JB 13.10.2013
Os "Black Blocs", para quem servem?
Sem compromisso com
qualquer ideologia, grupo serve como massa de manobra para o governo
Cláudia Freitas
As cenas de vandalismo que tomaram as ruas das
principais capitais nacionais desde as manifestações de junho, praticadas por
grupos autointitulados "Black Blocs", tinham como propósito
criticar a administração pública estadual, mas os seus efeitos foram contrários
e acabaram por desacreditar os atos legítimos de categorias sociais e
profissionais que revindicavam por melhores condições de vida e trabalho. Mais
do que em outros estados, no Rio de Janeiro as depredações que marcaram os
desfechos dos protestos, abriram uma porta para as violentas ações policiais
autorizadas pelo governo de Sérgio Cabral e levaram a violência urbana para o
eixo dos manifestos populares. O cenário foi favorável somente ao governo do
Estado, que procurava uma forma de desmoralizar as manifestações às vésperas de
grandes eventos internacionais, além da proximidade do período eleitoral.
Na sua pesquisa Movimentos Londres / Paris, com o
perfil de grandes protestos em massa mundiais, o especialista e professor de
História Moderna e Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Francisco Carlos Teixeira, identifica a tática black bloc no Brasil,
que teve a sua primeira aparição no dia 19 de março de 2011, durante
o protesto contra a visita do presidente norte-americano Barack Obama ao
Rio de Janeiro. Um pequeno grupo de manifestantes atirou uma bomba contra a
embaixada americana na cidade. Analisando as manifestações que estão
acontecendo atualmente na cidade, Teixeira chama a atenção para um processo que
ele classifica de "Criminalização do Movimento Social", que consiste
no sufocamento das reivindicações populares pelos atos violentos cometidos por
uma minoria. "É o que está acontecendo neste momento com os atos
promovidos pelos professores. As demandas da Educação não podem ser menos
expressivas do que os atos de vandalismo. Mas a opinião pública e,
principalmente o governo, estão colocando a violência em primeiro plano e não
dando a necessária importância às revindicações das classes sociais. Isso é
grave!", destacou Teixeira.
Na avaliação do sociólogo, a dimensão que a tática
black bloc tomou no Rio de Janeiro teve duas molas propulsoras: os destaques
midiáticos e um planejamento do governo estadual para deslegitimar os
crescentes protestos populares. Para Teixeira houve uma manipulação dos
governos estadual e municipal, em ação conjunta, para esvaziar as manifestações
e retirar de centro das discussões os assuntos que realmente são relevantes
para toda a população. "Na manifestação realizada no dia 10 de outubro
pelos professores, a Polícia Militar montou barreiras impedindo que as pessoas
se aproximassem do Palácio Laranjeiras, sendo que o ato seguia pacífico. Por
que em outras manifestações essa postura não foi adotada? Porque o governador
pretendia de forma velada deslegitimar o ato dos professores", destacou
ele.
A postura do prefeito da cidade, Eduardo Paes,
quanto às revindicações das categorias também tem estimulado a violência nos
atos, segundo Teixeira. "Ele se pronuncia de forma debochada, desafiando
as pessoas. Ele expõe dados e situações para confundir a opinião pública,
depois volta na sua colocação e até pede desculpas, mas a revolta popular já
foi alimentada", explica o sociólogo, que também citou o fato do prefeito
não defender de forma mais clara a ação violenta da PM contra manifestantes
pacíficos.
Francisco Teixeira acredita que a tática black bloc
chegou para ficar por um bom tempo e, por esse motivo, a população deve ter a
percepção para não cair na armadilha da "criminalização do movimento
social". "A mídia tem uma parcela de culpa na valorização desse
movimento de black bloc. Um ato público onde milhares de pessoas expressam os
seus anseios e sinalizam para as autoridades sobre o que é melhor para o
coletivo, como pode a imprensa dar mais destaque aos atos de uma minoria de
umas 150 pessoas?", questionou Teixeira. Ele explicou que a inversão
desses valores demonstra uma sociedade conservadora, que dá mais atenção à
ordem pública do que à Justiça. No seu estudo, ele admite que os
"mascarados" servem como massa de manipulação do governo, mas não os
considera vítimas, pelo fato deles atingirem uma meta importante para o grupo,
a visibilidade tão sonhada há anos de anonimato. "Eles querem a imagem do
grupo em destaque na mídia e representar a alma de um movimento", explica.
Um caminho apontado pelo sociólogo para minimizar
as cenas de violência que a sociedade carioca está presenciando nos últimos
meses é uma revisão da postura da Polícia Militar e, especialmente, o seu
aperfeiçoamento nas operações de segurança em manifestações. "Ficou
evidente um ressentimento da PM nos atos dos profissionais de educação. E o
governo tem muita culpa nisso também. Por exemplo, o Cabral criou uma comissão
para investigar os atos de violência em protestos, mas só tinham atenção os casos
em que os manifestantes se excediam e nunca os atos truculentos da PM com
relação aos manifestantes. Essa cultura tem que mudar. Além desse fato, a
polícia do Estado se mostrou despreparada, violenta e sem uma orientação
protocolar", destacou.
A manipulação articulada pelo poder público do Rio
somado à força das redes sociais contribuíram com a popularidade dos chamados
"Black Blocs", que tiveram adesão de outros grupos, como os moradores
de rua e torcida organizadas, que participaram dos "quebra-quebra"
sem qualquer objetivo social, apenas pelo ato de vandalismo. Sem compromisso
com as ideologias anarquistas, os "Black Blocs" tomaram posse do nome
da própria tática revolucionária e ainda criaram um perfil estético para se
apresentar nas manifestações. "Eles adotaram um estilo fashion nas redes
sociais e levaram a cor preta a um modismo momentâneo", disse
Teixeira.
Em uma pesquisa acadêmica sobre as manifestações, o
sociólogo e cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Paulo Baía, mapeou os grupos que foram identificados praticando atos
violentos. Ele os dividiu em três categorias: aqueles que seguem uma política
ideológica, os de natureza sociocultural e indivíduos que trabalham para o
crime organizado. No total, Baía encontrou 18 grupos que "acreditam na
violência", entre eles até policiais e políticos infiltrados. O
"teatro" é sempre o mesmo, caracterizado por pessoas vestidas de
preto e que usam o próprio corpo como arma, além de objetos que encontram pelo
seu caminho, que fica marcado por um rastro de destruição. Baía concorda com os
estudos de Francisco Teixeira e afirma que a tática black bloc tomou a
proporção necessária para sufocar as reais revindicações das classes sociais e,
inclusive, banalizou os ideais anarquistas que deram origem à ação
revolucionária.
______________
O Globo 17.11.2013
Confissões de ex-PM revelam a rotina de crimes na corporação
Condenado em 2009, ele expõe delitos que vão de extorsão a
assassinato
Jorge Antônio Barros
RIO
- Entre 2005 e 2009, o então soldado Rodrigo Nogueira, de 32 anos, usou a farda
e as armas cedidas pela PM para extorquir dinheiro, torturar traficantes,
negociar e vender a liberdade de perigosos assaltantes, julgar e condenar à
morte criminosos e suspeitos de crimes, participar de ações da milícia e matar
a sangue-frio, sem piedade. É esse o enredo que ele conta em “Como nascem os
monstros — A história de um ex-soldado da Polícia Militar do Estado do Rio de
Janeiro” (Editora Topbooks), lançado mês passado.
Rodrigo foi preso
em novembro de 2009, condenado por tentativa de homicídio e extorsão. Pela
primeira vez, um ex-PM confessa publicamente ter cometido tamanhas atrocidades.
No livro, ele criou um personagem, o soldado Rafael, o protagonista, que narra
a história em primeira pessoa.
Apesar de ter
confessado vários crimes, o ex-PM nega ter praticado justamente os delitos que
o levaram a uma condenação total de 30 anos e oito meses de prisão. Uma
vendedora ambulante o acusou de ter tentado extorquir dinheiro dela e de ter
lhe dado um tiro no rosto, além de estuprá-la. “Ela foi submetida a exame de
corpo de delito, que comprovou que não sofreu agressão sexual”, diz Rodrigo, em
entrevista por carta.
Sequestro de chefão do tráfico é outro crime
cometido por policial
O livro, de 606
páginas, foi escrito em nove meses. Na narrativa, o soldado Rafael começa a
metamorfose de ser humano para monstro depois de cometer o primeiro assassinato
a sangue-frio. A vítima foi um ladrão que tinha sido atropelado. O policial o
mata e simula ter havido tiroteio.
Rodrigo relata no
livro como vendeu um fuzil AK-47 apreendido após confronto com traficantes do
Morro do Borel, na Tijuca. O comprador foi um chefe de milícia. Apesar de
afirmar ter recusado convite para integrar aquela quadrilha, o ex-policial
conta também como participou da ação de milicianos numa favela contra um grupo
de traficantes, cujo chefe foi degolado.
“O PM só vale o
mal que pode causar”, escreve o soldado Rafael, que começou a carreira
extorquindo o produto do roubo praticado por pivetes e gangues de bicicleta e
chegou a participar do sequestro de um dos chefões do tráfico no Rio, que
chamou de Rufinol e tem tudo para ser Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol. Era
um dos maiores fornecedores de drogas do Rio e dominou o Complexo de São
Carlos, no Estácio.
Propinas à luz do dia
Quando não
conseguiam sequestrar um chefão, policiais cobravam propinas do tráfico, pagas
semanalmente, diretamente aos agentes fardados e em carros da polícia, em plena
luz do dia. Numa das histórias, Rafael conta que sua equipe invadiu uma favela,
dominou o local onde era feita a embalagem da droga e torturou dois traficantes
desarmados. Eles foram executados depois que se percebeu que não tinham
informações que levassem aos chefes da quadrilha.
Na entrevista, o
ex-PM Rodrigo confessa que raramente os policiais que liberam bandidos ou
vendem armas a traficantes avaliam o mal que estão causando à sociedade: “O
policial que comete esse tipo de crime não pensa nisso. Só o que importa é o
lucro”. O PM Rafael, por exemplo, diz no livro que uma vez negociou a liberdade
de um ladrão que fora flagrado, na porta de um banco, esperando para assaltar
um cliente. Os alvos de extorsão podem ser também, como mostra o texto,
usuários de drogas abordados logo após deixarem uma boca de fumo. Num dos
casos, os PMs corruptos arrecadaram R$ 10 mil e US$ 2.500 após flagrarem um
empresário norueguês com papelotes de cocaína.
“Alguém precisava
dar real entendimento ao que acontece dentro dos quartéis da PMERJ, quais são
os fatores que transformam homens comuns, pais de família, em assassinos
alucinados”, diz Rodrigo.
_____________
G1 Ro 29/03/2013
Presos são mantidos acorrentados em ala
psiquiátrica de hospital, em RO.
Comissão de
Direitos Humanos da OAB de Rondônia denuncia situação.
Local tem
capacidade para 35 pacientes, mas atende 61.
Vanessa Vasconcelos
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos
Advogados do Brasil em Rondônia (OAB-RO)
denunciou, nesta sexta-feira (29), a situação de três pacientes que cumprem
pena e estão internados na ala psiquiátrica do Hospital de Base Ary Pinheiro,
em Porto Velho. Durante
vistoria foi constatado que os presos ficam acorrentados junto aos leitos. A
superlotação da ala também é alvo de denúncia. A ala possui capacidade para
atender 35 pessoas, mas possui 61 pacientes. A vistoria foi realizada na
quinta-feira (28).
De acordo com a comissão, os pacientes em situação
de regime de pena são mantidos acorrentados 24 horas por dia, mesmo o hospital
não sendo uma instituição para cumprimento de pena. “São pacientes sem o
direito a caminharem, sem práticas de atividades físicas ou fisioterapêuticas”,
relata Vinicius Valentin Raduan Miguel, advogado membro da comissão. Apenas um
agente penitenciário é responsável pela supervisão dos presos, mas de acordo
com o relatório este agente fica fora da sala onde os presos estão alojados,
cerca de 500 metros de distância.
O relatório aponta que banheiros apresentam
vazamento com frequência, a água e o mau cheiro chegam a invadir as salas, onde
os pacientes dormem no chão, devido à falta de leitos. O local não possui
condicionadores de ar ou mesmo ventiladores. As necessidades fisiológicas,
assim como a alimentação, são feitas no próprio local, em vasilhames fornecidos
pela equipe médica.
Comissão denuncia condição
insalubre e superlotação em ala de psiquiatria de Hospital de Base
(Foto:
Comissão de Direitos Humanos da OAB/Divulgação)
De acordo com Vinicius Miguel, a vistoria na ala
foi realizada após denúncia encaminhada ao órgão. Acompanhados de representados
do Conselho Regional de Medicina (Cremero) e de um psicólogo da Universidade
Federal de Rondônia (Unir), a Comissão de Direitos Humanos constatou a
precariedade no atendimento aos pacientes com problema psiquiátricos e a
superlotação do local.
No pedido encaminhado à Justiça, os advogados
membros da comissão pedem a soltura dos pacientes mantidos acorrentados, pois
não podem estar submetidos a constrangimentos. “A sujeição às correntes com
cadeados como medida de contenção mecânica não encontra guarida em nosso
ordenamento jurídico-constitucional”, diz trecho do pedido.
A Secretaria de Estado de Justiça (Sejus) informou
que Rondônia possui uma residência terapêutica para receber presos com
problemas psiquiátricos. O G1 tentou
contato com o Tribunal de Justiça de Rondônia e com a direção do Hospital de
Base Ary Pinheiro, mas nenhum representante dos órgãos foi encontrado para
falar sobre o assunto.
____________________
The Economist 14.set.2013
Policing and politics in Brazil
De herói a vilão.
(From hero to villain in Rio)
A sensible security program in Brazil’s Olympic city
is no longer enough to satisfy voters, as its governor has found
SÉRGIO CABRAL became governor of the state of Rio de Janeiro in 2007
during one of its periodic security crises, with criminals attacking police
stations, burning buses and hijacking cars. But rather than send trigger-happy
police into the favelas (self-built slums) controlled by drug gangs in
retaliation, he prepared the state’s first sensible security policy in decades,
focused on community policing. Mr Cabral’s election coincided with an economic
recovery in Brazil’s former capital after decades of decline. The award of the
2016 Olympics seemed to set the seal on Rio’s revival and its governor’s
success.
The state is safer than for many years. But Mr Cabral is now Brazil’s
least popular governor. After being re-elected in 2010 with 66% of the vote,
his approval rating has slumped to 12%. Protesters calling for his resignation
were camped outside his home for weeks. He had intended to step down in April
to campaign for Congress; now he may leave in December rather than continue to
taint his deputy and would-be successor, Luiz Pezão.
The street protests against poor public services and corruption that
swept Brazil in June hurt the public standing of all the country’s politicians.
Mr Cabral suffered more than most, says Ricardo Sennes of Prospectiva, a
political consultancy, partly because Rio’s voters are becoming less willing to
overlook scandal in the search for safety. Mr Cabral is close to Fernando
Cavendish, a businessman whose construction firm was accused of paying
kickbacks last year. In July it was revealed that Mr Cabral uses a state-owned
helicopter to commute ten kilometres (six miles) to work and to weekends at his
beach house, costing taxpayers 3.8m reais ($1.7m) a year.
But the main reason for Mr Cabral’s dimming popularity is that the
euphoria that accompanied the new security policy is giving way to a more
realistic assessment. The security strategy involves taking back territory
rather than confronting gangs head-on. First, special forces dislodge gang
leaders and search for drugs and weapons. Then a permanent police station,
called a “Pacifying Police Unit” (UPP in the Portuguese acronym), is set up,
staffed by officers trained in community policing who patrol around the clock.
Since 2008, 34 UPPs have been put in place (see map). Six more are planned
before Rio hosts the final of the football World Cup next July.
Rio has recently seen reminders of the bad old policing. In June, after
an officer was shot dead when a protest march degenerated into looting, special
forces entered Complexo da Maré, a vast favela on the road to Rio’s
international airport. In the ensuing gun battle nine people were killed, at
least two of them bystanders. Police say their response was proportionate;
residents, that it was indiscriminate revenge for the death of one of their
own.
The disappearance in July of a labourer after he was taken for
questioning to the UPP in Rocinha, Rio’s biggest favela, highlighted a worrying
rise in cases of people going missing in pacified areas. That may merely
reflect better statistics: in the past many disappearances went unreported for
fear of reprisals from the gangsters responsible. But the state now pays the
police bonuses for killing fewer people (some previous governors rewarded
police kills), leading to fears that some officers may have switched from
recording “deaths while resisting arrest”, as the police traditionally
disguised their murders, to simply disposing of the evidence. Some of Rocinha’s
officers have been suspended and its commander replaced.
An oft-heard complaint is that UPPs benefit well-off areas most. By
2016, when Rio hosts the Olympic games, their coverage will still be largely
restricted to favelas that surround richer beach districts and the sporting
venues, or line strategic roads. The city had to start somewhere, counters
Colonel Frederico Caldas, the officer in charge of the UPP programme. Rushing
would have stretched police too thin and risked failures, bringing the whole
endeavour into disrepute.
Rio’s poorer districts are starting to realise that they may have to
wait a decade or more before getting a UPP. Meanwhile, they fear an influx of
displaced criminals. Baixada Fluminense, a sprawl of poor suburbs where the
state’s biggest gang, the Comando Vermelho, is active, has seen an upsurge in
murders and carjackings.
The police try to stop criminals migrating, says Colonel Caldas: for the
weeks before the taking of a favela they monitor access routes and those of
nearby areas occupied by the same gang. The pacification of Rocinha in 2011,
for example, led to the arrest of its druglord as he tried to flee. The only
study on crime migration suggests this is limited: a count of arrests in
Niterói, a city across the bay, in 2012 found that only 5% were of outsiders.
Not all favelas find life after pacification equally profitable. In the
four years since Chapéu Mangueira and Babilônia, twin favelas close to
Copacabana beach, got their UPP, new apartments have been built and streets
paved, named and numbered. Postmen and taxis are now willing to enter. Hostels
with panoramic views do good business; Bar do David, a restaurant, has made it into
the city’s guidebooks. But communities in less favoured areas cannot replace
drug money with tourism. Crackdowns on petty offences such as driving a
mototaxi without a licence cut post-pacification earnings, too.
The biggest complaint of residents in pacified favelas is that though
the violence has receded and gun-toting gangsters can no longer saunter through
the streets, they still lack decent schools, housing and health care, as well
as jobs. “The main lesson is to have patience,” says Lieutenant Paula Apulchro,
who commands the Chapéu Mangueira and Babilônia UPP, where public services have
noticeably improved. “It’s only after the UPP that those other good things can
come.” Elections in Rio used to be all about making the streets a bit safer. Mr
Cabral’s achievement is that his successor will have to offer more.
______________
O Estado de S.Paulo
Estudo da Unifesp
derruba mito de que Ritalina 'turbina' cérebros saudáveis
Mariana Lenharo
Conhecida como
'pílula da inteligência', a droga tem sido usada por estudantes que querem
melhorar o desempenho acadêmico; pesquisa revela que medicamento não beneficia
a atenção nem a memória; remédio costuma ser obtido no mercado negro.
- A Ritalina não
promove melhora cognitiva em pessoas saudáveis. Indicada para transtorno do
déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), ela tem sido usada por estudantes
que buscam melhor desempenho em provas e concursos. Apesar da fama - que lhe
rendeu o apelido de "pílula da inteligência" ou "droga dos
concurseiros" -, uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp) mostra que o medicamento não beneficia a atenção, a memória e as
funções executivas (capacidade de planejar e executar tarefas) em jovens sem o
transtorno.
A psicóloga Silmara
Batistela, autora do estudo, decidiu investigar o tema ao perceber a
popularização da prática de doping mental. "É muito comum ouvir o relato
de pessoas que, para passar a noite estudando antes da prova, tomam
Ritalina", diz. O objetivo da pesquisadora era avaliar se o consumo do
medicamento, cujo princípio ativo é o cloridrato de metilfenidato, realmente
trazia vantagens cognitivas.
Para a pesquisa,
foram selecionados 36 jovens saudáveis de 18 a 30 anos. Eles foram divididos
aleatoriamente em quatro grupos: um deles tomou placebo e os outros três
receberam uma dose única de 10 mg, 20 mg ou 40 mg da medicação. Depois de
tomarem a pílula, os participantes foram submetidos a uma série de testes que
avaliaram atenção, memória operacional e de longo prazo e funções executivas. O
desempenho foi semelhante nos quatro grupos, o que demonstrou a ineficácia da
Ritalina em "turbinar" cérebros saudáveis.
"O uso não
alterou a função cognitiva. A única diferença que observamos foi que os que
tomaram a dose maior, de 40 mg, relataram uma sensação subjetiva de bem-estar
maior em comparação aos demais", diz Silmara.
Perigos
O psiquiatra Dartiu
Xavier da Silveira, diretor do Programa de Orientação e Atendimento a
Dependentes (Proad) da Unifesp, observa que o mito de que a Ritalina teria o
potencial de tornar alguém mais inteligente não faz sentido. "A pessoa
fala que consegue estudar a noite inteira com o remédio. Isso é porque ela fica
acordada e não porque tem uma melhora na atenção", diz. Ele observa que o
aprendizado sob o efeito da droga consumida inadequadamente é de má qualidade.
Silveira destaca que
existem perigos relacionados ao uso inadequado do medicamento. O consumo
aumenta os riscos de problemas do coração e pode levar a um quadro de arritmia
cardíaca. O especialista acrescenta que, tratando-se de uma anfetamina, a droga
apresenta também um potencial de abuso, razão pela qual é controlada e só pode
ser comprada com receita especial.
A alternativa para
os que resolvem usar a Ritalina sem ter indicação é recorrer ao mercado negro.
Estudantes relatam que não é difícil encontrar fornecedores anunciando o
produto em fóruns de discussão na internet.
Um estudante de
Economia de 22 anos, que preferiu não se identificar, conta que soube dos
efeitos da Ritalina por um amigo. "Ouvi falar de uma droga que todos
universitários estavam usando na Europa e nos Estados Unidos para aumentar a
concentração. Li sobre seus efeitos colaterais, para o que servia e, como
sempre me achei um pouco hiperativo, resolvi experimentar."
As duas primeiras
caixas foram compradas de um conhecido. Depois, encontrou um fornecedor na
internet que atende aos pedidos dele e de seus amigos. "A gente pede de
uma vez só várias caixas." Para o universitário, que toma o remédio para
estudar aos fins de semana ou à noite, quando pretende varar a madrugada entre
os livros, a principal vantagem é tirar o sono. "O ganho está nas horas a
mais que estudo na madrugada."
Segundo ele, também
há um aumento na concentração e na atenção. "Não fiquei mais inteligente,
mas meu tempo de dedicação aos estudos aumentou", relata. Ele, que foi um
dos primeiros entre seus amigos a usar o recurso, conta que hoje conhece cerca
de 15 pessoas que aderiram.
Um de seus amigos,
também estudante de Economia, conta que aderiu à pílula por ter dificuldade de
ler textos longos. "Eu começo a me dispersar no meio deles. Como trabalho
o dia inteiro, acaba me faltando tempo para conseguir ler volumes
grandes." Para ele, a Ritalina o ajuda a ler bastante sem se dispersar.
Encenação
Outra estratégia que
tem sido adotada para obter o remédio é simular os sintomas do TDAH na
esperança de ganhar uma receita. O neuropediatra Paulo Alves Junqueira, membro
da Academia Brasileira de Neurologia (Abneuro), conta que tem existido essa
demanda, principalmente entre os concurseiros. "O médico precisa ter a
habilidade de identificar esses casos: o TDAH não vem de uma hora para outra. É
um transtorno incapacitante que acompanha o paciente ao longo da vida."
Segundo levantamento
feito pelo Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São
Paulo (Sindusfarma) a pedido do Estado, houve um crescimento de quase 50% na
venda de remédios à base de cloridrato de metilfenidato no Brasil entre 2008 e
2012. Entre setembro de 2007 e outubro de 2008 foram vendidas 1.238.064 caixas,
enquanto entre setembro de 2011 e outubro de 2012 as vendas cresceram para 1.853.930
caixas. Nesse intervalo, os valores gastos com a medicação passaram de R$
37.838.247 para R$ 90.719.793.
_________________
Opera Mundi 21/06/2013
ONU acusa Israel de
torturar crianças palestinas e usá-las como escudo humano
Relatório divulgado
nessa quinta-feira (20) expressa "profunda preocupação" com abusos
cometidos por soldados israelenses
Um órgão de direitos
humanos da ONU acusou as forças israelenses de maus-tratos a crianças palestinas,
incluindo tortura, confinamento e até mesmo o uso de algumas delas como escudo
humano, de acordo com um relatório liberado nessa quinta-feira (20).
Segundo o texto do
Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança, “crianças palestinas detidas por
militares e policiais (israelenses) são sistematicamente sujeitas a tratamento
degradante e muitas vezes a atos de tortura; são interrogadas em hebraico, uma
língua que não entendem, e assinam confissões em hebreu para serem libertadas”.
O Comitê também
indicou que as crianças na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, regiões ocupadas por
Israel na guerra de 1967, têm o acesso aos seus registros de nascimento e aos
serviços de saúde, escolas decentes e água potável rotineiramente negado.
O Ministério das
Relações Exteriores de Israel se manifestou dizendo ter respondido a um
relatório da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) sobre os
maus-tratos a menores palestinos em março e questionou se a investigação da ONU
traz fatos novos.
"Se alguém
simplesmente quer ampliar seu viés político e bater na política de Israel sem
se basear em um novo relatório, em trabalho de campo, mas simplesmente
reciclando material antigo, não há nenhuma importância nisso", disse o
porta-voz Yigal Palmor.
O Comitê, por sua
vez, diz ter obtido suas informações a partir de outros grupos de direitos
humanos israelenses, palestinos e da ONU, além de fontes militares. De acordo
com eles, Israel não atendeu aos pedidos de informação para o relatório.
O documento,
composto por 18 peritos independentes, reconheceu as preocupações de segurança
nacional de Israel e que as crianças de ambos os lados continuam a ser mortas e
feridas, mas com mais vítimas entre os palestinos.
A maior parte das
crianças palestinas presa é acusada de atirar pedras, o que, segundo o
relatório, pode levar a uma pena de até 20 anos de prisão. A estimativa é que 7
mil crianças, entre 12 e 17 anos, mas algumas de apenas nove anos, tenham sido
presas, interrogadas e detidas desde 2002, gerando uma média de duas por dia.
Além disso, muitos
desses menores teriam sido levados acorrentados nos tornozelos e algemados
perante tribunais militares, enquanto os jovens seriam mantidos em confinamento
solitário, às vezes por meses.
O relatório destacou
profunda preocupação com o "uso contínuo de crianças palestinas como
escudos humanos e informantes", dizendo que 14 casos foram notificados
somente entre janeiro de 2010 e março deste ano.
A denúncia feita é
que soldados israelenses usaram crianças palestinas na frente deles para entrar
em edifícios potencialmente perigosos e ficar na frente de veículos militares
para deter lançamentos de pedras. Quase todos esses militares permaneceram
impunes ou receberam sentenças leves, segundo o documento.
_______________
Revista Fórum 22/07/2013
JB 13.10.2013
Os "Black Blocs", para quem servem?
Sem compromisso com
qualquer ideologia, grupo serve como massa de manobra para o governo
Cláudia Freitas
As cenas de vandalismo que tomaram as ruas das
principais capitais nacionais desde as manifestações de junho, praticadas por
grupos autointitulados "Black Blocs", tinham como propósito
criticar a administração pública estadual, mas os seus efeitos foram contrários
e acabaram por desacreditar os atos legítimos de categorias sociais e
profissionais que revindicavam por melhores condições de vida e trabalho. Mais
do que em outros estados, no Rio de Janeiro as depredações que marcaram os
desfechos dos protestos, abriram uma porta para as violentas ações policiais
autorizadas pelo governo de Sérgio Cabral e levaram a violência urbana para o
eixo dos manifestos populares. O cenário foi favorável somente ao governo do
Estado, que procurava uma forma de desmoralizar as manifestações às vésperas de
grandes eventos internacionais, além da proximidade do período eleitoral.
Na sua pesquisa Movimentos Londres / Paris, com o
perfil de grandes protestos em massa mundiais, o especialista e professor de
História Moderna e Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Francisco Carlos Teixeira, identifica a tática black bloc no Brasil,
que teve a sua primeira aparição no dia 19 de março de 2011, durante
o protesto contra a visita do presidente norte-americano Barack Obama ao
Rio de Janeiro. Um pequeno grupo de manifestantes atirou uma bomba contra a
embaixada americana na cidade. Analisando as manifestações que estão
acontecendo atualmente na cidade, Teixeira chama a atenção para um processo que
ele classifica de "Criminalização do Movimento Social", que consiste
no sufocamento das reivindicações populares pelos atos violentos cometidos por
uma minoria. "É o que está acontecendo neste momento com os atos
promovidos pelos professores. As demandas da Educação não podem ser menos
expressivas do que os atos de vandalismo. Mas a opinião pública e,
principalmente o governo, estão colocando a violência em primeiro plano e não
dando a necessária importância às revindicações das classes sociais. Isso é
grave!", destacou Teixeira.
Na avaliação do sociólogo, a dimensão que a tática
black bloc tomou no Rio de Janeiro teve duas molas propulsoras: os destaques
midiáticos e um planejamento do governo estadual para deslegitimar os
crescentes protestos populares. Para Teixeira houve uma manipulação dos
governos estadual e municipal, em ação conjunta, para esvaziar as manifestações
e retirar de centro das discussões os assuntos que realmente são relevantes
para toda a população. "Na manifestação realizada no dia 10 de outubro
pelos professores, a Polícia Militar montou barreiras impedindo que as pessoas
se aproximassem do Palácio Laranjeiras, sendo que o ato seguia pacífico. Por
que em outras manifestações essa postura não foi adotada? Porque o governador
pretendia de forma velada deslegitimar o ato dos professores", destacou
ele.
A postura do prefeito da cidade, Eduardo Paes,
quanto às revindicações das categorias também tem estimulado a violência nos
atos, segundo Teixeira. "Ele se pronuncia de forma debochada, desafiando
as pessoas. Ele expõe dados e situações para confundir a opinião pública,
depois volta na sua colocação e até pede desculpas, mas a revolta popular já
foi alimentada", explica o sociólogo, que também citou o fato do prefeito
não defender de forma mais clara a ação violenta da PM contra manifestantes
pacíficos.
Francisco Teixeira acredita que a tática black bloc
chegou para ficar por um bom tempo e, por esse motivo, a população deve ter a
percepção para não cair na armadilha da "criminalização do movimento
social". "A mídia tem uma parcela de culpa na valorização desse
movimento de black bloc. Um ato público onde milhares de pessoas expressam os
seus anseios e sinalizam para as autoridades sobre o que é melhor para o
coletivo, como pode a imprensa dar mais destaque aos atos de uma minoria de
umas 150 pessoas?", questionou Teixeira. Ele explicou que a inversão
desses valores demonstra uma sociedade conservadora, que dá mais atenção à
ordem pública do que à Justiça. No seu estudo, ele admite que os
"mascarados" servem como massa de manipulação do governo, mas não os
considera vítimas, pelo fato deles atingirem uma meta importante para o grupo,
a visibilidade tão sonhada há anos de anonimato. "Eles querem a imagem do
grupo em destaque na mídia e representar a alma de um movimento", explica.
Um caminho apontado pelo sociólogo para minimizar
as cenas de violência que a sociedade carioca está presenciando nos últimos
meses é uma revisão da postura da Polícia Militar e, especialmente, o seu
aperfeiçoamento nas operações de segurança em manifestações. "Ficou
evidente um ressentimento da PM nos atos dos profissionais de educação. E o
governo tem muita culpa nisso também. Por exemplo, o Cabral criou uma comissão
para investigar os atos de violência em protestos, mas só tinham atenção os casos
em que os manifestantes se excediam e nunca os atos truculentos da PM com
relação aos manifestantes. Essa cultura tem que mudar. Além desse fato, a
polícia do Estado se mostrou despreparada, violenta e sem uma orientação
protocolar", destacou.
A manipulação articulada pelo poder público do Rio
somado à força das redes sociais contribuíram com a popularidade dos chamados
"Black Blocs", que tiveram adesão de outros grupos, como os moradores
de rua e torcida organizadas, que participaram dos "quebra-quebra"
sem qualquer objetivo social, apenas pelo ato de vandalismo. Sem compromisso
com as ideologias anarquistas, os "Black Blocs" tomaram posse do nome
da própria tática revolucionária e ainda criaram um perfil estético para se
apresentar nas manifestações. "Eles adotaram um estilo fashion nas redes
sociais e levaram a cor preta a um modismo momentâneo", disse
Teixeira.
Em uma pesquisa acadêmica sobre as manifestações, o
sociólogo e cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Paulo Baía, mapeou os grupos que foram identificados praticando atos
violentos. Ele os dividiu em três categorias: aqueles que seguem uma política
ideológica, os de natureza sociocultural e indivíduos que trabalham para o
crime organizado. No total, Baía encontrou 18 grupos que "acreditam na
violência", entre eles até policiais e políticos infiltrados. O
"teatro" é sempre o mesmo, caracterizado por pessoas vestidas de
preto e que usam o próprio corpo como arma, além de objetos que encontram pelo
seu caminho, que fica marcado por um rastro de destruição. Baía concorda com os
estudos de Francisco Teixeira e afirma que a tática black bloc tomou a
proporção necessária para sufocar as reais revindicações das classes sociais e,
inclusive, banalizou os ideais anarquistas que deram origem à ação
revolucionária.
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O Globo 17.11.2013
Confissões de ex-PM revelam a rotina de crimes na corporação
Condenado em 2009, ele expõe delitos que vão de extorsão a
assassinato
Jorge Antônio Barros
RIO
- Entre 2005 e 2009, o então soldado Rodrigo Nogueira, de 32 anos, usou a farda
e as armas cedidas pela PM para extorquir dinheiro, torturar traficantes,
negociar e vender a liberdade de perigosos assaltantes, julgar e condenar à
morte criminosos e suspeitos de crimes, participar de ações da milícia e matar
a sangue-frio, sem piedade. É esse o enredo que ele conta em “Como nascem os
monstros — A história de um ex-soldado da Polícia Militar do Estado do Rio de
Janeiro” (Editora Topbooks), lançado mês passado.
Rodrigo foi preso
em novembro de 2009, condenado por tentativa de homicídio e extorsão. Pela
primeira vez, um ex-PM confessa publicamente ter cometido tamanhas atrocidades.
No livro, ele criou um personagem, o soldado Rafael, o protagonista, que narra
a história em primeira pessoa.
Apesar de ter
confessado vários crimes, o ex-PM nega ter praticado justamente os delitos que
o levaram a uma condenação total de 30 anos e oito meses de prisão. Uma
vendedora ambulante o acusou de ter tentado extorquir dinheiro dela e de ter
lhe dado um tiro no rosto, além de estuprá-la. “Ela foi submetida a exame de
corpo de delito, que comprovou que não sofreu agressão sexual”, diz Rodrigo, em
entrevista por carta.
Sequestro de chefão do tráfico é outro crime
cometido por policial
O livro, de 606
páginas, foi escrito em nove meses. Na narrativa, o soldado Rafael começa a
metamorfose de ser humano para monstro depois de cometer o primeiro assassinato
a sangue-frio. A vítima foi um ladrão que tinha sido atropelado. O policial o
mata e simula ter havido tiroteio.
