Presados,
E por que não “Cidadania Sustentável”?
Nesse espaço estaremos publicando artigos, textos, etc de integrantes do nosso movimento.
Ao final da página, vocês encontrarão originais de livros já publicados ou não na forma tradicional (impressa), mas que de qualquer forma estão disponíveis no Google Doc para serem utilizados, exceto para fins comerciais.
Forte abraço a todos e felicidades.
Boas leituras!
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Marias mães, Marias meninas.
Marias, simplesmente Marias...
Mas para essas Marias ficamos devendo a alegria...
_______Marias, simplesmente Marias...
Maria mãe,
Maria filha,
Maria vadia,
Maria santa,
Maria menina,
Maria mulher,
Maria viciada,
Maria mal amada.
Quantas Marias existem numa única Maria?
De santa a puta, cabe tudo, menos a menina mulher, simplesmente menina mulher, ser humano frágil como todos nós, que no imaginário de todos nós perdura a mãe, uma entidade sagrada, admirada, idolatrada, venerada.
Mas será? Será que todas as meninas mulheres independente da cor, da classe social, do que faz, do que é, da onde vêm ou para onde vai têm sua “maternidade” desejada, idolatrada, venerada?
Será que toda Maria é cheia de graça, tem o Senhor com ela, é bendita entre as mulheres e o fruto do seu ventre é bendito entre nós?
O que pensar da Maria que não se lembra de seus pais; nasceu, cresceu e se fez mulher nas ruas de uma grande cidade; aos 15 anos já é mãe pela terceira vez e teve que viver todas as 3 maternidades só entre tantas outras Marias em sua manjedoura nas ruas, nas praças, nos becos?
E se essa Maria em algum momento de sua vida tiver descoberto nas drogas, no crack, por exemplo, o poder de levá-las para um mundo imaginário, onde nem ela nem os seus passarão fome, frio; onde não será espancada, estuprada, maltratada, na maioria das vezes por quem deveria protegê-la - os agentes do Estado?
Por que antes de descobrir a droga se prostituía, cometia pequenos delitos e ninguém percebia sua existência e agora ela, aparentemente, é o centro das atenções?
Como acreditar em alguém se governantes, na defesa de interesses inomináveis, encontram a todo momento uma nova maneira para fazê-la sofrer ainda mais sob a justificativa que só com mais “dor e o sofrimento” ela procurará a ajuda que sempre procurou e nunca encontrou?
E o que será de seus filhos e filhas, gerados e paridos por mães meninas mulheres?
O que fazer para proporcionar a seus filhos um futuro diferente dos delas, se elas não sabem nem como será sua próxima hora de vida?
O que fazer com filhos de mães meninas mulheres viciadas em crack que, portanto, já nascem viciados em crack e que serão amamentados com leite maternos envenenados também pelo crack?
Maria, Maria mistura a dor e a alegria... já dizia o poeta.
Doentes ou diferentes?
O CRACK social II.
Com certeza vivemos um momento especial de nossa história, a importância da diversidade cultural ficou ainda mais evidente com a facilidade de comunicação, tornando fundamental o indivíduo ter status de cidadão, condizente com o lugar que habita. Mas o cidadão capaz de transformar seus sonhos em realidade ameaça um sistema que sobrevive à custa da submissão, de estabelecer padrões comportamentais a partir de conceitos frágeis, criados de acordo com seus interesses e mãos pesadas para castigar os que ousam a questioná-los.
“Você costuma sonhar?”, perguntou [...] um repórter de TV a uma criança de uns dez anos, bóia-fria, [...].
“Não”, disse a criança espantada com a pergunta.
“Eu só tenho pesadelo.” (Paulo Freire)
Dentro dessa ética, a “normalidade” deve prevalecer como a única alternativa, tornando necessário que se elimine os que apontam novos caminhos ou falhas no sistema, nem que para isso tenha que se recorrer à barbárie, ao encarceramento, seja como criminoso, seja como doente, sob a justificativa de tratá-lo.
A estratégia política para conquista do apoio popular à barbárie é a mesma há séculos: cria-se um inimigo social através da difusão de dogmas, até que eles se tornem verdades absolutas. Como dizia Goebbels, Ministro de Propaganda de Hitler, “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. O passo seguinte é promover o pânico na sociedade, ao atribuir a esse fictício inimigo todos os males momentâneos, como os nazistas fizeram com os judeus e a ditadura militar, no Brasil, com os comunistas. Ao criar-se o pânico, abre-se a possibilidade de estabelecer medidas de exceção para o combate ao suposto inimigo.
Nesse momento, a existência de populações em situação de rua é um forte fator ameaçador para realização dos grandes eventos em nosso país, como foi a Rio + 20, e serão a Jornada Católica, a Copa do Mundo e as Olimpíadas, estando em jogo bilhões de reais em obras superfaturadas que são justificadas apenas pela realização desses grandes eventos. É necessário eliminar tudo que ameace a realização desses eventos. A guerra ao CRACK surge como aliado perfeito.
É colocada em prática a velha e surrada estratégia.
A veiculação sistematicamente na mídia, de matérias confusas a respeito do crack, não permite ao cidadão comum formar um quadro condizente com a realidade, formando-o a acreditar nos disparates veiculados a esse respeito. Cria-se o pânico e a justificativa para implantação de medidas de exceção. O respaldo “científico” surge com a chegada de Jorge Jaber, psiquiatra com um currículo respeitável sob os olhares de nossa cultura e dono de clínica privada para tratamentos de usuários de drogas com alto poder aquisitivo e, defensor, obviamente, de medidas de exceção para tratamento de usuários de crack. A administração dos “abrigos”, para internação das CRIANÇAS e ADOLESCEBNTES usuários de crack, foi entregue à ONG Tesloo, com longo histórico de desvio de verbas, segundo o Tribunal de Contas do Município (algo em torno de R$ 130 milhões de reais), e comandada por um major da PM aposentado, acusado de 42 mortes, respondendo a processo criminal por suspeita de pertencer à milícia, conforme denúncia em matérias d’O Dia.
Assim, em março de 2011, foi implantado o “programa de internação compulsória de crianças e adolescentes usuárias de crack”, através de portaria da Secretaria Municipal de Assistência Social, disponibilizando 150 vagas para internação - número irrisório diante do triste universo existente. Não bastassem todos os desmandos e irregularidades cometidos nesse programa pela Prefeitura do RJ nem a dita portaria ELE CUMPRE. Nesse período, a Prefeitura do RJ fez mais de 700 recolhimentos compulsórios crianças e adolescentes nas ruas do RJ, sendo internadas pouco mais de 201 pessoas, ao custo de R$ 28 mil reais por interno ao mês, só aumentando o caos na cidade.
O desmando, a certeza da impunidade é tanta, que pesquisa feita pela própria Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro com as CRIANÇAS e ADOLESCENTES internadas em seus abrigos para supostamente serem tratadas do vício do uso do CRACK aponta que somente 19% delas eram usuárias de crack (veja quadro a seguir), algumas inclusive, nem usuárias de drogas eram, e mesmo assim, foram mantidas aprisionadas e tratadas como se usuárias fossem, por meses a fio, inclusive tomando medicamentos, tendo sido internadas pelo simples fato de terem sido encontradas nas “cracolândias” quando lá os agentes da Prefeitura estiveram.
Mais absurdo tudo isso se torna quando constatamos que as cracolândias são um produto desse mesmo Estado. A ocupação de alguns territórios da cidade, militarmente, seja oficialmente, através das UPPs ou, oficiosamente, através das milícias, provocou uma perda de espaço de circulação dessa população. Junte-se a isso, o fato de a grande maioria dos atos de violência contra a população em situação de rua, são promovidos exatamente por agentes governamentais. Assim, não resta outra saída a essa população, que a de se reunirem onde se sintam protegidas e os agentes do Estado não tenham livre trânsito: pontos de comércio de drogas.
A junção de uma população abandonada com pontos de vendas de drogas, só poderia gerar a intensificação do consumo de drogas, principalmente do CRACK, por ser extremamente barato, acabar com a fome e o medo.
Parece óbvio que a questão do crack, assim como o de qualquer comportamento estranho a nossa cultura, não se resolve com aprisionamento, internação compulsória (vejam as experiências com os antigos manicômios, das prisões), mas certamente, com a inclusão social de seus agentes, garantindo a todos seus direitos fundamentais, como saúde, educação, moradia, trabalho e justiça.
“Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu.
Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse” .
Martin Niemöller
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O fim da internação
compulsória
Rio - Em
tempos onde predominam movimentos e protestos virtuais, as conquistas da sociedade civil se tornam
ainda mais importantes de serem festejadas. A Prefeitura do Rio recentemente
anunciou o fim do seu programa de internação compulsória, transferindo a
responsabilidade de acolher e tratar usuários compulsivos de crack e outras
drogas para a Secretaria de Saúde.
Essa mudança sem
dúvida é uma vitória de setores da sociedade civil que se opuseram à política
de internação compulsória e organizaram, ao longo de 19 meses, sucessivos
debates e protestos a esse respeito; de um grupo de dedicados funcionários da
própria prefeitura, que internamente travaram uma batalha silenciosa e, de
início, aparentemente suicida; de jornalistas que não pouparam esforços na construção de matérias a
esse respeito, mesmo sabendo das remotas possibilidades de sua publicação
devido aos grandes interesses econômicos envolvidos; e da Defensoria Pública,
em especial da Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente.
Dentre as matérias
jornalísticas, uma delas se destacou até mesmo por ter sido determinante nessa
mudança de rumo da prefeitura: a do jornalista João Antônio Barros, do DIA,
denunciando o submundo da participação da Tesloo, o que só foi possível devido
ao empenho da vereadora Andrea Gouveia Vieira em investigar as relações financeiras entre a ONG e a
prefeitura.
Essa vitória
evidencia mais uma vez a força da união dos diferentes setores da sociedade, o
que só é possível quando a vaidade e
os interesses pessoais ficam subalternos às causas sociais.
Sepultar a internação
compulsória, que corria o risco de ser estendida para adultos, é impedir o uso
de uma ferramenta poderosa de regimes fascistas, que já produziu fatos como os
campos de concentração nazistas, os manicômios brasileiros...
O Globo
Ainda bem que acabou...
Em tempos onde
predominam movimentos e protestos virtuais, as conquistas da sociedade civil se
tornam ainda mais importantes de serem festejadas.
Em recentes eventos,
a Prefeitura RJ anunciou o fim do seu programa de internação compulsória tendo
transferido a responsabilidade de acolher e tratar de usuários compulsivos de
crack e outras drogas, para a Secr. de Saúde.
Essa mudança
sem dúvida é uma vitória de setores da sociedade civil que se opuseram a
política de internação compulsória e organizou, ao longo desses 19 meses,
sucessivos debates e protestos a esse respeito; de um grupo de dedicados
funcionários da própria Prefeitura que internamente travaram uma batalha
silenciosa e de início, aparentemente, suicida; de jornalistas que não pouparam
esforços na construção de matérias a esse respeito, mesmo sabendo das remotas possibilidades
de sua publicação devido aos grandes interesses econômicos envolvidos; da
Defensoria Pública, em especial da Coordenadoria de Defesa dos
Direitos da Criança e do Adolescente (Cdedica) e de alguns (poucos)
parlamentares.
Essa vitória
evidência mais uma vez a força da união dos diferentes setores de nossa
sociedade, o que só é possível quando a vaidade e os interesses pessoais ficam
subalternos às causas sociais.
Sepultar a
internação compulsória, que corria o risco de ser estendida para adultos e se
tornar uma política nacional, é impedir o uso de uma ferramenta poderosa de
regimes fascistas, que já produziu fatos como os campos de concentração
nazistas, os manicômios brasileiros...
Publicados no Correio da Cidadania
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Pref RJ: E os R$ 70 milhões?
CRIANÇAS & CRACK & PREFEITURA RJ
Recentes matérias publicadas no jornal O Dia nos dias 25, 26, 27, 28, 30, ... de outubro (http://www.rebomeg.com.br/p/reportagens-atuais.html) apresentaram diversas denúncias sobre o programa da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro de INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA de ALGUMAS crianças e adolescentes SUPOSTAMENTE usuárias de crack, criado para atender a uma sentença do STF que a obriga a cumprir o que é determinado no Estatuto da Criança e do Adolescentes (lei nº 12.010, de 03 de agosto de 2009.) Art. 88 o qual estabelece que são os municípios os responsáveis por cuidar de todas as crianças e adolescentes em situação de risco.
Assim, privilegiar somente a criança e o adolescente usuário de crack é se manter à margem da lei, mas numa sociedade onde as leis só valem para alguns, foi permitido...
Assim, privilegiar somente a criança e o adolescente usuário de crack é se manter à margem da lei, mas numa sociedade onde as leis só valem para alguns, foi permitido...
