa, afirmou que metade de tudo que faturava com a venda de drogas era entregue a policiais civis e militares da banda podre.
A propina gorda seria entregue a numerosos agentes públicos. O traficante deu detalhes, inclusive datas, de casos de extorsão. Ainda no depoimento, o criminoso afirmou que, devido às constantes extorsões, em alguns períodos seu faturamento era zero.
Segundo algumas estimativas da Polícia Civil, não confirmadas no depoimento, o bandido faturava mais de R$ 100 milhões por ano.
- Metade do dinheiro que eu ganhava era para o "arrego" (gíria para propina) - afirmou Nem.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse em entrevista ao "RJ-TV", da TV Globo, que gostaria muito que Nem falasse mesmo o que sabe, por conhecer "a arquitetura do tráfico de drogas e como são os meandros da corrupção".
- Ele tem uma prestação de contas muito séria e importante a fazer à sociedade fluminense. Ele tem que prestar contas sobre a corrupção de agentes públicos. Eu acho que isso faria com que fosse dado um passo importante no combate à criminalidade - disse Beltrame, por telefone, de Berlim, onde está apresentando os projetos na área de segurança para a Copa e as Olimpíadas.
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rev Época 12.11.2011
Meu encontro com Nem
RUTH DE AQUINO
Era sexta-feira 4 de novembro. Cheguei à Rua 2 às 18 horas. Ali fica, num beco, a casa comprada recentemente por Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, por R$ 115 mil. Apenas dez minutos de carro separam minha casa no asfalto do coração da Rocinha. Por meio de contatos na favela com uma igreja que recupera drogados, traficantes e prostitutas, ficara acertado um encontro com Nem. Aos 35 anos, ele era o chefe do tráfico na favela havia seis anos. Era o dono do morro.
Queria entender o homem por trás do mito do “inimigo número um” da cidade. Nem é tratado de “presidente” por quem convive com ele. Temido e cortejado. Às terças-feiras, recebia a comunidade e analisava pedidos e disputas. Sexta era dia de pagamentos. Me disseram que ele dormia de dia e trabalhava à noite – e que é muito ligado à mãe, com quem sai de braços dados, para conversar e beber cerveja. Comprou várias casas nos últimos tempos e havia boatos fortes de que se entregaria em breve.
Logo que cheguei, soube que tinha passado por ele junto à mesa de pingue-pongue na rua. Todos sabiam que eu era uma pessoa “de fora”, do outro lado do muro invisível, no asfalto. Valas e uma montanha de lixo na esquina mostram o abandono de uma rua que já teve um posto policial, hoje fechado. Uma latinha vazia passa zunindo perto de meu rosto – tinha sido jogada por uma moça de short que passou de moto.
Aguardei por três horas, fui levada a diferentes lugares. Meus intermediários estavam nervosos porque “cabeças rolariam se tivesse um botãozinho na roupa para gravar ou uma câmera escondida”. Cheguei a perguntar: “Não está havendo uma inversão? Não deveria ser eu a estar nervosa e com medo?”. Às 21 horas, na garupa de um mototáxi, sem capacete, subi por vielas esburacadas e escuras, tirando fino dos ônibus e ouvindo o ruído da Rocinha, misto de funk, alto-falantes e televisores nos botequins. Cruzei com a loura Danúbia, atual mulher de Nem, pilotando uma moto laranja, com os cabelos longos na cintura. Fui até o alto, na Vila Verde, e tive a primeira surpresa.
LOGÍSTICA
Não encontrei Nem numa sala malocada, cercado de homens armados. O cenário não podia ser mais inocente. Era público, bem iluminado e aberto: o novo campo de futebol da Rocinha, com grama sintética. Crianças e adultos jogavam. O céu estava estrelado e a vista mostrava as luzes dos barracos que abrigam 70 mil moradores. Nem se preparava para entrar em campo. Enfaixava com muitos esparadrapos o tornozelo direito. Mal me olhava nesse ritual. Conversava com um pastor sobre um rapaz viciado de 22 anos: “Pegou ele, pastor? Não pode desistir. A igreja não pode desistir nunca de recuperar alguém. Caraca, ele estava limpo, sem droga, tinha encontrado um emprego... me fala depois”, disse Nem. Colocou o meião, a tornozeleira por cima e levantou, me olhando de frente.