Rodrigo relata no
livro como vendeu um fuzil AK-47 apreendido após confronto com traficantes do
Morro do Borel, na Tijuca. O comprador foi um chefe de milícia. Apesar de
afirmar ter recusado convite para integrar aquela quadrilha, o ex-policial
conta também como participou da ação de milicianos numa favela contra um grupo
de traficantes, cujo chefe foi degolado.
“O PM só vale o
mal que pode causar”, escreve o soldado Rafael, que começou a carreira
extorquindo o produto do roubo praticado por pivetes e gangues de bicicleta e
chegou a participar do sequestro de um dos chefões do tráfico no Rio, que
chamou de Rufinol e tem tudo para ser Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol. Era
um dos maiores fornecedores de drogas do Rio e dominou o Complexo de São
Carlos, no Estácio.
Propinas à luz do dia
Quando não
conseguiam sequestrar um chefão, policiais cobravam propinas do tráfico, pagas
semanalmente, diretamente aos agentes fardados e em carros da polícia, em plena
luz do dia. Numa das histórias, Rafael conta que sua equipe invadiu uma favela,
dominou o local onde era feita a embalagem da droga e torturou dois traficantes
desarmados. Eles foram executados depois que se percebeu que não tinham
informações que levassem aos chefes da quadrilha.
Na entrevista, o
ex-PM Rodrigo confessa que raramente os policiais que liberam bandidos ou
vendem armas a traficantes avaliam o mal que estão causando à sociedade: “O
policial que comete esse tipo de crime não pensa nisso. Só o que importa é o
lucro”. O PM Rafael, por exemplo, diz no livro que uma vez negociou a liberdade
de um ladrão que fora flagrado, na porta de um banco, esperando para assaltar
um cliente. Os alvos de extorsão podem ser também, como mostra o texto,
usuários de drogas abordados logo após deixarem uma boca de fumo. Num dos
casos, os PMs corruptos arrecadaram R$ 10 mil e US$ 2.500 após flagrarem um
empresário norueguês com papelotes de cocaína.
“Alguém precisava
dar real entendimento ao que acontece dentro dos quartéis da PMERJ, quais são
os fatores que transformam homens comuns, pais de família, em assassinos
alucinados”, diz Rodrigo.
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G1 Ro 29/03/2013
Presos são mantidos acorrentados em ala
psiquiátrica de hospital, em RO.
Comissão de
Direitos Humanos da OAB de Rondônia denuncia situação.
Local tem
capacidade para 35 pacientes, mas atende 61.
Vanessa Vasconcelos
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos
Advogados do Brasil em Rondônia (OAB-RO)
denunciou, nesta sexta-feira (29), a situação de três pacientes que cumprem
pena e estão internados na ala psiquiátrica do Hospital de Base Ary Pinheiro,
em Porto Velho. Durante
vistoria foi constatado que os presos ficam acorrentados junto aos leitos. A
superlotação da ala também é alvo de denúncia. A ala possui capacidade para
atender 35 pessoas, mas possui 61 pacientes. A vistoria foi realizada na
quinta-feira (28).
De acordo com a comissão, os pacientes em situação
de regime de pena são mantidos acorrentados 24 horas por dia, mesmo o hospital
não sendo uma instituição para cumprimento de pena. “São pacientes sem o
direito a caminharem, sem práticas de atividades físicas ou fisioterapêuticas”,
relata Vinicius Valentin Raduan Miguel, advogado membro da comissão. Apenas um
agente penitenciário é responsável pela supervisão dos presos, mas de acordo
com o relatório este agente fica fora da sala onde os presos estão alojados,
cerca de 500 metros de distância.
O relatório aponta que banheiros apresentam
vazamento com frequência, a água e o mau cheiro chegam a invadir as salas, onde
os pacientes dormem no chão, devido à falta de leitos. O local não possui
condicionadores de ar ou mesmo ventiladores. As necessidades fisiológicas,
assim como a alimentação, são feitas no próprio local, em vasilhames fornecidos
pela equipe médica.
Comissão denuncia condição
insalubre e superlotação em ala de psiquiatria de Hospital de Base
(Foto:
Comissão de Direitos Humanos da OAB/Divulgação)
De acordo com Vinicius Miguel, a vistoria na ala
foi realizada após denúncia encaminhada ao órgão. Acompanhados de representados
do Conselho Regional de Medicina (Cremero) e de um psicólogo da Universidade
Federal de Rondônia (Unir), a Comissão de Direitos Humanos constatou a
precariedade no atendimento aos pacientes com problema psiquiátricos e a
superlotação do local.
No pedido encaminhado à Justiça, os advogados
membros da comissão pedem a soltura dos pacientes mantidos acorrentados, pois
não podem estar submetidos a constrangimentos. “A sujeição às correntes com
cadeados como medida de contenção mecânica não encontra guarida em nosso
ordenamento jurídico-constitucional”, diz trecho do pedido.
A Secretaria de Estado de Justiça (Sejus) informou
que Rondônia possui uma residência terapêutica para receber presos com
problemas psiquiátricos. O G1 tentou
contato com o Tribunal de Justiça de Rondônia e com a direção do Hospital de
Base Ary Pinheiro, mas nenhum representante dos órgãos foi encontrado para
falar sobre o assunto.
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The Economist 14.set.2013
Policing and politics in Brazil
De herói a vilão.
(From hero to villain in Rio)
A sensible security program in Brazil’s Olympic city
is no longer enough to satisfy voters, as its governor has found
SÉRGIO CABRAL became governor of the state of Rio de Janeiro in 2007
during one of its periodic security crises, with criminals attacking police
stations, burning buses and hijacking cars. But rather than send trigger-happy
police into the favelas (self-built slums) controlled by drug gangs in
retaliation, he prepared the state’s first sensible security policy in decades,
focused on community policing. Mr Cabral’s election coincided with an economic
recovery in Brazil’s former capital after decades of decline. The award of the
2016 Olympics seemed to set the seal on Rio’s revival and its governor’s
success.
The state is safer than for many years. But Mr Cabral is now Brazil’s
least popular governor. After being re-elected in 2010 with 66% of the vote,
his approval rating has slumped to 12%. Protesters calling for his resignation
were camped outside his home for weeks. He had intended to step down in April
to campaign for Congress; now he may leave in December rather than continue to
taint his deputy and would-be successor, Luiz Pezão.
The street protests against poor public services and corruption that
swept Brazil in June hurt the public standing of all the country’s politicians.
Mr Cabral suffered more than most, says Ricardo Sennes of Prospectiva, a
political consultancy, partly because Rio’s voters are becoming less willing to
overlook scandal in the search for safety. Mr Cabral is close to Fernando
Cavendish, a businessman whose construction firm was accused of paying
kickbacks last year. In July it was revealed that Mr Cabral uses a state-owned
helicopter to commute ten kilometres (six miles) to work and to weekends at his
beach house, costing taxpayers 3.8m reais ($1.7m) a year.
But the main reason for Mr Cabral’s dimming popularity is that the
euphoria that accompanied the new security policy is giving way to a more
realistic assessment. The security strategy involves taking back territory
rather than confronting gangs head-on. First, special forces dislodge gang
leaders and search for drugs and weapons. Then a permanent police station,
called a “Pacifying Police Unit” (UPP in the Portuguese acronym), is set up,
staffed by officers trained in community policing who patrol around the clock.
Since 2008, 34 UPPs have been put in place (see map). Six more are planned
before Rio hosts the final of the football World Cup next July.
Rio has recently seen reminders of the bad old policing. In June, after
an officer was shot dead when a protest march degenerated into looting, special
forces entered Complexo da Maré, a vast favela on the road to Rio’s
international airport. In the ensuing gun battle nine people were killed, at
least two of them bystanders. Police say their response was proportionate;
residents, that it was indiscriminate revenge for the death of one of their
own.
The disappearance in July of a labourer after he was taken for
questioning to the UPP in Rocinha, Rio’s biggest favela, highlighted a worrying
rise in cases of people going missing in pacified areas. That may merely
reflect better statistics: in the past many disappearances went unreported for
fear of reprisals from the gangsters responsible. But the state now pays the
police bonuses for killing fewer people (some previous governors rewarded
police kills), leading to fears that some officers may have switched from
recording “deaths while resisting arrest”, as the police traditionally
disguised their murders, to simply disposing of the evidence. Some of Rocinha’s
officers have been suspended and its commander replaced.
An oft-heard complaint is that UPPs benefit well-off areas most. By
2016, when Rio hosts the Olympic games, their coverage will still be largely
restricted to favelas that surround richer beach districts and the sporting
venues, or line strategic roads. The city had to start somewhere, counters
Colonel Frederico Caldas, the officer in charge of the UPP programme. Rushing
would have stretched police too thin and risked failures, bringing the whole
endeavour into disrepute.
Rio’s poorer districts are starting to realise that they may have to
wait a decade or more before getting a UPP. Meanwhile, they fear an influx of
displaced criminals. Baixada Fluminense, a sprawl of poor suburbs where the
state’s biggest gang, the Comando Vermelho, is active, has seen an upsurge in
murders and carjackings.
The police try to stop criminals migrating, says Colonel Caldas: for the
weeks before the taking of a favela they monitor access routes and those of
nearby areas occupied by the same gang. The pacification of Rocinha in 2011,
for example, led to the arrest of its druglord as he tried to flee. The only
study on crime migration suggests this is limited: a count of arrests in
Niterói, a city across the bay, in 2012 found that only 5% were of outsiders.
Not all favelas find life after pacification equally profitable. In the
four years since Chapéu Mangueira and Babilônia, twin favelas close to
Copacabana beach, got their UPP, new apartments have been built and streets
paved, named and numbered. Postmen and taxis are now willing to enter. Hostels
with panoramic views do good business; Bar do David, a restaurant, has made it into
the city’s guidebooks. But communities in less favoured areas cannot replace
drug money with tourism. Crackdowns on petty offences such as driving a
mototaxi without a licence cut post-pacification earnings, too.
The biggest complaint of residents in pacified favelas is that though
the violence has receded and gun-toting gangsters can no longer saunter through
the streets, they still lack decent schools, housing and health care, as well
as jobs. “The main lesson is to have patience,” says Lieutenant Paula Apulchro,
who commands the Chapéu Mangueira and Babilônia UPP, where public services have
noticeably improved. “It’s only after the UPP that those other good things can
come.” Elections in Rio used to be all about making the streets a bit safer. Mr
Cabral’s achievement is that his successor will have to offer more.
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O Estado de S.Paulo
Estudo da Unifesp
derruba mito de que Ritalina 'turbina' cérebros saudáveis
Mariana Lenharo
Conhecida como
'pílula da inteligência', a droga tem sido usada por estudantes que querem
melhorar o desempenho acadêmico; pesquisa revela que medicamento não beneficia
a atenção nem a memória; remédio costuma ser obtido no mercado negro.
- A Ritalina não
promove melhora cognitiva em pessoas saudáveis. Indicada para transtorno do
déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), ela tem sido usada por estudantes
que buscam melhor desempenho em provas e concursos. Apesar da fama - que lhe
rendeu o apelido de "pílula da inteligência" ou "droga dos
concurseiros" -, uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp) mostra que o medicamento não beneficia a atenção, a memória e as
funções executivas (capacidade de planejar e executar tarefas) em jovens sem o
transtorno.
A psicóloga Silmara
Batistela, autora do estudo, decidiu investigar o tema ao perceber a
popularização da prática de doping mental. "É muito comum ouvir o relato
de pessoas que, para passar a noite estudando antes da prova, tomam
Ritalina", diz. O objetivo da pesquisadora era avaliar se o consumo do
medicamento, cujo princípio ativo é o cloridrato de metilfenidato, realmente
trazia vantagens cognitivas.
Para a pesquisa,
foram selecionados 36 jovens saudáveis de 18 a 30 anos. Eles foram divididos
aleatoriamente em quatro grupos: um deles tomou placebo e os outros três
receberam uma dose única de 10 mg, 20 mg ou 40 mg da medicação. Depois de
tomarem a pílula, os participantes foram submetidos a uma série de testes que
avaliaram atenção, memória operacional e de longo prazo e funções executivas. O
desempenho foi semelhante nos quatro grupos, o que demonstrou a ineficácia da
Ritalina em "turbinar" cérebros saudáveis.
"O uso não
alterou a função cognitiva. A única diferença que observamos foi que os que
tomaram a dose maior, de 40 mg, relataram uma sensação subjetiva de bem-estar
maior em comparação aos demais", diz Silmara.
Perigos
O psiquiatra Dartiu
Xavier da Silveira, diretor do Programa de Orientação e Atendimento a
Dependentes (Proad) da Unifesp, observa que o mito de que a Ritalina teria o
potencial de tornar alguém mais inteligente não faz sentido. "A pessoa
fala que consegue estudar a noite inteira com o remédio. Isso é porque ela fica
acordada e não porque tem uma melhora na atenção", diz. Ele observa que o
aprendizado sob o efeito da droga consumida inadequadamente é de má qualidade.
Silveira destaca que
existem perigos relacionados ao uso inadequado do medicamento. O consumo
aumenta os riscos de problemas do coração e pode levar a um quadro de arritmia
cardíaca. O especialista acrescenta que, tratando-se de uma anfetamina, a droga
apresenta também um potencial de abuso, razão pela qual é controlada e só pode
ser comprada com receita especial.
A alternativa para
os que resolvem usar a Ritalina sem ter indicação é recorrer ao mercado negro.
Estudantes relatam que não é difícil encontrar fornecedores anunciando o
produto em fóruns de discussão na internet.
Um estudante de
Economia de 22 anos, que preferiu não se identificar, conta que soube dos
efeitos da Ritalina por um amigo. "Ouvi falar de uma droga que todos
universitários estavam usando na Europa e nos Estados Unidos para aumentar a
concentração. Li sobre seus efeitos colaterais, para o que servia e, como
sempre me achei um pouco hiperativo, resolvi experimentar."
As duas primeiras
caixas foram compradas de um conhecido. Depois, encontrou um fornecedor na
internet que atende aos pedidos dele e de seus amigos. "A gente pede de
uma vez só várias caixas." Para o universitário, que toma o remédio para
estudar aos fins de semana ou à noite, quando pretende varar a madrugada entre
os livros, a principal vantagem é tirar o sono. "O ganho está nas horas a
mais que estudo na madrugada."
Segundo ele, também
há um aumento na concentração e na atenção. "Não fiquei mais inteligente,
mas meu tempo de dedicação aos estudos aumentou", relata. Ele, que foi um
dos primeiros entre seus amigos a usar o recurso, conta que hoje conhece cerca
de 15 pessoas que aderiram.
Um de seus amigos,
também estudante de Economia, conta que aderiu à pílula por ter dificuldade de
ler textos longos. "Eu começo a me dispersar no meio deles. Como trabalho
o dia inteiro, acaba me faltando tempo para conseguir ler volumes
grandes." Para ele, a Ritalina o ajuda a ler bastante sem se dispersar.
Encenação
Outra estratégia que
tem sido adotada para obter o remédio é simular os sintomas do TDAH na
esperança de ganhar uma receita. O neuropediatra Paulo Alves Junqueira, membro
da Academia Brasileira de Neurologia (Abneuro), conta que tem existido essa
demanda, principalmente entre os concurseiros. "O médico precisa ter a
habilidade de identificar esses casos: o TDAH não vem de uma hora para outra. É
um transtorno incapacitante que acompanha o paciente ao longo da vida."
Segundo levantamento
feito pelo Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São
Paulo (Sindusfarma) a pedido do Estado, houve um crescimento de quase 50% na
venda de remédios à base de cloridrato de metilfenidato no Brasil entre 2008 e
2012. Entre setembro de 2007 e outubro de 2008 foram vendidas 1.238.064 caixas,
enquanto entre setembro de 2011 e outubro de 2012 as vendas cresceram para 1.853.930
caixas. Nesse intervalo, os valores gastos com a medicação passaram de R$
37.838.247 para R$ 90.719.793.
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Opera Mundi 21/06/2013
ONU acusa Israel de
torturar crianças palestinas e usá-las como escudo humano
Relatório divulgado
nessa quinta-feira (20) expressa "profunda preocupação" com abusos
cometidos por soldados israelenses
Um órgão de direitos
humanos da ONU acusou as forças israelenses de maus-tratos a crianças palestinas,
incluindo tortura, confinamento e até mesmo o uso de algumas delas como escudo
humano, de acordo com um relatório liberado nessa quinta-feira (20).
Segundo o texto do
Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança, “crianças palestinas detidas por
militares e policiais (israelenses) são sistematicamente sujeitas a tratamento
degradante e muitas vezes a atos de tortura; são interrogadas em hebraico, uma
língua que não entendem, e assinam confissões em hebreu para serem libertadas”.
O Comitê também
indicou que as crianças na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, regiões ocupadas por
Israel na guerra de 1967, têm o acesso aos seus registros de nascimento e aos
serviços de saúde, escolas decentes e água potável rotineiramente negado.
O Ministério das
Relações Exteriores de Israel se manifestou dizendo ter respondido a um
relatório da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) sobre os
maus-tratos a menores palestinos em março e questionou se a investigação da ONU
traz fatos novos.
"Se alguém
simplesmente quer ampliar seu viés político e bater na política de Israel sem
se basear em um novo relatório, em trabalho de campo, mas simplesmente
reciclando material antigo, não há nenhuma importância nisso", disse o
porta-voz Yigal Palmor.
O Comitê, por sua
vez, diz ter obtido suas informações a partir de outros grupos de direitos
humanos israelenses, palestinos e da ONU, além de fontes militares. De acordo
com eles, Israel não atendeu aos pedidos de informação para o relatório.
O documento,
composto por 18 peritos independentes, reconheceu as preocupações de segurança
nacional de Israel e que as crianças de ambos os lados continuam a ser mortas e
feridas, mas com mais vítimas entre os palestinos.
A maior parte das
crianças palestinas presa é acusada de atirar pedras, o que, segundo o
relatório, pode levar a uma pena de até 20 anos de prisão. A estimativa é que 7
mil crianças, entre 12 e 17 anos, mas algumas de apenas nove anos, tenham sido
presas, interrogadas e detidas desde 2002, gerando uma média de duas por dia.
Além disso, muitos
desses menores teriam sido levados acorrentados nos tornozelos e algemados
perante tribunais militares, enquanto os jovens seriam mantidos em confinamento
solitário, às vezes por meses.
O relatório destacou
profunda preocupação com o "uso contínuo de crianças palestinas como
escudos humanos e informantes", dizendo que 14 casos foram notificados
somente entre janeiro de 2010 e março deste ano.
A denúncia feita é
que soldados israelenses usaram crianças palestinas na frente deles para entrar
em edifícios potencialmente perigosos e ficar na frente de veículos militares
para deter lançamentos de pedras. Quase todos esses militares permaneceram
impunes ou receberam sentenças leves, segundo o documento.
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Revista Fórum 22/07/2013
Em entrevista, policiais revelam como agem os grupos de extermínio em
São Paulo
Agentes afirmam que esquadrões de morte são
organizados por policiais de “patente alta” e há envolvimento de políticos
Igor Carvalho
Dois policiais militares foram convidados a
participar de grupos de extermínio que se organizam dentro da Polícia Militar
do Estado de São Paulo. Ao recusar o convite, passaram a ser perseguidos dentro
da corporação. P1 e P2, como serão chamados nessa matéria, estão ameaçados de
morte, sofrem com escalas desumanas de trabalho e seguem isolados dos demais
companheiros.
P1 e P2 aceitaram falar, sob condição de anonimato,
com Fórum. Foram
necessários três encontros sem qualquer entrevista gravada, apenas negociando.
Somente na quarta reunião, em um local reservado, no interior de São Paulo, os
agentes decidiram falar. Foram mais de três horas de entrevista, com acusações
que revelam uma estrutura corrompida e precária da Polícia Militar.
Os agentes afirmam que os oficiais de “patente
alta” são responsáveis pela imagem ruim da corporação. Para P1 e P2, a
perseguição a cabos, soldados e sargentos é equivocada. Os assassinatos
feitos por encomenda e o envolvimento com comerciantes, para prestação de
serviços de segurança, tem aval de policiais de alta patente. “A coisa é
grande, é gente grande, tem político envolvido no meio.”
Os números mostram que ações violentas fazem parte
do cotidiano das polícias paulistas. De 2001 até 2011,
policiais em serviço ou em folga foram responsáveis pela morte de 6.809
pessoas, no estado de São Paulo. A cifra é quase o dobro do total de
civis mortos por agentes americanos em todos os estados dos EUA no mesmo
período. Os índices fizeram com que, em maio de 2012, o Conselho de Direitos
Humanos da ONU sugerisse ao Brasil a extinção da Polícia
Militar.
Em 2012, 547 pessoas foram assassinadas em
confronto com a Polícia Militar no estado de São Paulo. Os casos são
registrados com o “auto de resistência seguida de morte”. “Está tão na cara que
não é verdade, que não tem mais quem acredite. Se os oficiais inventarem esse
teatro para se proteger nada acontece”, afirma P2, sobre os autos. Além dos
números oficiais, há uma quantidade grande de homicídios que também podem ser
responsabilidade degrupos de extermínio.
Confira a entrevista
abaixo:
Fórum - Existe grupo de extermínio dentro da PM, no
estado de São Paulo?
P1 - Sim, existe.
Fórum - Como operam esses grupos?
P1 - Como posso
falar? Existem vários interesses que vem desse pessoal, dos comandantes, de
querer algo em troca. É muita autoridade que dão para eles. Ou seja, ele
comanda uma área, essa área é subordinada a ele, que é o chefe, passa
atribuições, passa tais serviços e coloca você para trabalhar para outras
pessoas. É ele que vê para onde a viatura vai ter que se deslocar, quem vê em
quais comércios as viaturas vão ficar. Se você for contra os ideais do comando,
é colocado em um pelotão em que vai ter que fazer alguns serviços desumanos,
questão de horas de serviço, a sua escala vai ser pior, é um jogo mental. As
pessoas que fazem o que eles [comandantes] querem, tem melhor escala, se tornam
protegidos.
Fórum- Fazer o que eles querem, é participar de
grupos de extermínio?
P1- Isso. Se for o
caso, se for chamado para isso. Se você vê alguma coisa e delatar, sua família
e você vão correr risco também. P2
- O que você quer saber é o seguinte: Tudo começa com os oficiais,
não com a gente aqui embaixo. São oficiais, grandões. Quem comanda isso é gente
de patente alta, todo mundo está enganado. Todo mundo só averigua soldado,
cabo, sargento e até um tenente, mas não é, é coronel, é capitão e major. A
coisa é grande, é gente grande, tem político envolvido no meio.
Fórum - Que tipo de político está envolvido no meio?
P2 - Você quer um
exemplo? Na minha unidade tem um sargento que é o capanga de um político, ele é
o testa de ferro dele. Esse cara se tornou o escalante na minha unidade, ele coloca a viatura aonde
quer. Se os caras vão fazer algum tipo de serviço sujo em determinado local,
ele tira a viatura dali e coloca em outro lugar.
Fórum - “Se os caras”? Quem são os “caras”?
P2 - Oficiais.
Capitão e major. Ou mesmo o político. Então, é isso que acontece, só gente
grande. Se nós fizermos algo, acabou pra gente, estamos numa situação de
escravidão. Eu e o colega [outro policial presente na entrevista] estamos numa
situação de escravidão. Estamos passando justamente o que você está
perguntando, se a gente não participa [grupos de extermínio], a gente não
presta.
Fórum - Vocês já participaram?
P2 - Não e não
quero.
Fórum - O que acontece com quem se recusa a
participar dos grupos de extermínio?
P2 - Sofre como
estamos sofrendo: tortura psicológica, escalas, eu fui trancado numa sala, fui
trancado por um sargento, porque estou afrontando um oficial, e ele é o braço
direito desse oficial.
Fórum - Mas já te
intimaram a participar desses grupos?
P2 - Já. Você não
tem noção do que é isso aí, é uma máfia, pior do que o PCC. Você não tem noção
do que é isso aí por dentro.
Fórum - Que tipos de interesses estão por trás desses
grupos?
P1 - Começa com uma
coisa de injustiça. Os policiais percebem que estão fazendo a coisa certa, mas
os bandidos estão sempre saindo pela porta da frente. Aí começa o seguinte, a
pessoa quer fazer justiça com a própria mão, aí a pessoa perde aquele ideal de
proteção à sociedade e passa a oferecer perigo. Tem o envolvimento com o
comércio, se torna um negócio, porque o cara tá precisando de um “serviço” e
falam “ah, tem um cara aí que faz”, aí o cara já matou 10, 12, 15, começa a se
tornar esse comércio de vidas.
Fórum - Estamos vendo chacinas nas periferias da
cidade e na Grande São Paulo. Não me parece que a motivação seja só comercial.
P2 - Aí o problema é
social e de governo. O governo tem autoridade para dar aumento para os
“polícia”, dar rádio, armamento, comunicação, mas ele não faz. O governador não
gosta de polícia, ele só pisa em polícia. O “polícia” está na rua imprensado, o
povo não gosta de polícia e o governo não ajuda, é confronto direto, o que o
camarada faz? “Não tem jeito, vou ter que partir para aquilo, vou ter que
fazer”, e aí começa. Mata um, mata dois, mata dez.
Fórum - Ganha gosto em matar?
P2 - Tem gente que
mata por gosto e tem gente que mata por necessidade. Veja bem: esse sargento
que eu falei corre com gente errada, vagabundo e político. Aí ele ganha poder e
ameaça os policiais da corporação. Chega na gente e fala: “Você tem filho e você
tem pai, vou te matar”. “Ah, o senhor vai matar?”. Antes de o cara me matar, eu
mato ele. Aí começa. Aí é um negócio que não para mais, porque aí você precisa
matar outro, e outro, e não para mais. E tem aqueles que fazem por dinheiro.
Esse sargento ameaçou de morte onze pessoas, tem uma firma em que o cara
contratou ele. Funciona assim, o dono da empresa não quer pagar os direitos dos
funcionários, ele contratou uma policial feminina e um policial, e eles foram
nessa firma. Tem uma sala para eles, eles foram fardados e de viatura. O
sargento recebe os funcionários, coloca a arma na cabeça e fala: “Se você não
pedir a conta, eu mato você”, e ele mata mesmo. Esse cara não trabalha na rua,
trabalha “interno”.
Fórum - Porque vocês acham que morre tanto negro na
periferia?
P1 - O que acontece
é o seguinte, a Polícia Militar de São Paulo é uma instituição forte, em que
todo mundo tenta cumprir o certo. Isso que está acontecendo são pessoas de má
índole que estão querendo acabar com a instituição. Mas veja bem, quem teria
que fazer as coisas, não faz, foram lá fazer acordo com o PCC, com o Marcola. É
uma instituição que tem como melhorar, mas as pessoas de patente alta não
ajudam, não é todo mundo, não podemos generalizar.
Fórum - Como atua um
grupo de extermínio?
P2 - Os “patente
alta” têm uma equipe deles, de Força Tática, de RP, ou de Administração, eles
têm os caras de confiança. Então, o que acontece, ele é o escalante, coloca uma viatura onde
quiser, sai e manda o pessoal fazer o trabalho e tira as viaturas de perto.
Fórum - Então, se
determinado oficial quer fazer uma ação em determinada área, ele tira as outras
viaturas da região para poder atuar?
P2 - Isso. Mas é só
nego grande, não é gente pequena. Sargento é pequeno, essa máfia é coisa
pesada.
Fórum - O que vocês sentem, quando veem a forma como
a Polícia Militar vem sendo tratada, com tanto descrédito?
P2 - Eu sinto pena,
porque entrei na polícia para ser polícia, não vagabundo, vagabundo tem demais
na rua. Então, assim, estou indignado porque o certo é errado, e o errado é
certo e isso está prevalecendo, ou seja, estou sendo acusado por oficiais de
fatos que não cometi, não tenho como provar, estou dependendo de advogados,
pagando esses advogados.
Fórum - Tudo isso
porque não quis participar desses…
P2 - É. Eu fiz o
certo, fiz tudo que está na lei, afrontei um oficial grande, que não gostou de
minha atitude. Estou sendo perseguido, humilhado, não tenho escala, sem
ambiente social, estou sendo ameaçado e passando necessidade na minha casa.
Fórum - Quando o governador
do estado coloca alguém que já comandou a Rota e que tem algumas mortes nas
costas, para comandar a Polícia Militar, vocês sentem que, de alguma forma,
quem está dentro pode entender que é uma carta branca para matar nas ruas?
P2 - De todo jeito
tem [essa carta branca], com ou sem ele.
Fórum - Existem
grupos de extermínio fora da capital e Grande São Paulo?
P2 - Sim, mas a
maior pegada é na Baixada Santista, a Baixada é pior.
Fórum - A corregedoria e a Polícia Civil investigam o
que acontece internamente, na Polícia Militar?
P2 - Só soldado e
cabo. Foi o que eu falei, se eles fizessem um pente fino nos oficiais, vocês
iriam se surpreender, não têm noção do que acontece ali dentro.
P1 - Vocês sabiam
que em 2006, quando começaram os ataques do PCC, os oficiais alugaram quartos
em um determinado hotel de Sorocaba e ficaram se protegendo lá, enquanto que o
policial e sua família estavam morrendo?
P2 - Presta atenção
em algo: o governo quer colocar a população contra a PM. Ele quer, não, está
conseguindo fazer isso.
Fórum - Como fica o
policial que tenta ser correto, ao ver tantos policiais que estão morrendo na
rua?
P2 - Revolta. É
desmotivação.
P1 - Suas ideias
começam a se perder. Como vou dar segurança para a sociedade, se estou correndo
risco de morrer? Começa a ocorrer uma guerra interna na corporação. Pô, você
sai para fazer o patrulhamento e a cabeça fica pensando na mulher que tá em
casa, no filho na escola.
Fórum - Qual o
perfil do policial que atua em grupos de extermínio?
P1 - Calmo, bem
sossegado, você nem imagina que ele seja capaz de fazer esse tipo de coisa.
P2 - E é oficial,
patente alta.
Fórum - Se não partir do governo ou da Secretaria de
Segurança Pública, não haverá mudança?
P2 - Não terá. Ou o
governo limpa o alto escalão da PM, ou vocês não vão conseguir acabar com os
grupos de extermínio. Tudo vem de lá, lá de cima. Ou limpa-se o alto escalão da
PM, ou não haverá jeito.
Fórum - Nunca houve,
dentro da unidade, uma tentativa de denunciar e se levantar contra tudo isso?
P1 - Estamos
sufocados, não tem como. Se você abrir a boca, vai para o Presídio Romão Gomes,
direto.
Fórum - Vocês pensam em sair da polícia?
P2 - Várias vezes.
P1 - Bastante.
Fórum - E porque vocês ficam?
P1 - É a vontade de
fazer o correto, ainda acredito no ideal da Polícia Militar. A coisa mais
gostosa do mundo é quando alguém está passando uma necessidade e você pode
ajudar, aí depois a pessoa te procura e agradece pelo que fez.
P2 - Para que você
tenha uma ideia do que estamos sofrendo. Você já pesou na balança que o que
esses oficiais querem é a mesma coisa que o PCC quer? Você já parou para pensar
que os policiais que morreram é tudo praça? Não tem oficial. Por que? O que nos
chegou é que o acordo determinava que morressem somente praças (patentes
baixas) e em dia de folga. Sabe por que? Para o governo não pagar os R$ 100 mil
que a família tem direito, porque se morrer fardado tem que pagar o seguro que
é R$ 100 mil.
Fórum – O comando da
Polícia Militar, hoje, faz parte desse contexto do crime organizado em São
Paulo?
P2 - Ele é o cabeça
do crime organizado. É simples: o comandante da Polícia Militar, como ele visa
lucro? Multa. A Rodoviária (Polícia) tem uma meta de multa, se não fizer aquele
número ele tá fodido. Se não fizer, é cana.
Fórum – Vocês
identificam que no comando da Polícia existem pessoas que enriqueceram em um
nível que não é compatível com o que ganham?
P2 - (risos) Um
monte.
P1 - Eles têm
motorista particular. Tem notebook, celular, Nextel, carro, que ganham de
parceiros, tudo de graça.
Fórum – O que vocês
pensam da Rota?
P2 - É um mal
necessário. Porque o governo descambou, desmoralizou a Polícia Militar. A Rota
chegou ao extremo, em sua atuação, devido ao comando. O governo usa a Rota como
se fosse escape, perdeu o controle.
Fórum – A PM é
treinada para proteger ou matar?
P2 - Hoje, para
porra nenhuma. Nem treinamento temos, nem bota para trabalhar eu tenho.
Fórum – O Tribunal
de Justiça Militar intimida alguém? Como é a atuação do TJM?
P2 - Só tem coronel lá
dentro. Qual deles tem curso de Direito? Alguém é promotor ou juiz lá? Quantos
policiais inocentes, que não quiserem pertencer a máfia foram parar lá e eles
condenaram? Para que existe isso, esse TJM? Para o alto comando não existe lei,
a lei é eles. Eu quero saber porque oficial não é mandado embora da PM quando
comete um crime? Porque o soldado é expulso e condenado, enquanto o oficial é
transferido?
Fórum – O auto de
Resistência Seguida de Morte está sendo usado da forma correta ou banalizou?
P1 - Até a gente lá
dentro desconfia.
P2 - Está tão na cara
que não é verdade, que não tem mais quem acredite. Se os oficiais inventarem
esse teatro para se proteger, nada acontece. Porque a corregedoria da Polícia
não investiga policiais? Oficial ganha R$ 20 mil por mês? Ganha carro? Eu soube
que oficiais ganharam carros da Honda. Por que a corregedoria não bate pesado
lá em cima?
_____________
Em entrevista, policiais revelam como agem os grupos de extermínio em
São Paulo
Agentes afirmam que esquadrões de morte são
organizados por policiais de “patente alta” e há envolvimento de políticos
Igor Carvalho
Dois policiais militares foram convidados a
participar de grupos de extermínio que se organizam dentro da Polícia Militar
do Estado de São Paulo. Ao recusar o convite, passaram a ser perseguidos dentro
da corporação. P1 e P2, como serão chamados nessa matéria, estão ameaçados de
morte, sofrem com escalas desumanas de trabalho e seguem isolados dos demais
companheiros.
P1 e P2 aceitaram falar, sob condição de anonimato,
com Fórum. Foram
necessários três encontros sem qualquer entrevista gravada, apenas negociando.
Somente na quarta reunião, em um local reservado, no interior de São Paulo, os
agentes decidiram falar. Foram mais de três horas de entrevista, com acusações
que revelam uma estrutura corrompida e precária da Polícia Militar.
Os agentes afirmam que os oficiais de “patente
alta” são responsáveis pela imagem ruim da corporação. Para P1 e P2, a
perseguição a cabos, soldados e sargentos é equivocada. Os assassinatos
feitos por encomenda e o envolvimento com comerciantes, para prestação de
serviços de segurança, tem aval de policiais de alta patente. “A coisa é
grande, é gente grande, tem político envolvido no meio.”
Os números mostram que ações violentas fazem parte
do cotidiano das polícias paulistas. De 2001 até 2011,
policiais em serviço ou em folga foram responsáveis pela morte de 6.809
pessoas, no estado de São Paulo. A cifra é quase o dobro do total de
civis mortos por agentes americanos em todos os estados dos EUA no mesmo
período. Os índices fizeram com que, em maio de 2012, o Conselho de Direitos
Humanos da ONU sugerisse ao Brasil a extinção da Polícia
Militar.
Em 2012, 547 pessoas foram assassinadas em
confronto com a Polícia Militar no estado de São Paulo. Os casos são
registrados com o “auto de resistência seguida de morte”. “Está tão na cara que
não é verdade, que não tem mais quem acredite. Se os oficiais inventarem esse
teatro para se proteger nada acontece”, afirma P2, sobre os autos. Além dos
números oficiais, há uma quantidade grande de homicídios que também podem ser
responsabilidade degrupos de extermínio.