Desde a sua implantação era óbvio que a realidade não condizia com o que estava sendo anunciado pela Prefeitura. O protocolo da SMAS nº 20 de 27.05.2011, criado para normatizar esse programa, em seu artigo XXVIII estabelecia que deveriam ser abrigadas
§3º A criança e o adolescente que esteja nitidamente sob a influência do uso de drogas afetando o seu desenvolvimento integral, será avaliado por uma equipe multidisciplinar e, diagnosticada a necessidade de tratamento para recuperação, o mesmo deverá ser mantido abrigado em serviço especializado de forma compulsória. A unidade de acolhimento deverá comunicar ao Conselho Tutelar e à Vara da Infância, Juventude e Idoso, todos os casos de crianças e adolescentes acolhidos.
§4º Não obstante o previsto nos §§ 2º e 3º deste artigo, a criança e o adolescente acolhidos no período noturno, independente de estarem ou não sob a influência do uso de drogas, também deverão ser mantidos abrigados/acolhidos de forma compulsória, com o objetivo de garantir sua integridade física.
§5º As crianças e os adolescentes acolhidos / abrigados só sairão após anuência do Conselho Tutelar da área e a autorização do Juízo responsável.
Sendo assim, como um programa com 150 vagas pretendia atender ao público por ele pré-estabelecido se o consultor da Prefeitura para implantação desse programa, o psiquiatra Jorge Jaber, estima ser necessário um período de 6 meses de internação para que o usuário se desvencilhe de seu vício de usar crack, o que implica dizer que o programa só poderia atender a 300 crianças e adolescentes usuárias de crack por ano, o que é um número absolutamente insignificante perto da nossa triste realidade?
Além disso, se efetivamente a Prefeitura pretendia desenvolver um programa para cumprir sua obrigação legal de cuidar das crianças e adolescentes usuárias de crack por que desarticulou totalmente seus serviços básicos e / ou especializados de atendimento de usuários de drogas, sendo a capital do Brasil que apresenta a pior relação entre população e vagas nos CAPSad. E porque não divulga um endereço e um telefone para todos os usuários de drogas que queiram se cuidar ou familiares que queiram orientação?
Não lhes parece no mínimo estranho que a mesma Prefeitura que demonstra tanta “preocupação” com essas crianças e adolescentes deixe as escolas, os aparelhos públicos de saúde, conselhos tutelares abandonados, sem profissionais, insumos básicos, com as instalações completamente deterioradas, tendo fechado escolas e unidades hospitalares recentemente?
Mas, sem nem dar tempo para que a população perceba o que está ocorrendo, a estratégia começa a se mostrar claramente, sem disfarces.
Rapidamente as denúncias de tortura, maus tratos, supressão de direitos começam a surgir na imprensa (ver em nosso blog) e a Prefeitura justifica tais barbáries como sendo parte de um processo que está se iniciando e é preciso fazer ajustes, qualificar profissionais, etc...
Como são crianças e adolescentes pobres, em sua grande maioria não brancas, desvinculadas de suas famílias a população em geral e as instituições que deveriam proteger tais crianças e adolescentes dessas barbáries pouca atenção dá a tudo isso, mesmo aqueles que militam nessa área, preferindo discutir as macro relações / questões, principalmente a internação compulsória, sob a justificativa “o que é pior do que ficar abandonado nas ruas”.
Surge a Rio+20, quando é realizada uma brutal operação de higienização social nas ruas da cidade e não se vê uma única voz levantar-se em protesto a barbárie em curso, e logo depois as eleições municipais e esse tema cai no esquecimento até mesmo pelos candidatos a Prefeito, com NENHUM deles levando-o para discussão nos debates na televisão, do mais a esquerda ao mais a direita.
Mas logicamente o tema não ficaria esquecido para sempre, até porque com o fim das eleições a mídia precisava de um tema comovente para vender, afinal “se não tivermos verdades venderemos o que?”
E de novo surge o crack como o grande inimigo a ser combatido, o destruidor de lares, famílias, da sociedade. Logo reaparece a discussão da internação compulsória, agora de adultos, uma vez que a de crianças e adolescentes parece superada e consolidada.
Mas, o destino resolve levantar o tapete e expor toda a sujeira ali escondida pelos protetores da moral e dos bons costumes, os homens de bem que se diziam dispostos a cuidar das pobres criancinhas abandonadas por todos e entregues ao vício do crack.
Matérias do jornal O Dia revelam detalhes das relações entre a Prefeitura do RJ e a ONG contratada para administrar 4 dos 5 abrigos destinados a acolher e cuidar dessas crianças.
Sim, isso mesmo, pasmem, a Prefeitura contratou uma ONG, a Tesloo, acusada pelo Tribunal de Contas do Município de desviar R$ 80 milhões de recursos recebidos da Prefeitura, recebe R$ 28 mil por interno e é presidida por um major da PM acusado de matar 42 pessoas e suspeito de integrar a milícia!
Quanto ao tratamento em si que os/as internxs deveriam restar recebendo o que temos são profissionais desqualificados, um único médico psiquiatra para atender aos internos dos 4 abrigos, alimentação precária, remédios com data de validade vencida, metodologia de tratamento que incluía a prática da tortura, maus tratos, supressão de direitos, etc....
Mas nada disso é de se admirar se pensarmos que os aparelhos públicos que poderiam prevenir que essas crianças e adolescentes tivessem que viver na rua e, consequentemente, algumas delas consumir drogas, estão absolutamente sucateados, como as escolas, ou inexistem, como os abrigos de fato, ou estão sendo fechados, inclusive por falta de profissionais, como os hospitais municipais ou equipamentos de saúde mental.
Sendo assim, pensar que a Prefeitura contratou a Tesloo para administrar essas 4 casas que deveriam acolher, tratar, cuidar e promover a reinclusão social dos internos poderia ser um absurdo, mas existira pessoal mais qualificado para promover a higienização social, limpar a cidade da população em situação de rua para que ela fique com aparência de normalidade social e justifique os gastos absurdos feitos pelo poder público para os grandes eventos que estão por vir?
Para concluir, matéria publica pelo mesmo jornal O Dia em 5/11/2012 denuncia que essa ONG (com diversas denúncias do Tribunal de Contas do Município por desvios de recursos, repito) recebeu um terreno dentro de um quartel do EXÉRCITO Brasileiro para implantar um projeto social, que parte desse terreno foi transformado em um lava jato para lavagem de carros em geral (um negócio PRIVADO como outro qualquer), uma doação da ANCINE (um órgão federal),...
Tudo isso é muito, é extremamente grave e fica pior ainda se levarmos em conta que TODOS os outros poderes da República têm sido coniventes, o Legislativo, o Judiciário, O Ministério Público, o Executivo em seus 3 níveis (Federal, Estadual e /Municipal) a tudo assistindo como se nada tivessem a ver com isso.
É urgente que a sociedade brasileira se manifeste a esse respeito, é o nosso futuro que está em jogo.
“Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu.
Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse” .
Martin Niemöller
A quem interessa discutir ETERNAMENTE a INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA?
Paulo Silveira
“Simplesmente não posso pensar pelos outros, nem para os outros, nem sem os outros.”
Paulo Freire
E de novo o tema “internação compulsória de usuários de crack” volta a ocupar as manchetes de jornais.
É interessante observar que a INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA já está em curso na cidade do Rio de Janeiro, promovida pela atual Prefeitura desde 31 de março de 2011, recolhendo nas ruas da cidade algumas poucas CRIANÇAS e ADOLESCENTES supostamente usuárias de CRACK e as internando compulsoriamente em “espaços” que deveriam tratá-las e cuidá-las.
Não podemos nos esquecer de que, durante as recentes eleições municipais, somente um candidato a Prefeito do Rio de Janeiro priorizou este tema nos debates na televisão: o representante do DEM. Todos os outros, do mais à direita ao mais à esquerda, calaram-se, incluindo aí o atual e reeleito prefeito Eduardo Paes.
Por que será?
Junte-se a esse fato que, durante todo esse período de campanha eleitoral, a grande mídia não deu destaque a esse tema, esquecendo-o, como vemos, provisoriamente...
Mas, afinal, a quem interessa essa eterna e estéril discussão a respeito da internação compulsória de usuários de drogas?
Afinal alguém consegue imaginar / acreditar que um sistema de saúde pública absolutamente sucateado, corrompido, onde faltam insumos básicos e leitos para seus doentes, vá prover vagas suficientes para aproximadamente 5 milhões de usuários de crack em todo o Brasil, sendo que cada usuário ocuparia um leito por aproximadamente 6 meses, tempo necessário para “recuperação” desses usuários de acordo com os especialistas que defendem essa ideia?
Você leitor consegue imaginar que o Prefeito Eduardo Paes vai priorizar o atendimento a usuários de drogas em detrimento de suas obras espetaculosas ou que nossa sociedade, absolutamente narcísica, egoísta, vá optar por aplicar recursos em atendimento digno para miseráveis ao invés de obras faraônicas que facilitem seu ir e vir com seu automóvel novo comprado em parcelas infindáveis e impagáveis?
Mas por que será que os usuários de crack merecem uma atenção especial do poder público, um privilégio em relação a todos os demais excluídos de nossa sociedade?
É preciso lembrar que o crack:
- nada mais é do que a borra da cocaína consumida de uma outra forma.
- está presente no Brasil desde a década de 80, portanto, há mais de 30 anos portanto. Se fosse uma droga com tanto poder de destruição como é alardeada pela mídia, pelo poder público e alguns poucos “especialistas”, normalmente donos de clínicas para internação, estaríamos vivendo um verdadeiro caos, não?
- é consumido em diversos outros países onde não há pânico a esse respeito.
- é consumido cada vez mais por trabalhadores braçais do interior de nosso país, como os cortadores de cana de açúcar, para aumentar sua produtividade e nem por isso esse tema ocupa as primeiras páginas dos jornais;
Acrescente ainda questões como:
- 85% das mortes causadas por overdose de drogas lícitas ou ilícitas são produzidas pelo álcool, excluindo os acidentes e incidentes provocados por usuários. Os índices relativos ao crack são tão insignificantes que sequer aparecem nas pesquisas a esse respeito, mas se alardea sobre o crack, porque?
- de acordo com pesquisa feita pela Secretaria Municipal de Assistência Social da Cidade do Rio de Janeiro, somente 18% das crianças e adolescentes recolhidas nas e internadas compulsoriamente pela Prefeitura para tratamento eram usuárias de crack. Algumas nunca tinham usado nenhum tipo de droga, mas os locais onde esses miseráveis se aglutinam é apelidado pela mídia de “cracolândia”, por que será?
- pesquisa da USP / UNESCO identificou que:
o existem 117 tipos de drogas circulando pelas escolas brasileiras;
o as escolas se tornaram os principais centros de difusão e comercialização de drogas no Brasil;
o os alunos das escolas privadas consomem em média 40% a mais de drogas lícitas e ilícitas que os alunos das escolas públicas.
o uma das principais demandas do coletivo escolar (professores, funcionários, pais, estudantes) é a capacitação continuada que os habilitem a lidar com a questão das drogas. Por que o Estado brasileiro não atua nesse sentido e gasta bilhões com o “crack”?
o Brasil é hoje o segundo mercado consumidor de cocaína. Porque o poder público concentra todas as suas preocupações no crack e seus usuários e não se pensa em políticas públicas que envolvem a cocaína e seus usuários? Porque o usuário de crack mereceria mais atenção do que os de cocaína?
Acrescente-se ao aqui exposto que o Programa da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro de recolhimento de crianças e adolescentes SUPOSTAMENTE usuárias de crack tem sido alvo de denúncias diversas, como por exemplo:
- dos Conselhos Regionais de Psicologia, Assistência Social, Nutrição e de Medicina por falta de profissionais qualificados, instalações impróprias e inadequadas, uso de medicamentos com data de validade vencida, ausência de procedimentos que orientem os profissionais que deveriam cuidar das crianças e adolescentes ali internadas para tratamento, etc.;
- do Tribunal de Contas do Município, por desvio de aproximadamente R$ 103 milhões pela ONG que administra 3 dos 4 abrigos onde as crianças e adolescente são internadas;
- por familiares e ex-internos por tortura de CRIANÇAS e ADOLESCENTES internadas pela Prefeitura do RJ praticadas por funcionários dos abrigos que deveriam cuidar delas;
- pela OAB/RJ por supressão de direitos, inadequação das instalações e não cumprimento do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente);
Quanto à internação compulsória de usuários de drogas, casos extremos precisam de medidas extremas, mas é no mínimo estranho basear políticas públicas no atendimento de situações extremas que já saíram do controle sem que se priorize a prevenção ou o atendimento dos que desejam se tratar e não encontram onde. Pesquisa da FIOCRUZ demonstrou que 72% dos usuários de crack desejam se tratar e não encontram vagas na rede pública.
Perguntas fundamentais estão sem respostas e nem por isso merecem destaque da grande mídia, como por exemplo:
Será que essa população de excluídos sociais se concentra em locais insalubres, fétidos, apelidados de cracolândias, passando fome porque assim deseja ou será que é por absoluta falta de opção?