Foi a segunda surpresa. Alto, moreno e musculoso, muito diferente da imagem divulgada na mídia, de um rapaz franzino com topete descolorido e riso antipático, como o do Coringa. Nem é pai de sete filhos. “Dois me adotaram; me chamam de pai e me pedem bênção.” O último é um bebê com Danúbia, que montou um salão de beleza, segundo ele “com empréstimo no banco, e está pagando as prestações”. Nem é flamenguista doente. Mas vestia azul e branco, cores de seu time na favela. Camisa da Nike sem manga, boné, chuteiras.
– Em que posição você joga, Nem? – perguntei.
– De teimoso – disse, rindo –, meu tornozelo é bichado e ninguém me respeita mais em campo.
Foi uma conversa de 30 minutos, em pé. Educado, tranquilo, me chamou de senhora, não falou palavrão e não comentou acusações que pesam contra ele. Disse que não daria entrevista. “Para quê? Ninguém vai acreditar em mim, mas não sou o bandido mais perigoso do Rio.” Não quis gravador nem fotos. Meu silêncio foi mantido até sua prisão. A seguir, a reconstituição de um extrato de nossa conversa.
Acho que em menos de 20 anos a maconha vai ser liberada no Brasil. Já pensou quanto as empresas iam lucrar? "
NEM, LÍDER DO TRÁFICO
UPP “O Rio precisava de um projeto assim. A sociedade tem razão em não suportar bandidos descendo armados do morro para assaltar no asfalto e depois voltar. Aqui na Rocinha não tem roubo de carro, ninguém rouba nada, às vezes uma moto ou outra. Não gosto de ver bandido com um monte de arma pendurada, fantasiado. A UPP é um projeto excelente, mas tem problemas. Imagina os policiais mal remunerados, mesmo os novos, controlando todos os becos de uma favela. Quantos não vão aceitar R$ 100 para ignorar a boca de fumo?”
Beltrame “Um dos caras mais inteligentes que já vi. Se tivesse mais caras assim, tudo seria melhor. Ele fala o que tem de ser dito. UPP não adianta se for só ocupação policial. Tem de botar ginásios de esporte, escolas, dar oportunidade. Como pode Cuba ter mais medalhas que a gente em Olimpíada? Se um filho de pobre fizesse prova do Enem com a mesma chance de um filho de rico, ele não ia para o tráfico. Ia para a faculdade.”
Religião “Não vou para o inferno. Leio a Bíblia sempre, pergunto a meus filhos todo dia se foram à escola, tento impedir garotos de entrar no crime, dou dinheiro para comida, aluguel, escola, para sumir daqui. Faço cultos na minha casa, chamo pastores. Mas não tenho ligação com nenhuma igreja. Minha ligação é com Deus. Aprendi a rezar criancinha, com meu pai. Mas só de uns sete anos para cá comecei a entender melhor os crentes. Acho que Deus tem algum plano para mim. Ele vai abrir alguma porta.”
Prisão “É muito ruim a vida do crime. Eu e um monte queremos largar. Bom é poder ir à praia, ao cinema, passear com a família sem medo de ser perseguido ou morto. Queria dormir em paz. Levar meu filho ao zoológico. Tenho medo de faltar a meus filhos. Porque o pai tem mais autoridade que a mãe. Diz que não, e é não. Na Colômbia, eles tiraram do crime milhares de guerrilheiros das Farc porque deram anistia e oportunidade para se integrarem à sociedade. Não peço anistia. Quero pagar minha dívida com a sociedade.”
Drogas “Não uso droga, só bebo com os amigos. Acho que em menos de 20 anos a maconha vai ser liberada no Brasil. Nos Estados Unidos, está quase. Já pensou quanto as empresas iam lucrar? Iam engolir o tráfico. Não negocio crack e proíbo trazer crack para a Rocinha. Porque isso destrói as pessoas, as famílias e a comunidade inteira. Conheço gente que usa cocaína há 30 anos e que funciona. Mas com o crack as pessoas assaltam e roubam tudo na frente.”
Recuperação “Mando para a casa de recuperação na Cidade de Deus garotas prostitutas, meninos viciados. Para não cair na vida nem ficar doente com aids, essa meninada precisa ter família e futuro. A UPP, para dar certo, precisa fazer a inclusão social dessas pessoas. É o que diz o Beltrame. E eu digo a todos os meus que estão no tráfico: a hora é agora. Quem quiser se recuperar vai para a igreja e se entrega para pagar o que deve e se salvar.”
Ídolo “Meu ídolo é o Lula. Adoro o Lula. Ele foi quem combateu o crime com mais sucesso. Por causa do PAC da Rocinha. Cinquenta dos meus homens saíram do tráfico para trabalhar nas obras. Sabe quantos voltaram para o crime? Nenhum. Porque viram que tinham trabalho e futuro na construção civil.”