Confira a entrevista
abaixo:
Fórum - Existe grupo de extermínio dentro da PM, no
estado de São Paulo?
P1 - Sim, existe.
Fórum - Como operam esses grupos?
P1 - Como posso
falar? Existem vários interesses que vem desse pessoal, dos comandantes, de
querer algo em troca. É muita autoridade que dão para eles. Ou seja, ele
comanda uma área, essa área é subordinada a ele, que é o chefe, passa
atribuições, passa tais serviços e coloca você para trabalhar para outras
pessoas. É ele que vê para onde a viatura vai ter que se deslocar, quem vê em
quais comércios as viaturas vão ficar. Se você for contra os ideais do comando,
é colocado em um pelotão em que vai ter que fazer alguns serviços desumanos,
questão de horas de serviço, a sua escala vai ser pior, é um jogo mental. As
pessoas que fazem o que eles [comandantes] querem, tem melhor escala, se tornam
protegidos.
Fórum- Fazer o que eles querem, é participar de
grupos de extermínio?
P1- Isso. Se for o
caso, se for chamado para isso. Se você vê alguma coisa e delatar, sua família
e você vão correr risco também. P2
- O que você quer saber é o seguinte: Tudo começa com os oficiais,
não com a gente aqui embaixo. São oficiais, grandões. Quem comanda isso é gente
de patente alta, todo mundo está enganado. Todo mundo só averigua soldado,
cabo, sargento e até um tenente, mas não é, é coronel, é capitão e major. A
coisa é grande, é gente grande, tem político envolvido no meio.
Fórum - Que tipo de político está envolvido no meio?
P2 - Você quer um
exemplo? Na minha unidade tem um sargento que é o capanga de um político, ele é
o testa de ferro dele. Esse cara se tornou o escalante na minha unidade, ele coloca a viatura aonde
quer. Se os caras vão fazer algum tipo de serviço sujo em determinado local,
ele tira a viatura dali e coloca em outro lugar.
Fórum - “Se os caras”? Quem são os “caras”?
P2 - Oficiais.
Capitão e major. Ou mesmo o político. Então, é isso que acontece, só gente
grande. Se nós fizermos algo, acabou pra gente, estamos numa situação de
escravidão. Eu e o colega [outro policial presente na entrevista] estamos numa
situação de escravidão. Estamos passando justamente o que você está
perguntando, se a gente não participa [grupos de extermínio], a gente não
presta.
Fórum - Vocês já participaram?
P2 - Não e não
quero.
Fórum - O que acontece com quem se recusa a
participar dos grupos de extermínio?
P2 - Sofre como
estamos sofrendo: tortura psicológica, escalas, eu fui trancado numa sala, fui
trancado por um sargento, porque estou afrontando um oficial, e ele é o braço
direito desse oficial.
Fórum - Mas já te
intimaram a participar desses grupos?
P2 - Já. Você não
tem noção do que é isso aí, é uma máfia, pior do que o PCC. Você não tem noção
do que é isso aí por dentro.
Fórum - Que tipos de interesses estão por trás desses
grupos?
P1 - Começa com uma
coisa de injustiça. Os policiais percebem que estão fazendo a coisa certa, mas
os bandidos estão sempre saindo pela porta da frente. Aí começa o seguinte, a
pessoa quer fazer justiça com a própria mão, aí a pessoa perde aquele ideal de
proteção à sociedade e passa a oferecer perigo. Tem o envolvimento com o
comércio, se torna um negócio, porque o cara tá precisando de um “serviço” e
falam “ah, tem um cara aí que faz”, aí o cara já matou 10, 12, 15, começa a se
tornar esse comércio de vidas.
Fórum - Estamos vendo chacinas nas periferias da
cidade e na Grande São Paulo. Não me parece que a motivação seja só comercial.
P2 - Aí o problema é
social e de governo. O governo tem autoridade para dar aumento para os
“polícia”, dar rádio, armamento, comunicação, mas ele não faz. O governador não
gosta de polícia, ele só pisa em polícia. O “polícia” está na rua imprensado, o
povo não gosta de polícia e o governo não ajuda, é confronto direto, o que o
camarada faz? “Não tem jeito, vou ter que partir para aquilo, vou ter que
fazer”, e aí começa. Mata um, mata dois, mata dez.
Fórum - Ganha gosto em matar?
P2 - Tem gente que
mata por gosto e tem gente que mata por necessidade. Veja bem: esse sargento
que eu falei corre com gente errada, vagabundo e político. Aí ele ganha poder e
ameaça os policiais da corporação. Chega na gente e fala: “Você tem filho e você
tem pai, vou te matar”. “Ah, o senhor vai matar?”. Antes de o cara me matar, eu
mato ele. Aí começa. Aí é um negócio que não para mais, porque aí você precisa
matar outro, e outro, e não para mais. E tem aqueles que fazem por dinheiro.
Esse sargento ameaçou de morte onze pessoas, tem uma firma em que o cara
contratou ele. Funciona assim, o dono da empresa não quer pagar os direitos dos
funcionários, ele contratou uma policial feminina e um policial, e eles foram
nessa firma. Tem uma sala para eles, eles foram fardados e de viatura. O
sargento recebe os funcionários, coloca a arma na cabeça e fala: “Se você não
pedir a conta, eu mato você”, e ele mata mesmo. Esse cara não trabalha na rua,
trabalha “interno”.
Fórum - Porque vocês acham que morre tanto negro na
periferia?
P1 - O que acontece
é o seguinte, a Polícia Militar de São Paulo é uma instituição forte, em que
todo mundo tenta cumprir o certo. Isso que está acontecendo são pessoas de má
índole que estão querendo acabar com a instituição. Mas veja bem, quem teria
que fazer as coisas, não faz, foram lá fazer acordo com o PCC, com o Marcola. É
uma instituição que tem como melhorar, mas as pessoas de patente alta não
ajudam, não é todo mundo, não podemos generalizar.
Fórum - Como atua um
grupo de extermínio?
P2 - Os “patente
alta” têm uma equipe deles, de Força Tática, de RP, ou de Administração, eles
têm os caras de confiança. Então, o que acontece, ele é o escalante, coloca uma viatura onde
quiser, sai e manda o pessoal fazer o trabalho e tira as viaturas de perto.
Fórum - Então, se
determinado oficial quer fazer uma ação em determinada área, ele tira as outras
viaturas da região para poder atuar?
P2 - Isso. Mas é só
nego grande, não é gente pequena. Sargento é pequeno, essa máfia é coisa
pesada.
Fórum - O que vocês sentem, quando veem a forma como
a Polícia Militar vem sendo tratada, com tanto descrédito?
P2 - Eu sinto pena,
porque entrei na polícia para ser polícia, não vagabundo, vagabundo tem demais
na rua. Então, assim, estou indignado porque o certo é errado, e o errado é
certo e isso está prevalecendo, ou seja, estou sendo acusado por oficiais de
fatos que não cometi, não tenho como provar, estou dependendo de advogados,
pagando esses advogados.
Fórum - Tudo isso
porque não quis participar desses…
P2 - É. Eu fiz o
certo, fiz tudo que está na lei, afrontei um oficial grande, que não gostou de
minha atitude. Estou sendo perseguido, humilhado, não tenho escala, sem
ambiente social, estou sendo ameaçado e passando necessidade na minha casa.
Fórum - Quando o governador
do estado coloca alguém que já comandou a Rota e que tem algumas mortes nas
costas, para comandar a Polícia Militar, vocês sentem que, de alguma forma,
quem está dentro pode entender que é uma carta branca para matar nas ruas?
P2 - De todo jeito
tem [essa carta branca], com ou sem ele.
Fórum - Existem
grupos de extermínio fora da capital e Grande São Paulo?
P2 - Sim, mas a
maior pegada é na Baixada Santista, a Baixada é pior.
Fórum - A corregedoria e a Polícia Civil investigam o
que acontece internamente, na Polícia Militar?
P2 - Só soldado e
cabo. Foi o que eu falei, se eles fizessem um pente fino nos oficiais, vocês
iriam se surpreender, não têm noção do que acontece ali dentro.
P1 - Vocês sabiam
que em 2006, quando começaram os ataques do PCC, os oficiais alugaram quartos
em um determinado hotel de Sorocaba e ficaram se protegendo lá, enquanto que o
policial e sua família estavam morrendo?
P2 - Presta atenção
em algo: o governo quer colocar a população contra a PM. Ele quer, não, está
conseguindo fazer isso.
Fórum - Como fica o
policial que tenta ser correto, ao ver tantos policiais que estão morrendo na
rua?
P2 - Revolta. É
desmotivação.
P1 - Suas ideias
começam a se perder. Como vou dar segurança para a sociedade, se estou correndo
risco de morrer? Começa a ocorrer uma guerra interna na corporação. Pô, você
sai para fazer o patrulhamento e a cabeça fica pensando na mulher que tá em
casa, no filho na escola.
Fórum - Qual o
perfil do policial que atua em grupos de extermínio?
P1 - Calmo, bem
sossegado, você nem imagina que ele seja capaz de fazer esse tipo de coisa.
P2 - E é oficial,
patente alta.
Fórum - Se não partir do governo ou da Secretaria de
Segurança Pública, não haverá mudança?
P2 - Não terá. Ou o
governo limpa o alto escalão da PM, ou vocês não vão conseguir acabar com os
grupos de extermínio. Tudo vem de lá, lá de cima. Ou limpa-se o alto escalão da
PM, ou não haverá jeito.
Fórum - Nunca houve,
dentro da unidade, uma tentativa de denunciar e se levantar contra tudo isso?
P1 - Estamos
sufocados, não tem como. Se você abrir a boca, vai para o Presídio Romão Gomes,
direto.
Fórum - Vocês pensam em sair da polícia?
P2 - Várias vezes.
P1 - Bastante.
Fórum - E porque vocês ficam?
P1 - É a vontade de
fazer o correto, ainda acredito no ideal da Polícia Militar. A coisa mais
gostosa do mundo é quando alguém está passando uma necessidade e você pode
ajudar, aí depois a pessoa te procura e agradece pelo que fez.
P2 - Para que você
tenha uma ideia do que estamos sofrendo. Você já pesou na balança que o que
esses oficiais querem é a mesma coisa que o PCC quer? Você já parou para pensar
que os policiais que morreram é tudo praça? Não tem oficial. Por que? O que nos
chegou é que o acordo determinava que morressem somente praças (patentes
baixas) e em dia de folga. Sabe por que? Para o governo não pagar os R$ 100 mil
que a família tem direito, porque se morrer fardado tem que pagar o seguro que
é R$ 100 mil.
Fórum – O comando da
Polícia Militar, hoje, faz parte desse contexto do crime organizado em São
Paulo?
P2 - Ele é o cabeça
do crime organizado. É simples: o comandante da Polícia Militar, como ele visa
lucro? Multa. A Rodoviária (Polícia) tem uma meta de multa, se não fizer aquele
número ele tá fodido. Se não fizer, é cana.
Fórum – Vocês
identificam que no comando da Polícia existem pessoas que enriqueceram em um
nível que não é compatível com o que ganham?
P2 - (risos) Um
monte.
P1 - Eles têm
motorista particular. Tem notebook, celular, Nextel, carro, que ganham de
parceiros, tudo de graça.
Fórum – O que vocês
pensam da Rota?
P2 - É um mal
necessário. Porque o governo descambou, desmoralizou a Polícia Militar. A Rota
chegou ao extremo, em sua atuação, devido ao comando. O governo usa a Rota como
se fosse escape, perdeu o controle.
Fórum – A PM é
treinada para proteger ou matar?
P2 - Hoje, para
porra nenhuma. Nem treinamento temos, nem bota para trabalhar eu tenho.
Fórum – O Tribunal
de Justiça Militar intimida alguém? Como é a atuação do TJM?
P2 - Só tem coronel lá
dentro. Qual deles tem curso de Direito? Alguém é promotor ou juiz lá? Quantos
policiais inocentes, que não quiserem pertencer a máfia foram parar lá e eles
condenaram? Para que existe isso, esse TJM? Para o alto comando não existe lei,
a lei é eles. Eu quero saber porque oficial não é mandado embora da PM quando
comete um crime? Porque o soldado é expulso e condenado, enquanto o oficial é
transferido?
Fórum – O auto de
Resistência Seguida de Morte está sendo usado da forma correta ou banalizou?
P1 - Até a gente lá
dentro desconfia.
P2 - Está tão na cara
que não é verdade, que não tem mais quem acredite. Se os oficiais inventarem
esse teatro para se proteger, nada acontece. Porque a corregedoria da Polícia
não investiga policiais? Oficial ganha R$ 20 mil por mês? Ganha carro? Eu soube
que oficiais ganharam carros da Honda. Por que a corregedoria não bate pesado
lá em cima?
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Pragmatismo Político 12.07.2013
Soldados israelenses prendem menino palestino de 5 anos
Garoto de 5 anos teria sido retido por ter jogado uma pedra contra um veículo israelense
Soldados de Israel prenderam durante duas horas uma criança palestina de cinco anos na cidade de Hebron, na Cisjordânia, após o menino ter supostamente lançado uma pedra contra um veículo israelense, denunciou nesta quinta-feira (11) a ONG israelense B’Tselem.
O Exercito de Israel, no entanto, negou que a criança tenha sido detida. A ONG, defensora dos direitos humanos nos territórios palestinos, divulgou vários vídeos que mostram os soldados israelenses da Brigada Guivati detendo na terça-feira (9) o menor junto a um posto de controle militar no coração de Hebron.
A ONG afirmou que o menino e seu pai foram interrogados brevemente em uma delegacia palestina e em seguida libertados. O porta-voz do Exército israelense, Roni Kaplan, disse à Agência Efe que a criança não foi detida e que não havia nenhuma acusação contra ela.
Segundo Kaplan, os soldados pediram ao menino para que não jogasse pedras em veículos militares e acompanharam o menor até sua casa, onde ficou sob custódia de seus pais e da polícia palestina.
Vídeo mostra soldados israelenses prendendo criança palestina de cinco anos
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O Globo 19.07.2013
Sociólogo é vítima de sequestro-relâmpago após dar entrevista sobre protestos
Depois de ser pego no Aterro do Flamengo por dois homens armados, Paulo Baía foi levado de carro até a Cinelândia, onde foi liberado
Ele foi alertado pelos sequestradores a não voltar a dar entrevistas nem falar da Polícia Militar
Fabíola Gerbase
RIO - O sociólogo e cientista político Paulo Baía afirma que foi vítima de um sequestro-relâmpago na manhã desta sexta-feira, por volta das 7h10m, quando saía de casa para caminhar no Aterro do Flamengo. Ele foi abordado por dois homens vestidos com moletons e encapuzados, e recebeu como recado que não desse mais nenhuma entrevista como a publicada nesta sexta-feira no GLOBO nem falasse mais nada sobre a Polícia Militar. Na reportagem, o sociólogo analisa o perfil dos grupos que praticam atos mais violentos nos protestos. Lembrando a noite de confrontos no Leblon, na última quarta-feira, ele afirmou que “a polícia viu o crime acontecendo e não agiu. O recado da polícia foi o seguinte: agora eu vou dar porrada em todo mundo”.
— Eles me abordaram quando eu estava numa passagem subterrânea indo para o Aterro, perto de casa. Eram dois homens, de touca ninja e óculos escuros. Eles mostraram que estavam armados e me levaram pelo gramado até a pista do Aterro que vai para Botafogo. Parou ali um Nissan preto, de vidro fumê, e me colocaram no carro sentado entre eles. O motorista e um homem ao lado também estavam de capuz. Só conseguia ver as mãos deles. O motorista era negro, o homem ao lado dele era branco. E os dois que me pegaram eram mulatos. No carro, me deram o recado e não falaram mais nada. Disseram para eu não dar mais nenhuma entrevista como a de hoje no GLOBO e para que eu não falasse mais nada da PM, porque, se eu falasse, seria a última entrevista que eu daria na vida. Eles deixaram as armas visíveis, mas não apontaram para mim — conta Paulo Baía, que é professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo o sociólogo, os sequestradores seguiram em direção a Botafogo pelo Aterro e depois pegaram um retorno para a Praia do Flamengo. Por esse caminho, foram até a Cinelândia, onde ele foi deixado em frente à Biblioteca Nacional. Baía notou que o carro não tinha placas:
— Quando desci do carro, disseram para mim: “o recado está dado”. Em casa, procurei imediatamente o Ministério Público e fiz um registro da ocorrência. Vou levar o caso ao procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira.
Paulo Baía foi recebido na tarde desta sexta na sede do Ministério Público estadual por Marfan Vieira e pelo subprocurador-geral de Justiça de Direitos Humanos e Terceiro Setor, Ertulei Matos. Ele foi orientado a fazer registro do caso numa delegacia policial, mas disse a Vieira que só o faria com a chefe de Polícia Civil, a delegada Martha Rocha. O procurador-geral agendou um encontro entre os dois. Segundo Vieira, o Ministério Público e a Polícia Civil devem buscar as imagens de câmeras instaladas no Aterro e no entorno da Biblioteca Nacional.
— Essa foi uma tentativa de calar uma voz importante no cenário político e acaba por atingir o estado democrático de direito. O caso provavelmente será apurado como sequestro para fins de ameaça — disse o procurador-geral.
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Veja a entrevista do Paulo Bahia
O Globo 19.07.2013
Entre os manifestantes há até criminosos, afirma sociólogo
Cientista político da UFRJ divide vândalos em três correntes
Vera Araújo
RIO - Nem todos que usam roupa preta e uma máscara encobrindo o rosto são integrantes do grupo Black Bloc. Assim como também nem todos os jovens que usam o corte de cabelo do tipo moicano são punks. Os protestos do Rio trouxeram para as ruas várias tribos, anônimas e até ligadas a partidos políticos. Numa pesquisa acadêmica sobre a classe média, que engloba as manifestações de rua, o sociólogo e cientista político da UFRJ Paulo Baía dividiu os grupos que praticam atos mais violentos em três faixas: os que seguem uma política ideológica, aqueles de natureza sociocultural e há ainda as pessoas ligadas ao crime.
— A primeira linha é formada por anarquistas, trotkistas, leninistas, partidos de oposição que acreditam na violência como meio de revolução. A outra faixa tem funkeiros, skinheads e Black Bloc, que se tornaram visíveis com as manifestações, além dos punks e das torcidas organizadas. Por último, temos os bandos com vínculos com facções criminosas, como traficantes, milicianos e bandidos comuns — explicou Baía.
Ao identificar os grupos políticos, o sociólogo ressaltou que percebeu a ação deles em cidades que visitou, como Rio, São Paulo, Recife, Fortaleza, Porto Alegre, Brasília e Belo Horizonte. Ele lembra que há também bombeiros e policiais militares favoráveis à PEC 300, proposta de emenda constitucional que propõe igualar os salários dos militares estaduais de todo o Brasil.
— O que une os manifestantes, levando-os para as ruas, é que todos eles querem ser respeitados e desejam que as instituições funcionem. Não dá para comparar os movimentos de hoje com o Maio de 68 ou a Primavera Árabe, por exemplo. Trata-se de um movimento distinto, mas a maioria quer que o ato criminoso seja coibido. Infelizmente, no episódio do Leblon, a polícia viu o crime acontecendo e não agiu. O recado da polícia foi o seguinte: agora eu vou dar porrada em todo mundo — disse Baía.
Advogada: há pessoas infiltradas
A advogada Eloísa Samy, que presta auxílio jurídico voluntário aos manifestantes, acompanhou alguns protestos e conhece bem os grupos. Ontem, na página na internet dos Black Bloc RJ, ela fez um apelo para que seus integrantes procurassem coibir saques e depredações. Ao GLOBO, ela disse que há pessoas infiltradas nos protestos, com o objetivo de desmoralizá-los.
— O que eu vi foram cerca de dez pessoas infiltradas e insuflando as outras, com sangue nos olhos. Vários manifestantes tentaram evitar que isso acontecesse, mas não deu para segurar. Tinha bandido no meio — disse a advogada. — As pessoas precisam saber que essa situação (de vandalismo) pode acarretar um estado de sítio. O movimento não pode parar.
Eloísa defendeu o Black Bloc, ressaltando que os vândalos não se vestiam totalmente de preto.
— Não conheço os Black Bloc pelo nome, mas é fácil de identificá-los.
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Brasil de Fato 04/04/2013
Homicídios no Brasil superam os de países que vivem em guerra
Entre 2004 e 2007, 147.343 pessoas morreram por armas de fogo no país; No mesmo período, Iraque, Sudão e Afeganistão registraram 101. 400 mortes
Eric Nepomuceno
Entre 2004 e 2007, o conflito armado do Iraque resultou em 76.266 mortos. No Sudão, outro país em convulsão, os mortos foram 12.719, um pouco a mais do que os 12.417 registrados no Afeganistão. No mesmo período, os mortos da Colômbia foram 11.833. Contudo, no Brasil, entre 2004 e 2007, ocorreram 147.343 mortes por armas de fogo. Esses são os dados reunidos pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), que foram divulgados em Brasília (DF).
O número de homicídios é ainda mais impactante quando comparado com o total de vítimas fatais registradas em doze países que viveram conflitos armados. Da República do Congo ao Paquistão, passando pela Somália, por territórios palestinos e por Israel foram 169.574 mortos. Somente em 2010, foram assassinadas 36.792 pessoas no Brasil, uma média de cem por dia ou de quatro por hora. Uma a cada quinze minutos.
Existem outros aspectos, do mapa da violência no Brasil, que chamam a atenção. Se antes as mortes violentas estavam concentradas nos dois maiores centros urbanos, São Paulo e Rio de Janeiro, agora o fenômeno se nacionalizou. Com isso, o Brasil continua ocupando um lugar de destaque entre os países mais violentos do mundo, tomando como base a proporção de assassinatos para cada cem mil habitantes: 20,4 pessoas.
Esse número coloca o Brasil em oitavo lugar entre as cem nações com estatísticas consideradas relativamente confiáveis, segundo a instituição. A média de assassinatos é o dobro daquela que a ONU considera tolerável (dez para cada cem mil habitantes). Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da pesquisa, destaca que a violência se disseminou por todo o país, embora tenha se concentrado no nordeste e no norte.
Em Alagoas, por exemplo, em 2010, foi registrada uma taxa de 55,3 homicídios para cada cem mil habitantes. Trata-se do estado onde mais são assassinados negros e mulheres. Na capital, Maceió, famosa por suas praias e polo de atração turística, essa média é de 94,5 para cada cem mil habitantes. Não apenas é a capital mais violenta do Brasil, mas uma das mais violentas do mundo.
O problema é que outras capitais muito turísticas, como Salvador, também aparecem com índices elevadíssimos (59,6 assassinatos para cada cem mil habitantes). O Rio de Janeiro, oitavo estado com maior proporção de mortos por armas de fogo (26,4 para cada cem mil habitantes), tem uma capital relativamente segura, se comparada com as demais: 23,54. Mais do dobro do índice determinado pela ONU.
São Paulo, o mais rico e povoado estado do país, é um dos quatro, entre os 27 estados brasileiros, que ficam abaixo da marca que a ONU considera “tolerável”: 9,3 assassinatos para cada cem mil habitantes. Foi o estado com a mais significativa diminuição dessa proporção, no período entre 2000 e 2010, com 67,5% menos assassinatos.
No Rio de Janeiro a queda foi de 43%. E no Pará, entre 2000 e 2010, o número de assassinatos cresceu o absurdo de 307%. No vizinho Maranhão, também no norte miserável, aumentou 282,2%. Na Bahia, 195%.
O estudo abrange um período que vai dos dois últimos anos do segundo mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso até o final dos dois mandatos de Lula da Silva . O resultado demonstra que apesar dos governos estaduais, ao longo de todos esses anos, declararem reiteradamente que a segurança pública era tema prioritário (também os governos nacionais bateram na mesma tecla), os resultados são claros e preocupantes.
Há muitas explicações para o fenômeno da violência: o narcotráfico, a grande quantidade de armas (legais e, principalmente, ilegais) em circulação e a própria cultura da violência como via para solucionar conflitos pessoais.
Junto a isso é preciso somar a corrupção policial, a incompetência policial no momento de investigar os crimes, a absurda morosidade e a corrupção da Justiça, o estado degradante e degradado do sistema carcerário.
Em relação à forma como as mortes por armas de fogo se disseminaram rapidamente por todo o país, deixando de se concentrar nos dois ou três maiores centros urbanos do Brasil, a explicação é surpreendente. Segundo a pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, o fenômeno diz respeito à desconcentração industrial e migração interna provocada pela expansão geográfica de atividades econômicas. Ou seja, quanto mais a indústria e a economia se desconcentram, mais a violência segue o mesmo caminho.
A responsabilidade direta da segurança pública é dos estados, ainda que o governo nacional também tenha sua própria política sobre o assunto. De qualquer forma, os resultados observados devem ser atribuídos, principalmente, aos governos estaduais, que se mostram, na maioria das vezes, incapazes de frear a violência que cresce e se dispersa na medida em que aumenta e é disseminada a oferta de trabalho.
Isso tudo faz lembrar um velho ditado brasileiro: “Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come”. São assim as coisas. O país diversifica sua economia, em todas as partes crescem as possibilidades de trabalho, emprego e renda, e também cresce a possibilidade de que, diante de uma política ineficaz de segurança pública, você seja atingido por um tiro.
Pragmatismo Político 12.07.2013
Soldados israelenses prendem menino palestino de 5 anos
Garoto de 5 anos teria sido retido por ter jogado uma pedra contra um veículo israelense
Soldados de Israel prenderam durante duas horas uma criança palestina de cinco anos na cidade de Hebron, na Cisjordânia, após o menino ter supostamente lançado uma pedra contra um veículo israelense, denunciou nesta quinta-feira (11) a ONG israelense B’Tselem.
O Exercito de Israel, no entanto, negou que a criança tenha sido detida. A ONG, defensora dos direitos humanos nos territórios palestinos, divulgou vários vídeos que mostram os soldados israelenses da Brigada Guivati detendo na terça-feira (9) o menor junto a um posto de controle militar no coração de Hebron.
A ONG afirmou que o menino e seu pai foram interrogados brevemente em uma delegacia palestina e em seguida libertados. O porta-voz do Exército israelense, Roni Kaplan, disse à Agência Efe que a criança não foi detida e que não havia nenhuma acusação contra ela.
Segundo Kaplan, os soldados pediram ao menino para que não jogasse pedras em veículos militares e acompanharam o menor até sua casa, onde ficou sob custódia de seus pais e da polícia palestina.
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O Globo 19.07.2013
Sociólogo é vítima de sequestro-relâmpago após dar entrevista sobre protestos
Depois de ser pego no Aterro do Flamengo por dois homens armados, Paulo Baía foi levado de carro até a Cinelândia, onde foi liberado
Ele foi alertado pelos sequestradores a não voltar a dar entrevistas nem falar da Polícia Militar
Fabíola Gerbase
RIO - O sociólogo e cientista político Paulo Baía afirma que foi vítima de um sequestro-relâmpago na manhã desta sexta-feira, por volta das 7h10m, quando saía de casa para caminhar no Aterro do Flamengo. Ele foi abordado por dois homens vestidos com moletons e encapuzados, e recebeu como recado que não desse mais nenhuma entrevista como a publicada nesta sexta-feira no GLOBO nem falasse mais nada sobre a Polícia Militar. Na reportagem, o sociólogo analisa o perfil dos grupos que praticam atos mais violentos nos protestos. Lembrando a noite de confrontos no Leblon, na última quarta-feira, ele afirmou que “a polícia viu o crime acontecendo e não agiu. O recado da polícia foi o seguinte: agora eu vou dar porrada em todo mundo”.
— Eles me abordaram quando eu estava numa passagem subterrânea indo para o Aterro, perto de casa. Eram dois homens, de touca ninja e óculos escuros. Eles mostraram que estavam armados e me levaram pelo gramado até a pista do Aterro que vai para Botafogo. Parou ali um Nissan preto, de vidro fumê, e me colocaram no carro sentado entre eles. O motorista e um homem ao lado também estavam de capuz. Só conseguia ver as mãos deles. O motorista era negro, o homem ao lado dele era branco. E os dois que me pegaram eram mulatos. No carro, me deram o recado e não falaram mais nada. Disseram para eu não dar mais nenhuma entrevista como a de hoje no GLOBO e para que eu não falasse mais nada da PM, porque, se eu falasse, seria a última entrevista que eu daria na vida. Eles deixaram as armas visíveis, mas não apontaram para mim — conta Paulo Baía, que é professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo o sociólogo, os sequestradores seguiram em direção a Botafogo pelo Aterro e depois pegaram um retorno para a Praia do Flamengo. Por esse caminho, foram até a Cinelândia, onde ele foi deixado em frente à Biblioteca Nacional. Baía notou que o carro não tinha placas:
— Quando desci do carro, disseram para mim: “o recado está dado”. Em casa, procurei imediatamente o Ministério Público e fiz um registro da ocorrência. Vou levar o caso ao procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira.
Paulo Baía foi recebido na tarde desta sexta na sede do Ministério Público estadual por Marfan Vieira e pelo subprocurador-geral de Justiça de Direitos Humanos e Terceiro Setor, Ertulei Matos. Ele foi orientado a fazer registro do caso numa delegacia policial, mas disse a Vieira que só o faria com a chefe de Polícia Civil, a delegada Martha Rocha. O procurador-geral agendou um encontro entre os dois. Segundo Vieira, o Ministério Público e a Polícia Civil devem buscar as imagens de câmeras instaladas no Aterro e no entorno da Biblioteca Nacional.
— Essa foi uma tentativa de calar uma voz importante no cenário político e acaba por atingir o estado democrático de direito. O caso provavelmente será apurado como sequestro para fins de ameaça — disse o procurador-geral.
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Veja a entrevista do Paulo Bahia
O Globo 19.07.2013
Entre os manifestantes há até criminosos, afirma sociólogo
Cientista político da UFRJ divide vândalos em três correntes
Vera Araújo
RIO - Nem todos que usam roupa preta e uma máscara encobrindo o rosto são integrantes do grupo Black Bloc. Assim como também nem todos os jovens que usam o corte de cabelo do tipo moicano são punks. Os protestos do Rio trouxeram para as ruas várias tribos, anônimas e até ligadas a partidos políticos. Numa pesquisa acadêmica sobre a classe média, que engloba as manifestações de rua, o sociólogo e cientista político da UFRJ Paulo Baía dividiu os grupos que praticam atos mais violentos em três faixas: os que seguem uma política ideológica, aqueles de natureza sociocultural e há ainda as pessoas ligadas ao crime.
— A primeira linha é formada por anarquistas, trotkistas, leninistas, partidos de oposição que acreditam na violência como meio de revolução. A outra faixa tem funkeiros, skinheads e Black Bloc, que se tornaram visíveis com as manifestações, além dos punks e das torcidas organizadas. Por último, temos os bandos com vínculos com facções criminosas, como traficantes, milicianos e bandidos comuns — explicou Baía.
Ao identificar os grupos políticos, o sociólogo ressaltou que percebeu a ação deles em cidades que visitou, como Rio, São Paulo, Recife, Fortaleza, Porto Alegre, Brasília e Belo Horizonte. Ele lembra que há também bombeiros e policiais militares favoráveis à PEC 300, proposta de emenda constitucional que propõe igualar os salários dos militares estaduais de todo o Brasil.
— O que une os manifestantes, levando-os para as ruas, é que todos eles querem ser respeitados e desejam que as instituições funcionem. Não dá para comparar os movimentos de hoje com o Maio de 68 ou a Primavera Árabe, por exemplo. Trata-se de um movimento distinto, mas a maioria quer que o ato criminoso seja coibido. Infelizmente, no episódio do Leblon, a polícia viu o crime acontecendo e não agiu. O recado da polícia foi o seguinte: agora eu vou dar porrada em todo mundo — disse Baía.
Advogada: há pessoas infiltradas
A advogada Eloísa Samy, que presta auxílio jurídico voluntário aos manifestantes, acompanhou alguns protestos e conhece bem os grupos. Ontem, na página na internet dos Black Bloc RJ, ela fez um apelo para que seus integrantes procurassem coibir saques e depredações. Ao GLOBO, ela disse que há pessoas infiltradas nos protestos, com o objetivo de desmoralizá-los.
— O que eu vi foram cerca de dez pessoas infiltradas e insuflando as outras, com sangue nos olhos. Vários manifestantes tentaram evitar que isso acontecesse, mas não deu para segurar. Tinha bandido no meio — disse a advogada. — As pessoas precisam saber que essa situação (de vandalismo) pode acarretar um estado de sítio. O movimento não pode parar.
Eloísa defendeu o Black Bloc, ressaltando que os vândalos não se vestiam totalmente de preto.
— Não conheço os Black Bloc pelo nome, mas é fácil de identificá-los.
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Brasil de Fato 04/04/2013
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O Dia 04.06.2013
Sujeira e riscos esvaziam abrigos e enchem as
ruas
Vistoria de
comissão da Câmara encontra alimentos fora de validade, percevejos, colchões
inadequados, falta de médicos e banheiros sujos em unidade de Paciência
Constança Rezende
Rio - Mau cheiro, riscos de doenças e abandono.
Tais condições poderiam ser características de quem vive ao relento, mas, na
verdade, é o cenário encontrado por moradores de rua quando chegam ao Rio
Acolhedor, abrigo da prefeitura em Paciência, na Zona Oeste.
O DIA acompanhou a visita da vereadora Teresa
Bergher (PSDB) ao local ontem e constatou várias precariedades, como banheiro
masculino em condições insalubres e sem papel higiênico, alimentos na cozinha
fora da validade, proliferação de percevejos e colchões deteriorados.
Além disso, segundo a
assessora técnica do abrigo, Michele Larrubia, havia 107 pessoas a mais do que
a capacidade do espaço (350) e viciados em crack, tuberculosos, doentes mentais
e alcoólatras conviviam com demais frequentadores. Não há médicos trabalhando
no local, apenas dois enfermeiros e quatro auxiliares de enfermagem.
Foto: Carlos
Moraes / Agência O Dia
Na triagem, onde
ficam 80 pessoas, algumas declararam estar lá há 50 dias, como Paulo Cristiano
Souza, de 19 anos. “Quem não está doente acaba pegando alguma coisa”, disse
Paulo, que tinha picadas de percevejo no peito.
Cosme de Almeida, de
47, alegou que está há dois meses sem conseguir tirar seus documentos e, por
isso, era difícil sua reinserção na sociedade. Ele contou que parte do pouco
dinheiro que recebia como auxiliar de construção era usada para pagar
funcionários do abrigo para lavar suas roupas (cerca de R$ 20).
Em um quarto escuro,
cinco tuberculosos convalesciam. Frequentadores declararam que eles comem no
mesmo refeitório de todos.No banheiro masculino, a reclamação é de mau cheiro,
falta de limpeza e de material como papel higiênico
Foto: Carlos
Moraes / Agência O Dia
A Secretaria de
Desenvolvimento Social informou que estuda ampliar abrigos e atribuiu a
superlotação à chegada do frio e ao aumento do número de ações de abordagem.
Sobre os percevejos
encontrados no local, disse que houve imunização e que os banheiros passam por
faxinas regulares, e a limpeza e a conservação seguem normas de higiene para
ambientes deste porte.
Vereadora: precariedade explica evasão
O cenário de ontem no
abrigo, segundo a vereadora Teresa Bergher, pode explicar o motivo pelo qual
poucas das cerca de 70 pessoas que chegam diariamente ao local, levadas pela
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, declaram que querem permanecer.