Porque o poder público não divulga telefones e endereços para onde devem se dirigir todos aqueles que desejam se tratar ao invés de caçar seres humanos nas ruas da cidade?
Será que a droga na vida do usuário é um problema ou uma solução?
Será que não seria mais produtivo para todos nós o poder público desenvolver ações que promovam a inclusão social dessa população tornando assim a droga desnecessária na vida deles?
Por fim, você leitor já pensou que a instalação da medida de internação compulsória, seja lá pelo motivo que for, pode ser um primeiro passo para um regime totalitário, onde amanhã chegue-se a conclusão que outro grupo qualquer de cidadãos é nocivo à sociedade e, portanto, deve ser também excluído do convívio social através da internação compulsória para uma reeducação social?
Você não acha que se a reclusão, afastamento do convívio social fosse a solução, a criminalidade já teria sido extinta?
Pense nisso, é o nosso futuro que está em jogo.
“Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu.
Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse” .
Martin Niemöller
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Doente ou diferente?
O CRACK social.
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
Voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
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Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
(Andrade:1984)
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Com certeza vivemos um momento especial de nossa história.
A conjugação de fatores como o avanço da web, com suas redes sociais, blogs, canais de comunicação, youtube, etc; a popularização da telefonia celular conjugado com equipamentos de registro de imagens e com a web nos dando mobilidade e ampliando a capacidade de comunicação para qualquer hora em qualquer lugar; a certeza cada vez mais presente em cada um de nós de que precisamos promover profundas mudanças em nossa dinâmica de vida caminhando rapidamente para o desenvolvimento sustentável, tem provocado uma constante e ininterrupta quebra dos paradigmas que regem nosso comportamento.
A facilidade de comunicação tem permitido o reconhecimento da importância da diversidade cultural, evidenciando que “a linguagem produz entendimentos particulares do mundo, ou seja, significados particulares” consolidando que as relações sociais são essencialmente políticas, não nos permitindo, portanto, estabelecer verdades que imponham padrões comportamentais a partir da determinação do certo e do errado ou o que é científico ou não pura e simplesmente.
Ao levarmos em consideração que, a partir do séc. XVII era a “ciência” quem definia a fronteira entre o certo e o errado e que através do domínio dos aparelhos ideológicos o “certo e o errado” é transformado em norma social comportamental, a importância da WEB conjugada com a popularização do aparelho celular dotando o cidadão da capacidade de gerar e consumir informação das mais diversas fontes fica ainda mais evidente.
“A educação, a filosofia, a arte, a ciência não são neutras. Elas estão sempre vinculadas a uma sociedade, às relações de produção, ao modo de produção econômica, a um sistema político.” (Moacir Gadotti)
É fundamental que o indivíduo ganhe o status de cidadão, condizente com o mundo onde vive / habita, instrumentalizado para interagir com o que está a sua volta, conquistando, assim, a possibilidade de exercer sua cidadania em toda sua plenitude.
“Você costuma sonhar?”,
perguntou certa vez um repórter de TV a uma criança de uns dez anos, boia fria, no interior de São Paulo.
“Não”, disse a criança espantada com a pergunta.
“Eu só tenho pesadelo.” (Paulo Freire)
Mas sonhar não basta. É imprescindível que nos sintamos parte ativa do processo transformador de nossa realidade, de nosso cotidiano. É a constatação de que nos é possível transformar nossos sonhos em realidade que alimentará todo o processo produtivo.
“É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho, de comparar escrupulosamente nossos sonhos com nossa realidade.
Sonhos, acredite neles.” Lenin
O surgimento do cidadão autônomo, sonhador que se sente capaz de transformar seus sonhos em realidade é ameaçador para um sistema que sobrevive à custa da submissão, de estabelecer padrões comportamentais a partir de conceitos frágeis e mãos pesadas para castigarem os que ousem questioná-los.
Mas como fazer se a diversidade cultural evidencia que não existe uma verdade, mas verdades?
É urgente que surja um novo “deus” capaz de estabelecer verdades inquestionáveis, apresentando não mais castigos pura e simplesmente para os que delas discordarem, mas soluções que enquadrem os desajustados as novas ordens sociais.
O “deus” estabelecedor das verdades está pronto, a ciência, mas qual será sua face, se até ela mesma vem sendo cada vez mais questionada, onde cada vez mais temos a certeza que o mundo não é, parece ser dependendo de quem o vê([1]).
É preciso que a face com que o “deus ciência” se apresente perante todos seja difusa, tal qual um caleidoscópio, onde a realidade se confunda com o imaginário, mas que em momento algum permita a existência da dúvida, pois é “deus”, é ciência.
Como resposta a tantas perguntas surge à psiquiatria, talvez de todas as ciências, a mais subjetiva, pois ao mesmo tempo em que responde efetivamente a diversas perguntas que atormentam a muitos de nós com respostas rápidas, algumas quase que imediatas, tem a propriedade de atuar a partir de conceitos absolutamente subjetivos, classificados por normas sociais comportamentais / culturais.
“O que a gente sofre mentalmente tem a ver com o que vivemos culturalmente. Sei muito bem que certos quadros psiquiátricos existem nas mais diversas culturas. Agora, a maneira como o sofrimento se organiza, como se dá a relação entre quem cuida e é cuidado, isso varia enormemente e é definitivo no curso do diagnóstico e do tratamento.” (Jurandir Freire Costa)
O uso de medicamentos lhe confere sua materialidade, a distinguindo de práticas características de outras culturas, introduzindo na relação o agente externo como interventor qualificado e autorizado pela cultura dominante, o médico psiquiatra.
Assim, a psiquiatria é colocada no mesmo patamar de outras ciências que exercem o controle do indivíduo, estabelecendo o certo ou errado a partir da transformação de dogmas em paradigmas científicos e introduzindo um agente moderador, o psiquiatra, entre a sociedade e o cidadão como representante da cultura dominante, tal qual o juiz, o professor, o governante, etc.
É nesse quadro que se coloca o Programa de Recolhimento Compulsório de Crianças e Adolescentes “SUPOSTAMENTE” usuárias de crack, que devido a diversos fatores vem sendo implantado na cidade do Rio de Janeiro por sua Prefeitura e tem se multiplicado por outras cidades do Brasil, com grande repercussão na mídia, tanto no Brasil quanto no exterior.
Realço o “SUPOSTAMENTE” usuários de crack por que conforme pesquisa da própria Pref RJ com crianças recolhidas compulsoriamente nas ruas da cidade por ela e internadas em espaços da Pref RJ, insisto, para “tratamento”, somente 19% (dezenove por cento) são usuárias de CRACK, sendo o restante, 81% (oitenta e um por cento) usuárias de outras drogas ou de drogas psicoativa nenhuma, conforme demonstra o quadro a seguir.
As evidências que esse programa da Pref RJ em momento algum teve a intenção de cuidar de CRIANÇAS e ADOLESCENTES em situação de risco, atendendo a determinação da justiça brasileira, e conforme determina o protocolo SMAS 20 de 27.05.2012, fossem elas usuárias de drogas ou não, são muitas, diversas.
Tais denúncias foram insistentemente expostas por nós e por outras instituições em artigos e cartas abertas a população (ver em http://bit.ly/p6Qrtm), pela mídia em geral através de inúmeras reportagens (ver em http://bit.ly/GVJvud), mas, INFELIZMENTE, tolerados pelos demais poderes constituintes da República, sejam o Executivo (Federal, Estadual ou Municipal), Legislativo, Judiciário ou Ministério Público que preferiram fechar os olhos a tudo e a todos e tornarem-se cúmplices dessa barbárie.
Por que será?
Será que é por que o alvo dessa barbárie são crianças NÃO brancas, miseráveis, abandonadas a própria sorte, que habitam as ruas e avenidas de nossas cidades, sujas, famintas, exploradas por setores produtivos de nossa sociedade produzindo riquezas das quais não usufruem, denunciando a todos com suas simples existências a falência das políticas públicas que deveriam promover suas inclusões sociais?
Será que só essas crianças e adolescentes são tratadas assim, barbaramente, e nossos filhos e filhas não? Será?
“Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu.
Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse” .
Martin Niemöller
[1] "Diante da ilusão, bastante aristocrática, do poder de percepção ilimitada do pensamento; existe outra ilusão bem plebeia, o realismo ingênuo, segundo o qual os objetos "são" a pura verdade de nossos sentidos. Ilusão essa que ocupa a atividade diária dos homens e dos animais. Na origem, as ciências se interrogam deste modo, sobretudo as ciências físicas.”
As vitórias sobre as duas ilusões nunca se separam. Eliminar o realismo ingênuo é relativamente fácil. Russell define de forma muito característica este momento do pensamento na introdução a seu livro An inquiry into Meaning and Truth.
"Começamos todos com o realismo ingênuo, quer dizer, com a doutrina de que os objetos são assim como parecem ser. Admitimos que a erva é verde, que a neve é fria e que as pedras são duras. Mas a física nos assegura que o verde das ervas, o frio da neve e a dureza das pedras não são o mesmo verde, o mesmo frio e a mesma dureza que conhecemos por experiência, mas algo de totalmente diferente. O observador que pretende observar uma pedra, na realidade observa, se quisermos acreditar na física, as impressões das pedras sobre ele próprio. Por isso a ciência parece estar em contradição consigo mesma; quando se considera extremamente objetiva, mergulha contra a vontade na subjetividade. O realismo ingênuo conduz à física, e a física mostra, por seu lado, que este realismo ingênuo, na medida em que é consequente, é falso. Logicamente falso, portanto falso." (Einstein: 1981)
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Pref RJ: E os R$ 70 milhões?
Ontem, 06.07.2012, estivemos reunidos com o Sub Procurador Geral Leonardo Chaves eu, o Desembargador Siro Darlan, a Ver Andrea Gouvêa Viera e representantes da Defensoria Pública quando lhe apresentamos o relatório do Tribunal de Contas do Município do RJ que aponta sérios indícios de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA por parte da Pref RJ na aplicação de recursos que deveriam ser destinados a programas de atendimento a nossa população mais carente, dentre eles o programa de acolhimento compulsório de CRIANÇAS e ADOLESCENTES SUPOSTAMENTE usuárias de crack, no valor aproximado de R$ 70 milhões.
Ao somarmos a essa denúncia às inúmeras outras por TORTURA, SUPRESSÃO DE DIREITOS, FALTA DE ATENDIMENTO ADEQUADO, etc feitas diretamente aos poderes constituintes da República (Executivo, Judiciário, Legislativo e Ministério Público) e através de nossas mídias fica, mais uma vez, evidente que a Pref RJ nunca teve nem tem intenção alguma de cuidar dessas CRIANÇAS E ADOLESCENTES que habitam nossas ruas e avenidas, atendimento esse que é sua obrigação legal.
O descaso com essa população é tamanho que os bandidos de colarinho branco não se dão nem ao trabalho de tentar maquiar seus desmandos com os recursos públicos, operando todas as suas arbitrariedades através dos meios oficiais, publicadas no Diário Oficial Municipal, tal a certeza de sua impunidade.
Quanto àqueles que têm a obrigação de impedir que tais absurdos ocorram, mais uma vez só nos resta optar entre se eles são mesmo incompetentes e, portanto, incapazes de identificar fraudes e crimes praticados a céu aberto em plena luz do dia, ou se são cúmplices de tais barbáries, mesmo que não sejam materialmente, mas, pelo menos, ideologicamente.
Quanto a essas CRIANÇAS E ADOLESCENTES quem se importa?
Afinal não são brancas, não têm famílias, ocupam nossas ruas nos estampando toda a incoerência de nosso sistema sócio econômico, maus cheirosas, famintas ora quem se importa...
“Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu.
Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse” .
Martin Niemöller[1892-1984]
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Simplesmente
não posso pensar pelos outros, nem para os outros, nem sem os outros. Paulo Freire
Nesses dias de Rio + 20 muito tem se falado em sustentabilidade,
vinculando-a principalmente as questões climáticas, como se fosse preciso de mais
algum outro fator de desequilíbrio além dos já existentes no nosso cotidiano
para que tomássemos consciência da URGÊNCIA de promovermos mudanças no nosso
sistema sócio cultural.
Uma pergunta que sempre fica no ar é: será que é possível a
implantação de medidas que produzam alterações efetivas na relação do ser
humano com o cerca sem se resolver o desequilíbrio do acesso à cidadania? Enquanto
a imensa maioria da população é tratada como sub cidadãos, não tendo acesso à
saúde, educação e justiça, outros desfrutam privilégios inimagináveis, como se deuses
fossem, acima do bem e do mal.
Em tempos de web, onde pela primeira vez na história da humanidade
qualquer um de nós pode consumir e produzir informação, reafirmando que as
estruturas de macro poder nascem e se consolidam a partir das micro relações,
não é de se estranhar o fracasso da Rio+20.