Policiais “Pago muito por mês a policiais. Mas tenho mais policiais amigos do que policiais a quem eu pago. Eles sabem que eu digo: nada de atirar em policial que entra na favela. São todos pais de família, vêm para cá mandados, vão levar um tiro sem mais nem menos?”
Tráfico “Sei que dizem que entrei no tráfico por causa da minha filha. Ela tinha 10 meses e uma doença raríssima, precisava colocar cateter, um troço caro, e o Lulu (ex-chefe) me emprestou o dinheiro. Mas prefiro dizer que entrei no tráfico porque entrei. E não compensa.”
Nem estava ansioso para jogar futebol. Acabara de sair da academia onde faz musculação. Não me mandou embora, mas percebi que meu tempo tinha acabado. Desci a pé. Demorei a dormir.
The Gardian 17.11.2011
British drug policy is not working
The government is sticking to a criminal justice approach that simply doesn't work. It is time to look at the scientific evidence
The UK has the highest proportion of people who have used ecstasy of any European country.
Julian Huppert and Molly Meacher
Photograph: Getty Images
British drug policy is not working. This week we have learned that the UK spends 0.48% of GDP on drug prevention – more than any other country in Europe – but has one of the highest levels of drug use, with more than three million users in 2009-10.
Many of us were heartened in 2002 when David Cameron, recognising this problem, argued: "Drugs policy in this country has been failing for decades. Drug abuse has increased massively, the number of drug-related deaths has risen substantially and drug-related crime accounts for up to half of all acquisitive crime." Wise words.
There are clear political sensitivities surrounding drug policies, rendering effective reform a challenging prospect for politicians once they are in government. But most sensible politicians, officials and scientists recognise that 50 years of a criminalising approach hasn't reduced problem drug use. We therefore call on the prime minister to convene an all-party commission to review drug policy and make recommendations for reform.
This week the European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction found that, of the countries it studied, the UK has the highest proportion of people who have used amphetamines (more than one in 10), the highest proportion of ecstasy users and the second highest of cocaine users. These drugs are clearly harmful.
But in the UK we have already seen that health-led approaches, such as heroin treatment centres, have better outcomes than criminalising approaches. So it is of great concern that our government is continuing with a predominantly criminal justice approach that simply does not work. It is time to look more closely at the scientific evidence.
Since July 2001 drug possession in Portugal has been an administrative offence, rather than a criminal one. Instead of courts and jail sentences, users are sent before commissions which take a holistic approach to drug policy – combining health policies with rehabilitation. The results are important. The prevalence of problem drug use and the number of young people addicted to drugs have fallen. So, too, has the number of users in prison.
Scientific research makes it clear that drug policy should be re-examined. At the same time, public opinion has shifted strongly, enabling drug reform to move into mainstream politics. In a recent study by YouGov, 53% of those polled stated that they did not feel the government's approach to illegal drugs was working. Indeed, only 11% of those asked thought drug policies were in any way effective. At their conference in September the Liberal Democrats passed a detailed policy resolution on drug policy reform.
On the international stage, the UK, along with the US and Spain, are the top drug user countries. We must bear significant responsibility for the consequences of our demand for drugs from Latin America.
In the past five years there were about 40,000 drug-related deaths in Mexico, a significant number of which were children. President Juan Manuel Santos described Colombia as a country nearly broken by a combination of drug cartels and guerrilla narcotics traffickers. Indeed, just this week, the long-term international failures led Santos to call for a global rethink on drugs policy.
This year marks the 50th anniversary of the 1961 UN Convention on Narcotic Drugs. The all-party parliamentary group for drug policy reform is marking this anniversary with a top-level summit of government representatives from 14 countries with senior UK delegates.
The event, taking place this week, will launch the Global Commission Report on Drug Policy in the UK, it will present recent research and country experiences of evidence-based health-orientated policies and it will discuss how to move forward despite the criminalising UN conventions.
The time has come for the UK government to decide what it will do to help promote this agenda. Britain still has the opportunity to be a world leader.
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FSP 25/07/2011
Lei antidrogas aumenta lotação carcerária
Criada há quase cinco anos para acabar com pena de prisão para usuários de maconha, a lei antidrogas gerou efeito contrário: contribuiu para superlotar presídios, informa a reportagem de Mario Cesar Carvalho, publicada na edição desta segunda-feira da Folha.
A íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL (empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).
A ideia original era que usuários prestassem serviços comunitários ou vissem palestras sobre drogas. Mas, de 2006 a 2010, o número de presos por tráfico aumentou 118% e chegou a 86,6 mil.
No mesmo período, a população carcerária cresceu 37% e passou a 496,2 mil.
Para a professora de direito da UFRJ Luciana Boiteux, o aumento tem duas razões: a pena mínima por tráfico subiu de três para cinco anos e usuários vêm sendo punidos como traficantes.
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13.07.2011
Narcoguerra no México: Blogues substituem
jornais na cobertura
Até a Agência Norte-Americana de Combate às Drogas passou a acompanhar os blogues criados por quase 30 jornalistas e cidadãos comuns numa narcoguerra que a grande imprensa trata com luvas de pelica por temor de represálias.
Carlos Castilho
Depois de verem a imprensa acuada pela combinação da violência do narcotráfico e da polícia contra jornalistas, os mexicanos descobriram uma nova fórmula para buscar notícias sobre a guerra entre os cartéis da droga e o governo, um conflito que já matou 66 jornalistas e 14 mil civis e militares na última década.
Até a Agência Norte-Americana de Combate às Drogas (DEA, na sigla em inglês) passou a acompanhar o drama mexicano por meio dos blogs criados por quase 30 jornalistas e cidadãos comuns que passaram a ser a linha de frente numa narcoguerra que a grande imprensa trata com luvas de pelica por temor de represálias.
O fenômeno dos narcoblogs, como o popularissimo Blog del Narco, que tem cerca de 50 mil acessos diários, provocou uma mudança radical nos hábitos informativos dos mexicanos. Eles agora buscam mais informações nos blogs em vez da imprensa convencional.
Isto é o resultado de uma dupla pressão sobre as redações. Se por um lado o crime organizado transformou os jornalistas em alvos preferenciais, por outro a polícia também passou a usar a intimidação sobre repórteres e editores como forma para impedir denúncias de corrupção nos organismos de segurança pública.
Esta dupla armadilha montada sobre a imprensa é claramente visível no México por conta da radicalização da narcoguerra, mas ela acontece em quase todos os países latino-americanos, inclusive no Brasil.
Fotos chocantes
É cada dia mais difícil cobrir jornalisticamente os crimes envolvendo narcotráfico porque a intimidação de repórteres e editores está cada dia menos sutil. E não é apenas por conta do crime organizado. Também a polícia pressiona jornalistas sempre que aparecem denúncias de envolvimento de agentes com os traficantes.
Esta situação está empurrando um número cada vez maior de repórteres para a atividade autônoma, contando inclusive com o estímulo das empresas jornalísticas que já não conseguem, como no caso mexicano, dar proteção especial aos seus profissionais.
O Programa de Liberdade de Expressão, do Centro de Jornalismo e Ética Publica (CEPET) do México, admitiu em março deste ano que a espiral de violência no México levou os principais jornais e emissoras de radio e TV do país a uma autocensura em matéria de cobertura do narcotráfico para “evitar mais mortes e mais prejuízos financeiros”.
É esta autocensura que acabou levando mais leitores para os blogs entre os quais se destacam também o Narcotrafico en Mexico e o Narcoguerra, conhecido pela crueza das fotos que publica.
Guerrilha informativa
O recuo da imprensa mexicana diante da agressividade do narcotráfico é um sintoma do que o sociólogo espanhol Manuel Castells chamou de “globalização da violência”, ou seja, o fenômeno das máfias da droga já não é mais o resultado da falência das políticas de segurança pública deste ou daquele país, mas um processo em escala planetária resultante da impotência das forças policiais em controlar o crescimento do crime organizado como fator político.
O caso mexicano pode estar balizando uma situação em que a imprensa terá de enfrentar opções nada agradáveis. De nada adiantará recuar diante do crescimento das máfias da droga, mas, por outro lado, enfrentá-las significa pagar um preço ainda mais alto.
É aí que entram os blogs, que podem se adaptar mais rapidamente a um ambiente informativo marcado pela intimidação e pela violência. No caso mexicano, também aconteceram ameaças contra blogueiros, conforme revelou o CEPET, mas quando um blog sai da rede, sempre surgem vários outros para substituí-lo. Isso acaba dando lugar a uma espécie de guerrilha informativa contra os narcos.