Moradores mostram
percevejo: segundo eles, há infestação do inseto
Foto: Carlos
Moraes / Agência O Dia
Ela fará nesta
terça-feira, às 9h30, audiência pública sobre o tema na Câmara. “O abrigo não
oferece nada. Só serve para comer e dormir” afirmou Teresa.
Sônia Silva do
Nascimento, de 54, disse que aguarda desde março para receber tratamento médico
no joelho e na coluna. Outros moradores, que não quiseram se identificar,
relataram truculência por parte dos educadores. “Eles já jogaram até uma pessoa
à força na rua. Teve caso que foi parar na delegacia”.
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El Observador 11.06.2013
Uruguai: governo diz que número de
abortos diminuiu após descriminalização
Segundo o governo, os dados preliminares apontam entre 300 e 400 abortos
por mês no país
Antes da aprovação da lei, o Uruguai registrava mais de 30 mil abortos
por ano
O Uruguai realiza por mês entre 300 e 400 abortos
legais desde a promulgação, em outubro do ano passado, da lei que
descriminalizou a prática até a 12ª semana de gestação. A informação foi
divulgada pelo subsecretário de saúde pública, Leonel Briozzo, nesta
terça-feira.
Em entrevista à rádio universal, Briozzo disse que, com esse número, o Uruguai
chagaria a 4 mil abortos por ano, cifra inferior a estimativa anterior à
aprovação da lei, de 33 mil. Na opinião dele, leis como a aprovada no ano
passado “fazem com que diminua a quantidade de abortos”.
“a prática da despenalização diminui o número de
abortos e abate a mortalidade materna, ou seja, faz com que o aborto seja
seguro”, afirmou. Para ele, o referendo proposto pelo deputado nacionalista
Pablo Abdala para consultar a população sobre o tema “não é a melhor forma de
fixar o tema”.
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Carta das mães Terenas a presidenta Dilma!
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O Dia 04.06.2013
Sujeira e riscos esvaziam abrigos e enchem as
ruas
Vistoria de
comissão da Câmara encontra alimentos fora de validade, percevejos, colchões
inadequados, falta de médicos e banheiros sujos em unidade de Paciência
Constança Rezende
Rio - Mau cheiro, riscos de doenças e abandono.
Tais condições poderiam ser características de quem vive ao relento, mas, na
verdade, é o cenário encontrado por moradores de rua quando chegam ao Rio
Acolhedor, abrigo da prefeitura em Paciência, na Zona Oeste.
O DIA acompanhou a visita da vereadora Teresa
Bergher (PSDB) ao local ontem e constatou várias precariedades, como banheiro
masculino em condições insalubres e sem papel higiênico, alimentos na cozinha
fora da validade, proliferação de percevejos e colchões deteriorados.
Além disso, segundo a
assessora técnica do abrigo, Michele Larrubia, havia 107 pessoas a mais do que
a capacidade do espaço (350) e viciados em crack, tuberculosos, doentes mentais
e alcoólatras conviviam com demais frequentadores. Não há médicos trabalhando
no local, apenas dois enfermeiros e quatro auxiliares de enfermagem.
Foto: Carlos
Moraes / Agência O Dia
Na triagem, onde
ficam 80 pessoas, algumas declararam estar lá há 50 dias, como Paulo Cristiano
Souza, de 19 anos. “Quem não está doente acaba pegando alguma coisa”, disse
Paulo, que tinha picadas de percevejo no peito.
Cosme de Almeida, de
47, alegou que está há dois meses sem conseguir tirar seus documentos e, por
isso, era difícil sua reinserção na sociedade. Ele contou que parte do pouco
dinheiro que recebia como auxiliar de construção era usada para pagar
funcionários do abrigo para lavar suas roupas (cerca de R$ 20).
Em um quarto escuro,
cinco tuberculosos convalesciam. Frequentadores declararam que eles comem no
mesmo refeitório de todos.No banheiro masculino, a reclamação é de mau cheiro,
falta de limpeza e de material como papel higiênico
Foto: Carlos
Moraes / Agência O Dia
A Secretaria de
Desenvolvimento Social informou que estuda ampliar abrigos e atribuiu a
superlotação à chegada do frio e ao aumento do número de ações de abordagem.
Sobre os percevejos
encontrados no local, disse que houve imunização e que os banheiros passam por
faxinas regulares, e a limpeza e a conservação seguem normas de higiene para
ambientes deste porte.
Vereadora: precariedade explica evasão
O cenário de ontem no
abrigo, segundo a vereadora Teresa Bergher, pode explicar o motivo pelo qual
poucas das cerca de 70 pessoas que chegam diariamente ao local, levadas pela
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, declaram que querem permanecer.
Moradores mostram
percevejo: segundo eles, há infestação do inseto
Foto: Carlos
Moraes / Agência O Dia
Ela fará nesta
terça-feira, às 9h30, audiência pública sobre o tema na Câmara. “O abrigo não
oferece nada. Só serve para comer e dormir” afirmou Teresa.
Sônia Silva do
Nascimento, de 54, disse que aguarda desde março para receber tratamento médico
no joelho e na coluna. Outros moradores, que não quiseram se identificar,
relataram truculência por parte dos educadores. “Eles já jogaram até uma pessoa
à força na rua. Teve caso que foi parar na delegacia”.
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El Observador 11.06.2013
Uruguai: governo diz que número de
abortos diminuiu após descriminalização
Segundo o governo, os dados preliminares apontam entre 300 e 400 abortos
por mês no país
Antes da aprovação da lei, o Uruguai registrava mais de 30 mil abortos
por ano
O Uruguai realiza por mês entre 300 e 400 abortos
legais desde a promulgação, em outubro do ano passado, da lei que
descriminalizou a prática até a 12ª semana de gestação. A informação foi
divulgada pelo subsecretário de saúde pública, Leonel Briozzo, nesta
terça-feira.
Em entrevista à rádio universal, Briozzo disse que, com esse número, o Uruguai
chagaria a 4 mil abortos por ano, cifra inferior a estimativa anterior à
aprovação da lei, de 33 mil. Na opinião dele, leis como a aprovada no ano
passado “fazem com que diminua a quantidade de abortos”.
“a prática da despenalização diminui o número de
abortos e abate a mortalidade materna, ou seja, faz com que o aborto seja
seguro”, afirmou. Para ele, o referendo proposto pelo deputado nacionalista
Pablo Abdala para consultar a população sobre o tema “não é a melhor forma de
fixar o tema”.
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Carta das mães Terenas a presidenta Dilma!
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AGÊNCIA BRASIL 07.05.2013

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AGÊNCIA BRASIL 07.05.2013
Ex-traficantes vão contar suas experiências em eventos
da ONU
Cristina Indio do Brasil
Rio de Janeiro – Ex-integrantes de quadrilhas de tráfico de drogas do Rio poderão relatar suas experiências de superação, ao largar o crime, em eventos da Organização das Nações Unidas (ONU). O convite foi feito pelo diretor executivo do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime, Yury Fedotov. A ideia, segundo Fedotov, é que eles compartilhem essas experiências.
"Vamos organizar isso com o Rafael [Rafael Franzini-Batlle, representante do Escritório de Ligação e Parceria, que funciona em Brasília, e faz parte do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime] e com o Afroreggae [organização não governamental-ONG] em alguns eventos em Nova York ou em Viena”, disse.
“A partir desse nosso encontro aqui a gente está em comunicação com o projeto para acertar isso. A gente tem experiência com o tráfico humano e nos nossos eventos temos a presença de representantes de ONGs e de vítimas que contam as suas experiências e porque não com pessoas que estavam envolvidas com o tráfico internacional de drogras?", indagou o diretor da ONU.
O convite foi feito durante uma visita de Fedotov ao Centro Cultural Afroreggae, que funciona na comunidades Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, na zona sul da cidade. No encontro os ex-traficantes relataram suas experiências e como participam, agora, do projeto Comandos e Empregabilidade do Afroreggae.
Roseli dos Santos Costa ainda está presa, cumpre pena de 32 anos. Ela sai da unidade prisional pela manhã para trabalhar como supervisora do Afroreggae e volta à noite. "Pra mim a maior dificuldade de largar a vida do crime era a condição financeira e a falta de dar ordens, mas eu consegui", disse a ex-traficante que tem 45 anos e se envolveu com o tráfico aos 12 anos.
Daniela, de 35 anos, relatou ser parte das estatísticas de mulheres que entram para o crime por causa de maridos e namorados. Segundo ela, isso ficou para trás e agora trabalha para ajudar ex-presidiários. "Hoje faço curso de administração e tenho a oportunidade de colocar egressos do sistema penitenciário no mercado de trabalho", revelou. João Paulo, que também largou o tráfico, disse que estuda em uma faculdade de direito e é coordenador do Projeto Empregabilidade do Afroreggae " Se não fosse o Afroreggae, hoje ou eu estaria morto ou na cadeia", ressaltou.
O secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro, Zaqueu Teixeira, que chefiou a Polícia Civil do Rio de Janeiro, que também participou do encontro, agradeceu a cada um deles pelo trabalho que fazem atualmente. "Vocês tiveram a coragem de dar um salto grande e se libertar de tudo aquilo que não era o caminho de uma sociedade melhor. Vocês estão fazendo a diferença", disse.
Antes do encontro no Centro Cultural Afroreggae, Yury Fedotov e Rafael Franzini-Batlle estiveram Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo. Eles foram recebidos pelo comandante da unidade, Major Felipe Lopes Magalhães dos Reis, e pela presidenta do Instituto Pereira Passa, da prefeitura do Rio, Eduarda La Rocque.
Os representantes da ONU assistiram ao vídeo sobre o trabalho das UPPs no Rio de Janeiro e conheceram as estatísticas do trabalho da UPP Social que é feito nas comunidades pacificadas em parceria com as Nações Unidas. Citando o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, Eduarda La Rocque disse que "não basta chegar com a polícia nas comunidades tem que promover a integração com a população".
Ex-traficantes vão contar suas experiências em eventos
da ONU
da ONU
Cristina Indio do Brasil
Rio de Janeiro – Ex-integrantes de quadrilhas de tráfico de drogas do Rio poderão relatar suas experiências de superação, ao largar o crime, em eventos da Organização das Nações Unidas (ONU). O convite foi feito pelo diretor executivo do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime, Yury Fedotov. A ideia, segundo Fedotov, é que eles compartilhem essas experiências.
"Vamos organizar isso com o Rafael [Rafael Franzini-Batlle, representante do Escritório de Ligação e Parceria, que funciona em Brasília, e faz parte do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime] e com o Afroreggae [organização não governamental-ONG] em alguns eventos em Nova York ou em Viena”, disse.
“A partir desse nosso encontro aqui a gente está em comunicação com o projeto para acertar isso. A gente tem experiência com o tráfico humano e nos nossos eventos temos a presença de representantes de ONGs e de vítimas que contam as suas experiências e porque não com pessoas que estavam envolvidas com o tráfico internacional de drogras?", indagou o diretor da ONU.
O convite foi feito durante uma visita de Fedotov ao Centro Cultural Afroreggae, que funciona na comunidades Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, na zona sul da cidade. No encontro os ex-traficantes relataram suas experiências e como participam, agora, do projeto Comandos e Empregabilidade do Afroreggae.
Roseli dos Santos Costa ainda está presa, cumpre pena de 32 anos. Ela sai da unidade prisional pela manhã para trabalhar como supervisora do Afroreggae e volta à noite. "Pra mim a maior dificuldade de largar a vida do crime era a condição financeira e a falta de dar ordens, mas eu consegui", disse a ex-traficante que tem 45 anos e se envolveu com o tráfico aos 12 anos.
Daniela, de 35 anos, relatou ser parte das estatísticas de mulheres que entram para o crime por causa de maridos e namorados. Segundo ela, isso ficou para trás e agora trabalha para ajudar ex-presidiários. "Hoje faço curso de administração e tenho a oportunidade de colocar egressos do sistema penitenciário no mercado de trabalho", revelou. João Paulo, que também largou o tráfico, disse que estuda em uma faculdade de direito e é coordenador do Projeto Empregabilidade do Afroreggae " Se não fosse o Afroreggae, hoje ou eu estaria morto ou na cadeia", ressaltou.
O secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro, Zaqueu Teixeira, que chefiou a Polícia Civil do Rio de Janeiro, que também participou do encontro, agradeceu a cada um deles pelo trabalho que fazem atualmente. "Vocês tiveram a coragem de dar um salto grande e se libertar de tudo aquilo que não era o caminho de uma sociedade melhor. Vocês estão fazendo a diferença", disse.
Antes do encontro no Centro Cultural Afroreggae, Yury Fedotov e Rafael Franzini-Batlle estiveram Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo. Eles foram recebidos pelo comandante da unidade, Major Felipe Lopes Magalhães dos Reis, e pela presidenta do Instituto Pereira Passa, da prefeitura do Rio, Eduarda La Rocque.
Os representantes da ONU assistiram ao vídeo sobre o trabalho das UPPs no Rio de Janeiro e conheceram as estatísticas do trabalho da UPP Social que é feito nas comunidades pacificadas em parceria com as Nações Unidas. Citando o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, Eduarda La Rocque disse que "não basta chegar com a polícia nas comunidades tem que promover a integração com a população".
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O Globo 01.06.2013
Cristais de MDMA
que embalam as noites do Rio
Droga é chamada
pelos usuários de ‘Michael Douglas’
Catharina Wrede
RIO - É sábado à
noite e a estudante A., de 23 anos, se arruma para sair. Junto com a carteira,
o celular e as chaves de casa, coloca na bolsa um frasco pequenino. Dentro
dele, cristais de MDMA (abreviação de metilenodioximetanfetamina) dissolvidos
em quatro dedos d’água. Já na festa, com a ajuda de um conta-gotas, pinga
generosas doses do líquido no drinque que comprou e bebe.
Após a ingestão,
A. descreve um cardápio de sensações que costuma sentir: as cores saltam aos
olhos, a música ganha uma melodia diferente e um simples toque de braços traz
um prazer à flor da pele junto com a promessa de uma noite sem fim.
À primeira vista
(gole?) inebriante, o MD — ou “Michael Douglas”, como também é chamado pelos
jovens — pode provocar consequências nada glamourosas. Depressão, diminuição da
produtividade e dependência química e psicológica são alguns dos efeitos
colaterais. Cada vez mais popular no Brasil, os cristais amarronzados estão tão
presentes na noite carioca hoje quanto a cocaína nos anos 1980 e 1990, desbancando
outras substâncias químicas ilícitas populares entre os jovens até então, como
o ecstasy e o ácido.
— O MD é o
princípio ativo do ecstasy. Podemos dizer que é uma cocaína mais fraca e também
tem efeito mais brando que o LSD. Claro, tudo dependendo da quantidade ingerida
— explica a chefe do Setor de Dependência Química e Outros Transtornos do
Impulso, da Santa Casa da Misericórdia do Rio, Analice Gigliotti. — É um
estimulante e mexe com o sistema nervoso central, causando alterações na
percepção das cores, da luminosidade e dos sons.
Os números
traduzem o aumento do consumo da droga. Segundo o Instituto de Segurança
Pública (ISP), os últimos dados computados e divulgados pelo Instituto de
Criminalística Carlos Éboli apontam um aumento de 347,3% na apreensão de MD de
2010 para 2011. Ou seja: se em 2010 a quantidade de MD apreendida foi de 123,9
gramas, em 2011 o número subiu para 554,2 gramas. Segundo o ISP, os dados de
2012 ainda não estão disponíveis. Apesar da maconha ainda continuar sendo a
droga mais consumida, o MD é a mais usada entre as substâncias sintéticas,
deixando o LSD em segundo lugar.
— Há algum tempo
falava-se que o ecstasy não causava dependência. Hoje sabemos que isso não é
verdade. Tenho pacientes dependentes de MDMA e outros que ingerem dez, 15
comprimidos de ecstasy por noite. O tratamento nesses casos é feito com
medicamentos e psicoterapias cognitivas e comportamentais — afirma Analice
Gigliotti.
Criado em
laboratório, o MDMA é considerado por especialistas uma droga recente, com
estudos ainda prematuros a respeito. De acordo com o artigo “An exploration for
the history and controversies surrounding MDMA and MDA”, de Alana R. Pentney,
publicado no site da organização americana Maps (Multidisciplinary Association
for Psychedelic Studies), o primeiro registro de preparação da substância data
de 1912, na Alemanha. Após ser usada experimentalmente com fins terapêuticos, a
droga acabou sendo considerada ilegal em 1980.
— O estudo do MD é
embrionário no mundo inteiro, mas no Brasil ele ainda é inexistente — diz o
psicoterapeuta curitibano Daniel Rezinovsky, professor do curso Enteógenos e
Estados Alterados da Consciência, ministrado no último fim de semana na Comuna,
em Botafogo, em que o MDMA foi um dos tópicos. — O interessante dessa
substância é que ela vem se provando promissora em tratamentos pós-traumáticos
em veteranos de guerra, em experimentos nos Estados Unidos, por exemplo. Mas é
muito importante diferenciar o ambiente clínico, em que tudo é calculado, do
ambiente das baladas, em que a droga é ingerida sem controle algum, muitas
vezes misturada com outras substâncias.
A cerca de R$ 150
a grama (quantidade geralmente consumida por duas ou três pessoas numa noite),
o MD é mais consumida em festas de classe média alta.
— Não é tão fácil
comprar o MD quanto a maconha. Mas quem vive na noite acaba conhecendo quem
vende. Geralmente algum estudante da faculdade me vende — conta A., que também
é usuária de maconha.
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Agência EFE 29/05/2013
Equador insiste que Reino Unido conceda
salvo-conduto para Julian Assange.
Fundador do Wikileaks, Julian Assange está asilado
há quase um ano na Embaixada do Equador, em Londres
Quito – O chanceler equatoriano, Ricardo Patiño,
antecipou hoje (29) que entregará um novo documento ao Reino Unido com
fundamentação jurídica sobre a necessidade da entrega de um salvo-conduto ao
fundador do Wikileaks, Julian Assange, asilado há quase um ano na Embaixada do
Equador em Londres.
Patiño disse que um novo documento "de
profunda análise jurídica", baseado no direito internacional humanitário já
está pronto e que, na sua opinião, reforça as razões do Equador para insistir
no salvo-conduto.
"O governo do Reino Unido tem todas as
atribuições e possibilidades de concedor o salvo-conduto", disse Patiño em
entrevista à imprensa local ao antecipar, inclusive, a possibilidade de
realizar uma viagem "muito curta" para entregar o documento e
eventualmente visitar Assange pela primeira vez.
O titular da diplomacia equatoriana disse ter sido
surpreendido pela falta do salvo-conduto. "Nos surpreende que tenha se
passado um ano em que um país que respeita e defende os direitos humanos tenha
sido insensível perante uma situação humanitária de um cidadão do mundo",
disse. "Não é certo o governo britânico não oferecer um
salvo-conduto", comentou, ao apontar que, na sua opinião, "o país
está violando os direitos humanos de Assange".
O chanceler acrescentou que "insistirão que o
Governo britânico revise sua posição e já conceda o salvo-conduto". O
governo britânico se nega a conceder um salvo-conduto para que Assange deixe a
embaixada e insiste que é preciso extraditá-lo para a Suécia, onde é
investigado por supostos delitos sexuais.
O fundador do Wikileaks, portal que divulgou
milhares de dados diplomáticos confidenciais, especialmente americanos, nega as
acusações de delitos sexuais e teme ser enviado desde Suécia aos Estados
Unidos, onde está sendo julgado o soldado Bradley Manning, que já se declarou
culpado por filtrar documentos.
Na semana passada, Patiño anunciou que está
organizando algumas atividades para comemorar em 19 de junho o primeiro
aniversário da chegada do australiano Assange à embaixada equatoriana em
Londres.
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O Globo 27/05/13
Crianças à espera de um lar.
Apenas 10% dos menores que vivem em abrigos estão
aptas a ganhar uma nova família
Fernanda Pontes
RIO - O engenheiro Carlos Roberto da Silva Barbosa,
de 44 anos, sempre quis ser pai, mas nunca teve a preocupação de se casar. Em
2007, mesmo solteiro, resolveu adotar uma criança.
Passou a frequentar grupos de apoio e ingressou no
programa “Apadrinhamento afetivo”, direcionado à menores com poucas
perspectivas de adoção. Num abrigo de Marechal Hermes, conheceu, em 2012,
Christofer, de 12 anos. Após quatro meses de convivência com o menino, Carlos
conseguiu realizar seu sonho. Pai e filho comemoraram neste domingo, na 4ª
Caminhada em Defesa da Adoção, que reuniu cerca de 600 pessoas na Praia de
Copacabana, o final de uma história tão feliz quanto rara: um levantamento do
Módulo Criança e Adolescente do Ministério Público Fluminense revela que, das
2.377 crianças que vivem em abrigos públicos no Estado do Rio, apenas 235 —
aproximadamente 10% — estão aptas para adoção. Hoje, 1.008 aguardam o
julgamento de ações de destituição do poder familiar. O restante simplesmente
espera o retorno para os parentes.
— Antes de abrirmos um processo de adoção,
precisamos verificar a família de origem e o cadastro nacional de crianças
desaparecidas. Nos casos de filhos de dependentes químicos levados para
abrigos, é necessário saber se os pais estão fazendo tratamento. Essa condição
não permite a concessão da guarda para uma outra família, pois a criança pode voltar
aos pais — explica a juíza Mônica Labuto, titular da 1ª Vara da Infância e do
Idoso da Regional de Madureira, que recebe processos de bairros das zonas Norte
e Oeste.
Segundo a juíza, a rotatividade entre os menores
aptos para adoção é alta, mas muitos não querem entrar nesse seleto grupo.
— Há crianças maiores que não estão disponíveis
porque elas simplesmente não querem. Dos menores abrigados, 40% são
adolescentes. Alguns têm irmãos dentro dos abrigos e preferem ficar com eles —
afirma Mônica.
Fila ‘emperra’ com exigências
No Brasil, a lista de pessoas que querem adotar uma
criança tem 29.454 nomes, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça. No Rio,
são 2.161 pretendentes. Meninas brancas recém-nascidas e com saúde perfeita são
as mais procuradas, uma exigência que eleva o tempo médio de espera para cinco
anos.
— A realidade nos abrigos públicos é bem diferente
desse perfil desejado pela maioria dos aspirantes a pai ou mãe. Meninos
mestiços, com idade entre 8 e 10 anos, formam a maioria dos órfãos, e muitos
deles integram grupos de irmãos, o que dificulta a adoção — afirma Daniela
Vasconcellos, promotora da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Rio.
Para a Justiça, o ideal é que um órfão fique, no
máximo, seis meses num abrigo. As crianças que não conseguem uma família no Rio
podem ser adotadas em outros estados graças ao chamado Cadastro Único, que
funciona no país desde 2009 e que possibilitou, por exemplo, o ingresso de um
menino carioca de 12 anos numa família do interior do Rio Grande Sul.
— Como descobriríamos essa família se não fosse o
Cadastro Único? — diz a juíza Mônica Labuto.
Após esgotadas todas as tentativas de adoção em
território nacional, órfãos brasileiros são oferecidos a pretendentes do
exterior — a Itália é o país que mais adota crianças nascidas aqui, seguida da
França. No entanto, o número de menores que ganham pais estrangeiros vêm
caindo, informa a secretária-executiva da Comissão Internacional de Adoção no
Rio, Ludmilla de Azevedo:
— Em 2011, 53 crianças foram adotadas por
estrangeiros no Rio. No ano passado, foram 18. Essa queda certamente está
relacionada à crise financeira na Europa. É uma pena, pois a Itália, que tem a
maioria dos pretendentes, costuma optar por grupos de irmãos.
A advogada Dalia Tayguara e sua parceira Eva
Andrade levaram as duas filhas para a caminhada em Copacabana, que começou às
9h30m no Posto 6. Para a família, o evento, que homenageou o Dia Nacional da
Adoção, celebrado no sábado, foi uma festa: também egressa do programa
“Apadrinhamento afetivo”, a menina mais velha, Thamara Letícia, de 12 anos,
chegou neste domingo à casa da família, em Realengo. A caçula, Daísa Vitória,
de 9 anos, foi adotada em 2009.
— Optamos por crianças maiores e, por isso, nosso
processo acabou sendo muito rápido — conta Dalia, que pediu que a filha fosse
negra, um outro facilitador. — Não enfrentamos problema algum durante o período
de convivência.
Para a juíza Mônica Labuto, iniciativas como as de
Carlos, Dalia e Eva estão “aumentando as oportunidades” de adoção no estado.
— A adoção monoparental e homoafetiva costuma ser
bem-sucedida porque parte de pessoas que têm os pés no chão, que não estão em busca
da família perfeita. Elas fazem menos exigências na hora de adotar. Em geral,
são pessoas que sofreram preconceito e querem mudar isso. Temos vários exemplos
de sucesso — afirma a juíza.
A caminhada de ontem, segundo a advogada Silvana do
Monte Moreira, teve como objetivo lembrar que uma adoção não deve acabar apenas
com os anseios dos futuros pais — é também um meio de atender às necessidades
de uma criança. Um dos fatores mais preocupantes do processo é a possibilidade
de rejeição: no Rio, 168 menores foram devolvidos a abrigos. São casos que o
Ministério Público trata como “tentativas de colocação malsucedidas”.
Professora adotou casal
Silvana cita como “belo exemplo de cidadania” a
iniciativa da professora Eliane Carrão, que adotou um casal de irmãos, Leandro
e Sabrina.
— Disseram para mim que Sabrina era especial por
ter um dos braços mais curtinhos. Com o passar do tempo, descobri que ela tem
um problema grave na coluna e que Leonardo é deficiente auditivo. Não importa,
são meus filhos e estamos felizes — diz Eliane, que participou do evento em
Copacabana com as crianças.
O desembargador Siro Darlan, o primeiro a conceder
a guarda de uma criança a um casal de homossexuais no Rio, em 1996, abriu
caminho para a formação de várias famílias que estavam na caminhada, da qual
também participou. Ele concluiu, por exemplo, o processo de Maria Vitória, hoje
com 10 anos, adotada pela funcionária pública Cristiane Carvalho. Agora,
Cristiane e sua parceira, Sílvia Guimarães, tentam levar para casa um bebê.
— Qualquer criança tem direito ao convívio familiar
— frisa Darlan.
A situação dos abrigos do Rio é outro assunto muito
discutido entre defensores da causa. No ano passado, o Ministério Público
apresentou uma ação contra a prefeitura na qual exigiu a abertura de 250 vagas
nas casas de assistência social ou no “Família acolhedora”, programa do
município que paga famílias credenciadas para cuidar de órfãos.
— Os abrigos deixam a desejar. Temos um com 57
meninos que deveria receber, no máximo, 20. A estrutura de todos é precária. O
Estatuto da Criança e Adolescente prevê que os abrigos tenham características
de casa, mas a maioria parece institutos de correção — lamenta a promotora
Daniela Vasconcellos.
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O Globo 28.06.2013
Uma droga nova a cada semana na Europa
LISBOA - O novo Informe Europeu sobre Drogas,
apresentado nesta terça-feira em Lisboa, revela uma profusão alarmante de novas
drogas sintéticas, produzidas em grande escala em China e Índia, entre outros
países, e distribuídas pela Europa. O ritmo de criação de novas substâncias é
crescente. De acordo com o Centro de Monitoração Europeu para Drogas e
Toxicomania e a Europol, em 2012 foram detectadas 73 novas drogas, quase uma
por semana - um número bem acima das 49 observadas em 2011. Por outro lado, o
estudo mostra um número menor de novos usuários de heroína, menos uso de drogas
injetáveis e declínio no uso de maconha e cocaína em alguns países.
Segundo Ana Gallegos, responsável pelo Sistema de
Alerta Rápido de Detecção do centro, há um risco evidente nas novas drogas:
- As pessoas não sabem o que estão usando. No ano
passado, uma substância derivada da anfetamina, mas mais danosa, causou 20
mortes em seis meses de uso. As pessoas tomavam pensando que eram anfetaminas,
mas não era - disse Ana.
Informe da UE alerta para a explosão de substâncias
sintéticas vindas da Ásia.
Cai consumo de cocaína e heroína nos países da
região.
Maconha: uso de novas
substâncias cresce na Europa, enquanto alguns países registram queda nas drogas
mais conhecidas
O problema indica a especialista, é que os
laboratórios que analisam e detectam novas substâncias estão atrasados em
relação aos que as criam. A Internet, além disso, se converteu em um meio
eficaz de compra.
- O mundo das drogas se tornou muito mais dinâmico
e complexo - afirmou Wolfgang Goetz, diretor do centro.
Falta de dados dificulta
estabelecer efeitos a longo prazo.
Muitos dos produtos à venda contêm uma mistura de
substâncias, e a falta de informações farmacológicas e toxicológicas torna
difícil especular as implicações do uso a longo prazo, ressalta o estudo. Um
exemplo das novas drogas é a mephedrone, conhecida como meow meow e descrita
como uma mistura de anfetaminas, cocaína e ecstasy.
Por outro lado, o consumo das chamadas drogas
conhecidas está caindo. No caso da heroína, o relatório ressalta que em 2007 o
número de pessoas que começaram tratamento para desintoxicação era de 59 mil.
Em 2011, esse índice caiu para 41 mil.
Comissária Europeia do Interior, Cecilia Malmstroem
considera os dados encorajadores, principalmente com a queda de infecções por
HIV decorrentes do compartilhamento de seringas. Mas ressalta que os números
continuam altos: um quarto dos adultos do continente (cerca de 85 milhões de
pessoas) já usou alguma droga ilícita:
- O fato de mais de 70 novas substâncias terem sido
detectadas no último ano prova que as políticas antidrogas precisam se adaptar
às mudanças.
Também o consumo de cocaína se reduziu. A Espanha -
o segundo país em consumo no continente, depois do Reino Unido - reflete essa
tendência. Em 2011, o número de espanhóis que admitiam ter provado cocaína ao
menos uma vez foi de 8,8%. Em 2009, esse índice era de 10,2%. Igualmente o
consumo de haxixe registrou uma leve queda na Europa.
A apreensão em Portugal e Espanha também caiu
significativamente: em 2006, eram apreendidas cerca de 80 toneladas de drogas
ao ano. Em 2011, a quantidade não passou de 20 toneladas. Isso, no entanto,
pode não significar uma queda no consumo, mas que os traficantes estariam
usando outras rotas para chegar ao mercado europeu.
O estudo alerta que o consumo de drogas “é uma das
principais causas de mortalidade entre jovens na Europa, tanto diretamente
(overdose) como por doenças relacionadas, acidentes, atos de violência ou
suicídios.
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UOL 14/01/201
Adolescente de 16
anos é morto em unidade de internação de menores em Brasília
Hosa Freitas
O adolescente André
Gonçalves Fortunado, de 16 anos de idade, foi assassinado neste domingo (13)
dentro da UIPP (Unidade de Internação do Plano Piloto), antigo Caje (Centro de
Atendimento Juvenil Especializado), em Brasília.
A causa exata da
morte será divulgada em torno de 30 dias, quando o IML (Instituto Médico Legal)
emitir o laudo técnico. A informação até o momento é que a causa da morte está
sendo investigada por enforcamento e afogamento no vaso sanitário.
Segundo a delegada
que está apurando o caso, Mônica Ferreira, o menor já tinha três passagens pela
polícia, por roubo e por porte de arma. Ainda segundo ela, o crime foi por
motivo fútil. "O rapaz dividia o quarto com outros adolescentes que
confessaram o assassinato e alegaram que André xingou a mãe de um deles",
explicou Mônica, que trabalha na Delegacia da Criança e do Adolescente,
localizada na asa norte.
Ainda de acordo com
a delegada, os adolescentes, um de 16 anos e outro com 17 anos, também tinham
passagens pela polícia por roubo, lesão corporal, tentativa de latrocínio e
após apuração deste caso poderão ter o prazo de internação prorrogado, podendo
chegar até o período em que eles completarem 21 anos de idade.
Na avaliação da
delegada, o assassinato não foi por falta de fiscalização dos atendentes de
reintegração social e nem por briga de gangues rivais -- os internos eram de
cidades satélites diferentes.
André Gonçalves era
de Samambaia e os outros dois de Ceilândia e São Sebastião, todas localizadas
no Distrito Federal. "A banalização
da vida, a falta de estruturação familiar e investimentos na educação são os
principais fatores de crimes como este", afirmou Ferreira.
A Secretaria da
Criança abriu sindicância para apurar o que aconteceu dentro da UIPP e, se for
constatada falha na orientação ou fiscalização, os atendentes de reintegração
social que estavam responsáveis pelos adolescentes poderão ser punidos.
De acordo com
servidores da secretaria, uma comissão passou a madrugada ouvindo os
funcionários que trabalhavam no módulo no momento em que o adolescente foi
assassinado.
Histórico
Em 2012, em um
período de menos de 30 dias entre agosto e setembro, três jovens foram
assassinados em unidades de internação do DF. À época, o Departamento de
Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de
Medidas Socioeducativas (DMF/CNJ) inspecionou a maior unidade de internação do
DF, a UIPP, onde o adolescente voltou a ser morto domingo.
Nesta segunda, o CNJ
(Conselho Nacional de Justiça) afirmou que vai pedir informações sobre a morte
do jovem. Foi a primeira morte registrada no sistema socioeducativo do Distrito
Federal em quatro meses.
"É inconcebível
o assassinato de um jovem sob a custódia do Estado. Isso é consequência da
superlotação da unidade de cumprimento de medidas socioeducativas do Distrito
Federal", afirmou nesta segunda o coordenador do DMF/CNJ, juiz Luciano
Losekann. Atualmente, a UIPP tem cerca de 160 vagas, mas abriga mais de 350
internos
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RBA 27/05/2013
Com 3 milhões de
jovens, São Paulo padece com falta de políticas específicas
Coordenadoria da
Juventude, deslocada por Haddad para estrutura de direitos humanos, precisa
transformar R$ 500 mil e oito funcionários em inspiração para garantir avanços
Tadeu Breda

Jovens têm demandas e direitos específicos.
A RBA publica a
partir de hoje uma série de reportagens sobre a juventude brasileira. 51
milhões de pessoas, ou 37% da população entre 15 e 29 anos, os jovens padecem
da falta de políticas públicas específicas. Quando existem, no geral são
trabalhadas sob a perspectiva de que o jovem é um problema em potencial, e não
o responsável por ideias inovadoras e o ator da conquista de novos direitos.
Exemplo desta ausência de propostas direcionadas é São Paulo, que, com três milhões
de jovens, tenta agora fazer de limões magros uma limonada.
São Paulo – Dona do
maior contingente jovem do país e palco de problemas sociais que atingem
especialmente a população com idade entre 15 e 29 anos, São Paulo parece ainda
não ter despertado para a necessidade de estabelecer políticas públicas
especificamente destinadas à juventude. ONGs, movimentos e entidades denunciam
o reduzido espaço do tema dentro da administração municipal, que lhe dedica
poucos funcionários e baixo orçamento. A estrutura está aquém da realidade
paulistana. E se mostra ainda mais tímida se comparada à de outras capitais do
país.
A prefeitura mandou
à Câmara Municipal em abril o Projeto de Lei 237/2013 para reestruturar
oficialmente suas secretarias. Aprovadas em maio, as mudanças priorizam as
pastas de Direitos Humanos e Cidadania, Políticas para as Mulheres e Promoção
da Igualdade Racial – todas elas criadas pela gestão Fernando Haddad (PT). As
novas secretarias ficarão com 110 dos 348 novos cargos que o Executivo pretende
viabilizar junto aos vereadores para pôr em prática uma de suas principais
bandeiras de campanha: maior acesso dos paulistanos aos direitos da cidadania.