Paralelamente ao espetáculo absolutamente midiático dos chefes de
Estado e representantes de grandes corporações, a população, já cansada de
discursos vazios que redundam em ações antagônicas a esses mesmos discursos e
que têm como objetivo preservar interesses e privilégios de uns poucos em
detrimento de legítimos interesses de todos os demais, se organizou e se
fortaleceu ainda mais na Cúpula dos Povos, repetindo o roteiro da Rio 92.
Já em 92, quando a web ainda engatinhava, a revelia dos encontros
midiáticos dos chefes de Estado, os movimentos sociais se utilizaram das
sombras dos poderosos para se encontrarem, reconhecerem seus verdadeiros
aliados e construírem cumplicidades, ampliando suas relações, movimento esse traduzido
por uma frase bastante emblemática:
“Pensar
localmente, agir globalmente!”
Nos anos seguintes o que se viu foi às demandas sociais ganharem
força, obrigando às empresas privadas a criarem rapidamente o movimento de
“responsabilidade social empresarial”, uma verdadeira aberração, nascida do
desespero de um classe que se recusava abrir mão de uma frágil liderança
conquistada com o efêmero sucesso da política liberal adotada pela Dama de
Ferro, Margareth Tacher, na Inglaterra.
Mas a “mentira tem pernas curtas”, como diz o velho ditado
popular.
Assim, o movimento de “responsabilidade social empresarial”
rapidamente perde credibilidade perante a população, ao ficar evidenciado o
absurdo de sua existência (você já pensou que esse movimento ao premiar
empresas que antes de mais nada cumprem com suas obrigações legitimaria a “irresponsabilidade social empresarial”
ou “responsabilidade anti-social
empresarial”) e é substituído pela marca “desenvolvimento sustentável”,
muito mais lucrativo para as empresas.
Enquanto no “responsabilidade social” as empresas teriam que
desembolsar recursos para financiarem supostos “projetos sociais”, no
desenvolvimento social elas transferem a responsabilidade do sucesso ou do
fracasso dos seus projetos sociais para seus funcionários, ao os
responsabilizarem por economizarem insumos básicos (como energia, papel, água,
matéria prima, etc), reduzindo drasticamente seus custos de produção e
aumentando, nas mesmas proporções, suas margens de lucro e ainda por cima
pousando de parceiros da população e do meio ambiente.
Paralelamente a todo esse movimento da sociedade do espetáculo, a
população, silenciosamente, se organiza e se estrutura, tendo a web como uma
ferramenta poderosíssima, que, felizmente para todos nós, foi inicialmente
absolutamente desprezada pelos supostos “senhores” do poder, tratada como se
fosse mais um “brinquedo” de jovens, adolescentes e crianças.
Somente recentemente os donos do poder se dão conta da força da
web, mas, de novo felizmente, tarde demais.
Rapidamente a população se apossou da web, aliada a empresários
jovens e familiarizados com o universo virtual, produzindo novas e potentes
ferramentas que potencializaram a comunicação universal e, consequentemente, os
movimentos sociais.
Surgem as redes sociais, o youtube, alimentados por celulares cada
vez mais adequados a essa nova tecnologia viabilizando a comunicação a qualquer
momento de qualquer lugar.
Toda essa intrincada rede de comunicação popular se fortalece com
conquistas a eleição do primeiro presidente negro dos USA; o fim de regimes
ditatoriais no norte da África; a realização de greves estudantis no Chile,
Canadá (Quebec), Brasil; a promulgação de leis de interesse popular, como a
“Ficha Limpa”; a ocupação de espaços públicos em protesto pelo regime sócio
econômico que vivemos, de uma forma absolutamente pacífica; a organização de
manifestações de movimentos de fatias da população até aqui afastados dos
núcleos de poder, como as passeatas gays, etc.
É evidente que a realização da Rio + 20 não passou de novo espetáculo
midiático para atender a interesses diversos, numa busca desesperada de
retomada da liderança desse grupo que se despede de um poder quase absoluto que
imagina ter entre as grandes corporações e alguns de seus representantes
encastelados em cargos de chefes de Estado.
Através da busca de um suposto Desenvolvimento Sustentável foi
possível estabelecer uma agenda comum com a população, espalhando pânico em
torno do tema, permitindo que ações que visam única e exclusivamente o
favorecimento de menores fossem travestidas de “relevantes causas sociais”.
Infelizmente para uma minoria e felizmente para a imensa maioria
de nós, dessa vez o abismo que separa os interesses do grande capital e o
nosso, os cidadãos comuns, é intransponível.
O próximo passo para se produzir o evidentemente imprescindível
desenvolvimento sustentável é absolutamente incompatível com o capitalismo
voraz que vivemos, capaz de devorar países como Grécia, Espanha, Portugal, ...
e que requer resultados imediatos e lucros crescentes: o CONSUMO CONSCIENTE?
Realmente é e sempre foi imprescindível para a humanidade que o
ser humano compreenda que ele é um produto do meio e que não há recursos
suficientes em nosso planeta para que toda a humanidade viva uma vida
nababesca, mas que é possível sim, termos uma vida simples e confortável, garantindo
o acesso para todos nós dos elementos básicos que nos garantam uma vida digna,
em paz e solidária.
Sem dúvida alguma estamos no limiar de novos tempos, onde a
manipulação da sociedade em prol de interesses escusos se tornará cada vez mais
difícil e a célebre frase que “todo o poder emana do povo, pelo povo, para o
povo” se tornará cada vez mais realidade, traduzida pelo exercício de uma
cidadania planetária, com os cidadãos conscientes que “o bater de asas de uma borboleta na China interfere nos EUA”.
Acredito que é a hora de deixarmos de eufemismos, reconhecermos
que a diversidade não é necessárias somente nas plantas e nos animais que
coabitam o nosso planeta conosco, mas também entre nós humanos e enfrentarmos
desafios maiores, do tamanho de nossa existência, buscando a “Cidadania Sustentável”, aquela em que o
cidadão se sinta acolhido pelos seus e possa fazer as escolhas de sua vida a
partir de seus direitos e deveres com a sociedade, entendendo que ele é um
produto do meio e que sem ele não existe.
Utopia, nem tanto, alguns povos demonstram que isso é possível em
diversos e distintos lugares do nosso planeta, desde povos da Escandinávia até
habitantes das mais remotas fronteiras da humanidade que ainda nem sabem que
existimos.
______
Publicados no Jornal 247
Deveríamos comemorar, mas...
também publicado no Correio da Cidadania
Paulo Silveira
Hoje, 25 de maio
de 2012, sexta feira, faz 1 (um) ano que a Resolução SMAS Nº 20
foi publicada no Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro em http://bit.ly/A7SBC3 com o objetivo de regulamentar
as ações do programa em questão.
Deveria ser uma
data para comemorarmos, afinal a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro nada
mais faz do que cumprir com sua obrigação de acordo com o disposto no artigo
88, Estatuto da Criança e do Adolescente que determina:
Título I / Da Política de Atendimento / Capítulo I
/ Disposições Gerais
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento
I - municipalização do atendimento.
Cabe ressaltar que
esse artigo não descrimina as CRIANÇAS E OS ADOLESCENTES, estabelecendo que as
Prefeituras têm a OBRIGAÇÃO de cuidar de TODOS os adolescentes em situação de
risco, o que alias é ratificado no artigo 1, parágrafo ÚNICO, da resolução SMAS
20 em questão, onde se lê:
“Parágrafo Único – Para efeitos desta
resolução são consideradas pessoas em situação de rua o grupo populacional
heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos
ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza
os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de
sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de
acolhimento para pernoite ou como moradia provisória.”
Mas, INFELIZMENTE,
não é assim...
Falar sobre as
ilegalidades, inconstitucionalidades e imoralidades desse programa é uma tarefa
simples, banal e, com certeza, ficaríamos dias aqui relatando fatos e versões
diversas das atrocidades cometidas por agentes do poder público municipal.
Desde o seu início
ficou óbvia a intenção da Prefeitura com essa intervenção, ao nomear como
Secretário de Assistência Social o ex-Secretário Municipal de Ordem Pública, que
foi responsável por promover o choque de ordem na cidade, uma pessoa sem
nenhuma qualificação ou experiência para exercer o cargo, além de sua
truculência para cumprir tarefas que requerem sensibilidade.
O que pensar de um
programa que se predispõe a promover a internação compulsória de crianças e
adolescentes que estejam “nitidamente sob
a influência do uso de drogas” bem como daqueles “acolhidos no período noturno, independente de estarem ou não sob a
influência do uso de drogas”, conforme determina o ítem XVIII do protocolo em
questão, e disponibiliza para tal apenas 150 vagas? Deboche? Escárnio com a
população? O que dizer?
Não é óbvio que se
a Prefeitura quisesse cumprir com suas obrigações legais de cuidar de crianças
e adolescentes em situação de risco, sejam elas usuárias de crack ou não,
disponibilizaria um telefone e um endereço para onde aqueles que queiram se
tratar deveriam se dirigir ou para os familiares que têm filhos (crianças ou
adolescentes) envolvidos com drogas deveriam levá-los?
E porque não o
fazem?
A resposta é
simples: porque no serviço municipal de saúde não existem nem profissionais,
nem instalações e, consequentemente, vagas para atender a demanda dessa
população. Prova cabal é que para implantar essa FARSA, a Prefeitura teve que
contratar serviços de ONGs e o de um consultor, o psiquiatra Jorge Jaber.
Pasmem, pesquisa
realizada pela Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro, a
responsável por implantar e administrar essa FARSA, com crianças e adolescentes
internadas por esse programa demonstrou que somente 19% deles são usuários de
crack (!?!), os outros 81% usam outras drogas, vejam o quadro abaixo.
O grave,
gravíssimo desse fato é que todos eles recebem o mesmo tipo de tratamento,
quando o tratamento do usuário de drogas deve se adequar a diversos fatores,
dentre eles, o tipo de drogas que consome.
Além disso, faz
parte dessa maquiavélica estratégia de marketing político da Prefeitura do Rio
de Janeiro, incorporada pelas mídias e, consequentemente, pela população em
geral, de que é o “CRACK” o responsável pelo caos social que vivemos,
justificando assim, a propalada guerra ao crack, o que justificaria a
implantação de medidas de exceção, como a internação compulsória,
principalmente se nos locais onde os excluídos sociais se reúnem for difundido
que são pontos de encontros de usuários de crack, as conhecidas “cracolândias”.
Quanto à
qualificação do pessoal que cuida dessas crianças e adolescentes internados, as
frequentes e diversas denúncias que são alvo feitas através de nossas mídias, de
familiares e ex-internos (A Liga em http://bit.ly/GVJvud),
de relatórios de conselhos de profissionais como o de Enfermagem, Psicologia,
Assistência Social e Nutricionistas (em http://bit.ly/p6Qrtm)
e fatos falam por si só, bastando um único exemplo para que toda essa
precariedade se evidencie: uma criança ficou internada durante 2 (dois) meses,
sendo submetida a tratamento como se fosse usuária de crack, simplesmente pelo
fato de ter sido capturada em um dos locais conhecidos como cracolândias, embora
jamais tenha usado drogas, como comprovou um laudo psiquiátrico pericial. Ela
somente foi liberta após a Defensoria Pública ter conseguido, por solicitação
de seus pais, ordem judicial para tal!
Como vemos, nunca
houve e nem há intenção da Prefeitura de cumprir com sua obrigação legal de
cuidar de CRIANÇAS E ADOLESCENTES em situação de risco, sejam usuárias de
drogas ou não.
Difícil de
acreditar?
Não podemos nos esquecer
que estamos falando de um dos piores serviços de saúde pública de todas as
capitais do Brasil, segundo avaliação do Ministério da Saúde, seu aliado
político de primeira hora.
Ainda não
conseguem acreditar? Então, por favor, vejam a reportagem realizada pela TV
Bandeirantes em http://bit.ly/l0GNro.
Mas, sinceramente,
o que mais nos deixa estarrecido é o fato dessas crianças e adolescentes
estarem sendo submetidas a essa barbárie, fartamente comprovada e denunciada, e
nenhum ente do Estado (nem o Judiciário, nem o Legislativo, nem o Executivo [seja
Federal, Estadual ou Municipal], nem o Ministério Público) terem tomado qualquer
providência efetiva para interrompê-la.
É URGENTE que os
direitos desses cidadãos brasileiros sejam respeitados, desde os direitos mais
simples como o de estudar, garantido pelo ECA em seu artigo 94 do Título II,
Dos Direitos Fundamentais, até os mais universais, como o de não serem
covardemente torturados.
Alguém consegue
imaginar crianças e adolescentes integrantes de nossas elites financeira e
cultural internadas em estabelecimentos da Prefeitura por ordem judicial, sendo
proibidas de estudar, apesar de insistirem, pedirem, implorarem?
E sendo
torturadas, espancadas, tratadas com remédios vencidos, jogadas amarradas
dentro de uma piscina e deixadas se afogarem até desmaiar, porque não obedecem
as ordens de seu algoz e ainda serem chamadas de marginais ou rebeldes porque se
recusam a se submeter a essa BARBÁRIE?