Publicado no Observatório da Imprensa, a partir do blog Código Aberto, 12/7/2011; título original “Blogs noticiosos mexicanos substituem jornais na cobertura do narcotráfico”. Foto por http://www.flickr.com/photos/sidelong/.
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Combate às drogas deve se basear em repressão, tratamento e reinserção social, defende Cardozo
Fonte: Agência Brasil
Brasília – Nos próximos dias, o Ministério da Justiça divulgará uma pesquisa sobre o uso de drogas no país, com o foco no crack. Preocupado com os dados preliminares que indicam o agravamento da situação, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou hoje (22) que será intensificada a segurança nas regiões fronteiriças. Também será ampliada a política pública baseada nos pilares da “repressão, tratamento clínico e reinserção social”, disse Cardozo.
Para o ministro, é fundamental acabar com a sensação de impunidade que ainda prevalece no país. Cardozo afirmou que essa mudança de postura está diretamente vinculada a uma ação conjunta entre a União e os estados. Ele disse manter conversas regulares com vários governadores, inclusive o de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), que é de um partido que faz oposição ao governo federal.
“Independentemente de termos um partido diferente do [partido] do governador [Teotonio, de Alagoas], a orientação da presidenta Dilma Rousseff é trabalhar em conjunto”, afirmou Cardozo, em entrevista a 11 rádios regionais no programa Bom Dia, Ministro, produzido pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, em parceria com a EBC Serviços.
“Temos de acabar com essa sensação de impunidade”, disse Cardozo. Em seguida, depois do programa, o ministro acrescentou que é preciso vencer a ideia de que o combate às drogas se baseia em apenas um aspecto. Ele acrescentou ainda que é necessário superar a ideia de que haja uma antítese nas políticas de repressão, prevenção e tratamento. “Tudo isso é uma política global”, disse.
“A política de enfrentamento do crack passa por todos esses aspectos, a política de asfixiamento das organizações criminosas, o controle de fronteiras e a integração com os estados, ao mesmo tempo em que capacitamos profissionais e [fazemos] campanhas de esclarecimentos”, acrescentou.
Para Cardozo, muitas pessoas ainda acreditam que o dependente químico é aquele que não tem condições de viver em sociedade. “Às vezes, existe a visão de que não há mais o que fazer com o drogado. Mas nós temos condições de tratar esta pessoa, que deve ser tratada sob o ponto de vista clínico e social, para ser reinserida na sociedade”, disse ele.
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ResponderExcluirEu sou tão grata por Rick Simpson, eu estou tão feliz estou vivo para testemunhar o bom trabalho do óleo de cannabis e sua cura milagrosa, Meu nome é Evelyn Mendoza Vasques da Espanha. Eu estava diagnosticar com câncer de mama há 3 anos, e desde então eu fiz um monte de quimio e radioterapia que não me ajudou, mas apenas danificado meu sistema imunológico e tornar-me fraco e indefeso. Me deparei com as lágrimas Phoenix e eu li sobre o óleo de Rick Simpson Cannabis muito e viu que ele poderia me fornecer o óleo aqui na Espanha, entrei em contato com ele para a medicação, a minha maior surpresa a medicação foi entregue a mim dentro 48 horas e eu estive em tratamento para o passado 3 months.I'm agora aqui para testemunhar que não sou mais um paciente com câncer, tenho experiência uma transformação total no sector minha saúde com óleo de Rick Simpson Cannabis. Para todo paciente com câncer que vive na região da Europa, América e Canadá, obter o seu óleo de Cannabis: ricksimpsonmedicalservices@outlook.com. obrigado
ResponderExcluirMinha mãe foi diagnosticada com câncer de mama, então eu desperdicei um monte de dinheiro por anos para tratamento, até que eu ouvi falar de óleo de cannabis pode curar todo o câncer, eu tentei procurar uma maneira de obter o óleo e, finalmente, um amigo meu me disse Como chegar a ele e obter o óleo, eu era capaz de e-mail e comprou o óleo, a minha mãe começou a tomá-lo em 12 de janeiro e glória a Deus que ela foi curada em abril, após a sua última digitalização foi negativa, gostaria de agradecer Dr.Eric Mark para o tempo que ele gastou em obter este óleo para salvar vidas, você pode enviá-lo se você precisar de ajuda e cura (Ericmarkcancercure@gmail.com) O óleo funciona para todo o tipo de câncer e vale a pena. orando por você
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I THOUGHT THE PYSICIANS SAY NO CURE FOR HIV/AIDS?, I AM TELLING YOU TODAY THAT DR GADAGODO CURE HIV/AIDS
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