Durante a
administração de Gilberto Kassab (PSD), as questões da juventude eram tratadas
dentro da Secretaria de Participação e Parceria – que desapareceu com a
ascensão do PT. A equipe herdada pela gestão atual é bastante reduzida: cinco
cargos de confiança e três estagiários. A Coordenadoria de Juventude, hoje
atrelada à Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, conta ainda com um
auxiliar em cada uma das 31 subprefeituras da cidade, cujas funções foram
muitas vezes desvirtuadas na gestão passada – e hoje ainda carecem de
atribuição legal específica.
A reforma proposta
pelo Executivo municipal deverá aumentar o número de quadros na coordenadoria,
mas não na mesma proporção das outras áreas sociais. Caso seja aprovada, a
reestruturação adicionará apenas mais três cargos à equipe da juventude em São
Paulo. O time ficaria, portanto, com oito pessoas. O número de estagiários
também deve aumentar dos três, que existem hoje em dia, para dez. "Além
disso, estamos pedindo mais três servidores", afirma o coordenador de
Juventude de São Paulo, Gabriel Medina. "Queremos chegar a uma equipe de
pelo menos 20 pessoas."
Insuficiente
É um número tímido
se comparado ao de outras capitais brasileiras. Recife, por exemplo, conta
desde janeiro com uma secretaria dedicada ao tema. "Os jovens são os que
mais sofrem com o desemprego na capital pernambucana, que é também a sexta
cidade do país onde mais jovens são mortos de forma violenta", diz Marília
Arraes, secretária de Juventude e Qualificação Profissional. A pasta conta com
uma equipe de 60 pessoas. "Nosso objetivo é qualificar cada vez mais
jovens, para que eles possam ser inseridos no mercado de trabalho e afastar-se
da criminalidade."
Porto Alegre
instituiu uma Secretaria de Juventude há mais tempo: em 2005. Atualmente, 35
pessoas atuam na pasta, sendo dez estagiários. "A secretaria tem como
missão planejar e executar políticas públicas para juventude com a participação
de toda administração e da sociedade, através do Conselho da Juventude, de
forma transparente, ética e eficaz, baseados nos princípios da transversalidade",
diz a assessoria de imprensa da prefeitura de Porto Alegre, destacando projetos
com música, grafite e skate.
A pequenez da
Coordenadoria de Juventude de São Paulo também se verifica quando ontrastamos
sua estrutura com o universo jovem da cidade. De acordo com o IBGE, a capital
abriga 2,9 milhões de pessoas com idade entre 15 e 29 anos. O número representa
25% da população paulistana, que atualmente gira em torno dos 11,2 milhões de
habitantes. Em Recife existem 250 mil jovens e, em Porto Alegre, ao redor de
350 mil. Ou seja, as capitais pernambucana e gaúcha possuem mais gente
trabalhando com juventude do que a prefeitura paulistana – apesar de terem
contigente bem menor de jovens.
"A equipe é
muito reduzida para a tarefa de construir políticas públicas para a juventude
numa cidade que não as tem nem nunca teve", analisa Gabriel di Pierro,
membro do Grupo de Trabalho de Juventude da Rede Nossa São Paulo. "O
orçamento também não é adequado. Embora a coordenadoria seja muito mais uma
articuladora de iniciativas governamentais e não precise tanto de verbas para
execução das políticas, ela necessita recursos mínimos para promover
interlocução com os demais órgãos do Estado, aprofundar discussões com a
sociedade e produzir informação."
A Coordenadoria de Juventude
não tem dotação orçamentária fixa, mas costuma trabalhar com um repasse anual
de aproximadamente R$ 500 mil. "Só o mapeamento da juventude paulistana,
que é urgente e necessário para entender como se comporta essa população, custa
cerca de R$ 1 milhão." O representante da Rede Nossa São Paulo pondera que
a coordenadoria pode contabilizar entre seus quadros os auxiliares de juventude
nas subprefeituras. "Mas eles recebem um salário líquido de apenas R$
700", ressalta. "A remuneração vai definir o perfil das pessoas que
ocuparão esses cargos. Também vai dificultar sua permanência no posto."
Multiplicação
Carente de recursos
humanos e financeiros, a ideia do coordenador de Juventude é tentar multiplicar
as poucas verbas de que dispõe influenciando a formulação de políticas públicas
nos demais órgãos da administração municipal. "Queremos produzir
inteligência, informação, diagnósticos e processos de participação para
conseguir fazer com que esses R$ 500 mil se transformem em muitos milhões executados
pelas outras secretarias", revela Gabriel Medina. "A partir do nosso
pequeno orçamento, podemos transversalizar as políticas de juventude e chegar a
um orçamento grande. Depende de conseguir convencer cada pasta."
Talvez por isso Di
Pierro argumente que não é tão necessário elevar a juventude à condição de
secretaria municipal para que o tema se espraie pela gestão. "O que
importa é o conteúdo", defende. "Seja coordenadoria ou secretaria,
ela precisa ter a capacidade de promover interlocução com outras secretarias e
com a juventude da cidade, mapeando as demandas. Precisa ser capaz de fazer as
políticas públicas chegarem aos jovens, lá onde eles moram, com um olhar
específico para suas necessidades."
Não foi o que
ocorreu na gestão passada: nos últimos oito anos, São Paulo teve oito
diferentes coordenadores de Juventude. As entidades – e a própria gestão atual
– avaliam que as mudanças constantes dificultaram o estabelecimento de uma
política "estruturada" para o setor. O fato de estar submetida à
Secretaria de Participação e Parceria também conferia um caráter menos
propositivo à coordenadoria, que em grande medida se dedicava a apoiar eventos
organizados pela sociedade civil.
"Se a juventude
é o maior contingente populacional da cidade, isso merece um destaque maior
dentro do governo", propõe Douglas Belchior, representante da União de
Núcleos de Educação Popular (Uneafro), para quem a administração Fernando
Haddad deveria, sim, criar uma Secretaria de Juventude. "A prefeitura
criou pastas específicas para igualdade racial e mulheres. A juventude precisa
do mesmo tratamento." Na ausência de medidas mais simbólicas, Belchior
avalia que a atual gestão está apenas mantendo o mesmo "espaço
diminuto" que já existia na era Kassab.
Prioridades
Segundo o representante
da Uneafro, isso dá a entender que o tema não é uma prioridade para o governo.
"Se está dentro da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, entendemos
que a juventude vem sendo tratada como uma questão relacionada principalmente à
violência, como se fosse apenas um setor populacional que está lutando para
garantir seus direitos mais básicos", interpreta. "Queremos propor
ações em todas as áreas, e não apenas lutar para não morrer."
"Juventude não
é um problema. Ela precisa, na verdade, acessar direitos", defende
Patrícia Rodrigues, representante da União de Movimentos de Moradia (UMM) no
Conselho Municipal da Juventude. A militante compreende a escolha do governo em
enfatizar uma abordagem mais "humanitária", uma vez que a morte de
jovens negros e pobres nas periferias paulistanas é uma realidade – e um dos
seus maiores algozes são as forças policiais. "Isso tem que ser uma das
prioridades, mas não a única. Há outras medidas a serem tomadas em educação,
cultura, trabalho etc."
O coordenador de
Juventude de São Paulo compreende as críticas – e até compartilha com parte
delas. "Nós sempre queremos mais estrutura", reconhece. "Mas a
agenda de juventude é recente. Mulheres e negros, que agora criaram
secretarias... Os negros lutam desde a época dos quilombos, as mulheres são
maioria da população." Gabriel Medina afirma que alocar a juventude na
Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania foi uma escolha política do governo
Haddad, que decidiu não centralizar coordenadorias na Secretaria de Governo.
"As áreas
transversais que não se emanciparam ficaram aqui: LGBT, população de rua,
idosos, imigrantes etc. A secretaria tem uma vocação de diálogo que a
transforma num local de produção de políticas a serem aplicadas pelas demais
pastas da administração", explica, advertindo que não adianta pensar que
os temas da juventude conseguirão se impor apenas pelas vias burocráticas.
"Só vamos conquistar mais espaço e
estrutura quando conseguirmos fazer com que as pessoas se sintam parte dessa
agenda e a reivindiquem."
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Estadão 18.10.2012
Epidemia de Homicídios
O que 5 décadas de
homicídios em São Paulo têm a ensinar
Das execuções do
esquadrão da morte nos anos 1960 aos homicídios ordenados pelo Primeiro Comando
da Capital (PCC) nos dias de hoje, a epidemia de assassinatos em São Paulo
matou 130 mil pessoas. Ao longo de 52 anos, como em um comportamento
contagioso, os assassinatos começaram a crescer. De menos de um homicídio por
dia em 1960, chegou a quase uma morte por hora em 1999.
Nesse ano, a cidade
registrou 63,5 assassinatos por 100 mil habitantes, taxa semelhante à dos três
anos de guerra no Iraque. A partir de 2000, a exemplo das epidemias, o contágio
cessou e os homicídios despencaram 77% ao longo de 11 anos. Neste ano, contudo,
disputas incessantes entre policiais militares e integrantes do PCC mostraram
que essa pacificação se sustentava sobre frágeis estruturas.
Como compreender
essas mudanças bruscas no comportamento dos homicidas? Uma série de reportagens
do Estado explica a variação dos assassinatos em São Paulo.
O material é
resultado de 13 anos de investigações e estudos e de mais de cem entrevistas -
muitas feitas com matadores que atuaram em diferentes períodos em São Paulo -
do repórter Bruno Paes Manso. O trabalho resultou em uma tese de doutorado,
defendida em 28 de agosto no Departamento de Ciência Política da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).
Veja mais fotos,
filmes, dados em
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O Globo 01.06.2013
Cristais de MDMA
que embalam as noites do Rio
Droga é chamada
pelos usuários de ‘Michael Douglas’
Catharina Wrede
RIO - É sábado à
noite e a estudante A., de 23 anos, se arruma para sair. Junto com a carteira,
o celular e as chaves de casa, coloca na bolsa um frasco pequenino. Dentro
dele, cristais de MDMA (abreviação de metilenodioximetanfetamina) dissolvidos
em quatro dedos d’água. Já na festa, com a ajuda de um conta-gotas, pinga
generosas doses do líquido no drinque que comprou e bebe.
Após a ingestão,
A. descreve um cardápio de sensações que costuma sentir: as cores saltam aos
olhos, a música ganha uma melodia diferente e um simples toque de braços traz
um prazer à flor da pele junto com a promessa de uma noite sem fim.
À primeira vista
(gole?) inebriante, o MD — ou “Michael Douglas”, como também é chamado pelos
jovens — pode provocar consequências nada glamourosas. Depressão, diminuição da
produtividade e dependência química e psicológica são alguns dos efeitos
colaterais. Cada vez mais popular no Brasil, os cristais amarronzados estão tão
presentes na noite carioca hoje quanto a cocaína nos anos 1980 e 1990, desbancando
outras substâncias químicas ilícitas populares entre os jovens até então, como
o ecstasy e o ácido.
— O MD é o
princípio ativo do ecstasy. Podemos dizer que é uma cocaína mais fraca e também
tem efeito mais brando que o LSD. Claro, tudo dependendo da quantidade ingerida
— explica a chefe do Setor de Dependência Química e Outros Transtornos do
Impulso, da Santa Casa da Misericórdia do Rio, Analice Gigliotti. — É um
estimulante e mexe com o sistema nervoso central, causando alterações na
percepção das cores, da luminosidade e dos sons.
Os números
traduzem o aumento do consumo da droga. Segundo o Instituto de Segurança
Pública (ISP), os últimos dados computados e divulgados pelo Instituto de
Criminalística Carlos Éboli apontam um aumento de 347,3% na apreensão de MD de
2010 para 2011. Ou seja: se em 2010 a quantidade de MD apreendida foi de 123,9
gramas, em 2011 o número subiu para 554,2 gramas. Segundo o ISP, os dados de
2012 ainda não estão disponíveis. Apesar da maconha ainda continuar sendo a
droga mais consumida, o MD é a mais usada entre as substâncias sintéticas,
deixando o LSD em segundo lugar.
— Há algum tempo
falava-se que o ecstasy não causava dependência. Hoje sabemos que isso não é
verdade. Tenho pacientes dependentes de MDMA e outros que ingerem dez, 15
comprimidos de ecstasy por noite. O tratamento nesses casos é feito com
medicamentos e psicoterapias cognitivas e comportamentais — afirma Analice
Gigliotti.
Criado em
laboratório, o MDMA é considerado por especialistas uma droga recente, com
estudos ainda prematuros a respeito. De acordo com o artigo “An exploration for
the history and controversies surrounding MDMA and MDA”, de Alana R. Pentney,
publicado no site da organização americana Maps (Multidisciplinary Association
for Psychedelic Studies), o primeiro registro de preparação da substância data
de 1912, na Alemanha. Após ser usada experimentalmente com fins terapêuticos, a
droga acabou sendo considerada ilegal em 1980.
— O estudo do MD é
embrionário no mundo inteiro, mas no Brasil ele ainda é inexistente — diz o
psicoterapeuta curitibano Daniel Rezinovsky, professor do curso Enteógenos e
Estados Alterados da Consciência, ministrado no último fim de semana na Comuna,
em Botafogo, em que o MDMA foi um dos tópicos. — O interessante dessa
substância é que ela vem se provando promissora em tratamentos pós-traumáticos
em veteranos de guerra, em experimentos nos Estados Unidos, por exemplo. Mas é
muito importante diferenciar o ambiente clínico, em que tudo é calculado, do
ambiente das baladas, em que a droga é ingerida sem controle algum, muitas
vezes misturada com outras substâncias.
A cerca de R$ 150
a grama (quantidade geralmente consumida por duas ou três pessoas numa noite),
o MD é mais consumida em festas de classe média alta.
— Não é tão fácil
comprar o MD quanto a maconha. Mas quem vive na noite acaba conhecendo quem
vende. Geralmente algum estudante da faculdade me vende — conta A., que também
é usuária de maconha.
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Agência EFE 29/05/2013
Equador insiste que Reino Unido conceda
salvo-conduto para Julian Assange.
Fundador do Wikileaks, Julian Assange está asilado
há quase um ano na Embaixada do Equador, em Londres
Quito – O chanceler equatoriano, Ricardo Patiño,
antecipou hoje (29) que entregará um novo documento ao Reino Unido com
fundamentação jurídica sobre a necessidade da entrega de um salvo-conduto ao
fundador do Wikileaks, Julian Assange, asilado há quase um ano na Embaixada do
Equador em Londres.
Patiño disse que um novo documento "de
profunda análise jurídica", baseado no direito internacional humanitário já
está pronto e que, na sua opinião, reforça as razões do Equador para insistir
no salvo-conduto.
"O governo do Reino Unido tem todas as
atribuições e possibilidades de concedor o salvo-conduto", disse Patiño em
entrevista à imprensa local ao antecipar, inclusive, a possibilidade de
realizar uma viagem "muito curta" para entregar o documento e
eventualmente visitar Assange pela primeira vez.
O titular da diplomacia equatoriana disse ter sido
surpreendido pela falta do salvo-conduto. "Nos surpreende que tenha se
passado um ano em que um país que respeita e defende os direitos humanos tenha
sido insensível perante uma situação humanitária de um cidadão do mundo",
disse. "Não é certo o governo britânico não oferecer um
salvo-conduto", comentou, ao apontar que, na sua opinião, "o país
está violando os direitos humanos de Assange".
O chanceler acrescentou que "insistirão que o
Governo britânico revise sua posição e já conceda o salvo-conduto". O
governo britânico se nega a conceder um salvo-conduto para que Assange deixe a
embaixada e insiste que é preciso extraditá-lo para a Suécia, onde é
investigado por supostos delitos sexuais.
O fundador do Wikileaks, portal que divulgou
milhares de dados diplomáticos confidenciais, especialmente americanos, nega as
acusações de delitos sexuais e teme ser enviado desde Suécia aos Estados
Unidos, onde está sendo julgado o soldado Bradley Manning, que já se declarou
culpado por filtrar documentos.
Na semana passada, Patiño anunciou que está
organizando algumas atividades para comemorar em 19 de junho o primeiro
aniversário da chegada do australiano Assange à embaixada equatoriana em
Londres.
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O Globo 27/05/13
Crianças à espera de um lar.
Apenas 10% dos menores que vivem em abrigos estão
aptas a ganhar uma nova família
Fernanda Pontes
RIO - O engenheiro Carlos Roberto da Silva Barbosa,
de 44 anos, sempre quis ser pai, mas nunca teve a preocupação de se casar. Em
2007, mesmo solteiro, resolveu adotar uma criança.
Passou a frequentar grupos de apoio e ingressou no
programa “Apadrinhamento afetivo”, direcionado à menores com poucas
perspectivas de adoção. Num abrigo de Marechal Hermes, conheceu, em 2012,
Christofer, de 12 anos. Após quatro meses de convivência com o menino, Carlos
conseguiu realizar seu sonho. Pai e filho comemoraram neste domingo, na 4ª
Caminhada em Defesa da Adoção, que reuniu cerca de 600 pessoas na Praia de
Copacabana, o final de uma história tão feliz quanto rara: um levantamento do
Módulo Criança e Adolescente do Ministério Público Fluminense revela que, das
2.377 crianças que vivem em abrigos públicos no Estado do Rio, apenas 235 —
aproximadamente 10% — estão aptas para adoção. Hoje, 1.008 aguardam o
julgamento de ações de destituição do poder familiar. O restante simplesmente
espera o retorno para os parentes.
— Antes de abrirmos um processo de adoção,
precisamos verificar a família de origem e o cadastro nacional de crianças
desaparecidas. Nos casos de filhos de dependentes químicos levados para
abrigos, é necessário saber se os pais estão fazendo tratamento. Essa condição
não permite a concessão da guarda para uma outra família, pois a criança pode voltar
aos pais — explica a juíza Mônica Labuto, titular da 1ª Vara da Infância e do
Idoso da Regional de Madureira, que recebe processos de bairros das zonas Norte
e Oeste.
Segundo a juíza, a rotatividade entre os menores
aptos para adoção é alta, mas muitos não querem entrar nesse seleto grupo.
— Há crianças maiores que não estão disponíveis
porque elas simplesmente não querem. Dos menores abrigados, 40% são
adolescentes. Alguns têm irmãos dentro dos abrigos e preferem ficar com eles —
afirma Mônica.
Fila ‘emperra’ com exigências
No Brasil, a lista de pessoas que querem adotar uma
criança tem 29.454 nomes, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça. No Rio,
são 2.161 pretendentes. Meninas brancas recém-nascidas e com saúde perfeita são
as mais procuradas, uma exigência que eleva o tempo médio de espera para cinco
anos.
— A realidade nos abrigos públicos é bem diferente
desse perfil desejado pela maioria dos aspirantes a pai ou mãe. Meninos
mestiços, com idade entre 8 e 10 anos, formam a maioria dos órfãos, e muitos
deles integram grupos de irmãos, o que dificulta a adoção — afirma Daniela
Vasconcellos, promotora da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Rio.
Para a Justiça, o ideal é que um órfão fique, no
máximo, seis meses num abrigo. As crianças que não conseguem uma família no Rio
podem ser adotadas em outros estados graças ao chamado Cadastro Único, que
funciona no país desde 2009 e que possibilitou, por exemplo, o ingresso de um
menino carioca de 12 anos numa família do interior do Rio Grande Sul.
— Como descobriríamos essa família se não fosse o
Cadastro Único? — diz a juíza Mônica Labuto.
Após esgotadas todas as tentativas de adoção em
território nacional, órfãos brasileiros são oferecidos a pretendentes do
exterior — a Itália é o país que mais adota crianças nascidas aqui, seguida da
França. No entanto, o número de menores que ganham pais estrangeiros vêm
caindo, informa a secretária-executiva da Comissão Internacional de Adoção no
Rio, Ludmilla de Azevedo:
— Em 2011, 53 crianças foram adotadas por
estrangeiros no Rio. No ano passado, foram 18. Essa queda certamente está
relacionada à crise financeira na Europa. É uma pena, pois a Itália, que tem a
maioria dos pretendentes, costuma optar por grupos de irmãos.
A advogada Dalia Tayguara e sua parceira Eva
Andrade levaram as duas filhas para a caminhada em Copacabana, que começou às
9h30m no Posto 6. Para a família, o evento, que homenageou o Dia Nacional da
Adoção, celebrado no sábado, foi uma festa: também egressa do programa
“Apadrinhamento afetivo”, a menina mais velha, Thamara Letícia, de 12 anos,
chegou neste domingo à casa da família, em Realengo. A caçula, Daísa Vitória,
de 9 anos, foi adotada em 2009.
— Optamos por crianças maiores e, por isso, nosso
processo acabou sendo muito rápido — conta Dalia, que pediu que a filha fosse
negra, um outro facilitador. — Não enfrentamos problema algum durante o período
de convivência.
Para a juíza Mônica Labuto, iniciativas como as de
Carlos, Dalia e Eva estão “aumentando as oportunidades” de adoção no estado.
— A adoção monoparental e homoafetiva costuma ser
bem-sucedida porque parte de pessoas que têm os pés no chão, que não estão em busca
da família perfeita. Elas fazem menos exigências na hora de adotar. Em geral,
são pessoas que sofreram preconceito e querem mudar isso. Temos vários exemplos
de sucesso — afirma a juíza.
A caminhada de ontem, segundo a advogada Silvana do
Monte Moreira, teve como objetivo lembrar que uma adoção não deve acabar apenas
com os anseios dos futuros pais — é também um meio de atender às necessidades
de uma criança. Um dos fatores mais preocupantes do processo é a possibilidade
de rejeição: no Rio, 168 menores foram devolvidos a abrigos. São casos que o
Ministério Público trata como “tentativas de colocação malsucedidas”.
Professora adotou casal
Silvana cita como “belo exemplo de cidadania” a
iniciativa da professora Eliane Carrão, que adotou um casal de irmãos, Leandro
e Sabrina.
— Disseram para mim que Sabrina era especial por
ter um dos braços mais curtinhos. Com o passar do tempo, descobri que ela tem
um problema grave na coluna e que Leonardo é deficiente auditivo. Não importa,
são meus filhos e estamos felizes — diz Eliane, que participou do evento em
Copacabana com as crianças.
O desembargador Siro Darlan, o primeiro a conceder
a guarda de uma criança a um casal de homossexuais no Rio, em 1996, abriu
caminho para a formação de várias famílias que estavam na caminhada, da qual
também participou. Ele concluiu, por exemplo, o processo de Maria Vitória, hoje
com 10 anos, adotada pela funcionária pública Cristiane Carvalho. Agora,
Cristiane e sua parceira, Sílvia Guimarães, tentam levar para casa um bebê.
— Qualquer criança tem direito ao convívio familiar
— frisa Darlan.
A situação dos abrigos do Rio é outro assunto muito
discutido entre defensores da causa. No ano passado, o Ministério Público
apresentou uma ação contra a prefeitura na qual exigiu a abertura de 250 vagas
nas casas de assistência social ou no “Família acolhedora”, programa do
município que paga famílias credenciadas para cuidar de órfãos.
— Os abrigos deixam a desejar. Temos um com 57
meninos que deveria receber, no máximo, 20. A estrutura de todos é precária. O
Estatuto da Criança e Adolescente prevê que os abrigos tenham características
de casa, mas a maioria parece institutos de correção — lamenta a promotora
Daniela Vasconcellos.
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O Globo 28.06.2013
Uma droga nova a cada semana na Europa
LISBOA - O novo Informe Europeu sobre Drogas,
apresentado nesta terça-feira em Lisboa, revela uma profusão alarmante de novas
drogas sintéticas, produzidas em grande escala em China e Índia, entre outros
países, e distribuídas pela Europa. O ritmo de criação de novas substâncias é
crescente. De acordo com o Centro de Monitoração Europeu para Drogas e
Toxicomania e a Europol, em 2012 foram detectadas 73 novas drogas, quase uma
por semana - um número bem acima das 49 observadas em 2011. Por outro lado, o
estudo mostra um número menor de novos usuários de heroína, menos uso de drogas
injetáveis e declínio no uso de maconha e cocaína em alguns países.
Segundo Ana Gallegos, responsável pelo Sistema de
Alerta Rápido de Detecção do centro, há um risco evidente nas novas drogas:
- As pessoas não sabem o que estão usando. No ano
passado, uma substância derivada da anfetamina, mas mais danosa, causou 20
mortes em seis meses de uso. As pessoas tomavam pensando que eram anfetaminas,
mas não era - disse Ana.
Informe da UE alerta para a explosão de substâncias
sintéticas vindas da Ásia.
Cai consumo de cocaína e heroína nos países da
região.
Maconha: uso de novas
substâncias cresce na Europa, enquanto alguns países registram queda nas drogas
mais conhecidas
O problema indica a especialista, é que os
laboratórios que analisam e detectam novas substâncias estão atrasados em
relação aos que as criam. A Internet, além disso, se converteu em um meio
eficaz de compra.
- O mundo das drogas se tornou muito mais dinâmico
e complexo - afirmou Wolfgang Goetz, diretor do centro.
Falta de dados dificulta
estabelecer efeitos a longo prazo.
Muitos dos produtos à venda contêm uma mistura de
substâncias, e a falta de informações farmacológicas e toxicológicas torna
difícil especular as implicações do uso a longo prazo, ressalta o estudo. Um
exemplo das novas drogas é a mephedrone, conhecida como meow meow e descrita
como uma mistura de anfetaminas, cocaína e ecstasy.
Por outro lado, o consumo das chamadas drogas
conhecidas está caindo. No caso da heroína, o relatório ressalta que em 2007 o
número de pessoas que começaram tratamento para desintoxicação era de 59 mil.
Em 2011, esse índice caiu para 41 mil.
Comissária Europeia do Interior, Cecilia Malmstroem
considera os dados encorajadores, principalmente com a queda de infecções por
HIV decorrentes do compartilhamento de seringas. Mas ressalta que os números
continuam altos: um quarto dos adultos do continente (cerca de 85 milhões de
pessoas) já usou alguma droga ilícita:
- O fato de mais de 70 novas substâncias terem sido
detectadas no último ano prova que as políticas antidrogas precisam se adaptar
às mudanças.
Também o consumo de cocaína se reduziu. A Espanha -
o segundo país em consumo no continente, depois do Reino Unido - reflete essa
tendência. Em 2011, o número de espanhóis que admitiam ter provado cocaína ao
menos uma vez foi de 8,8%. Em 2009, esse índice era de 10,2%. Igualmente o
consumo de haxixe registrou uma leve queda na Europa.
A apreensão em Portugal e Espanha também caiu
significativamente: em 2006, eram apreendidas cerca de 80 toneladas de drogas
ao ano. Em 2011, a quantidade não passou de 20 toneladas. Isso, no entanto,
pode não significar uma queda no consumo, mas que os traficantes estariam
usando outras rotas para chegar ao mercado europeu.
O estudo alerta que o consumo de drogas “é uma das
principais causas de mortalidade entre jovens na Europa, tanto diretamente
(overdose) como por doenças relacionadas, acidentes, atos de violência ou
suicídios.
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UOL 14/01/201
Adolescente de 16
anos é morto em unidade de internação de menores em Brasília
Hosa Freitas
O adolescente André
Gonçalves Fortunado, de 16 anos de idade, foi assassinado neste domingo (13)
dentro da UIPP (Unidade de Internação do Plano Piloto), antigo Caje (Centro de
Atendimento Juvenil Especializado), em Brasília.
A causa exata da
morte será divulgada em torno de 30 dias, quando o IML (Instituto Médico Legal)
emitir o laudo técnico. A informação até o momento é que a causa da morte está
sendo investigada por enforcamento e afogamento no vaso sanitário.
Segundo a delegada
que está apurando o caso, Mônica Ferreira, o menor já tinha três passagens pela
polícia, por roubo e por porte de arma. Ainda segundo ela, o crime foi por
motivo fútil. "O rapaz dividia o quarto com outros adolescentes que
confessaram o assassinato e alegaram que André xingou a mãe de um deles",
explicou Mônica, que trabalha na Delegacia da Criança e do Adolescente,
localizada na asa norte.
Ainda de acordo com
a delegada, os adolescentes, um de 16 anos e outro com 17 anos, também tinham
passagens pela polícia por roubo, lesão corporal, tentativa de latrocínio e
após apuração deste caso poderão ter o prazo de internação prorrogado, podendo
chegar até o período em que eles completarem 21 anos de idade.
Na avaliação da
delegada, o assassinato não foi por falta de fiscalização dos atendentes de
reintegração social e nem por briga de gangues rivais -- os internos eram de
cidades satélites diferentes.
André Gonçalves era
de Samambaia e os outros dois de Ceilândia e São Sebastião, todas localizadas
no Distrito Federal. "A banalização
da vida, a falta de estruturação familiar e investimentos na educação são os
principais fatores de crimes como este", afirmou Ferreira.
A Secretaria da
Criança abriu sindicância para apurar o que aconteceu dentro da UIPP e, se for
constatada falha na orientação ou fiscalização, os atendentes de reintegração
social que estavam responsáveis pelos adolescentes poderão ser punidos.
De acordo com
servidores da secretaria, uma comissão passou a madrugada ouvindo os
funcionários que trabalhavam no módulo no momento em que o adolescente foi
assassinado.
Histórico
Em 2012, em um
período de menos de 30 dias entre agosto e setembro, três jovens foram
assassinados em unidades de internação do DF. À época, o Departamento de
Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de
Medidas Socioeducativas (DMF/CNJ) inspecionou a maior unidade de internação do
DF, a UIPP, onde o adolescente voltou a ser morto domingo.
Nesta segunda, o CNJ
(Conselho Nacional de Justiça) afirmou que vai pedir informações sobre a morte
do jovem. Foi a primeira morte registrada no sistema socioeducativo do Distrito
Federal em quatro meses.
"É inconcebível
o assassinato de um jovem sob a custódia do Estado. Isso é consequência da
superlotação da unidade de cumprimento de medidas socioeducativas do Distrito
Federal", afirmou nesta segunda o coordenador do DMF/CNJ, juiz Luciano
Losekann. Atualmente, a UIPP tem cerca de 160 vagas, mas abriga mais de 350
internos
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RBA 27/05/2013
Com 3 milhões de
jovens, São Paulo padece com falta de políticas específicas
Coordenadoria da
Juventude, deslocada por Haddad para estrutura de direitos humanos, precisa
transformar R$ 500 mil e oito funcionários em inspiração para garantir avanços
Tadeu Breda
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Jovens têm demandas e direitos específicos. |
A RBA publica a
partir de hoje uma série de reportagens sobre a juventude brasileira. 51
milhões de pessoas, ou 37% da população entre 15 e 29 anos, os jovens padecem
da falta de políticas públicas específicas. Quando existem, no geral são
trabalhadas sob a perspectiva de que o jovem é um problema em potencial, e não
o responsável por ideias inovadoras e o ator da conquista de novos direitos.
Exemplo desta ausência de propostas direcionadas é São Paulo, que, com três milhões
de jovens, tenta agora fazer de limões magros uma limonada.
São Paulo – Dona do
maior contingente jovem do país e palco de problemas sociais que atingem
especialmente a população com idade entre 15 e 29 anos, São Paulo parece ainda
não ter despertado para a necessidade de estabelecer políticas públicas
especificamente destinadas à juventude. ONGs, movimentos e entidades denunciam
o reduzido espaço do tema dentro da administração municipal, que lhe dedica
poucos funcionários e baixo orçamento. A estrutura está aquém da realidade
paulistana. E se mostra ainda mais tímida se comparada à de outras capitais do
país.
A prefeitura mandou
à Câmara Municipal em abril o Projeto de Lei 237/2013 para reestruturar
oficialmente suas secretarias. Aprovadas em maio, as mudanças priorizam as
pastas de Direitos Humanos e Cidadania, Políticas para as Mulheres e Promoção
da Igualdade Racial – todas elas criadas pela gestão Fernando Haddad (PT). As
novas secretarias ficarão com 110 dos 348 novos cargos que o Executivo pretende
viabilizar junto aos vereadores para pôr em prática uma de suas principais
bandeiras de campanha: maior acesso dos paulistanos aos direitos da cidadania.
Durante a
administração de Gilberto Kassab (PSD), as questões da juventude eram tratadas
dentro da Secretaria de Participação e Parceria – que desapareceu com a
ascensão do PT. A equipe herdada pela gestão atual é bastante reduzida: cinco
cargos de confiança e três estagiários. A Coordenadoria de Juventude, hoje
atrelada à Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, conta ainda com um
auxiliar em cada uma das 31 subprefeituras da cidade, cujas funções foram
muitas vezes desvirtuadas na gestão passada – e hoje ainda carecem de
atribuição legal específica.
A reforma proposta
pelo Executivo municipal deverá aumentar o número de quadros na coordenadoria,
mas não na mesma proporção das outras áreas sociais. Caso seja aprovada, a
reestruturação adicionará apenas mais três cargos à equipe da juventude em São
Paulo. O time ficaria, portanto, com oito pessoas. O número de estagiários
também deve aumentar dos três, que existem hoje em dia, para dez. "Além
disso, estamos pedindo mais três servidores", afirma o coordenador de
Juventude de São Paulo, Gabriel Medina. "Queremos chegar a uma equipe de
pelo menos 20 pessoas."
Insuficiente
É um número tímido
se comparado ao de outras capitais brasileiras. Recife, por exemplo, conta
desde janeiro com uma secretaria dedicada ao tema. "Os jovens são os que
mais sofrem com o desemprego na capital pernambucana, que é também a sexta
cidade do país onde mais jovens são mortos de forma violenta", diz Marília
Arraes, secretária de Juventude e Qualificação Profissional. A pasta conta com
uma equipe de 60 pessoas. "Nosso objetivo é qualificar cada vez mais
jovens, para que eles possam ser inseridos no mercado de trabalho e afastar-se
da criminalidade."
Porto Alegre
instituiu uma Secretaria de Juventude há mais tempo: em 2005. Atualmente, 35
pessoas atuam na pasta, sendo dez estagiários. "A secretaria tem como
missão planejar e executar políticas públicas para juventude com a participação
de toda administração e da sociedade, através do Conselho da Juventude, de
forma transparente, ética e eficaz, baseados nos princípios da transversalidade",
diz a assessoria de imprensa da prefeitura de Porto Alegre, destacando projetos
com música, grafite e skate.
A pequenez da
Coordenadoria de Juventude de São Paulo também se verifica quando ontrastamos
sua estrutura com o universo jovem da cidade. De acordo com o IBGE, a capital
abriga 2,9 milhões de pessoas com idade entre 15 e 29 anos. O número representa
25% da população paulistana, que atualmente gira em torno dos 11,2 milhões de
habitantes. Em Recife existem 250 mil jovens e, em Porto Alegre, ao redor de
350 mil. Ou seja, as capitais pernambucana e gaúcha possuem mais gente
trabalhando com juventude do que a prefeitura paulistana – apesar de terem
contigente bem menor de jovens.
"A equipe é
muito reduzida para a tarefa de construir políticas públicas para a juventude
numa cidade que não as tem nem nunca teve", analisa Gabriel di Pierro,
membro do Grupo de Trabalho de Juventude da Rede Nossa São Paulo. "O
orçamento também não é adequado. Embora a coordenadoria seja muito mais uma
articuladora de iniciativas governamentais e não precise tanto de verbas para
execução das políticas, ela necessita recursos mínimos para promover
interlocução com os demais órgãos do Estado, aprofundar discussões com a
sociedade e produzir informação."