Pois é, mas existem
crianças e adolescentes que estão aprisionadas, isoladas em estabelecimentos da
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, sob tutela da Justiça, que agora, nesse
exato momento, estão vivendo isso...
Por fim, gostaria
de lembrar-lhes Martin Luther King,
“O que mais preocupa não é o grito dos
violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética.
O que mais preocupa é o silêncio dos
bons.”
____
Rio & Londres, COIsas do COI.
No próximo dia 25 de maio, fará um ano que a Resolução SMAS Nº 20 foi criada e promulgada. Essa resolução tem por finalidade regulamentar os procedimentos a serem adotados no Programa de Acolhimento Compulsório de Crianças e Adolescentes Usuárias de Crack, a qual está publicada no Diário Oficial do Município em http://bit.ly/A7SBC3.
Falar sobre esse programa é falar sobre ilegalidades, inconstitucionalidades e imoralidades cometidas por agentes do poder público da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, sob a cumplicidade dos poderes constituídos de nossa República (Executivo, tanto Federal quanto Estadual, Judiciário, Ministério Público e Legislativo), sendo uma tarefa simples, banal relatá-las e, com certeza, ficaríamos dias citando fatos e versões diversas das atrocidades.
Na realidade nunca houve nem há qualquer intenção do Poder Público em agir em benefício dessa população desassistida, cidadãos brasileiros como outros quaisquer, que assim como um sem número de outras crianças e adolescentes têm seus direitos cotidianamente aviltados, espoliados, usurpados em nosso país.
Como denunciamos desde o primeiro momento, o que está em curso é uma higienização social com vistas à “preparação” da cidade para realização dos grandes eventos que ocorrerão nos próximos anos, como a Rio + 20, em junho de 2012; Encontro da Juventude Católica em 2013, quando são esperados de 3 a 5 milhões de jovens na cidade; Copa do Mundo em 2014; Olimpíadas em 2016, além dos Rock in Rio da vida, etc.
Poderíamos pensar que ações como esse programa da Prefeitura do Rio de Janeiro são frutos apenas das cabeças maquiavélicas de nossos governantes, nos fazendo lembrar Hitler e seus campos de concentração, um facínora também eleito e adorado pelo povo, que deu sua vida por ele, suas ideias e seus ideais.
Mas não é bem assim, existem interesses maiores além desses menores de nossos governantes, reles batedores de carteira se comparados aos mafiosos internacionais que operam os grandes cartéis de drogas, armas, tráfico humano, etc.
Ao observarmos atentamente eventos principais, veremos que são promovidos por instituições (Igreja, FIFA e COI) que vivem um momento de franca decadência, envolvidas em escândalos financeiros (corrupção, lavagem de dinheiro, má gestão), com seus processos administrativos / financeiros revestidos de mistérios e segredos.
Ao os olharmos de perto, descobriremos que seus aparentemente nobres interesses não são tão nobres assim.
Somente como exemplo, vamos nos ater as Olimpíadas.
Seu dogma “o importante não é vencer, é competir” e, portanto, seu elemento estimulador e diferenciador, não é respeitado nem mesmo na dinâmica do evento. Ao “vencedor” é dado um destaque todo especial, enquanto os “perdedores” são ignorados, mesmo aqueles que se diferenciam por atitudes que mereceriam serem enaltecidas.
Como decorrência, a “conquista” de uma medalha Olímpica facilitará a “conquista” de novos e ricos patrocínios, permitindo ao atleta sofisticar sua preparação para as competições futuras, alimentando assim a roda da desigualdade entre os competidores, nos mesmos moldes e padrões como a que vivemos na nossa sociedade como um todo.
Mas o conteúdo também se mostra cada vez mais distante de seus princípios, uma vez que as Olimpíadas nasceram para promover a integração entre povos, colocando o esporte como expressão cultural de cada um dos participantes, dentre outras mais.
Acontece que para não perder o controle do negócio que se transformou as Olimpíadas, o COI, uma empresa privada como outra qualquer, com sede na Suíça, o mais tradicional e seguro paraíso financeiro, impede sua renovação, mantendo-se “preso” a padrões tradicionais, como, por exemplo:
- priorização das mídias tradicionais (tv, rádio, impressa) em detrimento da web;
- a não renovação das modalidades esportivas, mantendo esportes como badminton, esgrima, luta livre e greco-romana e excluindo esportes atuais e com grande número de participantes como skate, surfe, esportes radicais,...;
- a humanidade hoje e cada vez mais será regida pela interatividade e solidariedade, em detrimento da passividade e egocentrismo, símbolos maiores das competições individuais de altíssimo desempenho como as das Olimpíadas;
- as principais práticas esportivas em grupo participantes das Olimpíadas têm outras competições além das olimpíadas, onde os ganhos financeiros para os atletas são muito maiores, como acontece com o basquete e o vôlei, por exemplo.
Esse distanciamento entre a sociedade contemporânea e as Olimpíadas tem sido medido pela perda de interesse da população com idade inferior a 30 anos, fato esse facilmente mensurado através de pesquisas e estudos diversos, pela queda da audiência nas mídias tradicionais de matérias dedicadas a esse tema, dificuldade de venda de ingressos para algumas competições, etc. Esses fatores, aliados a outros mais, reduziu drasticamente uma das principais fontes de custeio do evento, a publicidade.
Acrescente-se ao exposto que, em oposição a toda essa crise, a ganância e a corrupção, elevaram os orçamentos das Olimpíadas a valores estratosféricos, fazendo com que as grandes empresas percam o interesse em patrociná-las, obrigando aos Governos interessados em sediá-las a arcarem com os custos, como está acontecendo com o Brasil, e ocorreu com a China, em 2012.
Para que todo esse ambiente hostil à realização das Olimpíadas não fique exposto e seja alvo de críticas severas, afastando ainda mais patrocinadores e público, faz parte das exigências do COI que se crie um ambiente de conquista, euforia e bem estar nas cidades onde elas se realizarão.
Assim, tenta-se (está cada vez mais difícil) criar a fantasia que esses eventos trarão benefícios sociais para os habitantes das cidades onde eles ocorrerão, os famosos “legados olímpicos”, que nada mais são do que meia dúzia de obras que o poder público deveria fazê-las independentes da realização ou não das Olimpíadas, de tal forma que associemos as Olimpíadas, as conquistas dos atletas, a conquistas de todos que dela participarem, direta ou indiretamente.
Como num passe de mágica, surgem obras e ações, algumas efetivamente necessárias, como as de transporte público, e outras que têm como objetivo maior a maquiagem da cidade, escondendo problemas sociais reais que poderiam atrapalhar esse ambiente de euforia e conquista que devem reinar durante as Olimpíadas.
Um exemplo é o que está ocorrendo na cidade do Rio de Janeiro com a implantação das UPPs (implantadas pelo Estado) e o programa de acolhimento de crianças e adolescentes supostamente usuárias de crack (da Prefeitura) com seus pontos de atuação / implantação escolhidos a partir de critérios nitidamente vinculados aos grandes eventos, e não as demandas sociais reais. Tais programas têm suas estruturas, formas e conteúdos completamente desvinculadas das reais necessidades das populações supostamente beneficiadas, não importando se serão torturadas, seviciadas, espoliadas de seus direitos, suas casas, suas histórias, suas vidas, desde que não atrapalhem os interesses em jogo.
Como exemplo, a pesquisa realizada pela Prefeitura (mas não divulgada, obviamente) que demonstra que somente 19% das crianças e adolescentes acolhidas e internadas compulsoriamente para tratamento de uso de crack são usuárias efetivas de crack, com os 81% restantes consumindo diversos outros tipos de drogas (ver quadro abaixo).
O absurdo dessa história é que todas as crianças e adolescentes internadas recebem um tratamento além de precaríssimo, único para todas elas, embora o tratamento do usuário de drogas deve levar em consideração diversos fatores, dentre eles, necessariamente, a droga consumida!
Difícil de acreditar, pois então leia a matéria publicada pelo Opera Mundi sob o título “Às vésperas dos Jogos, Londres “limpa” área do parque olímpico de pobres e indesejados.” em http://bit.ly/JogSv8.
Na realidade as cidades onde se realizarão as Olimpíadas nada mais são do que parte do cenário onde o espetáculo se dará, COIsas como outras quaisquer para o COI, estando reservados para nós, seus cidadãos, os papéis de meros figurantes.
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Quantas Marias cabem numa única Maria...
Uma homenagem a todas as Marias mães meninas mulheres que vivem pelas ruas de nossas cidades.
Maria mãe,
Maria filha,
Maria vadia,
Maria santa,
Maria menina,
Maria mulher,
Maria viciada,
Maria mal amada.
Quantas Marias existem numa única Maria?
Quantas meninas mães mulheres vemos em uma única?
De santa a puta, cabe tudo, menos a menina mulher, simplesmente menina mulher, ser humano frágil como todos nós, que no imaginário de todos nós perdura a mãe, uma entidade sagrada, admirada, idolatrada, venerada.
Mas será? Será que todas as meninas mulheres independente da cor, da classe social, do que faz, do que é, da onde vêm ou para onde vai têm sua “maternidade” desejada, idolatrada, venerada?
Será que toda Maria é cheia de graça, tem o Senhor com ela, é bendita entre as mulheres e o fruto do seu ventre é bendito entre nós?
O que pensar da Maria que não se lembra de seus pais; nasceu, cresceu e se fez mulher nas ruas de uma grande cidade; aos 15 anos já é mãe pela terceira vez e teve que viver todas as 3 maternidades só entre tantas outras Marias em sua manjedoura nas ruas, nas praças, nos becos?
E se essa Maria em algum momento de sua vida tiver descoberto nas drogas, no crack, por exemplo, o poder de levá-las para um mundo imaginário, onde nem ela nem os seus passarão fome, frio; onde não será espancada, estuprada, maltratada, na maioria das vezes por quem deveria protegê-la - os agentes do Estado?
Por que antes de descobrir a droga se prostituía, cometia pequenos delitos e ninguém percebia sua existência e agora ela, aparentemente, é o centro das atenções?
Como acreditar em alguém se governantes, na defesa de interesses inomináveis, encontram a todo momento uma nova maneira para fazê-la sofrer ainda mais sob a justificativa que só com mais “dor e o sofrimento” ela procurará a ajuda que sempre procurou e nunca encontrou?
E o que será de seus filhos e filhas, gerados e paridos por mães meninas mulheres?
O que fazer para proporcionar a seus filhos um futuro diferente dos delas, se elas não sabem nem como será sua próxima hora de vida?
O que fazer com filhos de mães meninas mulheres viciadas em crack que, portanto, já nascem viciados em crack e que serão amamentados com leite maternos envenenados também pelo crack?
Maria, Maria mistura a dor e a alegria... já dizia o poeta.
Mas para essas Marias ficamos devendo a alegria...
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Um Brasil com menos Usuários de Drogas.
02.05.2012
Recente pesquisa do Ministério da Saúde apontou que somente 14,7% da população brasileira se declarou fumante, sendo esse o menor índice de fumantes de toda a história do Brasil, com o agravante que se a curva de redução de fumantes brasileiros continuar a apresentar o mesmo perfil dos últimos anos, em breve seremos um dos países com um dos menores percentuais de fumantes do mundo.
Outro aspecto significativo dessa mesma pesquisa aponta para o fato que percentualmente a produção de cigarro no Brasil caiu mais que o de fumantes, o que quer dizer que mesmo aqueles que permanecem fumando, estão fumando menos.
Os aspectos a conquistar são que a velocidade de redução de fumantes entre os sexos, as mulheres resistem mais que os homens a abandonar o vício e que permanece sendo na adolescência o período que se inicia no hábito de fumar com mais frequência.
Ao cruzarmos essa pesquisa com outras sobre mudanças de hábitos e ou costumes de nossa população, descobriremos algo absolutamente surpreendente: a eficácia das campanhas para eliminação do hábito do tabagismo é tão mais eficiente quanto mais intensamente for dirigida aos efeitos causados a terceiros, tendo em vista que os usuários desde sempre conhecem e reconhecem os riscos a que estão sujeitos por fumarem e não se intimidam com eles uma vez que para eles o que vale é o ditado “ruim com ele, péssimo sem ele!”. Um belo exemplo são as mulheres da União Europeia que alegam que não abandonam o tabagismo, principalmente, por que “parar de fumar engorda!”. Assim, elas preferem correr todos os riscos fartamente conhecidos de fumar a engordarem e ficarem “feias”!
Dentre muitos fatores que contribuíram para a redução abrupta e absolutamente significativa do número de fumantes em todo o mundo e, principalmente, no Brasil, a descoberta e divulgação maciça dos efeitos do tabagismo no “fumante passivo” e, no caso das mulheres, dos efeitos do tabagismo durante a gravidez, foram decisivos.