A Coordenadoria de Juventude
não tem dotação orçamentária fixa, mas costuma trabalhar com um repasse anual
de aproximadamente R$ 500 mil. "Só o mapeamento da juventude paulistana,
que é urgente e necessário para entender como se comporta essa população, custa
cerca de R$ 1 milhão." O representante da Rede Nossa São Paulo pondera que
a coordenadoria pode contabilizar entre seus quadros os auxiliares de juventude
nas subprefeituras. "Mas eles recebem um salário líquido de apenas R$
700", ressalta. "A remuneração vai definir o perfil das pessoas que
ocuparão esses cargos. Também vai dificultar sua permanência no posto."
Multiplicação
Carente de recursos
humanos e financeiros, a ideia do coordenador de Juventude é tentar multiplicar
as poucas verbas de que dispõe influenciando a formulação de políticas públicas
nos demais órgãos da administração municipal. "Queremos produzir
inteligência, informação, diagnósticos e processos de participação para
conseguir fazer com que esses R$ 500 mil se transformem em muitos milhões executados
pelas outras secretarias", revela Gabriel Medina. "A partir do nosso
pequeno orçamento, podemos transversalizar as políticas de juventude e chegar a
um orçamento grande. Depende de conseguir convencer cada pasta."
Talvez por isso Di
Pierro argumente que não é tão necessário elevar a juventude à condição de
secretaria municipal para que o tema se espraie pela gestão. "O que
importa é o conteúdo", defende. "Seja coordenadoria ou secretaria,
ela precisa ter a capacidade de promover interlocução com outras secretarias e
com a juventude da cidade, mapeando as demandas. Precisa ser capaz de fazer as
políticas públicas chegarem aos jovens, lá onde eles moram, com um olhar
específico para suas necessidades."
Não foi o que
ocorreu na gestão passada: nos últimos oito anos, São Paulo teve oito
diferentes coordenadores de Juventude. As entidades – e a própria gestão atual
– avaliam que as mudanças constantes dificultaram o estabelecimento de uma
política "estruturada" para o setor. O fato de estar submetida à
Secretaria de Participação e Parceria também conferia um caráter menos
propositivo à coordenadoria, que em grande medida se dedicava a apoiar eventos
organizados pela sociedade civil.
"Se a juventude
é o maior contingente populacional da cidade, isso merece um destaque maior
dentro do governo", propõe Douglas Belchior, representante da União de
Núcleos de Educação Popular (Uneafro), para quem a administração Fernando
Haddad deveria, sim, criar uma Secretaria de Juventude. "A prefeitura
criou pastas específicas para igualdade racial e mulheres. A juventude precisa
do mesmo tratamento." Na ausência de medidas mais simbólicas, Belchior
avalia que a atual gestão está apenas mantendo o mesmo "espaço
diminuto" que já existia na era Kassab.
Prioridades
Segundo o representante
da Uneafro, isso dá a entender que o tema não é uma prioridade para o governo.
"Se está dentro da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, entendemos
que a juventude vem sendo tratada como uma questão relacionada principalmente à
violência, como se fosse apenas um setor populacional que está lutando para
garantir seus direitos mais básicos", interpreta. "Queremos propor
ações em todas as áreas, e não apenas lutar para não morrer."
"Juventude não
é um problema. Ela precisa, na verdade, acessar direitos", defende
Patrícia Rodrigues, representante da União de Movimentos de Moradia (UMM) no
Conselho Municipal da Juventude. A militante compreende a escolha do governo em
enfatizar uma abordagem mais "humanitária", uma vez que a morte de
jovens negros e pobres nas periferias paulistanas é uma realidade – e um dos
seus maiores algozes são as forças policiais. "Isso tem que ser uma das
prioridades, mas não a única. Há outras medidas a serem tomadas em educação,
cultura, trabalho etc."
O coordenador de
Juventude de São Paulo compreende as críticas – e até compartilha com parte
delas. "Nós sempre queremos mais estrutura", reconhece. "Mas a
agenda de juventude é recente. Mulheres e negros, que agora criaram
secretarias... Os negros lutam desde a época dos quilombos, as mulheres são
maioria da população." Gabriel Medina afirma que alocar a juventude na
Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania foi uma escolha política do governo
Haddad, que decidiu não centralizar coordenadorias na Secretaria de Governo.
"As áreas
transversais que não se emanciparam ficaram aqui: LGBT, população de rua,
idosos, imigrantes etc. A secretaria tem uma vocação de diálogo que a
transforma num local de produção de políticas a serem aplicadas pelas demais
pastas da administração", explica, advertindo que não adianta pensar que
os temas da juventude conseguirão se impor apenas pelas vias burocráticas.
"Só vamos conquistar mais espaço e
estrutura quando conseguirmos fazer com que as pessoas se sintam parte dessa
agenda e a reivindiquem."
___________
Estadão 18.10.2012
Das execuções do
esquadrão da morte nos anos 1960 aos homicídios ordenados pelo Primeiro Comando
da Capital (PCC) nos dias de hoje, a epidemia de assassinatos em São Paulo
matou 130 mil pessoas. Ao longo de 52 anos, como em um comportamento
contagioso, os assassinatos começaram a crescer. De menos de um homicídio por
dia em 1960, chegou a quase uma morte por hora em 1999.
Nesse ano, a cidade
registrou 63,5 assassinatos por 100 mil habitantes, taxa semelhante à dos três
anos de guerra no Iraque. A partir de 2000, a exemplo das epidemias, o contágio
cessou e os homicídios despencaram 77% ao longo de 11 anos. Neste ano, contudo,
disputas incessantes entre policiais militares e integrantes do PCC mostraram
que essa pacificação se sustentava sobre frágeis estruturas.
Como compreender
essas mudanças bruscas no comportamento dos homicidas? Uma série de reportagens
do Estado explica a variação dos assassinatos em São Paulo.
O material é
resultado de 13 anos de investigações e estudos e de mais de cem entrevistas -
muitas feitas com matadores que atuaram em diferentes períodos em São Paulo -
do repórter Bruno Paes Manso. O trabalho resultou em uma tese de doutorado,
defendida em 28 de agosto no Departamento de Ciência Política da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).
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BBC
22.11.2012
Cómo
afecta a México la legalización de la marihuana en EE.UU.
Will Grant
¿Caerán las ganancias de los carteles de México tras la
legalización en Estados Unidos?
Cada año, un grupo de activistas que
abogan por la legalización de la marihuana se reúne en Seattle, Estados Unidos,
para participar en el Hempfest, un festival de dos días en la costa de la
ciudad.
Las nubes del humo acre de la marihuana flotan sobre la multitud
que escucha música en vivo o camina entre los puestos que venden pipas y toda
la parafernalia relacionada con esta práctica.
La policía está presente para asegurarse de que no haya
compra-venta de la droga. Pero en el próximo Hempfest puede que ni siquiera
tengan que hacer eso.
El mismo día en que los electores del estado de Washington votaron
para reelegir al presidente Barack Obama, también votaron a favor de legalizar
el uso recreativo de la marihuana. En Colorado ocurrió la misma historia.
"Lo que pasó en Washington y Colorado fue verdaderamente
revolucionario", dice Beau Kilmer, el codirector del Centro Rand para la
investigación sobre las políticas de drogas.
"Ningún país moderno ha quitado la prohibición sobre la
producción y distribución de la marihuana para usos no médicos".
Cuando la medida entre en vigor en Colorado a principios de
diciembre, será legal tener 28 gramos de marihuana si el portador tiene más de
21 años. También será legal tener hasta seis plantas de marihuana en la casa y
entregar hasta 28 gramos.
Todavía hay preguntas complejas sobre la creación de un marco
regulador para la producción y la distribución de la droga, que puede demorarse
al menos un año más.
De más está decir que la decisión de los dos estados los pone en un
conflicto legal con el gobierno federal y sus políticas antinarcóticos.
Pero Kilmer cree que es un error ver el gobierno de Obama como una
entidad única en este sentido.
La decisión de los dos estados de EE.UU. los pone en un conflicto
legal con el gobierno federal.
"En este punto nadie sabe cómo el gobierno federal va a
responderles a estos dos estados. Pero es importante que no lo pensemos como un
actor homogéneo".
La Agencia Antidrogas de Estados Unidos (DEA), la Oficina del
Fiscal General y el Servicio Federal de Impuestos (IRS) tienen cierto grado de
jurisdicción y discreción en estos temas, señala Kilmer.
Uso de la fuerza
Mientras tanto, a miles de kilómetros, en una tienda de venta de
tabaco en la Ciudad de México, la noticia de la decisión de Colorado y Washington
fue recibida con beneplácito.
Rodeado de vitrinas llenas de inhaladores que se ven caros, el
propietario dice que muchos de sus clientes esperan una ley similar en México.
"Las personas no quiere contribuir a las ganancias de los
carteles de las drogas y ya he vendido muchas copias de esto últimamente",
dice, mientras muestra un libro llamado "El cultivo ecológico del
cannabis".
El hombre que lidera en México los intentos para cambiar las leyes
es el político de izquierda Fernando Belaunzarán, quien introdujo un proyecto
de ley en el Congreso similar al de Colorado y que podría llevar a la marihuana
a un patrón de regulación igual al del alcohol.
"Lo que ha pasado en Estados Unidos ha permitido que las cosas
avancen, porque este debate es crucial", le dijo Belaunzarán a la BBC en
el día en que presentó su propuesta formalmente.
Tanto la administración saliente como la entrante en México esperan
que el tema se desarrolle durante el segundo gobierno de Obama.
"Debemos preguntarnos si tiene sentido continuar con esta
campaña militar frontal, que ha generado tanta destrucción y muerte en nuestro
país con el objetivo de impedir la entrada de una sustancia a Estados Unidos
que ahora está permitida y regulada".
Belaunzarán no espera necesariamente que su propuesta sea aprobada
en esta sesión legislativa. Pero lo que importa, dice, es el nuevo discurso
sobre el tema.
En algunos sectores mediáticos en Estados Unidos y México, la
decisión de los estados de Washington y Colorado fue calificada como un
"elemento transformador" de la relación bilateral de México y Estados
Unidos en lo referente a la llamada guerra contra las drogas.
Tanto la administración saliente en México como la entrante
indicaron que esperan que la discusión en torno al tema de la marihuana se
desarrolle durante el segundo gobierno del presidente Barack Obama.
En una reunión con varios líderes centroamericanos, el presidente
mexicano Felipe Calderón dijo que la decisión en Estados Unidos es un
"cambio de paradigma" sobre el consumo de drogas. Pidió que Naciones
Unidas y la Organización de Estados Americanos ayuden a clarificar la
situación.
"Obviamente, no podemos manejar un producto que es ilegal en México,
tratando de detener su transferencia a Estados Unidos, cuando en Estados Unidos
-al menos en parte de Estados Unidos- ahora tiene un estatus diferente."
Luis Videgaray, asesor de Enrique Peña Nieto
El gobierno entrante en México fue incluso un paso más allá.
"Obviamente, no podemos manejar un producto que es ilegal en
México, tratando de detener su transferencia a Estados Unidos, cuando en
Estados Unidos -al menos en parte de Estados Unidos- ahora tiene un estatus
diferente", dice Luis Videgaray, el asesor principal del presidente
electo, Enrique Peña Nieto.
Pero no sólo en México está cambiando el debate sobre la marihuana.
También Uruguay, bajo el presidente José Mujica, está intentando que el Estado
se encargue de regular el cultivo y el consumo de cannabis legal.
A nivel continental, todavía hay, obviamente, muchas discusiones
pendientes.
Los proponentes y los opositores no se ponen de acuerdo sobre qué
tanto podría afectar la legalización de la marihuana los ingresos de los
carteles de las drogas.
Y todavía falta mucho para que el presidente Obama formule una
respuesta coherente a la decisión de los electores en los dos estados.
Pero en medio del aire de secretismo, una cosa parece clara: cuando
se trata de marihuana en las Américas, ya están sembradas las semillas del
cambio.
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Agência Brasil 21.05.2013
Tortura era praticada na ditadura militar antes da
luta armada
A tortura passou a ser prática sistemática da
ditadura militar logo após o golpe, em 1964. A informação é da Comissão
Nacional da Verdade que, nesta terça-feira (21/5), apresentou o balanço de um
ano de atividades, os integrantes da comissão desmentiram a versão de que a
prática tenha sido efetivada em resposta à luta armada contra a ditadura,
iniciada em 1969.
A assessora da CNV, a historiadora Heloísa
Starling, afirmou que “a prática da tortura no Brasil como técnica de
interrogatório nos quartéis é anterior ao período da luta armada, ela começa a
ser praticada em 1964. "O que é importante notar é que ao contrário do que
supunha boa parte da nossa bibliografia, o que nós temos é a tortura sendo
introduzida como padrão de interrogação nos quartéis em 64 e explodindo a
partir de 69," disse Heloísa.
Conforme o balanço da comissão o uso da violência
política permitiu ao regime construir um Estado sem limites repressivos. “Fez
da tortura força motriz da repressão no Brasil. E levou a uma política
sistemática de assassinatos, desaparecimentos e sequestros.”
A comissão revelou ainda que a Marinha ocultou
informações sobre mortes na ditadura, quando foi questionada em 1993 pelo
governo Itamar Franco.
De acordo com levantamentos da Comissão da Verdade,
cerca de 50 mil pessoas foram presas só no ano de 1964, em operações nos
estados da Guanabara (atual Rio de Janeiro), de Minas Gerais, de Pernambuco, do
Rio Grande do Sul e de São Paulo. A comissão identificou prisões em massa em
navios-presídios.
A comissão também relatou ter identificado 36
centros de tortura em sete estados, inclusive em duas universidades - na
Universidade Federal do Recife e na Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro. “Nós identificamos que as pessoas foram presas dentro dos campus da
universidade e as práticas de violência ocorreram dentro do campus”, disse
Heloísa Starling.
A historiadora disse que a comissão está no caminho
de desmontar a tese de que a tortura foi praticada sem o consentimento do alto
escalão militar. Ela apresentou um organograma de 1970, ano de criação do Codi
(Centro de Operações de Defesa Interna), que mostra que as informações sobre o
que ocorria no órgão eram de conhecimento do alto escalão do Exército, da
Marinha e da Aeronáutica.
Toda a bibliografia, segundo a assessora, mostra
que a estrutura de comando vai até o segundo nível, onde está o Cisa (Centro de
Informações da Aeronáutica), CIE (Centro de Informações do Exército) e o Centro
de Informações da Marinha. “É muito pouco provável que o general Médici
[presidente Emílio Garrastazu Médici] não recebesse informações do seu ministro
mais importante, que era o ministro do Exército, Orlando Geisel”, disse.
____________
O Dia 16.05.2013
Censo mostra que
maioria da população de rua não bebe ou usa drogas
Levantamento da
Defensoria Pública vai guiar ações de apoio, como emissão de documentos
Paloma Savedra
Rio - Moradia, saúde
e educação são alguns direitos sociais a que, pela Constituição Federal, todos
deveriam ter acesso. Mas nas ruas a realidade é bem diferente. Para fazer valer
o que se lê, o Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado
realizou censo na região metropolitana do Rio, traçando o perfil dessa
população, e criando frentes para que ganhe cidadania.
O estudo derruba
mitos: dos 1.247 entrevistados em 32 abrigos públicos e privados, 62% não usam
drogas; 65% não bebem; e só 13% são analfabetos.
Denúncias de
ilegalidades nas ações de acolhimento da Prefeitura do Rio também foram
constatadas pelo Projeto População de Rua, que começou em dezembro com apoio do
Ministério da Justiça.
Para a defensora
pública Juliana Moreira, os resultados parciais do estudo, que serão
apresentados oficialmente amanhã, se opõem à política do município: "Os
dados desmistificam algumas ideias enraizadas no censo comum, de que a maioria
das pessoas que estão nas ruas é usuária de drogas. Somos a favor de políticas
que as recuperam, mas a atual ação do município mostrou-se ineficiente. Além
disso, há relatos de pessoas que tiveram documentos rasgados nas
abordagens".
Além disso, o Censo
aponta para um grave problema: a falta de registro civil. A ausência de
documentação impede o acesso a políticas sociais: “O registro é a representação
da existência legal dos indivíduos, condição fundamental ao exercício da
cidadania. E muitos dos cadastrados que não têm documentos têm filhos, e estes
não podem se matricular em escolas por isso. Essas pessoas também são privadas
de atendimento em hospitais, pois sem documento não entram. Eles têm que ter
registro de nascimento, até para ter acesso às políticas públicas oferecidas
pelo Estado, benefícios assistenciais e atendimento à Saúde”, relatou a
defensora.
Para erradicar esses
fatores de exclusão, a Defensoria criou convênio com o Tribunal de Justiça para
agilizar emissão de documentos, e com o Ministério do Trabalho: unidades móveis
vão até abrigos para fazer a Carteira de Trabalho dos grupos.
Em relação à saúde,
a Defensoria pediu que as secretarias municipal e estadual criem protocolo
diferenciado para essa população. Também investiga a Internação Compulsória
feita pela prefeitura.
Cadastro único é
criado
O Censo criou
cadastro único dessa população. Segundo a Defensoria, esse público é volátil e
os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde não computavam o número
de pessoas, mas o de vezes em que eram abrigadas.
Desemprego,
migração, enchentes, violência doméstica, alcoolismo, dependência química e
pendências judiciais são alguns fatores que colaboram para a situação de rua.
Dos 1.247 atendidos, 4.630 são do Rio e 784, de outros estados. Desse total,
976 possuem renda, e 496 têm Ensino Fundamental incompleto.
A defensoria criou
canal para denúncias de ilegalidades nas abordagens: denunciasnudedh@dpge.rj.gov.br.
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G1 12.05.2013
Quase metade dos
professores de SP já sofreu agressão na rede pública.
Pesquisa revelou
ainda que 29% dos professores já viram estudantes alcoolizados na escola e 42%
presenciaram alunos sob efeito de drogas.
Uma pesquisa com
professores de São Paulo aponta: quase a metade já sofreu algum tipo de
agressão em escolas públicas. Fantástico mostra imagens e depoimentos
exclusivos sobre essa violência nos colégios, que preocupa o Brasil inteiro.
Aluno bate em aluno.
Aluno bate em professor. E professor bate em aluno. São flagrantes recentes da
violência nas escolas brasileiras.
Uma das cenas que
mais tiveram repercussão foi a de um estudante de 15 anos agredindo uma
professora de inglês dentro da sala de aula.
O Fantástico
conseguiu imagens inéditas, desse caso, gravadas por um aluno. A escola
particular fica em Santos, no litoral paulista.
Pela primeira vez, a
professora revela os motivos do ataque: uma nota baixa porque o estudante não
havia feito o dever.
“Ele já não vinha
fazendo as minhas lições desde o ano anterior. Quando aconteceu o episódio dele
levantar, pegar o meu diário de classe, apagar as notas, chutar as minhas
folhas, eu só levantei porque achei que ele fosse rasgar o diário”, ela diz.
A professora
descreve a agressão: “No momento em que ele passa a perna em mim, eu tento me
segurar na blusa dele. Eu agarrei a perna dele com intuito de evitar que ele
continuasse me socando”, afirma a educadora.
O aluno, de 15 anos,
foi expulso da escola. Segundo a professora, ele sempre teve um perfil violento
e a xingava, com frequência, dentro da sala de aula. “A falta de respeito é
muito grande. Já chegou a arremessar carteiras em cima de mim”, lembra.
Esta semana, uma
pesquisa encomendada pela Apeoesp, o sindicato dos professores do ensino
oficial do Estado de São Paulo, ao Instituto Data Popular traçou um quadro da
violência nas escolas públicas paulistas.
De cada 100
professores, 44 dizem já ter sofrido algum tipo de agressão. A verbal é a mais
comum, ou seja, quando o professor é ofendido é a mais comum. Depois, vêm
assédio moral, bullying, agressão física, discriminação e furto.
“Salas superlotadas,
escolas mal iluminadas. É um ambiente que serve para tudo, menos para o
aprendizado adequado para os alunos”, explica Renato Meireles, diretor do
instituto de pesquisas.
A pesquisa revelou
ainda que 29% dos professores já viram estudantes alcoolizados na escola. E 42%
presenciaram alunos sob efeito de drogas. E 29% flagraram o tráfico dentro do
colégio.
A Secretaria de
Educação de São Paulo diz que desenvolve iniciativas de combate à violência.
“A Secretaria de
Educação conta com um oficial da Polícia Militar que assessora diretamente o
secretário de Educação nessa articulação entre as nossas escolas e os comandos
territoriais da Polícia Militar”, afirma Felipe Angeli, coordenador da
Secretaria de Educação de SP.
Na quinta-feira (9),
em um colégio estadual de Aracaju, Sergipe, um aluno de 14 anos foi encontrado,
na hora do recreio, com 30 cápsulas de cocaína. Ele disse à policia que vendia
drogas na escola havia dois meses.
Também na quinta,
aconteceu um assassinato em frente a um colégio público, em Vespasiano, Região
Metropolitana de Belo Horizonte. Ana Caroline Costa, 16 anos, foi morta com um
tiro na cabeça. Outros dois estudantes também ficaram feridos. Segundo a
polícia, está havendo uma guerra de gangues e Ana Caroline não tinha nada a ver
com a história.
“A violência é uma
epidemia dentro das escolas e os custos disso ficam para toda sociedade
brasileira”, destaca Meireles.
E quando é o próprio
professor quem agride? As imagens são de uma escola estadual de Maricá, Região
dos Lagos, Rio de Janeiro. O Fantástico localizou o estudante, de 14 anos, que
levou socos do professor, em uma escola, no mês passado.
Ao lado da mãe, ele
disse que, no começo da aula, houve uma troca de insultos, mas em tom de
brincadeira: “Ele me chamou de gordo. Chamei ele de cabeçudo. Parecia mais uma
baderna que uma aula. Todo mundo brincava”, conta.
Segundo o estudante,
o professor partiu para cima dele no fim da aula: “Começou a me encurralar. Me
cercar. Eu falei: ‘Professor, eu estava brincando’. Ele ficou nervoso e me
agrediu”, diz a vítima.
Em outra escola,
esse mesmo aluno já tinha arrumado briga, ofendido um professor e precisou
passar por um psicólogo. “Não respeitava ninguém, mas de um tempo para cá, eu
comecei a ficar bom”, garante.
O professor que deu
socos no estudante preferiu não se manifestar. Ele será transferido de colégio.
“O próprio professor
é reconhecido como professor extremamente popular, brincalhão, mas, até por
isso, talvez, tenha perdido um pouco o respeito por parte dos alunos”, afirma o
delegado Henrique Pessoa.
E qual seria a saída
para acabar com os conflitos entre professores e alunos? A pesquisa realizada
em São Paulo apontou que, nas escolas que fazem campanhas frequentes de combate
à violência, há menos agressões.
“A família tem que
conhecer o seu filho. Uma vez identificando esses problemas, ela tem que pedir
ajuda, caso não consiga resolver internamente”, diz Felippe Angeli.
“Eu sou uma
professora. Eu queria a minha vida de volta. Adoro dar aula”, lamenta uma
professora.
__________
FSP 19.05.2013
Tráfico cresce e é responsável pela internação de
42% dos jovens da Fundação Casa.
Afonso Benites
O "TV Folha" deste domingo traz debate
sobre a redução da maioridade penal no país e dados inéditos sobre o perfil dos
jovens internados na Fundação Casa (antiga Febem).
Em um período de doze anos, o número de
adolescentes apreendidos por tráfico de drogas em São Paulo saltou de 4,76% do
total de internos da Fundação Casa (antiga Febem) para 42,1%.
É a primeira vez que divide com roubo o topo da
tabela de delitos cometidos por menores de 18 anos de idade.
Os dados, obtidos pela Folha via Lei de Aceso à Informação,
mostram que o tráfico foi o principal responsável pelo aumento de 98% no número
total de internos nesses mesmos 12 anos.
No ano 2000, havia 4.197 jovens internados na
Fundação Casa. Em 2012, eram 8.342, sendo que 85% dos novos internos eram traficantes.
Para efeito de comparação, no sistema prisional,
onde estão detidos os adultos, os condenados por tráfico são 29% da população
carcerária paulista, e os por roubo, 35%.
Especialistas e a fundação dizem que a maior
presença de traficantes se deve principalmente a três fatores: a ilusão do
"dinheiro fácil", a usuários que vendem droga para sustentar os seus
vícios e ao maior rigor de juízes.
Em entrevista, a presidente da Fundação, Berenice
Gianella, afirma que esses menores veem na atividade uma possibilidade de
"ascensão social".
Da Redação, o vereador Ari Friedenbach, que teve a
filha sequestrada e morta por um menor de idade em 2003, e o professor da USP
Roberto da Silva --ex-interno da Febem-- debatem a proposta de mudança na lei
que reduziria a maioridade penal para 16 anos.
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Viomundo 12.05.2013
Governo encoraja a artilharia anti-indígena.
Padre Ton*
Não causa surpresa à Frente Parlamentar em Defesa
dos Povos Indígenas a manifestação da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann,
feita para ávidos parlamentares ruralistas, de que haverá mudanças nos
procedimentos de demarcação de terras indígenas levadas a termo pela Fundação
Nacional do Índio, FUNAI. Mudanças que
devem afetar especialmente áreas em estudo e não resolvidas no Sul e Sudeste do
país, na mira de enorme pressão econômica, política e demográfica.
Talvez algumas pessoas, movidas pela ingenuidade,
acreditem que a presença de ministra que nunca se envolveu em qualquer
atividade indígena seja obra de malabarismo político das cercanias da
Presidência da República, para esfriar a fervura do agronegócio, contrariado
com a goleada de cerca de 300 lideranças que conseguiram no Abril indígena
frear a tramitação da PEC 215/2000, que transfere do Executivo para o
Legislativo a decisão final sobre demarcação de terra indígena.
Infelizmente, não acredito que se trate disso.
A Frente tem promovido muitas atividades na Câmara
e fora dela, com a colaboração valiosa do Conselho Indigenista Missionário,
CIMI e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, APIB, a fim de deter o desmonte da legislação
indígena, e nunca pode contar com — e sequer teve notícia — o envolvimento da
cúpula do Poder Executivo em qualquer debate sobre a questão.
É significativo, pois, o fato da ministra sem
familiaridade com a pauta indígena ser portadora no último dia 8 de maio da
novidade que se pretende apresentar até o final do semestre, cometendo
impropriedades que certamente o ministro da Justiça, responsável pela política
indigenista, não cometeria.
Com o gesto, o Governo encoraja a artilharia
anti-indígena e mostra a cara quando oferece à bancada ruralista o esvaziamento
da Funai, dando ao agronegócio a senha para avançar ainda mais contra o
cumprimento de preceitos constitucionais de proteção dos direitos das
comunidades indígenas sobre terras que tradicionalmente ocupam. Lamentável.
Na coordenação da Frente Parlamentar em Defesa dos
Povos Indígenas desde 2011, vejo recrudescer a ofensiva na Câmara dos Deputados
para amputar o artigo 231 da Constituição Federal, e do lado do Governo a
percepção de que a política indigenista se tornou um empecilho para o
desenvolvimentismo que se recusa a cumprir a Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo Brasil em 2002, prevendo
consulta aos povos indígenas sempre que medidas governamentais afetem seu modo
de vida.
Primeiro, para se livrar do “estorvo” que a FUNAI
tem competência e qualificação inconteste para fazer – demarcação de terras
indígenas –, trouxe à baila a Portaria 303, da Advocacia Geral da União, de
julho de 2012, suspensa pela pressão dos indígenas de todo o país. Uma portaria
é ato administrativo, de obediência circunscrita àqueles que atuam no órgão
emissor, mas foi submetida a todos os órgãos jurídicos da administração pública
federal direta e indireta, conforme estabelece o artigo 1º.
Na verdade, editada na base do vamos fazer para ver
se cola e fica, pavimentou agressão inacreditável sobre avançada e respeitada
legislação que admitiu dívida histórica para com nossos originários habitantes.
De ilegalidade evidente, a Portaria prevê a suspensão de todos os estudos de
demarcação em curso e até mesmo refazer demarcações já homologadas, bem ao
gosto da bancada ruralista. Uma precipitação do Governo, pressionado pelo
agronegócio, que investe contra as demarcações a fim de levar para o mercado
fundiário terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
Como a Portaria 303 não vingou, utiliza-se agora de
pretextos obscuros para esvaziar a competência de um órgão a quem incumbe a
orientação e a iniciativa administrativa dos processos de demarcação,
atribuindo falha nos processos, que por isso necessitam ser instruídos, alega a
ministra, mediante a consulta de outros órgãos, como a Embrapa e Ministério da
Agricultura.
Ora, o decreto 1.775, de 1996, que dispõe sobre o
procedimento administrativo de demarcação das terras indígenas, prevê a
manifestação de órgãos públicos e entidades civis sobre a área objeto da
identificação em estudo por grupo técnico especializado constituído pela FUNAI
para decidir pela demarcação. Mais: os Estados e municípios, conforme o
parágrafo 8º do decreto, podem se manifestar desde o início do processo e até
90 dias da publicação do relatório do grupo técnico no Diário Oficial da União.
Seus dispositivos, respaldados não apenas pela
caneta do então ministro da Justiça Nelson Jobim mas também pela do ministro da
Agricultura José Andrade Vieira, garantem o princípio do contraditório, e em
todo o rito da identificação, delimitação e demarcação é possível a
manifestação de interessados e afetados, por exemplo produtores rurais e
instâncias de atividade fundiária.
Além do mais, para complementar normas contidas no
decreto, a Portaria 14, do mesmo ministro da Justiça, detalha critérios para
fundamentar o relatório circunstanciado de identificação e delimitação,
exigindo rico conjunto de informações sobre os povos indígenas, meio ambiente e
levantamento fundiário entre outras.
Pelo exposto, dizer que inexiste consulta a outros
órgãos é gritante impropriedade, e talvez a ministra Gleisi acredite,
sinceramente, que a Embrapa possa dizer cientificamente quais as áreas devem
ser demarcadas.
De suas palavras claro fica a contrariedade com o
papel específico e de referência acumulado pelo órgão indigenista: “Delegamos
única e exclusivamente à FUNAI a responsabilidade por estudos e demarcação de
terras. Nem sempre estabelecemos procedimentos claros e objetivos”.
A Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas
discorda da intenção de se promover o esvaziamento da FUNAI, legítimo braço da
União para cumprir o que determina a Constituição, que neste momento precisa,
mais do que nunca, de reconhecimento político, representado pela ampliação de
seus quadros, maior dotação orçamentária e instrumentos para indenizar áreas
tituladas indevidamente.
*É deputado federal pelo PT-Rondônia, coordenador
da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas.
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O Dia 15/05/2013
Adoção: Mães pedem ajuda
Justiça dá até
julho para que Prefeitura do Rio amplie vagas em abrigos superlotados. Famílias
cobram ajuda do governo
Maria Luisa Barros
Rio - Há três anos, a pensionista S. abriu as
portas da sua casa para receber três meninos, com idades entre 1 e 5 anos,
filhos de dependentes do crack.
Pelo trabalho social,
ela recebia uma ajuda de custo do Programa Família Acolhedora, destinado a
cariocas que abrigam provisoriamente crianças, enquanto aguardam decisão
judicial de reintegração familiar ou encaminhamento à adoção.
![]() |
A pensionista S. adotou três meninos, mas tem dificuldade para com despesas: “O governo, que gasta milhões em presídios, poderia dar bolsa de estudo para quem adota" |
O amor pelas crianças
a levou a entrar com pedido de adoção. Desde então, nunca mais recebeu auxílio
do governo. “Por que a prefeitura não pode dar um auxílio e uma bolsa de estudo
para quem adota crianças dos abrigos municipais?”, questiona S.
As limitações do
programa, que conta com a adesão das famílias, e a superlotação nos abrigos
municipais, fizeram com que a 3ª Promotoria de Justiça da Infância, do
Ministério Público, ingressasse com ação civil pública contra a Prefeitura do
Rio. O município foi intimado, no mês passado, pela 1ª Vara da Infância da
capital, a apresentar em até 120 dias plano de criação de mais 258 vagas nos
abrigos da capital.
De acordo com a promotora
de Justiça Daniela Vasconcellos, uma das autoras da ação, os abrigos cariocas
estão funcionando muito acima do limite de 20 crianças, como exige a lei.
![]() |
Infográfico mostra déficit de vagas |
“Hoje não há vagas para todas as crianças na
rede. Temos abrigos com mais de 50 crianças”, critica a promotora Daniela. Sem
vagas para grupos de irmãos, eles acabam separados e o vínculo familiar é
rompido.
“A abertura de novas
vagas permitirá que irmãos permaneçam juntos”, diz a promotora. O Ministério
Público também pediu a ampliação do programa Família Acolhedora.
Muitas famílias
desconhecem os benefícios garantidos por lei para quem adota filhos. A advogada
Silvana do Monte Moreira, diretora Jurídica da Associação Nacional dos Grupos
de Apoio à Adoção, explica que os pais adotivos têm os mesmos direitos à
licença-maternidada concedida às famílias biológicas.
“Homens solteiros e os casais homoafetivos
estão conseguindo a licença-maternidade na Justiça”, orienta.
Segundo ela, já há
decisões favoráveis a funcionários, sem direito ao benefício, baseadas no
princípio da isonomia e até licença-maternidade de seis meses para pais.
Mãe de 'fígado' e de 'coração’
![]() |
Mãe acolhedora, Rosiléa doou fígado para Lucas |
Mãe do coração,
Rosiléa Ornelas, doou parte do fígado para o pequeno Lucas, de 1 ano e meio. O
bebê surgiu na vida da costureira aos 7 meses, quando ela se cadastrou no
Programa Família Acolhedora.
Com apenas 12 dias de
convivência com a família de Rosiléa, Lucas foi internado no Hospital de
Bonsucesso, com cirrose hepática. O menino precisava de um transplante urgente
de fígado.
“A médica disse que
ele teria alguns meses de vida. Chorei muito, mas não desisti de ficar com
ele”, conta. Depois de entrar em contato com a família biológica da criança e
de não obter sucesso nos testes de compatibilidade, Rosiléa descobriu que
poderia doar parte do seu fígado para Lucas por conta do tipo sanguíneo.
Foram dois meses de
muitos exames até que a costureira recebeu a autorização para o transplante,
realizado na semana passada. Lucas terá alta sábado e a família de Rosiléa vai
lutar por sua guarda definitiva.
___________
FSP 14/05/2013
Cracolândia e
internação involuntária são destaque no 'The Guardian'.
A grande
concentração de usuários de crack na região central de São Paulo e as atuais
políticas para a desocupação do local foram noticiadas no jornal britânico
"The Guardian".
Texto publicado no
último dia 9 aponta São Paulo como a capital nacional do crack e destaca o que
foi chamado de "operação de limpeza". Essas ações teriam começado no
ano passado e mais recentemente passaram a focar na intervenção judicial e
tratamento involuntário.
A publicação mostra
defensores das medidas, mas também cita críticas que apontam o tratamento
forçado como uma violação dos direitos dos usuários. O "The Guardian"
diz ainda que as medidas podem ter sido motivadas para "limpar um pedaço
da cidade potencialmente valioso".
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Cadeirante vende crack
na região central de São Paulo
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"Não existem
estatísticas confiáveis, mas, em seu auge, a Cracolândia deveria ter cerca de
2.000 usuários. Hoje, o maior movimento ocorre por volta das 2h de sexta-feira,
quando há em torno de 800. Apesar disso, é cada vez mais evidente a migração dos
usuários para outras partes do centro da cidade, como a região da Sé", diz
a reportagem.