Essa experiência vivida com o tabagismo por nossa sociedade nos traz como aprendizado que em campanhas de mudanças de hábito é imprescindível ter a clareza de algumas questões, como, por exemplo: se têm como finalidade a prevenção ou a intervenção; a que público se dirige para que linguagem, forma e conteúdo sejam apropriados; é imprescindível que se leve em consideração o envolvimento do indivíduo com a prática, como por exemplo, se ainda nem se iniciou, se iniciante, se já tem o hábito, mas pode agravar ou encontra-se em um estágio de envolvimento realmente comprometedor para sua integridade física e/ou de terceiros e é necessário uma intervenção contundente no sentido de preservar a integridade física do usuário e/ou de com quem ele convive.
Para facilitar a compreensão, voltemos ao tabagismo: uma campanha dirigida a pré adolescentes quem ainda nem se iniciaram é muito diferente de uma campanha para jovens que é um fumante eventual e pode tornar-se um fumante compulsivo e mais diferente ainda para um adulto que já tem o hábito de fumar, mas que ainda pode tornar seu hábito mais frequente, passando do consumo de 1 para 3 maços / pacote / carteira de cigarro por dia, por exemplo.
Sem dúvida o mais importante aprendizado que o sucesso da campanha antitabagismo nos traz é que as campanhas para mudanças de hábitos são tão mais eficientes quanto mais forem dirigidas aos cidadãos pelo aspecto AFETIVO. Os aspectos punitivos ou alarmistas da campanha antitabagismo (como as fotos nos maços de cigarro) muito pouco contribuíram com a redução do número de fumantes.
Para completar, um dado absolutamente relevante e MUITO, mas muito mesmo, pouco divulgado: o tabagismo é a PRINCIPAL porta de entrada para adolescentes e jovens para o hábito de fumar maconha, o que nos permite supor que a redução no hábito de FUMAR tabaco implicará a médio/longo prazo numa redução no hábito de FUMAR maconha, isso sem precisar disparar um único tiro nem prender ninguém.
Mas isso é tema de um próximo artigo...
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Drogas e Cidadania
Drogas e Cidadania
24.04.2012
Recente pesquisa da ONU nos chama atenção para questões até aqui não muito consideradas quando se busca compreender a relação do usuário e as drogas: indivíduos que se sentem excluídos socialmente têm mais facilidade de se tornarem usuários compulsivos de drogas, lícitas ou ilícitas, entendendo
• Drogas: elemento externo ao indivíduo que o permite, por alguns momentos, sair de seu estado de plena consciência, estabelecendo outros parâmetros relacionais com a realidade, levando o usuário a viver em um mundo ilusório. Seu uso pode ser compulsivo ou não, dependendo do controle que o usuário tenha sobre seu consumo. Se ele é compelido a usar algo ou tomar uma determinada atitude independente de sua vontade, ele é considerado “usuário compulsivo” ou viciado, como é popularmente chamado.
• Inclusão ou exclusão social diz respeito ao fato do indivíduo se sentir acolhido / pertencente / respeitado ou não pelo meio social que acredita integrar, tendo como fator determinante a relação entre seus direitos e deveres, em que o equilíbrio entre esses dois fatores é a situação desejada, levando em consideração a capacidade / potencialidade de cada um.
Ao levarmos em consideração que o ser humano é fundamentalmente grupal e que em nossa sociedade seu primeiro grupo é denominado “família”, a qual tem a responsabilidade de estabelecer os parâmetros éticos e morais iniciais a partir dos quais esse indivíduo se relacionará com o que o cerca, fica evidente que o sentimento de pertencimento a “sua família” é um fator marcante, mas não determinante, na formação do cidadão.
Outra pesquisa importante nessa análise foi realizada por Gilson Mansur , que aponta como um dos fatores que contribuem para que adolescentes se tornem usuários abusivos de drogas é a ausência de uma figura identificada como representante da lei, ou seja, o terceiro que vai impor os limites na vida dos membros da comunidade, possibilitando o desenvolvimento de seus integrantes como cidadão.
O cruzamento dessas três características da formação de um cidadão (a importância do sentimento de pertencimento da criança e do adolescente a seu núcleo social, baseado na relação entre seus direitos e deveres e intermediada por alguém que tenha a capacidade afetiva de estabelecer os limites dessa relação) implica numa política pública de prevenção ao uso abusivo de drogas que disponibilize elementos e mecanismos que permitam um efetivo exercício da cidadania desde a mais tenra idade, de tal forma que estimule, permanentemente, a busca de um ponto de equilíbrio entre os direitos e deveres de cada um de seus componentes, respeitando suas características individuais.
Ao levarmos em consideração que na sociedade contemporânea cada vez mais a escola é o espaço principal de socialização da criança, particularmente nos grandes centros urbanos, fica evidente a necessidade de se promover urgentemente uma corajosa reforma na estrutura de ensino do nosso país, se preocupando menos em transmitir conteúdos e mais em formar cidadãos, como já preconizava Paulo Freire através das “Escolas Cidadãs”.
Um exemplo interessantíssimo vem da cidade de Vitória, Espírito Santo, Brasil. Há mais ou menos dois anos, durante o processo de reformulação da educação infantil, a Prefeitura consultou as diferentes categorias integrantes do coletivo escolar dentre elas os alunos, compostos por crianças de zero a seis anos.
Nesse sentido, não é por acaso que pesquisa desenvolvida por Mary Garcia Castro e Miriam Abramovay, professoras da USP, e publicada pela UNESCO, apontou as escolas como os principais pontos de difusão e comercialização de drogas no Brasil, sendo que uma outra pesquisa mais recente desenvolvida pelo MEC nos mostrou que estudantes de escolas particulares consomem 40% a mais de drogas ilícitas que os de escolas públicas.
Como vemos, não é promovendo guerras que solucionaremos ou sequer amenizaremos o flagelo social promovido pelas drogas, como tem demonstrado fartamente a realidade.
Uma política pública que envolva a questão das drogas responsável e coerente com a construção de um mundo mais justo, ético e solidário tem que necessariamente estimular a promoção efetiva da inclusão social do indivíduo, tornando-o um cidadão de direito e deveres desde a mais tenra idade.
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03.04.2012
Sábado último, 31 de março de 2012, fez um ano que o Programa da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro de “acolhimento compulsório” de CRIANÇAS e ADOLESCENTES (supostamente) usuários de crack foi implantado.
Durante esse período, segundo dados da própria Prefeitura, foram feitos 544 acolhimentos e 108 crianças e adolescentes foram internadas (?!), com 24 tendo tido alta. Infelizmente, não se tem como avaliar a eficácia do programa uma vez que a Prefeitura não disponibiliza dados a respeito do mesmo e os poucos divulgados não despertam confiança.
Interessante observar que nesse mesmo dia, 31 de março, o golpe de Estado promovido por militares em 1964 também faz aniversário.
Os que ainda sonham por justiça social lutam para passarmos a limpo um dos capítulos mais obscuros da história do Brasil através da instalação da Comissão da Verdade, a qual teria como objetivo a apuração de crimes cometidos por agentes do Estado durante a ditadura, como assassinatos, sequestros, TORTURA, esse um crime bárbaro, covarde, praticado por insanos que, sem dúvida, devem ser afastados do convívio social.
A implantação da Comissão da Verdade é justificada também pelo fato de que é necessário que fique definitivamente claro para todos que a sociedade brasileira não tolera a barbárie seja no passado, no presente ou no futuro; que para nós, a imensa maioria do povo brasileiro (os que trabalham, pagam impostos, são secularmente explorados pelas nossas elites) que os fins não justificam os meios, seja lá para que fim for e por que meio for; que o fim e o meio somente são justificados se se justificarem por si só e permanecerem estritamente de acordo com a ética e as leis vigentes em nosso país.
Centro desse prisma, que nós brasileiros não compactuamos com crimes cometidos contra os direitos humanos, acredito que imensa maioria dos brasileiros gostaria que os objetivos da Comissão da Verdade fossem ampliados para a apuração desse tipo de crime cometidos JÁ, no PRESENTE no Brasil?
Por que crimes de TORTURA cometidos no interior de instalações da Prefeitura do Rio de Janeiro contra crianças e adolescentes, supostamente usuárias de crack, deveriam ser tolerados, esquecidos, acobertados? Por que esses crimes de TORTURA não devem ser apurados com igual rigor aos praticados no interior do DOPS, quartéis e outros aparelhos da repressão durante a ditadura militar?
Alguns podem justificar a incompatibilidade dos crimes cometidos no presente serem também apurados pela Comissão da Verdade tendo em vista que teriam motivações absolutamente distintas, mas será? Então vejamos...
A justificativa mais usada durante a ditadura militar para a prática da tortura por representantes do Estado Brasileiro era que estávamos em “guerra contra o terrorismo”, com o futuro da nação em jogo, uma vez que o inimigo comum (os terroristas) poderiam impor valores estranhos a nossa cultura, principalmente as crianças e adolescentes, cidadãos ainda em formação e, portanto, sem capacidade de avaliação e defesa.
Coincidentemente as vítimas dessa barbárie promovida pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro são “crianças e adolescentes”, também, supostamente, vítimas de um inimigo mais forte que eles, que os induz a acreditar numa outra realidade que não a imposta pelo regime atual, inimigo esse eleito, no momento, como “comum da nossa sociedade”: as drogas, contra a qual travamos uma “guerra”, o que justificaria a aplicação de medidas de exceção.
Por fim, ao analisarmos a real motivação dessas duas barbáries veremos que são idênticas: atender a interesses econômicos estranhos aos reais interesses da população brasileira, no caso dessas crianças e adolescentes vítimas dessa FARSA da Prefeitura do Rio de Janeiro a necessidade de afastá-las das ruas da cidade, promovendo uma higienização social na cidade com vistas à realização dos grandes eventos, como a Rio +20 em 2012, o Encontro da Juventude Católica em 2013, a Copa do Mundo de 2014, Olimpíadas de 2016.
Mas e quanto ao Programa da Prefeitura que teria a intenção de resgatar essas crianças e adolescentes dos braços das drogas (o inimigo em comum), acolhendo-os, “nem que seja compulsoriamente”, para cuidar e devolvê-los ao convívio social sadio e produtivo?
Tal justificativa já não se sustenta devido:
• as inúmeras declarações do próprio Secretário Municipal de Assistência Social, Rodrigo Betlhen, se contradizendo a todo momento a respeito das reais motivações do programa em questão;
• as contradições da política de saúde mental da atual gestão municipal;
• diversas denúncias apresentadas sistematicamente à justiça pela Defensoria Pública, por organizações civis (OAB, movimento “respeito é BOM e eu gosto!”, CEDECA);
• inúmeras matérias publicadas por nossas mídias (ver, por exemplo, o programa A Liga, TV Band, veiculado em 27.03.2012, http://bit.ly/GVJvud);
• proibição do livre acesso de pais e/ou responsáveis as instalações da Prefeitura RJ onde essas crianças e adolescentes estão internadas, contrariando o disposto no artigo 12, capítulo 1 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a parlamentares, a membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU;
• a supressão de direitos básicos dessas crianças e adolescentes, como o de estudar, por exemplo, etc.
Mas alguém poderia ainda argumentar que a Comissão da Verdade está sendo criada para apurar crimes com motivação política.
Ora e essas crianças e adolescentes estão privadas de suas liberdades por quê, ainda resta alguma dúvida?
E qual teria sido o crime político cometido por essas crianças e adolescentes se vivemos em pleno regime democrático?
O crime de através de suas existências denunciarem sistematicamente que o sistema sócio-econômico que vivemos é hipócrita, desigual, corrupto, arrogante não sendo capaz de acolher, respeitar, cuidar os que o denunciam por suas incoerências.
Temo que se não apurarmos com igual rigor dos crimes cometidos durante a ditadura militar e os praticados no presente, surgirá a dúvida se na realidade importa mais o torturado do que a tortura, o que temos a certeza que a Presidenta Dilma não permitirá, pois correria o risco de entrar para nossa história não como vítima da tortura, mas como CÚMPLICE!
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As Drogas e a Sociedade Brasileira.
26.03.2012
Vivemos um momento em que um dos temas centrais de nossa sociedade é a questão das drogas.
Pesquisa do Ministério da Saúde apontou que uma das principais demandas das famílias brasileiras é por um programa que as oriente quanto ao uso abusivo de drogas, conforme retratado em excelente matéria publicada na revista Época em http://bit.ly/sia2yQ .
Já pesquisa desenvolvida pela USP / UNESCO apontou que as escolas brasileiras são os principais pontos de difusão e comercialização de drogas, sendo que o estudante de escolas privadas consomem drogas ilegais, em média, 30% mais que o estudante de escolas públicas, gerando, também, uma das maiores demandas do coletivo escolar brasileiro: um programa de capacitação continuado que os habilite a atuar com essa questão.
Como não podia deixar de ser, as drogas interferem diretamente na produtividade dos trabalhadores, o que tem levado as empresas a não pouparem esforços para investirem em programas de prevenção e tratamento para seus funcionários de todos os escalões.