Sobre as instalações
para o tratamento, o jornal descreve como "impressionantes". Segundo
ele, "quem se interna voluntariamente pode jogar dominó, futebol de mesa e
ter aulas de arte. Há sala de informática, dormitório para 110 adultos e 20
adolescentes, bem como uma sala de jantar que oferece quatro refeições por
dia."
Por outro lado, a
publicação aponta que há "apenas 700 leitos disponíveis". "A
escassez é ainda maior em outros lugares do país. As maiores áreas de
crescimento para a droga agora estão no interior e nos Estados no Norte, muitos
dos quais agora possuem suas próprias Cracolândias."
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Jornal O Dia
13.05.2013
Lar para filhos do
crack
Droga já a principal
responsável pela perda da guarda de crianças no Rio. Quando não há parentes
capazes de cuidar dos menores, o encaminhamento para adoção é imediato.
Maria Luisa Barros
Rio - Levado pela
mãe ainda bem pequeno para a cracolândia do Jacarezinho, D., 10 anos, recebe
acompanhamento psicológico da nova família adotiva para tentar se livrar dos
traumas da infância. Na época, passou fome e foi obrigado a pedir dinheiro nas
ruas para sustentar o vício dos pais. Histórias de vidas sofridas como a dele
são cada vez mais comuns nos abrigos cariocas. No ano passado, 1.362 crianças
foram acolhidas em abrigos do Rio, vítimas de negligência e abandono. Mais de
200 delas tinham pais viciados em drogas ou álcool.
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Filhos do crack ganham um lar |
A epidemia do crack
também afeta os filhos. Cerca de 78% dos jovens abordados pelas equipes da
Prefeitura do Rio declararam já ter usado algum tipo de droga, sendo que um em
cada três alegaram ter experimentado crack. No abrigo municipal Ana Carolina,
em Bonsucesso, 12 dos 13 bebês acolhidos no berçário são “filhos” do crack.
“Como as mães não fazem pré-natal e ficam subnutridas nas ruas, os bebês nascem
prematuros e ficam na UTI. Quando elas recebem alta nem retornam para buscar os
filhos”, conta a diretora do abrigo, Aline Peçanha Oliveira, que junto com as
funcionárias do espaço, se encarrega de escolher um nome para o recém-nascido e
providenciar as primeiras vacinas. Sem vínculo com os pais, os “órfãos” do
crack são imediatamente encaminhados à adoção.
A droga já é a
principal responsável pela perda da guarda de crianças no município, nos
pedidos feitos pelo Ministério Público. “Um ano na vida de uma criança abrigada
é muito tempo. Se não há chance de reintegração familiar, ela deve ser colocada
de imediato em uma família substituta”, explica a promotora de Justiça da
Infância e Juventude, Daniela Vasconcelos. Antes, porém, é feita uma tentativa
de encontrar parentes que tenham prioridade na guarda das crianças. “Até
localizam a família, mas muitas vezes, a avó já cria outros filhos dessa
mulher. Infelizmente ela reconhece que não tem condições de ficar com mais uma
criança”, diz Aline, que percebeu essa mudança de dois anos para cá. “Antes
recebíamos crianças vítimas de violência doméstica e maus tratos. Hoje, 90% dos
casos tem envolvimento com o crack”, observa. A maioria dos bebês sofre de
doenças transmitidas pela mãe dependente, como sífilis, Aids e doenças
respiratórias. “A sífilis é tratada no hospital e a criança não fica com
sequela. No caso da Aids, a mãe usuária do crack não toma a medicação que
poderia curar o filho”, lamenta.
Destinos que mudam
para melhor
Nas festas do
colégio, enquanto os colegas chegam com seus pais e mães, os irmãos de coração,
F., 9 anos, e D., 10 anos, levam os dois pais adotivos. A vida das crianças
mudou há dois anos.
Sem encontrar
pretendentes entre casais brasileiros, eles estavam sendo encaminhados para a
adoção internacional, quando o destino dos menores cruzou com os dos pastores
Marcos Gladstone e Fabio Inácio, líderes da Igreja Cristã Contemporânea,
voltada para fiéis homossexuais.
Casados há quatro
anos, pregavam o amor sem preconceito. Por isso decidiram não fazer nenhuma
restrição quanto ao perfil das crianças abrigadas. “Queríamos um filho. Não
importava a cor ou sexo. Podiam ter aids ou deficiência. O único medo era que
mais velhos pudessem nos rejeitar por causa da nossa orientação sexual”, contou
Fábio Inácio, que passou por todas as etapas da adoção até ser habilitado, após
entrevistas com psicólogos e assistentes sociais.
Para eles, a tarefa
mais difícil foi ajudar os pequenos a superar os traumas da violência. Os pais
de D. eram usuários de crack, e a mãe de F. o deixou na escola e nunca mais
voltou. “No início, vieram cheios de maus costumes. Pegavam dinheiro em casa,
queriam comer desesperadamente, porque achavam que não teriam comida no outro
dia”, conta Fábio, que precisou enfrentar as ameaças de D. “Ele aprontava e
dizia para devolvê-lo, se quisesse. Eu disse que podia colocar fogo na casa.
Mas que era meu filho e nunca seria devolvido”, diz Fábio. “Hoje são crianças maravilhosas”.
A comerciante Márcia
Dias, 43 anos, deu entrada no pedido de adoção em maio de 2009. Conseguiu a
habilitação há um ano. Na semana passada, às vésperas do Dia das Mães, recebeu
a notícia de que uma menina de quatro meses estava à sua espera. Os pais
biológicos viciados em crack perderam a guarda. “Tenho condição de fazê-la
muito feliz”, disse, agradecida, por esse presente aguardado há quatro anos.
_________
Terra 10.05.2013
Relatório militar
aponta uso de napalm contra a guerrilha no Araguaia
Relatórios elaborados
pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) apontam que o Exército brasileiro
realizou pelo menos três bombardeios com napalm contra 65 guerrilheiros no
Araguaia, no sudeste do Pará, em 1972.
Além disso, de acordo
com os relatórios elaborados pelo integrante da comissão Cláudio Fonteles, o
uso da força militar foi desproporcional contra os militantes do PCdoB na
região. Cerca de 2,4 mil homens foram destacados para combater os
guerrilheiros, sendo que 1,9 mil deles realizaram operações contra a guerrilha.
Os relatórios
comparam a morte dos guerrilheiros a um exercício militar, “a manobra, como
exercício de adestramento da tropa, alcançou plenamente seu objetivo”, diz
trecho dos relatos militares registrados na documentação. Para Fonteles, esse
material deixa clara a participação ativa do Estado Maior do Exército e do
Comando do Planalto nas decisões.
Documentos do
Exército apontavam que os guerrilheiros tinham armas obsoletas e estavam
praticamente sem condições de combate, o que, para Fonteles, deixa claro que a
repressão “adotou postura de implacável eliminação”.
Os textos publicados
por Fonteles também elucidam o que aconteceu no atentado do Riocentro, em 1981,
onde se realizada um show pelo dia do trabalho. De acordo com o texto publicado
pela CNV, o Exército tentou manipular o caso, mas não obteve sucesso, uma vez
que o artefato explodiu matando o sargento do Exército Guilherme Ferreira do
Rosário.
A detonação seria
fruto da imperícia do sargento, que é classificado nos relatórios militares
como “técnico em explosivos autodidata, sem curso ou estágio no manuseio de
explosivos”.
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Portal Vermelho 19.04.2013
Encontrados
registros de índios torturados pela ditadura militar.
Foi encontrado
recentemente, no Museu do Índio, no Rio de Janeiro, o Relatório Figueiredo, que
estava desaparecido há 45 anos. Com mais de 7 mil páginas preservadas e
contendo 29 dos 30 tomos originais, o texto redigido pelo então procurador
Jader de Figueiredo Correia traz denúncias de caçadas humanas promovidas com
metralhadoras e dinamites atiradas de aviões, inoculações propositais de
varíola em povoados isolados e doações de açúcar misturado a esctricnina.
Uma das fotos que
fazem parte do Relatório Figueiredo/Reprodução Estado de Minas
Uma das versões
sobre o desaparecimento do material era de que ele teria sido destruído em um
incêndio no Ministério do Interior.
Em 1968, a comissão
de inquérito administrativa produziu a documentação que ficou conhecida como
Relatório Figueiredo, uma referência ao presidente da comissão, o ex-procurador
Jader Figueiredo Correia. Convidado para a função pelo ex-ministro do Interior
general Afonso Augusto Albuquerque Lima, Figueiredo esteve à frente do grupo
que, por quase um ano, percorreu todo o país, em plena ditadura militar, para
apurar as denúncias de crimes cometidos contras a população indígena.
As investigações
começaram em 1967 e tiveram como base comissões parlamentares de inquérito de
1962 e 1963 e denúncias posteriores de deputados. No total, a expedição
percorreu mais de 16 mil quilômetros, entrevistou dezenas de agentes do Serviço
de Proteção aos Índios (SPI) e visitou mais de 130 aldeias. Jader de Figueiredo
e sua equipe constataram diversos crimes, propuseram a investigação de muitos
mais que lhes foram relatados pelos índios, se chocaram com a crueldade e
bestialidade de agentes públicos.
Em um dos diversos
registros brutais de tortura, um instrumento era bastante utilizado nos postos
do SPI, o chamado “tronco”, descrito da seguinte maneira: “Consistia na
trituração dos tornozelos das vítimas, colocadas entre duas estacas enterradas
juntas em um ângulo agudo. As extremidades, ligadas por roldanas, eram
aproximadas lenta e continuamente”.
Comissão
da Verdade
Agora, o relatório
pode se tornar um trunfo para a Comissão da Verdade, que apura violações de
direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988. As informações foram publicadas
no jornal Estado de Minas.
Naquela ocasião, em
1968, o país foi privado da possibilidade de fazer justiça nos anos seguintes.
Em 13 de dezembro do mesmo ano o governo militar baixou o Ato Institucional nº
5, restringindo liberdades civis e tornando o regime autoritário mais rígido.
Albuquerque Lima chegou a recomendar a demissão de 33 pessoas do SPI e a
suspensão de 17, mas, posteriormente, muitas delas foram inocentadas pela
Justiça. Funcionários que haviam participado do trabalho foram exonerados. Quem
não foi demitido foi trocado de função, numa tentativa de esconder o
acontecido.
Especialistas, como
o vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo, Marcelo Zelic,
acreditam que algumas dessas questões podiam ter sido esclarecidas há 44 anos,
quando o então Ministério do Interior criou uma comissão de inquérito
administrativa para apurar denúncias contra o Serviço de Proteção aos Índios
(SPI), órgão que antecedeu a Fundação Nacional do Índio (Funai), criada em
1967.
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G1 01/05/2013
Viciado em internet não sai de
casa há cinco anos no Espírito Santo.
Jovem diz que sofria bullying na escola antes do isolamento. Mãe sonha com vida social de filho e pede socorro.
Eliana Gorritti
A dona de casa Flávia Coutinho pede socorro
para o filho viciado em internet. Ele tem 18 anos e não quer se identificar. Há
mais de 5 anos, o jovem se esconde atrás da tela de um computador, onde
encontrou refúgio longe dos problemas que começaram na infância, na escola,
quando ele foi vítima de bullying. O rapaz não sai mais de casa, no Centro de Vitória, Espírito Santo.
A
mãe conta que o rapaz sofre muito, está abaixo do peso, não se cuida, não come,
nem dorme direito. “Ele sofreu muito
bullying na escola e era chamado de mongol. Diziam que ele era feio e que tinha
muita espinha. Colocavam ele lá embaixo. Na verdade, ele tem déficit de
aprendizagem e problema na fala. No mundo virtual, ele encontrou alguém que não
critica ele. Meu filho ganhou uma identidade”, disse.
“Ali,
tenho amigos e sou melhor que na vida real."
Jovem viciado em
internet
Diante
dos maus-tratos dos colegas, o jovem abandonou a escola na sexta série e se
isolou. Hoje, ele passa o dia inteiro em um mundo virtual, cercado de jogos e
de fantasias. Mas ele diz que quer ajuda e sair dessa vida. “Ali, eu tenho amigos, eu sou melhor que na
vida real. Queria ter uma vida social e sair desse mundo escuro”, disse o
rapaz viciado em internet.
Em
2013, o problema do jovem ficou mais grave. Os médicos diagnosticaram que ele
está com síndrome do pânico e, agora, está com medo de sair de casa e de ser
vítima de perseguição. Ele teme mais uma vez ser vítima de bullying. “Quero que
ele tenha uma vida social e seja um menino como qualquer um da idade dele”, diz
a mãe.
Superação
Muitos
jovens enfrentam o mesmo problema. Em 2007, Caio Azeredo, na época com 14 anos,
não saia de casa e não tinha amigos. Ele era viciado no computador. “A minha relação com os jogos de computador
não era saudável. Precisava daquilo porque não estava conseguindo me entrosar
na escola e na vida. Não fazia amigos porque era um pouquinho diferente. Quando
você não consegue se identificar com as pessoas que convive todo dia, acaba se
sentindo isolado", disse.
Hoje
com 20 anos, o estudante diz ser uma outra pessoa e superou o vício com a ajuda
dos pais. “O computador deixou de ser uma
necessidade e passou a ser uma opção. Uso o computador como lazer. Hoje não tem
nada melhor do que estar com meus amigos. Se tem alguém que pode fazer a
diferença neste tipo de problema, são os pais. Só eles podem ajudar, que muitas
vezes são os únicos amigos”, disse.
Sintomas
Segundo
a psicóloga Aline Hessel, a partir do momento que o jovem para mais de cinco
horas na internet, isso pode ser um indício de uma pessoa que está
desenvolvendo uma dependência. "É
importante que os pais tenham consciência de que limites devem ser colocados.
Também é necessário que os pais criem alternativas. Convidar o jovem para ir ao
supermercado não é um dos melhores programas. É interessante buscar passeios
que sejam mais atraentes", diz.
Aline
ainda diz que os pais devem ser os primeiros a ajudar os filhos que estão
dependentes do computador. "Eles
devem ficar atentos aos primeiros sinais de que algo está errado, como o
isolamento social, o fato de deixar de fazer atividades que fazia no dia a dia
e o baixo desempenho escolar. Ela diz que para vencer o vício, o caminho é
conversar sempre, estipular horários de uso do computador, tomar atitudes a
princípio antipáticas mas salvadoras: como por exemplo retirar o computador da
tomada", orienta a psicóloga.
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O Globo 29.04.2013
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Clik na imagem e veja o vídeo |
Uma delas é
mantida pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP), a do vídeo a seguir, presidente da Comissão de
Direitos Humanos da Câmara
BRASÍLIA - Uma
sirene anuncia as sessões de terapia na Casa de Recuperação Ressuscita em
Cristo, numa ampla chácara no Gama, região do Distrito Federal. A terapia se
resume a sucessivos cultos e estudos bíblicos numa igreja improvisada com bambu
e lona. Um grito de guerra precede cada pregação:
— Ovelha gera
ovelha — bradam os internos e o pastor Claiton Afonso Vieira, o comandante do
rebanho.
As atividades
religiosas começam às 7h, no momento em que os 70 homens dependentes de álcool,
cocaína ou crack acordam, e prosseguem até 21h. Nesse intervalo, são realizados
pelo menos três horas de culto evangélico e duas horas de estudos bíblicos.
A comunidade
terapêutica é mantida pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da
Comissão de Direitos Humanos da Câmara, e integra um projeto de sua igreja, a
Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, sediada em São Paulo. Aberta há
quatro anos para tratar dependentes de drogas, principalmente jovens e adultos
viciados em crack, a entidade em Brasília não oferece atendimento psicológico,
psiquiátrico ou qualquer medicação.
— O que leva ao
crack é essa doencinha do século XXI, a depressão, um estado de profunda
tristeza da alma. Para a alma, não adianta remédio, não adianta psicólogo: só
Jesus Cristo — diz o pastor Claiton, parceiro de Feliciano no projeto da
Catedral do Avivamento que encaminha dependentes químicos a casas de abrigo.
Feliciano paga o
aluguel da chácara e encaminha dependentes de drogas de sua cidade, Orlândia
(SP), para a casa de abrigo em Brasília, distante 641 quilômetros. Na prática,
o deputado faz uma limpeza das ruas e capitaliza com as famílias e a população
local. O mesmo ocorre no Gama, como explica o pastor Claiton, que diz ouvir
apelos para que se candidate a deputado:
— Acabei com a
bandidagem no Gama.
A manutenção de
comunidades terapêuticas se tornou importante filão eleitoral para as bancadas
evangélica e católica no Congresso. Pelo menos três deputados federais e um
senador mantêm essas entidades em funcionamento, com ganhos eleitorais nas
bases onde atuam.
A igreja de
Feliciano encaminha dependentes de drogas a comunidades terapêuticas em São
Paulo e Brasília. A primeira vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos,
deputada Antônia Lúcia (PSC-AC), inaugurou uma comunidade no Acre. O deputado
Givaldo Carimbão (PSB-AL), relator do projeto de lei que prevê internações
involuntárias de dependentes, é fundador de um abrigo em Alagoas. E há 30 anos
o senador Magno Malta (PR-ES) mantém ampla comunidade em Cachoeiro de
Itapemirim (ES).
Esses
parlamentares podem se beneficiar diretamente das iniciativas do governo
federal de financiamento a comunidades terapêuticas: estão previstos R$ 130
milhões pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e R$ 100
milhões pelo Ministério da Saúde. A ordem do Planalto é liberar com rapidez o
dinheiro, como parte do programa “Crack, é possível vencer”, lançado pela
presidente Dilma Rousseff no fim de 2011.
O projeto relatado
por Carimbão também beneficia diretamente as comunidades terapêuticas, com
previsão de quatro fontes de financiamento para elas.
Carimbão mantém em
funcionamento um espaço católico chamado Cidade de Maria, em Craíbas (AL), onde
construiu casas para dependentes de drogas. O nome da comunidade é Fazenda Vida
Nova, inscrita na Senad para receber dinheiro público. O deputado diz ter
ajudado 13 entidades de Alagoas a se cadastrarem, mas nega ser o proprietário
da Vida Nova.
— Não tenho
instituição. Ajudei a montar, a funcionar. Dou minha vida para isso porque
acredito — diz Carimbão.
Protagonista de
uma crise política desde sua chegada à presidência da Comissão de Direitos
Humanos, Feliciano leva a sério o projeto de ter uma ampla rede de comunidades
terapêuticas vinculadas à Catedral do Avivamento. Para isso, escalou dois de
seus 20 secretários parlamentares — pagos pela Câmara — para cuidar do projeto:
Adilson Brito e Roseli Octávio. A dupla cuida das igrejas de Feliciano em São
Paulo. O primeiro é cantor gospel. A segunda é gestora dos templos religiosos.
O deputado
apresentou projeto que prevê internação compulsória de dependentes de drogas e
álcool em “instituições apropriadas”, entre elas comunidades terapêuticas. O
projeto foi anexado à proposta relatada por Carimbão, prestes a ser votada na
Câmara.
Dependentes usados como claque
Feliciano aparece
na Casa de Recuperação Ressuscita em Cristo para fazer pregações. Toda semana,
um funcionário da igreja do deputado em Orlândia transporta moradores para
Brasília. Em duas ocasiões, o grupo de dependentes foi convocado para ir à
Câmara defender Feliciano de protestos na Comissão de Direitos Humanos. Arnaldo
Silvério, de 33 anos, já saiu duas vezes de Orlândia rumo a Brasília para
tentar se recuperar da dependência ao crack.
— Na primeira vez
voltei para minha família. Fui encarar o demônio de frente, mas não estava
preparado. Agora, procuro ajuda da Bíblia — diz Arnaldo.
Num único quarto,
ficam 48 internos, em 24 beliches. O banheiro coletivo tem quatro chuveiros e
quatro vasos sanitários. Para entrar na comunidade terapêutica, é preciso pagar
taxa de R$ 150.
Em Cachoeiro do
Itapemirim, o projeto Vem Viver, do senador Magno Malta, também é estruturado
em torno da terapia religiosa. O parlamentar explica como é feita a
desintoxicação das drogas:
— Recupero com
tratamento de cura espiritual. E com chá de capim-cidreira, o melhor diurético
que existe. Não conheço ninguém que se recuperou com médico.
O presidente da
Associação Brasileira de Psiquiatria, Antonio Geraldo da Silva, discorda do
argumento do senador e de outros líderes religiosos. Para ele, a religião pode
auxiliar na recuperação, mas jamais substituir o tratamento médico:
— Não conheço
tratamento de dependência química sem passar por médico. Não se trata de doença
da alma, mas de dependência química de altíssima complexidade, que demanda
médicos muitíssimo bem treinados.
O Conselho Federal
de Psicologia também critica o funcionamento das comunidades. Em 2011, inspeção
do conselho em 68 entidades detectou “como regra” ausência de recursos
terapêuticos. “São comuns interceptação e violação de correspondências,
violência física, castigos, torturas, humilhação, imposição do credo, exigência
ilegal de exames clínicos, como o teste de HIV, intimidações, desrespeito à
orientação sexual, revista vexatória de familiares e violação da privacidade”,
cita o relatório produzido pelo Conselho de Psicologia.
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O Globo 01.03.2013
Pesquisa expõe apologia ao uso do crack no Twitter
Subproduto da cocaína foi citado 18 mil vezes em 17
dias, sendo que 52% das menções foram positivas
Outras drogas entraram no estudo. Maconha teve 91%
de "aceitação"
Barbara Marcolini
RIO - “Fumando duas pedras de crack para começar a
tarde bem”. A frase, que poderia ter sido ouvida pelas ruas de alguma
cracolândia em uma grande cidade brasileira, foi publicada em um perfil do
Twitter em dezembro do ano passado. Assim como ela, muitos outros pequenos
depoimentos sobre o consumo de drogas são escritos diariamente por milhares de
pessoas no microblog. Alguns em tom de brincadeira, outros nem tanto, eles
foram a base para uma pesquisa que avaliou como as drogas, lícitas e ilícitas,
são retratadas nas redes sociais. Os resultados surpreenderam até mesmo quem
lida com dependentes químicos, e mostram que nem sempre o que é considerado
senso comum é reproduzido na rede.
A ideia partiu do matemático Braulio Medina,
cofundador da empresa Vortio, de análises de redes sociais para marcas e
produtos. Ex-fumante, ele decidiu usar seu conhecimento para monitorar a rede e
compreender qual a imagem das drogas por lá. A ferramenta utilizada identificou
por 17 dias todas as menções no Twitter às drogas listadas: crack, maconha,
LSD, ecstasy, Rivotril, cocaína, cigarro e cerveja, num total de 300 mil
tweets. A análise levou em conta o aspecto positivo ou negativo das mensagens
trocadas no microblog, além do sexo e o potencial de influência de seus
emissores, identificado pelo número de seguidores. Os resultados foram
apresentados no YouPix Rio, festival de cultura digital que aconteceu no Rio de
Janeiro.
— O Twitter é uma rede aberta onde as pessoas
expõem mais o que pensam. Se em uma pesquisa você consegue ouvir dezenas ou
centenas de pessoas, na rede social eu posso ouvir milhares. Esse é um estudo
preliminar, mas a gente já pode perceber um sentimento bastante positivo em
relação à droga — afirma Medina.
Uma das maiores surpresas foi a maciça aceitação do
crack . O subproduto da cocaína foi citado mais de 18 mil vezes, e teve 2.338
memes. Das citações, 52,2% foram de apologia à droga e podem ter alcançado mais
de um milhão de pessoas. Segundo Medina, isso mostra que o crack está cada vez
mais presente na classe média, e que a sua imagem não é tão negativa quanto
deveria.
Para a psicanalista Ivone Ponczek, diretora do
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad) da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), o resultado é assustador. Ela
argumenta que a grande maioria dos usuários não têm o perfil de quem estaria nas
redes sociais. São pessoas em situação de miséria e muitas vezes sem moradia. O
fluxo de mensagens positivas indicaria uma atração pela transgressão que a
droga representa, e um estímulo preocupante.
— Tudo o que se fala sobre o crack é que ele é
devastador. Me espanta que essa droga esteja levando uma imagem positiva. Tenho
a triste impressão de que existe uma certa atração pelo trágico. Esse resultado
nos faz questionar certas campanhas que ligam a droga à tragédia, e podem ter
um efeito paradoxal.
A cocaína, por outro lado, teve 75% de comentários
negativos a seu respeito. Já a maconha foi a droga ilícita com maior aceitação:
91,9% de mensagens positivas e mais de 18 milhões de pessoas potencialmente
alcançadas. A droga só perde em aceitação para a cerveja, com 94,4% de citações
positivas, e o Rivotril, calmante que não teve sequer uma menção negativa.
— A cerveja e a maconha provocam sensação de
relaxamento por serem depressores do sistema nervoso central, assim como o
Rivotril. O que devemos nos perguntar é o que está fazendo os jovens precisarem
se drogar tanto. Vivemos em uma sociedade de excessos e do prazer instantâneo.
Não podemos desvincular as drogas da nossa cultura — salienta Ivone.
Uma breve pesquisa no Twitter já oferece uma ideia
do que Medina encontrou em seu estudo. São abundantes piadas sobre o uso de
algumas drogas e comparações entre os efeitos de cada uma. Enquanto alguns
perfis causam apreensão, outros sugerem muito do que está no microblog não deve
ser levado a sério. O usuário @FrasesMaloquero, por exemplo, narra o dia a dia
de um traficante. Poderia ser interpretado como apologia ao crime, mas não
passa de uma brincadeira. Seu criador, o analista de crédito Carlos Alexandre
de Alencar, garante que não usa drogas e vê sua atividade na rede como mera
diversão. O rapaz de 24 anos admite que algumas pessoas dizem se identificar
com o que ele escreve, mas lembra que nada ali pode ser levado ao pé da letra.
— A rede social já é uma coisa que as pessoas não
levam tão a sério, e o meu perfil é uma grande brincadeira. As pessoas me
seguem para rir — afirma.
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O Dia 06.03.2013
OEA vai apurar sequestros de crianças no Rio
Investigação lenta por parte da Polícia Civil estaria violando os
direitos humanos. ONG também vai pedir ajuda da OAB
Alessandro Lo-Bianco
Rio - A presidente do Portal Kids,
Wal Ferrão, denunciou ontem à Organização dos Estados Americanos (OEA) violação
dos direitos humanos cometida durante investigação do desaparecimento de 17
crianças no Rio. Nesta quarta-feira ela vai pedir à Comissão de Direitos
Humanos da OAB que também interceda junto à OEA.
Conforme publicado nesta terça-feira com exclusividade pelo DIA, 15 inquéritos policiais
estão parados há mais de dez anos na Polícia Civil e, no entanto, ainda não
foram encaminhados ao Ministério Público.
“Chega! Está na hora de os inquéritos saírem das
mãos da Polícia Civil. Cheguei a levar o caso para o então presidente Lula, mas
nada aconteceu. Só me resta recorrer às entidades internacionais”, disse Wal
Ferrão.
Raquel Gonçalves, tia da menina Larissa,
sequestrada em 2008 |
Foto: Uanderson
Fernandes / Agência O Dia
Um dos casos chamou a atenção da organização.
Trata-se do inquérito de Thaís Barros, sequestrada aos 9 anos em dezembro de
2002.
Há 11 anos parado na Delegacia de Proteção a
Criança e Adolescente (DPCA), e apesar de o caso não ter sido encaminhado ao
Ministério Público, o retrato falado do acusado de sequestrar Thaís foi
reconhecido também por familiares de Larissa Gonçalves, sequestrada seis anos
depois.
A ONG Portal Kids estranha que Fernando Marinho
tenha sido condenado pelo sequestro de Larissa, mas que o caso de Thaís
permaneça em fase de inquérito desde 2002, mesmo que se trate do mesmo acusado.
Indignação
Segundo Elisabeth de Lima Barros, mãe de Thaís, a
indignação é diária: “Há 11 anos peço a abertura do processo mas sou ignorada.
Sempre que aparece algum investigador interessado, ele é trocado. Já insinuaram
que a culpa era minha, quando questionaram se a minha filhinha de 9 anos não
teria fugido para a casa de um namoradinho”, disse, emocionada.
Condenado a quatro anos por sequestro qualificado,
Fernando Marinho de Melo, reconhecido por familiares em mais de dez casos que
permanecem em fase de inquérito desde 2002, teve a pena convertida para
prestação de serviços comunitários.
Mães não contam com a
Polícia
A deputada federal Andreia Zito diz que o Cadastro
Nacional de Desaparecidos, em teste desde 2010, não funciona. “A ideia do
cadastro (www.desaparecidos.gov.br) é reunir informações e agilizar o registro
de desaparecidos. No entanto, ele não é atualizado, e os dados não correspondem
à realidade”.
A falta de delegacias especializadas, segundo ela,
também dificulta o resgate da criança.
Para a deputada federal Lílian Sá, não há
investigação. “Temos vários casos enigmáticos aqui no Rio de Janeiro. As mães
estão arriscando as próprias vidas para acharem seus filhos sem ajuda da
polícia”.
Silêncio para não
prejudicar investigações
Segundo a delegada Bárbara Lomba, titular da
Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente (DPCA), os inquéritos estão em
curso, mas nenhuma informação pode ser divulgada para não atrapalhar as
investigações.
Foi criado ontem o movimento “E se fosse a minha
filha?”, para que a pena de Fernando Marinho de Melo seja revista, além de
pedir que os inquéritos passem para a Polícia Federal.
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FSP 05.02.2013
Diário de uma consumista
em jejum
Repórter passa 15 dias sem ir às compras e conta
como sobreviveu às crises de abstinência e a duas recaídas, uma delas ao
comprar uma raquete de matar pernilongos
TETÉ MARTINHO
Primeiro dia. No fim da tarde, estou fazendo hora
para ir ao cinema quando uma caveirinha pisca para mim de uma vitrine. Uma,
não, várias. Sorridentes e floridas, elas estampam duas nécessaires e um bloco
de notas irresistível.
Não sendo exceção entre os admiradores da simpática
figura, entro na loja, pergunto o preço, saco o cartão e arremato. Feliz da
vida por resolver um problema que nem sabia que tinha: arranjar uma lembrança
natalina legal e baratinha, ainda que atrasadíssima, para uma amiga.
Só me daria conta do mau passo depois do filme. No
primeiro dos quinze dias em que me dispus a passar sem abrir a carteira (a não
ser para comprar comida), a fim de viver uma experiência digna de ser contada
aqui, escolho matar o tempo olhando vitrines, invento uma necessidade do além e
falho miseravelmente, tudo sem perceber.
Por pior que ande minha memória, não costumo
esquecer o que estou fazendo. Desconfortável, prego um post-it mental e retomo
a missão.
Os dias seguintes transcorrem sem grandes dramas.
Sublimar os impulsos mais malucos de consumo vem sendo um exercício constante
(além de questão de sobrevivência) para minha endividada pessoa. Salvo surtos
eventuais, alguns deles assustadores, tenho vencido.
Dado o contexto, chega a ser engraçado viver, por
duas semanas, na ilusão de que poderia levar tudo o que vejo nas vitrines, mas
que não o faço por obrigação profissional. Engraçado e chique.
Já das miudezas e pechinchas, sinto falta. Na
impossibilidade de debelar meu consumismo, foi para elas que desviei o ímpeto.
Como medida de controle de danos, não é ruim; às vezes, gastar R$ 0,25 em um
carretel de linha de uma cor inspiradora pode ser suficiente para me mandar
para casa feliz. Só de pensar que vou descer a pé a rua Teodoro Sampaio já me
animo; mas lembro do serviço e meu coração afunda.
Crise de Abstinência
Um dia, chove inesperadamente e lamento não poder
usar o pretexto para comprar uma sombrinha chinesa, mania inocente que me
permito. Sim, elas se desintegram logo, mas custam R$ 7 e sempre há uma engraçadinha.
No outro, a caminho de um compromisso, passo por
uma ponta de estoque que só por milagre poderia ter algo a oferecer e entro
assim mesmo. Acho que nunca vou abrir mão do prazer idiota de examinar umas
araras para adiar o batente - por cinco minutos que sejam.
Na segunda semana, começo a achar a vida meio
parecida com o Second Life, aquele ambiente virtual onde você ficava comprando
coisas para definir seu personagem. A digressão pseudofilosófica deve ser
sintoma da síndrome de abstinência.
Outro: ao andar por uma rua crivada de tentações,
de repente me engraço por tudo, incluindo coisas sobre as quais não tenho
opinião formada. Decido: no primeiro dia livre dessa incumbência, volto para
comprar a sandália anabela com salto de corda e o chapéu com fator UV.
Chega um sábado e, alegria, tenho que ir à feira.
Meio confusa depois de tanta contenção, compro cenouras orgânicas em duas
bancas e arremato mudas de erva-cidreira que, de fato, não são para comer. Na
saída, quase caio na tentação de entrar na tenda de uma taróloga.
No caminho para casa, um ambulante no farol oferece
uma raquete de fritar mosquitos. Lembro que a nossa pifou. A próxima coisa que
sei é que a raquete está no banco traseiro, e eu falhei -de novo.
Hábito ou Vício?
Começo a desconfiar do meu cérebro. Quando ele me
enganou assim antes? O que é isso que se imiscui na vida, contra todas as
deliberações em contrário? Que quando você vê, já fez? Lembro que isso se chama
vício, ou hábito se você preferir um eufemismo. Lembro-me do que tive de entender
para parar de fumar e vejo que tudo se aplica. Em especial, o fato de que um
cérebro dependente de determinado estímulo fará de tudo para obtê-lo.
A recorrência exaustiva do impulso de comprar
lembra muito o desejo de fumar de quem larga o cigarro. Não passa uma hora
livre em que não me ocorra entrar numa farmácia, não ando um quarteirão sem me
deter diante de uma vitrine, não vejo uma papelaria sem vasculhar uma lista
mental de itens faltantes.
Mas eis que, assim como no caso do cigarro,
resistir compensa. É o que percebo ao me colocar, de propósito, em
situações-limite, como um magazine sortido na rua 25 de Março e uma Americanas
Express, em Pinheiros (não, o Shopping JK não faria o truque; quando entro lá,
minha cabeça se ajusta para o "modo museu", um estado contemplativo e
desprovido de intenção de compra).
Já em lojas populares, me jogo. Na primeira, me
interesso por sianinhas douradas, dúzias de isqueiros Bic (foram-se os
cigarros, mas eles ficaram) e uma caixa de Lenços Presidente. Na segunda, há o
DVD de "Bob Esponja - O Filme" (R$ 14,90), um clássico, e um conjunto
baratíssimo de copos da Nadir Figueiredo. Mas aí você não compra e, ao pisar de
volta na calçada, se dá conta de que nada daquilo faria diferença na vida. Ou
quase nada.
Deve ser por isso que sites especializados em
aconselhar consumistas compulsivos, como o americano "My Year Without
Clothes Shopping", preconizam o jejum como ponto de partida para a mudança
de hábito (veja à pág. 6).
Comprar é divertido e comprometedor, como todo vício,
mas é mais difícil de combater do que a média. Não só não consideramos nosso
hábito de consumo excessivo como agimos como se estivéssemos aqui para isso.
Lapsos à parte, o que o período de privação me
mostrou é que parar é ter de prestar atenção. Isso é um começo para quem quer
deter a compulsão. Se não para ajudar o Banco Central a conter a inflação, pelo
menos para economizar seu dinheirinho. E, quem sabe, abrir espaço para outras
experiências.
Já posso voltar à Teodoro para comprar meus
copinhos?