De acordo com matéria publicada em 17/07/2011 pelo Jornal Folha de São Paulo, o número de trabalhadores licenciados pelo INSS no primeiro semestre de 2011 "cresceu 22% em relação ao mesmo período de 2010 por problemas causados por uso de drogas ilícitas como cocaína e abuso de remédios sedativos e estimulantes, como antidepressivos e ansiolíticos (para controle da ansiedade).
Dos executivos, 15% usam substâncias psicoativas, segundo pesquisa do HCor (Hospital do Coração) com 829 pessoas de abril de 2009 a março de 2010, obtida com exclusividade pela Folha."
Diversos estudiosos no assunto têm repetidamente nos chamado a atenção que o crack é sim uma droga que precisa de um olhar diferenciado, mas siquer é a mais letal no momento.
A despeito de somente umas poucas substâncias que produzem efeitos psicotrópicos serem classificadas como proibidas, surgem a todo momento drogas com efeitos devastadores, as chamadas drogas sintéticas, sobre o que o Estado não tem e nem pode ter nenhum controle.
Na Rússia, por exemplo, o equivalente ao nosso “crack” é uma droga denominada de “krokodil”. Sua matéria prima é a borra da heroína e além de provocar dependência quase que imediata, ela é injetada e necrosa rapidamente o tecido do local onde for injetada mais de uma vez.
Cada vez é mais evidente que a política mundial atual para as drogas está falida, com movimentos de diversos setores de nossa sociedade solicitando por mudanças urgentes.
E qual a resposta do Governo Brasileiro para essa demanda?
Um programa pífio, reconhecido por todos como inapropriado, a começar por seu nome:
CRACK É POSSÍVEL VENCER!
Observem que frase induz ao erro de que a ÚNICA droga que merece atenção é o CRACK e que todas as demais (heroína, cocaína, álcool, oxi, merla, ...) são sem importância, quem sabe até inofensivas...
Uma outra questão que salta aos olhos nesse titulo é: podemos vencer a quem? Quem deve ser vencido?
Além disso, suas metas até 2014 são pífias, como por exemplo:
• implantação de 308 consultórios de rua até 2014. Como o crack está presente em aproximadamente 5000 municípios, o que fazer com 308 ônibus?
• criação de 2.462 leitos para dependentes químicos, o que representa que se cada leito for usado por um período de 30 dias para desintoxicação (período padrão) teremos aberto vagas para tratamento de 29.544 usuários abusivos de drogas por ano. Como o Ministério da Saúde estima que temos algo em torno de 30 milhões de usuários abusivos de drogas no Brasil essas 29.544 novas vagas são absolutamente irrisórias.
Mas será o que o crack é nesse momento a droga que merece ser tratada com mais atenção? É ela que representa realmente os maiores riscos para nossa sociedade?
Pesquisa do Ministério da Saúde nos fala que 85% das mortes causadas por overdose de drogas lícitas ou ilícitas são provocadas pelo álcool, sem levar em consideração os incidentes e acidentes provocados em decorrência do consumo, o que acrescentaria muitos outros pontos percentuais na conta do álcool.
Por fim, se existe realmente alguma preocupação de nossos governantes com o consumo de drogas em nosso país, por que não se desenvolve políticas maciças de prevenção?
Por que continuar com a política de enxugar gelo em relação as drogas.
Que interesses estão por trás dessa questão que vale a vida de milhões de brasileiros?
Até quando todos nós assistiremos passivamente todos esses descalabros como se as drogas fossem uma questão que não nos dissesse respeito.
“Primeiro entraram em nosso jardim e roubaram uma flor.
Nós não dissemos nada.
Depois o mais frágil deles entra em nosso quintal e mata nosso cão.
Nós não dissemos nada.
Depois conhecendo nosso medo, roubaram a lua, e arrancaram-nos a voz da garganta.
E como não dissemos nada, não podemos dizer mais nada.”
Vladimir Maiakóvski
Jornal O Dia
O fim da internação compulsória
Rio - Em tempos onde predominam movimentos e protestos virtuais, as conquistas da sociedade civil se tornam ainda mais importantes de serem festejadas. A Prefeitura do Rio recentemente anunciou o fim do seu programa de internação compulsória, transferindo a responsabilidade de acolher e tratar usuários compulsivos de crack e outras drogas para a Secretaria de Saúde.
Essa mudança sem dúvida é uma vitória de setores da sociedade civil que se opuseram à política de internação compulsória e organizaram, ao longo de 19 meses, sucessivos debates e protestos a esse respeito; de um grupo de dedicados funcionários da própria prefeitura, que internamente travaram uma batalha silenciosa e, de início, aparentemente suicida; de jornalistas que não pouparam esforços na construção de matérias a esse respeito, mesmo sabendo das remotas possibilidades de sua publicação devido aos grandes interesses econômicos envolvidos; e da Defensoria Pública, em especial da Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Dentre as matérias jornalísticas, uma delas se destacou até mesmo por ter sido determinante nessa mudança de rumo da prefeitura: a do jornalista João Antônio Barros, do DIA, denunciando o submundo da participação da Tesloo, o que só foi possível devido ao empenho da vereadora Andrea Gouveia Vieira em investigar as relações financeiras entre a ONG e a prefeitura.
Essa vitória evidencia mais uma vez a força da união dos diferentes setores da sociedade, o que só é possível quando a vaidade e os interesses pessoais ficam subalternos às causas sociais.
Sepultar a internação compulsória, que corria o risco de ser estendida para adultos, é impedir o uso de uma ferramenta poderosa de regimes fascistas, que já produziu fatos como os campos de concentração nazistas, os manicômios brasileiros...
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29.04.2012
Drogas e cidadania
Rio - Como tem demonstrado fartamente a realidade, não é promovendo guerras que solucionaremos ou sequer amenizaremos o flagelo social gerado pelas drogas.
Pesquisas têm demonstrado que três aspectos são essenciais na formação do sujeito para que se torne cidadão pleno de suas capacidades: o sentimento de pertencimento a seu núcleo social, baseado numa relação de direitos e deveres e intermediado por alguém que estabeleça limites, facilitando o aprendizado do indivíduo em lidar com suas frustrações e conquistas.
Tendo em vista que a escola se tornou o principal espaço de socialização da criança, particularmente nos grandes centros urbanos, fica evidente a necessidade de se promover corajosa reforma na estrutura de ensino do nosso país, preocupando-se menos em transmitir conteúdos e mais em formar cidadãos, como já preconizava Paulo Freire com as ‘Escolas Cidadãs’.
Um belo exemplo de que é possível aconteceu há dois anos, durante o processo de reformulação da Educação Infantil em Vitória, quando a prefeitura consultou as categorias integrantes do coletivo escolar, dentre elas os alunos, com idades entre 3 e 6 anos.
Nesse sentido, não é por acaso que pesquisa da USP apontou as escolas como os principais pontos de difusão e comercialização de drogas no Brasil, sendo que estudantes de escolas particulares consomem 40% a mais de drogas ilícitas que os das públicas.
Uma política pública responsável e coerente para lidar com a questão das drogas e com a construção de um mundo mais justo, ético e solidário tem que necessariamente estimular a promoção efetiva da inclusão social do indivíduo, tornando-o um cidadão pleno de direito e deveres desde a mais tenra idade.
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31.03.2012

O programa de acolhimento compulsório de crianças e adolescentes usuáos de crack completa hoje um ano. Poucos de nós, brasileiros, conhecemos nossos direitos e por isso deixamos de exigir do poder público que cumpra seus deveres e, consequentemente, as leis.
O programa em questão é um caso típico. É indiscutível que essas crianças precisam ser cuidadas e que quem deve cuidar delas é a Prefeitura, até por ser sua obrigação como diz o artigo 88 do ECA.
Parece-nos óbvio que essas crianças não podem ficar vagando por nossa cidade a esmo sem terem o que comer ou onde dormir. Parece-nos óbvio também que em situações extremas essas crianças terão que ser contidas para que possam ser cuidadas.
Mas é bárbaro que essas crianças tenham seus direitos usurpados pelo poder público, como o de estudar; que defensores públicos não possam defendê-los plenamente; que o protocolo que legitimou esse programa, assinado entre a Prefeitura e o Poder Judiciário, seja desrespeitado, ignorado; que mesmo havendo inúmeras e sistemáticas denúncias, essa barbárie continue a acontecer.
Presidenta Dilma, a Senhora quando lançou o programa “Crack é possível vencer!” chamava atenção de todos para que não esquecessem as dores das mães dos usuários de crack. E essas crianças, presidenta, será que por não terem mães presentes em suas vidas elas podem sofrer tratamento tão bábaro?
Será, presidenta, que cometer o crime de denunciar, através de sua existência, que o sistema social que vivemos é hipócrita, corrupto, desigual é tão grave que essas crianças merecem tratamento tão sórdido?
Logo a Senhora, Presidenta Dilma, que foi vítima de tortura vai entrar para a história como cúmplice de torturas contra crianças e adolescentes?! Todos nós, brasileiros e brasileiras, esperamos que não!
ATÉ NA MORTE SÓCRATES FOI BRASILEIRO!
Escolhemos nossa morte ao escolhermos nossa vida.
Provérbio Hindu
Por Paulo Silveira[1]

Morreu Sócrates.
Para muitos morreu um jogador de futebol, para outros um ídolo, mas para os mais atentos se foi alguém que dignificou seu nome Sócrates Brasileiro Sampaio de Sousa Vieira de Oliveira.
Durante sua vida, Sócrates falou por nós e para nós, nos representando sempre altivo, olhando para frente, na busca da jogada ideal e de recursos permitidos, mas pouco explorados, como o calcanhar, seja conduzindo uma bola vestindo a amarelinha ou no movimento das “Diretas JÁ!” ou...
O mais surpreendente é que Sócrates foi fiel a sua ética até mesmo em sua morte...
Ao falecer em decorrência do alcoolismo, Sócrates expõe as entranhas de nossa sociedade, da parcela de cidadãos que descontentes com o rumo de suas vidas, sem saberem como se relacionarem com suas insatisfações e não encontrarem interlocutores apropriados, se entregam ao consumo de substâncias que os levam para outras realidades, outros universos, abrindo mão de contribuírem para a transformação da nossa realidade. Muitos deles misturam com tanta ênfase a fantasia com a realidade que não conseguem mais viver sem as substâncias que abre as portas de seus paraísos particulares, e passam a ser denominados de viciados.
Assim como Sócrates, essas pessoas frequentemente têm uma inteligência e sensibilidade acima da média, vendo com clareza algo que a maioria de nós não consegue sequer pressentir e, por isso mesmo, as ignoramos.
Mas, devido à cultura reinante há séculos, os envolvidos (viciados, familiares e afins) se colocam numa posição como se estivem em dívida com a sociedade, ficando sem vez e voz, retroalimentando um ciclo perverso que, cada vez mais, os empurra para a margem da sociedade, "marginalizando-os" literalmente, se tornando uma grande perda para todos nós.
As famílias, ao serem responsabilizadas pela sociedade, se sentem envergonhadas / humilhadas, como se o fato de os termos entre nós fosse um sinal inequívoco de fracasso.
Com a vergonha surge a impotência, com a impotência a ausência da denúncia e sem a denúncia o poder público acaba por priorizar outras questões!
“Primeiro entraram em nosso jardim e roubaram uma flor.
Nós não dissemos nada.
Depois o mais frágil deles entra em nosso quintal e mata nosso cão.
Nós não dissemos nada.
Depois conhecendo nosso medo, roubaram a lua, e arrancaram-nos a voz da garganta.
E como não dissemos nada, não podemos dizer mais nada.”
Vladimir Maiakóvski
Mas os que conseguem superar a sensação de impotência acabam se tornando grandes líderes. Assim como Sócrates era alcoólatra, Churchill era viciado em whisky, Freud em cocaína, Walt Disney em opel, Ray Charles em heroína,...
A Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Outras Drogas estima que no Brasil os dados referentes ao uso abusivo de álcool são assustadores, algo como...
¨ 19 milhões de alcoólatras (10% da população brasileira),
¨ 11 mil pessoas por ano morrem de cirrose causada por álcool,
¨ 32 mil pessoas por ano morrem em decorrência do alcoolismo,
¨ o alcoolismo esta por trás de 60% das mortes no transito e 72% dos homicídios!
¨ enquanto o consumo médio de álcool dos brasileiros homens que bebem (50% dos brasileiros é abstêmio) é em torno de 24 litros/ ano e o das mulheres é de 10 litros/ano, a média mundial é em torno de 6 litros/anos.
O mais grave é que devido
¨ ao aumento do poder aquisitivo do brasileiro,
¨ a política proibicionista a poucas drogas que estimula o consumo das drogas “legais” (medicamentos, bebidas alcoólicas, energéticos),
¨ a força da cadeia produtiva de bebidas alcoólicas que impede a regulamentação de seu consumo e da publicidade,
¨ a chegada dos grandes eventos (Olimpíadas e Copa do Mundo),
¨ etc
a tendência é que o consumo de bebidas alcoólicas aumente significativamente nos próximos anos.
Para os que imaginam que o alcoolismo nasça com o convívio de “más companhias” ou em ambientes promíscuos ou em..., pesquisas diversas demonstram que o alcoólatra brasileiro tem como característica básica ser filho de pais que consomem bebida alcoólica em casa e começam a consumir bebidas alcoólicas em torno dos 12 anos de idade, estimulados por membros da família, na maioria das vezes seus pais ou irmãos mais velhos.
Mas muitos na tentativa de reduzir a ferida exposta por Sócrates alegam que ele era médico e que com seu conhecimento tinha a obrigação de evitar essa armadilha da vida.
Acontece que esses mesmos que com dedo em riste acusam os profissionais da área de saúde (médicos, enfermeiros, psicólogos, etc) por não se cuidarem e serem uma categoria profissional com alto índice de compulsivos / viciados (em drogas lícitas e ilícitas, medicamentos, obesos, etc) se esquecem que esses indivíduos escolheram atuarem na saúde para aliviar o sofrimento alheio.
Infelizmente para todos nós, atualmente, os profissionais de saúde ao invés de escolherem de quem vão cuidar, são obrigados a ter que escolher quem eles vão abandonar a própria sorte e muitas vezes à morte, pois nossos serviços de saúde pública não têm como atender a demanda de nossa população, devido ao abandono que foi relegado pelo poder público.
Como afirmei anteriormente, todos nós perdemos nesse jogo e de goleada!
Nós, os que acreditamos ser possível um mundo mais justo ético e solidário, porque perdermos cidadãos tão necessários para humanidade, como Sócrates!
Já os Sócrates, os viciados, por que somente com o auxílio de drogas conseguem encontrar o mundo que desejam, se tornando absolutamente solitários.
Foi-se o homem Sócrates, fica a luta de Sócrates.
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[1] Membro do Instituto Paulo Freire, do “respeito é BOM e eu gosto!” e da Da Vinci Marketing Social
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Perguntas frequentes e suas "possíveis" respostas.
Verdade
Carlos Drumond de Andrade
O Corpo, Ed Record
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar.
Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
1. O que é o “respeito é BOM e eu gosto!”?
É um movimento pelos direitos dos Portadores de Distúrbios Psicossociais (PDPSs), Familiares e Afins com sua marca registrada como domínio público, restrita apenas para uso comercial, religioso ou político partidário, com todo o material produzido disponível na web com livre acesso.
2. Quais os direitos dos PDPSs, Familiares e Afins?
Os mesmos de qualquer outro cidadão.
3. Então porque um movimento para lutar especificamente pelos direitos dessa fatia da população?
Devido às transformações que a humanidade vive e, principalmente, com a intensidade e rapidez que elas ocorrem, surgem situações inusitadas que envolvem os PDPSs, Familiares e Afins e o Estado precisa se aparelhar para atuar junto a eles de tal forma que garanta a sua efetiva inclusão social.
Um simples exemplo é que os PDPSs, Familiares e Afins não são um grupo homogêneo de pessoas, como nenhum o é, e, portanto, não podem ser tratados todos da mesma forma e no mesmo local, pois têm demandas distintas.
4. O “respeito é BOM e eu gosto!” é uma ONG, OCIP ou qualquer outro tipo de instituição?
Não e não pretende vir a ser.
5. Quem são os Afins?
Pessoas que se sentem envolvidas com portadores.
6. Quem são os Portadores de Distúrbios Psicossociais?
São pessoas que têm comportamentos (involuntários) que provocam distúrbios sociais. Com frequência têm inteligência e sensibilidade acima da média.
O que distingue o PDPSs de um sujeito “normal” é absolutamente sutil e, na maioria das vezes, ligada ao seu "sucesso" social, como é o caso, por exemplo, do excêntrico e um PDPS.
O filme "Uma Mente Brilhante" com direção de Ron Howard exemplifica magistralmente essa situação.
7. O que são Distúrbios Sociais?
São comportamentos / atitudes que diferem do comportamento “esperado” de um indivíduo "padrão" e, portanto, acabam por provocar situações que perturbam os demais.
8. O que motiva tais atitudes?
Existem diversas motivações, mas as mais comuns são:
- Doenças Mentais: O doente mental, por viver a sua verdade como sendo a sua realidade, acaba por produzir situações diferentes das que vivenciamos em nosso cotidiano.
- Situações de Stress: Uma situação que provoque um stress maior do que o vivido cotidianamente por um indivíduo pode alterar seu metabolismo / psique, provocando alterações na sua percepção da realidade e, consequentemente, de seu comportamento.
- A ingestão de substâncias que provoquem alteração na percepção da realidade: Diversas substâncias provocam alterações na percepção da realidade, fazendo com que o sujeito que as ingeriu tome atitudes de acordo com a realidade que passa a “vivenciar”.
9. O que os difere das ditas pessoas “normais”?
A percepção da realidade.
“Diante da ilusão, bastante aristocrática, do poder de percepção ilimitada do pensamento, existe outra ilusão bem plebéia, o realismo ingênuo, segundo o qual os objetos "são” a pura verdade de nossos sentidos. Ilusão que ocupa a atividade diária dos homens e dos animais. Na origem, as ciências se interrogam deste modo, sobretudo as ciências físicas.
As vitórias sobre as duas ilusões nunca se separam. Eliminar o realismo ingênuo é relativamente fácil. Russell define de forma muito característica este momento do pensamento na introdução a seu livro An inquiry into Meaning and Truth.
‘Começamos todos com o realismo ingênuo, quer dizer, com a doutrina de que os objetos são assim como parecem ser. Admitimos que a erva é verde, que a neve é fria e que as pedras são duras. Mas a física nos assegura que o verde das ervas, o frio da neve e a dureza das pedras não são o mesmo verde, o mesmo frio e a mesma dureza que conhecemos por experiência, mas algo totalmente diferente. O observador que pretende observar uma pedra, na realidade observa, se quisermos acreditar na física, as impressões das pedras sobre ele próprio. Por isso a ciência parece estar em contradição consigo mesma; quando se considera extremamente objetiva, mergulha contra a vontade na subjetividade. O realismo ingênuo conduz à física, e a física mostra, por seu lado, que este realismo ingênuo, na medida em que é conseqüente, é falso. Logicamente falso, portanto falso.’”
Albert Einstein,
Como Vejo o Mundo, Nova Fronteira
10. Em sociedades “primitivas” existem PDPSs?
Não que se tenha registro.
11. Por quê?
Dentre as inúmeras leituras para esse fato, uma delas realça as diferenças das culturas das sociedades: na nossa forma de organização social temos uma infinidade de culturas que convivem intimamente, gerando um permanente conflito de "leituras" de nossa realidade. Nas sociedades mais primitivas a cultura é unica e, portanto, a lei também o é.
A outra diferença, dentre muitas, repito, é que, em nossa forma de organização social, nascemos com nosso lugar já pré-estabelecido, enquanto nas primitivas, a inclusão social de seus indivíduos é feita de acordo com suas características pessoais.
Um exemplo hipotético seria de um indivíduo que "conversa" com os animais e vegetais. Numa sociedade primitiva, ele certamente ficaria encarregado de manter o diálogo de sua comunidade com a natureza que os cerca. Em nossa sociedade, talvez ele fosse chamado de louco, tratado com remédios e ele e sua família discriminados (ver meu artigo Exercício da Paternidade, postado no nosso site na sessão Paternidade.).
12. Existe maior incidência de PDPSs em alguma classe sócio econômica?
Não, o que existe são características específicas dos PDPSs devido à cultura dos grupos sociais a que pertencem.
Como exemplo, temos os filhos da geração das décadas de 70 / 80, filhos da cultura “sexo, drogas and rock’n’roll” que tiveram o acesso a substâncias que provocam alteração na percepção da realidade facilitado por pessoas próximas (pais, tios, amigos da família, etc), aliados ao desmanche da cultura das famílias “até que a morte os separe”, o que criou dificuldades de referências comportamentais por terem feito parte de múltiplas famílias, e, por fim, ao estímulo de práticar lutas marciais que, de início, tinha a finalidade de se defenderem dos assaltos de que eram vítimas no início de suas adolescências, alimentado pelo culto da cultura oriental, através dos desenhos animados, jogos, etc. onde a grande estrela eram as práticas de lutas marciais.
Tudo isso misturado trouxe para o nosso convívio pessoas que ao perderem o controle sobre si, se tornam extremamente violentas e, portanto, um risco social, obrigando a determinados aparelhos do Estado a se preparem para lidarem com essa nova situação, como ocorreu com o Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro.
13. As atitudes dos PDPSs são boas ou ruins?
Não são necessariamente nem boas ou ruins, mas diferentes.
14. Após construir o ciclo de alianças proposto no manifesto inicial, qual o próximo objetivo do “respeito é BOM e eu gosto!”?
Alimentar / estimular um fórum virtual (algumas propostas já estão registradas em nosso site), para quando tivermos material suficiente, realizarmos um fórum presencial reunindo especialistas de diferentes áreas.
A partir desse fórum presencial, produziremos diferentes tipos de registro (livros, material áudio visual, etc.) e documentos a serem enviados para análise do Poder Público.
15. Quais têm sido as principais dificuldades do “respeito é BOM e eu gosto!”?
Vivemos um momento que sabíamos que iria acontecer, mas não esperávamos que ocorresse com tanta intensidade: quanto mais envolvidas estão as pessoas com PDPSs, mais apoio verbal elas dão ao movimento, mas, ao mesmo tempo, mais relutam em se filiar.
16. Quais têm sido as demandas mais frequentes apresentadas por quem procura o “respeito é BOM e eu gosto!”?
Soluções imediatas para suas angústias.
É difícil para quem convive com um PDPSs entender que não existem soluções mágicas, imediatas.
Compreender então que ou lutamos por mudanças de âmbito social ou continuaremos na mesma, às vezes parece impossível.
17. Quais as necessidades mais imediatas do “respeito é BOM e eu gosto!”?
Ser compreendido.
- Nosso povo não tem a tradição de lutar por seus direitos. Nossas lutas, em sua grande maioria, são por objetivos imediatos e pontuais.
- Os PDPSs são historicamente discriminados, trazendo essa discriminação para o “respeito é BOM e eu gosto!” também.
Ao misturarmos esses 2 fatores temos a imobilidade social como comportamento padrão dos PDPSs, Familiares e Afins.
Fazer com que eles entendam que se não lutarmos tudo permanecerá como está, às vezes parece ser impossível.
Na medida em que nos abandonamos, nos abandonam também.
18. Como posso participar?
· na divulgação;
· retransmitindo nossos emails para sua lista de contatos;
· nas redes sociais que participa;
· se tiver acesso à grande mídia ou à alguém que tenha, trabalhe especialmente esse canal para divulgação do movimento;
· fazendo a propaganda boca a boca, a mais eficiente de todas;
· se conhecer celebridades tente conquistá-lo para participarem do movimento, assim ganharemos, com maior rapidez, visibilidade e credibilidade;
· estamos fazendo contatos com universidades e escolas para darmos palestras sobre o movimento. Se você tiver acesso a esses espaços, negocie essa possibilidade.
· De forma geral: Se manifestando em nossos espaços, estimulando os debates, as trocas de idéias, registrando suas propostas, se filiando ao movimento, participando da pesquisa.
· No dia a dia: Quem tiver disponibilidade de desempenhar tarefas, faça contato conosco, através de nossos inúmeros canais de comunicação que constam em nosso site, que entraremos em contato com vocês.
· de outras formas que você nos sugerir.
PARTICIPEM
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Composto de 26 artigos de pesquisadores com formações e origens diversas, datado de 1996.
Ele nasce do desejo do organizador homenagear seu pai, o qual falece 3 meses do seu lançamento.
Assim, sua pretensão é antes de mais nada apresentar o Exercício da Paternidade como um ato de amor, amor esse que nossa cultura proibiu durante muito tempo.
Seu público alvo são todos aqueles que se interessam pelo tema, desde pesquisadores a simples curiosos.
Livros
Links de livros e textos diversos de autoria de Paulo Silveira para aqueles que se interessarem, lerem, imprimirem, divulgarem, enfim os usufruírem, estando somente vetado seu uso comercial.
Clique nas imagens de suas capas que elas lhes levarão aos links.
Cabeça de Vento
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Cabeça de Vento
Fábula que ocorre em uma floresta, onde todos os seus personagens fazem parte desse contexto.
Um texto simples, leve que se pretende apenas dialogar sobre a vida com seus leitores, numa linguagem acessível a idades variadas.
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Exercício da Paternidade
Composto de 26 artigos de pesquisadores com formações e origens diversas, datado de 1996.
Ele nasce do desejo do organizador homenagear seu pai, o qual falece 3 meses do seu lançamento.
Assim, sua pretensão é antes de mais nada apresentar o Exercício da Paternidade como um ato de amor, amor esse que nossa cultura proibiu durante muito tempo.
Seu público alvo são todos aqueles que se interessam pelo tema, desde pesquisadores a simples curiosos.