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G1
02.01.2013
Abrigo
no Rio é 'Disneylândia do crack', dizem usuários da droga
Instituição de Paciência é destino
de viciados recolhidos das ruas da cidade. Coordenador nega consumo da droga e
afirma que nem cigarro é permitido.
Homens descansam
durante a tarde num dos quartos da ala masculina
Marcelo Ahmed
Disneylândia do
crack. Assim um usuário da droga define o abrigo de Paciência, na Zona Oeste do
Rio de Janeiro , maior local que a prefeitura tem para levar moradores de ruas
– boa parte deles dependentes químicos – recolhidos na capital. O G1 entrevistou frequentadores do
abrigo (veja o vídeo ao lado). Três deles concordaram em gravar entrevista.
Todos afirmam que há uso de drogas no local e que não há qualquer tipo de
tratamento.
Ademir Treichel,
coordenador do Rio Acolhedor, nome oficial do abrigo, nega que exista consumo
da droga no centro municipal. "Vou lhe dizer que não. Pelo menos aquilo
que vejo e sinto o cheiro", afirma. Alguns dias depois de receber a
denúncia, a reportagem foi recebida no abrigo, durante o dia, e encontrou um
local com higiene e organização impecáveis.
O Rio Acolhedor é uma
unidade de reinserção social de usuários de crack mantida pela Prefeitura do
Rio. Procurada pelo G1 ,
nesta quarta-feira (2), a Secretaria Municipal de Assistência Social –
responsável pelo projeto – informou que não se pronunciaria mais sobre as
denúncias e que a declaração do coordenador do abrigo era a posição oficial da
pasta.
De acordo com a
secretaria, o trabalho de acolhimento de usuários em cracolândias é realizado
desde março de 2011. No entanto, desde outubro de 2012, após a ocupação das comunidades de Manguinhos e
Jacarezinho , onde existia a maior cracolândia do Rio, esse
trabalho foi intensificado.
Drogas e abuso sexual
Segundo os moradores
de rua, os educadores são coniventes e recebem dinheiro para liberar o uso de
drogas. Eles denunciam ainda que alguns funcionários até compram entorpecentes,
em uma boca de fumo que funciona do outro lado do muro do abrigo.
Os recolhidos dizem
também que muitos viciados preferem ficar na instituição pela facilidade que
encontram no local. "Lá a droga é mais fácil, por incrível que
pareça", afirma uma mulher de 39 anos, que ficou acolhida por um mês no
abrigo e que, com alguma frequência, retorna ao local.
Uma moradora conta
que já foi abusada sexualmente por um educador. "A gente às vezes é
obrigada a ter relações com os funcionários, porque senão a gente entra... a gente
apanha. Se você não permitir, é agredido, é espancado, entregue a outras
pessoas que dali sua vida é tirada".
Um dos moradores de
rua relata que costumava fazer festas dentro dos quartos. "A gente chegava
com muito dinheiro, queria ter um lugar reservado para usar droga e lá dentro
não pode usar droga, certo? Então pra poder usar lá dentro a gente tem que
pagar. Botar uma atividade (vigia) na porta, pra quando o administrador
entrasse. Mas os educadores já estavam tudo comprado. Ninguém entrava lá dentro,
a não ser nós do coletivo. Só quem entrava no quarto eram os convidados",
conta.
A proximidade com a
boca de fumo é destacada como um ponto de facilitação. "A droga rola
muito, né. Porque é perto da boca de fumo. A molecada gosta. O abrigo não tem
um programa pra ajudar a molecada que precisa. É uma Disneylândia do
crack", declara outro morador de rua que já passou pelo abrigo seis vezes.
Reintegração social
O coordenador do Rio
Acolhedor diz que o local é um abrigo de reintegração social, mas não de tratamento.
Ele diz que existem 205 funcionários trabalhando em quatro turnos, entre eles
18 psicólogos, 14 assistentes sociais, dois médicos, entre outros
profissionais. Há cinco refeições, salas de computador e TV, biblioteca,
piscina, entre outras atividades.
Treichel conta que,
após receber a missão do prefeito Eduardo Paes, mergulhou de cabeça no projeto
desde a escolha do prédio, uma antiga instalação do Senai e do Sesi. Ele chegou
a se mudar da Lagoa para um sítio em Seropédica, Zona Oeste do Rio, para ficar
mais próximo do trabalho. "Isso para mim é uma missão".
Para Ademir, a
proximidade da boca de fumo não é um problema. "Onde não tem?",
indaga. Sobre as denúncias de maus-tratos e abuso sexual, ele diz que, caso
cheguem ao seu conhecimento, todas são apuradas.
"Toda e qualquer
suspeita é apurada por uma comissão de sindicância. Não interessa se é A, B ou
C. Aqui ninguém pode agredir nem revidar. Depois que realizamos um curso de
capacitação, o educador tem aparecido mais como vítima", informa Ademir.
Ao retornar ao
assunto drogas, o coordenador afirma ser rigoroso e garante que não é permitido
nem mesmo fumar cigarro no abrigo. Mas ressalta: "Não posso ser idiota de
dizer que não haja nenhum consumo". Quanto à possibilidade de existir uso
sem seu conhecimento, no horário em que não esteja presente, afirma:
"Tenho pessoas de minha confiança".
O abrigo de
Paciência, com 422 vagas, é o maior e para onde é levada a maior parte dos
moradores de rua da cidade. Existem outros espaços no Rio Comprido (16 vagas),
no Engenho de Dentro (50 vagas) e em Cordovil (50 vagas).
A Secretaria Municipal de Assistência Social também dispõe de seis abrigos para menores,
cinco deles na Zona Oeste do Rio, onde são feitas as internações compulsórias.
Inimigo desconhecido
Números exclusivos obtidos pelo G1 apontam
que, em 2012, o governo liberou R$
738,5 milhões para combater o que considera uma epidemia . Desse
montante, R$ 611,2 milhões foram para o Ministério da Saúde, R$ 112,7 milhões
para o Ministério da Justiça e R$ 14,6 milhões para o Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
O dinheiro, porém,
pode estar sendo gasto às cegas. Apesar de admitir que considera a droga uma
"epidemia" no país, o governo reconhece que não sabe o perfil dos
usuários nem onde eles estão nem qual é a melhor forma de tratá-los.
"Estamos rastreando e assumindo isso, mas não
é fácil mensurar, porque é um problema que não temos dimensão e ainda
descobrindo qual é a melhor política pública para combatê-lo, mas estamos
correndo atrás", diz Helvécio Magalhães, secretário nacional de
Atenção à Saúde e responsável pelo tema do crack no Ministério da Saúde.
Até agora, 13 estados
e o Distrito Federal aderiram à parceria com o governo federal para combater o
crack, permitindo a abertura de 574 novos leitos, 4,1% dos 13.868 que a área da
Saúde quer criar até 2014. Pelo acordo, estados e municípios recebem recursos
para capacitar profissionais e construir unidades de atendimento aos
dependentes, além de equipamentos para policiais e guardas municipais.
A base do plano de
combate ao crack do governo federal é uma pesquisa encomendada pela Presidência
da República à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em maio de 2010, ao custo de R$
6,914 milhões. O diagnóstico, no entanto, ainda não está pronto. Segundo o
professor e coordenador da pesquisa, Francisco Inácio Bastos, não há previsão
para o estudo terminar.
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TV
FSP 01/07/2012
Cocaína
vendida no Brasil é 'batizada' até com vermífugo
A
Polícia Federal desvendou o "DNA" das drogas que entram no Brasil.
Após sete anos de trabalho, peritos finalizaram um documento que indica a
origem dos carregamentos de cocaína e crack, o grau de pureza das drogas e o
que os traficantes misturam a elas.
Quando
um usuário consome cocaína pode estar ingerindo, por exemplo, antitérmicos,
cafeína, anestésicos e até vermífugos, informa a reportagem de Fernando Mello,
no caderno "Cotidiano" deste domingo.
Entre
2010 e 2011, a PF apreendeu 51 toneladas de cocaína. Relatório enviado à
Coordenação de Repressão a Drogas, a partir de análise de amostras das
apreensões, indica que 54,3% da cocaína que entra no país tem origem na
Bolívia; 38% no Peru e 7,5% na Colômbia.
Os
peritos procuram pela truxilina, um elemento natural que varia de acordo com
altitude, exposição ao sol e local onde a coca é plantada. A partir dessa
"assinatura" natural é possível saber se a droga é boliviana, peruana
ou colombiana.
O
trabalho de laboratório serve para a PF montar sua estratégia da proteção de
fronteiras, estabelecer rotas do tráfico e produzir provas.
Para
especialistas, desvendar rotas significa atingir a logística da distribuição
das drogas. "Sabendo por onde sai e
por onde chega a droga, fica mais fácil investigar a rota", diz o
coronel José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública.
__________
Diário de S Paulo
23/01/2013
PM dá ordem para
abordar ‘negros e pardos’.
Instrução de
comandante de batalhão se baseou na descrição de vítima de assalto em bairro
luxuoso
THAÍS NUNES
Desde o dia 21 de
dezembro do ano passado, policiais militares do bairro Taquaral, um dos mais
nobres de Campinas, cumprem a ordem de abordar “indivíduos em atitude suspeita,
em especial os de cor parda e negra”. A orientação foi dada pelo oficial que
chefia a companhia responsável pela região, mas o Comando da PM nega teor
racista na determinação.
O documento assinado
pelo capitão Ubiratan de Carvalho Góes Beneducci orienta a tropa a agir com
rigor, caso se depare com jovens de 18 a 25 anos, que estejam em grupos de três
a cinco pessoas e tenham a pele escura. Essas seriam as características de um
suposto grupo que comete assaltos a residências no bairro.
A ordem do oficial
foi motivada por uma carta de dois moradores. Um deles foi vítima de um roubo e
descreveu os criminosos dessa maneira. Nenhum deles, entretanto, foi
identificado pela Polícia Militar para que as abordagens fossem direcionadas
nesse sentido.
Para o frei Galvão,
da Educafro, a ordem de serviço dá a entender que, caso os policiais cruzem com
um grupo de brancos, não há perigo. Na manhã de hoje, ele pretende enviar um
pedido de explicações ao governador Geraldo Alckmin e ao secretário da
Segurança Pública, Fernando Grella.
O DIÁRIO solicitou
entrevista com o capitão Beneducci, sem sucesso. A reportagem também pediu
outro ofício semelhante, em que o alvo das abordagens fosse um grupo de jovens
brancos, mas não obteve resposta até o fim desta edição.
Confira a íntegra da
nota de esclarecimento enviada pelo Comando da Polícia Militar:
A Polícia Militar
lamenta que um grupo historicamente discriminado pela sociedade, que são os
negros, seja usado para fazer sensacionalismo.
O caso concreto
trata de ordem escrita de uma autoridade policial militar, atendendo aos
pedidos da comunidade local, no sentido de reforçar o policiamento com vistas a
um grupo de criminosos, com características específicas, que por acaso era
formado por negros e pardos. A ordem é clara quanto à referência a esse grupo:
“focando abordagens a transeuntes e em veículos em atitude suspeita,
especialmente indivíduos de cor parda e negra com idade aparentemente de 18 a
25 anos, os quais sempre estão em grupo de 3 a 5 indivíduos na prática de roubo
a residência naquela localidade”.
A ordem descreve
ainda os locais (quatro ruas) e horário em que os crimes ocorrem. Logo, não há
o que se falar em discriminação ou em atitude racista, tendo o capitão
responsável emitido à ordem com base em indicadores concretos e reais.
Discriminação e racismo é o fato de explorar essa situação de maneira
irresponsável e fora de contextualização.
_______
Brasilianas.org 05.01.2013
A pesquisadora que foi ao cerne do Bolsa Família
Luis Nassif
Parte 1
Parte 2
Walquíria Domingues Leão, professora do Programa de pós-graduação em
Sociologia da Unicamp sobre a pesquisa realizada por ela analisando os impactos
do Bolsa Família na vida das mulheres.
O trabalho de
Walquíria Domingues Leão não possui estatísticas complexas, não recorreu a
pesquisas com questionários fechados. Durante cinco anos ela foi ouvir mulheres
em regiões tradicionalmente não assistidas pelo Estado – como o Vale do Jequitinhonha
e o sertão alagoano, entre outras. Sua intenção foi avaliar os impactos sobre
as pessoas da renda em dinheiro – tanto do Bolsa Família quanto do aumento do
salário mínimo. Quis saber os efeitos sobre a vida pessoal, a cidadania, a
maneira como as pessoas passaram a se ver.
Em geral, os pobres
são vistos como massa homogênea. Como tal, sujeitos a toda espécie de visão
preconceituosa. Seriam pobres por serem preguiçosos; não poderia receber em
dinheiro por não saberem fazer cálculo prudencial (calcular o dinheiro até o
final do mês); gastariam em supérfluos e bebidas; as mulheres (que são as
titulares do Bolsa Família) acabariam cedendo as senhas aos maridos. E assim
por diante.
Com forte formação de
esquerda, Walquíria se surpreendeu ao perceber a extraordinária função social
do dinheiro – especialmente para quem sai da zona da extrema pobreza. O
primeiro mito a cair foi o dos cálculos para manuseio do dinheiro. Nos
depoimentos colhidos, mulheres confessavam que na primeira vez que receberam do
Bolsa Família, gastaram o dinheiro na primeira semana. Na segunda vez, já
sabiam calcular para o dinheiro durar até o final do mês.
Do mesmo modo, não
encontrou mulheres que tenham cedido às pressões do marido para outras
destinações aos recursos. Primeiro, porque tinham contrapartidas a apresentar:
pesar as crianças no posto de saúde, apresentar atestados de frequência escolar
dos filhos. Depois – como disse uma delas, em um relato que espalhou emoções no
seminário: “Isso tudo não é mais para mim. São para meus filhos. Meu tempo já
passou”.
Em uma das melhores
entrevistas da pesquisa, com uma senhora de Demerval Lobão, interior do Piauí,
foi-lhe descrito o sentimento que se apossou dela quando descobriu que tinha
“crédito” no comércio. Isto é, os comerciantes acreditavam nela. “Antes eu não
era nada. Ninguém me vendia nem uma caixa de fósforos”.
A renda monetária
conferiu-lhes dignificação da vida, confiabilidade. A possibilidade de escolha
– entre comer feijão ou macarrão, por exemplo – mudou sua percepção sobre a
vida, a cidadania, os direitos, constatou Walquíria.
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O Dia 24.12.2012
Vício em celular atrapalha vida familiar e profissional
Cerca de 18% dos brasileiros admitem entrar em pânico
se ficarem sem o aparelho
Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Pedro Daher
Rio - Celulares supermodernos estão entre os presentes
de Natal mais populares. Você mesmo pode ter ganhado um. Mas cuidado, pois a maior
facilidade em obter estes aparelhos criou uma nova doença: a nomofobia,
síndrome que deixa a pessoa dependente da tecnologia. A empresa francesa de
pesquisa Ipsos revelou que 18% dos brasileiros admitem ser viciadas nos seus
aparelhos. Em outro levantamento, feito pela revista ‘Time’ e pela empresa
Qualcomm, 35% dos brasileiros afirmaram consultar o celular a cada dez minutos
ou menos.
Ficar longe do tablet ou do smartphone parece missão
impossível para muitos. A psicóloga Andreia Calçada explica que este vício
atrapalha as relações pessoais e profissionais: “A pessoa fica muito
desgastada, começa a não dormir direito e não dar atenção à família, para poder
ficar olhando o celular. Se esquece o aparelho em casa, entra em pânico. Tudo
isso prejudica a maneira com a qual ela vai se relacionar com os outros”.
Dificuldade em
separar real e virtual
A psicóloga Andreia
Calçada alerta também para o fato de o uso indevido dos aparelhos eletrônicos
causar dificuldade na separação do mundo real do virtual.
“Algumas pessoas
simplesmente não conseguem se desconectar. Mesmo durante um jantar a dois, elas
usam os aplicativos do aparelho para se comunicarem”.
É assim com o
operador de informática Vinicius Pereira, 32 anos, que se considera dependente
do celular. “Minha mãe e meus amigos reclamam todas as vezes que saímos porque
eu sempre estou atualizando alguma coisa ou vendo alguma novidade. Mas não
adianta, eu olho e uso o tempo todo mesmo”, conta.
Para resolver o
problema, Christian Barbosa avisa: esqueça que ele existe. “As pessoas precisam
guardá-lo na gaveta mesmo. Desativar as notificações e deixá-lo longe. Assim,
vai amenizar a dependência pouco a pouco”.
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Brasil de Fato 05/11/2012
Pesquisa revela que população carcerária no Brasil
é equivalente a seis Maracanãs lotados
“O Brasil atrás das grades” revela quem
são esses detentos e o que os levaram à cadeia. Um dos dados
mostra que apenas 9 crimes são responsáveis por 94% dos aprisionamentos,
entre eles o tráfico de drogas, com 125 mil presos, e furto, roubo e estelionato
com 240 mil.
José Francisco Neto
O
número de pessoas presas no Brasil é equivalente a seis Maracanãs lotados:
514.582 presos. Somente atrás dos EUA (2,2 milhões), China (1,6 milhões) e
Rússia (700 mil), o Brasil possui a 4ª maior população carcerária do
mundo. O Infográfico “O Brasil atrás das grades”, divulgado nessa semana
pela equipe “Direito Direito”, revela quem são esses detentos e os motivos
que os levaram para a cadeia.
Um
dos dados da pesquisa mostra que apenas nove crimes são responsáveis por
94% dos aprisionamentos, entre eles o tráfico de drogas, com 125 mil
presos, e os crimes patrimoniais – furto, roubo e estelionato - com 240
mil.
Nos
últimos 20 anos, a população carcerária no Brasil cresceu 350% - a mais
alta do mundo. O país também foi o que mais criou vagas no sistema
prisional nos últimos anos. Em 1990 havia 60 mil vagas e neste ano há 306
mil - um aumento de 410% e um déficit de pouco mais de 208 mil vagas nas 1.312
unidades prisionais.
Com
esse cenário fica quase impossível cumprir o Artigo 1º da Lei de Execução
Penal (LEP), que atribui ao presídio a função de “proporcionar condições
harmônicas para a integração social do condenado”, e também o Artigo 88,
que assegura ao detento no mínimo seis metros quadrados de espaço na cela.
Porém, na atualidade, na maioria das vezes ele tem só de 70 centímetros a
um metro.
Outro
levantamento feito pela pesquisa mostra que mais de 134 mil presos têm de
18 a 24 anos. Os negros representam 275 mil, quase 60% do total, de acordo
com o Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
O
número de peritos recomendado pelas Nações Unidas é de um para cada 5 mil
habitantes. Entretanto, segundo a Associação Brasileira de Criminalística,
no Brasil atuam 6,5 mil peritos, um déficit de 31,5 mil.
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O Estado de S.Paulo
Desempenho de
cotistas fica acima da média
Estudos realizados pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pela Universidade de Campinas (Unicamp)
mostraram que o desempenho médio dos alunos que entraram na faculdade graças ao
sistema de cotas é superior ao resultado alcançado pelos demais estudantes.
O primeiro levantamento sobre o tema,
feito na Uerj em 2003, indicou que 49% dos cotistas foram aprovados em todas as
disciplinas no primeiro semestre do ano, contra 47% dos estudantes que
ingressaram pelo sistema regular.
No início de 2010, a universidade
divulgou novo estudo, que constatou que, desde que foram instituídas as cotas,
o índice de reprovações e a taxa de evasão totais permaneceram menores entre os
beneficiados por políticas afirmativas.
A Unicamp, ao avaliar o desempenho dos
alunos no ano de 2005, constatou que a média dos cotistas foi melhor que a dos
demais colegas em 31 dos 56 cursos. Entre os cursos que os cotistas se
destacaram estava o de Medicina, um dos mais concorridos - a média dos que
vieram de escola pública ficou em 7,9; a dos demais foi de 7,6.
A mesma comparação, feita um ano depois,
aumentou a vantagem: os egressos de escolas pública tiveram média melhor em 34
cursos. A principal dificuldade do grupo estava em disciplinas que envolvem
matemática.
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O Dia 04.11.2012
Cresce número
de dependentes de computadores e de acesso à Internet
POR NELSON MOREIRA
Rio - 'O meu prazer, agora é risco de vida’. Os versos de
Cazuza, gravados em 1988, referiam-se à Aids que, àquela época, causava medo e
tornava as relações sexuais atividade de risco.
Quase 25 anos depois, especialistas
alertam para outro risco ligado ao prazer: o vício em computadores, jogos
eletrônicos e em Internet. Nos Estados Unidos, país líder em acessos à rede, a
estimativa das sociedades de
psiquiatria é de que 6 a 10% dos 189 milhões de internautas sofram de
dependência.
A situação é de tal gravidade que o
problema passou a ser colocado no mesmo patamar da dependência de tabaco,
álcool e outras drogas. E será incluído como mais uma doença na próxima
Classificação Psiquiátrica do país, que será divulgada no ano que vem.
Analice explica que as compulsões estão
ligadas a áreas do cérebro
Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
No Brasil, as estatísticas não são tão
precisas, mas é sabido que o problema cresce, principalmente em adolescentes e
jovens. A psiquiatra Analice Gigliotti, chefe do Programa de Álcool e Drogas da
Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, alerta
para o aumento contínuo dos que precisam de tratamento contra o vício.
Segundo ela, estudos indicam semelhanças
entre a compulsão por jogos eletrônicos e por Internet e dependência de drogas
e álcool. E explica: nos dois casos, são ativadas áreas do cérebro ligadas à
sensação de prazer.
Da mesma forma, a passagem da condição
de usuário a viciado está ligado a uma parte do cérebro: o córtex pré-frontal.
É ele quem estabelece o controle sobre nossas opções e ações. “O compulsivo ou
viciado é aquele que perde esse controle”, explica a psiquiatra.
Mas nem sempre é fácil identificar o
momento dessa passagem. Como o problema afeta cada vez mais crianças e,
principalmente, adolescentes, Analice ressalta que cabe aos pais e parentes
mais próximos estarem atentos aos sinais de que há algo errado. “Quando a
criança ou adolescente deixa de fazer outras coisas, de dormir, sair, jogar
futebol etc, para ficar preso no computador, os pais devem se preocupar.”
Outros sintomas associados à compulsão
são a queda do rendimento escolar e as manifestações de irritação e
agressividade. “Quando isso acontecer, os pais devem intervir e limitar o
acesso a, por exemplo, oito horas por semana”.
Geralmente, isso basta para contornar o
problema. Mas, se a criança ou adolescente apresentar outros sinais ou sintomas
e reagir com agressividade e não conseguir se controlar, é hora de procurar um
especialista.
Analice explica que o tratamento é feito
caso a caso e pode incluir terapia comportamental, uso de remédio e, em caos
extremos, exigir um período de internação.
Fatores genéticos, psicológicos e
sociais determinam a propensão a criar dependência
Há vários fatores para o desenvolvimento
do vício, como genéticos — filhos de depressivos são mais propensos, por
exemplo. Da mesma forma, crianças e adolescentes que não recebem atenção e
carinho dos pais ficam mais vulneráveis. “Metade da pré-disposição é genética.
A outra metade depende das relações familiares e sociais”, explica a psiquiatra
Analice Gigliotti.
O tratamento de dependentes, como o de
outros viciados, é feito por psiquiatra e uma equipe multidisciplinar. No Rio
de Janeiro, é possível ter acesso a serviço especializado
de graça ou a preço simbólico na Santa Casa de Misericórdia.
A psicóloga Viviane Fukugawa, uma das
voluntárias da equipe, explica que o atendimento é oferecido a adolescentes a
partir de 16 anos. Segundo ela, o perfil dominante dos pacientes é dos que
começaram crianças jogando em videogames e evoluíram para a dependência a
partir de jogos em grupo, pela Internet.
Na Santa Casa, o tratamento inclui a
familiais. Há um grupo de orientação para os pais e outro para os dependentes.
A equipe conta psicólogos, terapeutas da família e psiquiatras. Os interessados
devem ligar para 2221-4896 e relatar o problema para entrar na lista de
atendimento.
SINAIS DE ALERTA
RETRAIMENTO
O adolescente abre mão do convívio com a família e colegas, deixa de ir
ao cinema, sair em grupo, praticar esportes, etc, para ficar jogando ou
conectado à Internet.
DESCONTROLE
DO SONO
O menino ou menina passa a dormir cada vez menos, fica até a madrugada
conectado e, em consequência, apresenta sinais de cansaço, mas repete a rotina.
RENDIMENTO
ESCOLAR
O desempenho ruim nas tarefas escolares e notas baixas são evidências de
que a permanência por períodos longos jogando ou conectado está prejudicando.
AGRESSIVIDADE
Reações agressivas, irritabilidade, ansiedade e reações desproporcionais
quando impedidos de jogar ou ter acesso à Internet são sinais de que é hora de
procurar um especialista.
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Opera Mundi 22.10.2012
EUA testaram armas químicas em pobres e
negros durante a Guerra Fria
Nas décadas de
1950 e 1960, periferia da cidade de Saint Louis, no Missouri, serviu de cobaia
em testes de compostos tóxicos
Sob a alegação de que estavam
testando um escudo contra ataques nucleares soviéticos na cidade de Saint
Louis, militares norte-americanos pulverizaram sobre a população local
compostos empregados na fabricação de armas químicas. É o que revela um estudo
conduzido por Lisa Martino-Taylor, professora de sociologia da Faculdade
Comunitária de Saint Louis que vasculhou documentos públicos e que verificou
casos de envenenamento por sulfeto de cádmio e zinco durante as décadas de 1950
e 1960.
Segundo o estudo, as Forças Armadas dos
EUA patrocinaram os testes especificamente em áreas socialmente segregadas, de
elevada densidade populacional, onde a predominância era de cidadãos negros e
de baixo poder aquisitivo. Em entrevista ao jornal local KSDK, ela se disse
"muito chocada com o grau de falsidade e sigilo” das autoridades
responsáveis pelas operações. “Eles claramente se esforçaram ao máximo para
enganar as pessoas”, concluiu.
Os testes de armas químicas sobre
humanos teriam sido produto do que Lisa chama de Coalizão Manhattan-Rochester,
um programa de pesquisas do governo norte-americano que tentou mensurar no
contexto da Guerra Fria o impacto de reações radioativas no organismo humano.
Experimentos semelhantes também teriam ocorrido na cidade de Corpus Christi,
estado do Texas.
A maior parte dos compostos tóxicos era
despejada por meio de aviões durante voos rasantes sobre os alvos. No entanto,
Lisa alega que pulverisadores também eram posicionados no alto de arranha-céus
e torres meteorológicas da região. Em 1953, foram ao todo 16 testes – não menos
que 35 disparos de sulfeto de zinco e cádmio em Saint Louis. A vizinhança mais
afetada é descrita por Lisa como "uma favela densamente povoada”, onde
residiam cerca de 10 mil cidadãos de renda baixa, em sua maioria crianças.
Esclarecimentos
Surpresos com os resultados obtidos por
Lisa, parlamentares estaduais pediram esclarecimentos às Forças Armadas nesta
segunda-feira (22/10). "A ideia de que milhares de cidadãos do Missouri
foram expostos a materiais tóxicos contra a própria vontade para determinar
seus efeitos sobre a saúde é absolutamente chocante. Não deveria ser surpresa
que estas pessoas e suas famílias estejam exigindo respostas dos oficiais do
governo", disse à AP o senador estadual republicano Roy Blunt.
A democrata Claire McCaskill, coelga de
Blunt, também pediu maiores esclarecimentos ao secretário do Exército, John
McHugh."Tanto o Senado quanto a Câmara dos Comuns conduziram investigações
ao longo dos anos 1990, mas nada nunca foi concluído, explica Lisa
Martino-Taylor. Para ela, o pior erro foi "jamais ter procurado aqueles
que realmente foram afetados".
Radiotividade
A pesquisa não foi capaz de concluir com
precisão se realmente havia compostos radioativos em meio à mistura de sulfeto
de cádmio e zinco. Em sua entrevista ao jornal KSDK, Lisa diz que “há várias
evidências de que houve compostos radiológicos envolvidos no experimento”.
Sua hipótese principal é de que a esta
mistura foram adicionadas partículas fluorescentes, utilizadas para “iluminar”
os alvos e identificá-los para outros testes. Há suspeita de que uma companhia
chamada US Radium esteve envolvida com esta parte do experimento. "US
radium já havia sido legalmente responsabilizada por produzir uma tinta
radioativa que matou diversas pintoras de azulejos radioativos”, alega.
Questionada sobre os futuros passos de
sua pesquisa, ela revela que o importante foi ter revelado "que tudo isso
foi uma violação de toda a ética médica, de todos os códigos internacionais e
até mesmo de todo o regimento militar da época”.
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O Globo 14.10.2012
Alucinações
da 'cápsula do vento'
Gabriela Valente
Droga
sintética devastadora ganha espaço em festas
A cápsula transparente que parece um
comprimido vazio tem efeito devastador. É a mais nova droga sintética que faz
sucesso em festas e faculdades brasileiras e pode levar a 24 horas de
alucinações.
Com capacidade para 500 miligramas, contém
apenas 1,5 mg de um pó branco, o que dá a impressão de que não há nada dentro.
Por isso, foi batizada de "cápsula do vento".
"Nunca vi nada parecido. O chão se
movia. Não conseguia andar e quando fechava os olhos, rajadas de muitas cores
vivas e vibrantes. Foi a brisa mais pesada que já vi ainda (sic) misturada com
doce", escreveu um usuário anônimo numa rede social.
A sensação descrita por pessoas que
experimentaram a droga é de estar acelerado em um mundo que anda em câmera
lenta. As histórias na rede confirmam informações da Polícia Federal.
Segundo especialistas em toxicologia, a droga
produz perda de memória, acessos de violência e risco de auto-mutilação. Os
espasmos vasculares provocados pela droga podem levar à gangrena dos membros inferiores.
Ocorrem também náuseas, vômitos, diarreia e sintomas de pânico e de confusão
mental.
Quando a Polícia Civil de São Paulo fez a
primeira apreensão da droga, em 2005, não sabia o que era. A pequena quantidade
de pó branco foi mandada para análise.
Foi preciso fazer uma bateria de testes para
descobrir que se tratava de um derivado da anfetamina acrescentado de um átomo
de bromo. De acordo com o laudo da Polícia Federal, o objetivo desse átomo colocado
na fórmula é aumentar o efeito da droga, já que o bromo é dificilmente
metabolizado pelo organismo.
No Brasil, além da apreensão em São Paulo, a
PF também registrou ocorrências em Pernambuco, Rio de Janeiro, Brasília e Santa
Catarina. Foram apreendidas não apenas cápsulas, mas também droga impregnada em
papel. Só em 2010, a PF apreendeu 27 mil unidades.
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05/09/2012 O Globo
Brasil é o segundo maior mercado consumidor de cocaína
Levantamento diz que o país tem 20% do consumo mundial de cocaína / crack
Leonardo Guandeline
O ranking mundial no consumo da cocaína
SÃO PAULO – O Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína em relação ao número absoluto de usuários, perdendo apenas para os Estados Unidos. É o que mostra o segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II Lenad), realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e divulgado nesta quarta-feira. O levantamento diz que 2,8 milhões de pessoas fizeram o uso da droga e seus derivados no último ano, entre elas 244 mil adolescentes. O II Lenad mostra, ainda, que o Brasil representa 20% do consumo mundial de cocaína e crack. Em relação a esta última, o país é o maior mercado consumidor do mundo. Um milhão de pessoas utilizaram crack no último ano.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o uso da cocaína está diminuindo gradativamente nos países desenvolvidos. No entanto, nos países emergentes, como o Brasil, a tendência é de crescimento, segundo a Unifesp.
O II Lenad diz que quase 6 milhões de brasileiros já experimentaram alguma apresentação de cocaína na vida. A droga usada via intranasal é a mais comum, já tendo sido utilizada por 4% dos adultos – pouco mais de 5 milhões de pessoas.
Para o levantamento, a Unifesp entrevistou, em domicílio, 4.607 pessoas em 149 municípios brasileiros. Os entrevistados responderam, ainda, questões sobre álcool, tabaco e drogas ilícitas, entre outros. No início de agosto, o mesmo estudo mostrou que 1,5 milhão de pessoas usa maconha diariamente no Brasil – o índice de dependentes desta última droga chega a 37%.
O levantamento da Unifesp diz, também, que 2 milhões de brasileiros já usaram cocaína fumada (crack/merla e oxi) pelo menos uma vez na vida e que a maioria dos usuários da droga no país no último ano está na região Sudeste (46%). Além disso, cerca de 2 milhões de pessoas usam alguma forma de cocaína e maconha, simultaneamente.
A Unifesp constatou que 45% dos usuários experimentou pela primeira vez a cocaína antes dos 18 anos e que 48% do total de usuários desenvolveram dependência química. Diz o II Lenad, também, que 78% dos usuários consideram fácil conseguir cocaína e que o consumo em áreas urbanas é três vezes maior que em regiões rurais.
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O Estado de São Paulo 06.06.2012
MP pede
indenização de R$ 20 mi por violência da GCM contra morador de rua
Promotoria de Direitos Humanos quer fim
das abordagens a sem-teto por guardas-civis; Prefeitura diz que não foi
notificada, mas nega truculência
SÃO PAULO, 6 - Agressão a moradores de
rua. Incapacidade ou desinteresse em dar encaminhamentos sociais depois das
abordagens à rede de assistência. Inconstitucionalidade da lei municipal que
estabelece aos guardas-civis a tarefa de lidar com moradores em situação de
rua. Com esses argumentos, promotores ingressaram com uma ação para tentar
impedir que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) de São Paulo continue
trabalhando com a população de rua. E pediram indenização de R$ 20 milhões.
Metade do dinheiro, segundo o
pedido da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos da Capital, seria destinada
a um fundo de interesses difusos para reparação a danos morais coletivos da
população de rua. A outra metade seria concedida individualmente aos moradores
de rua que entrassem com ações individuais e comprovassem danos decorrentes de
abordagens dos guardas municipais.
“O trabalho com moradores de rua exige
criação de vínculo, capacidade de dialogar. Isso é trabalho de assistente
social, não de polícia”, defende o promotor de Direitos Humanos Alexandre
Marcos Pereira. “O trabalho que a Guarda Municipal vem fazendo é de
higienização.”
Segundo o promotor, a ação foi
feita a partir de inquérito civil que apurou a atuação da GCM em São Paulo. A
investigação teve início com uma reportagem do Estado de 2010 que descreveu agressões de guardas
municipais contra moradores de rua. Foi apurado que a GCM tem um sistema de
monitoramento por câmeras na região central da cidade voltado para a retirada
de sem-teto.
Segundo depoimento de dois
guardas-civis, caso eles não retirem os moradores desses pontos, acabam sendo
punidos pela corporação. Entre esses pontos onde é “proibida” a permanência de
moradores de rua está o circuito das autoridades, que inclui os prédios do
Tribunal de Justiça, Ministério Público do Estado, Prefeitura, Pátio do Colégio
e Fórum João Mendes. Maldade. No centro da cidade, histórias de abusos de
guardas-civis são comuns.
Há oito meses na rua, Pedro Fabrício,
por exemplo, reclama que no inverno a truculência é ainda mais dramática.
Cobertores doados por entidades assistenciais são recolhidos e jogados em
caminhões. “Eles chegam pegando nossas coisas. Quando está em cima do caminhão,
pode esquecer. Já era.” Outro morador de rua, Mario Celso de Araújo, diz que o
problema é maior porque documentos também são recolhidos e extraviados. “Perdi
minha identidade porque um GCM jogou fora.”
A diretora-geral do Centro Acadêmico 11 de
Agosto, Julia Cruz, conta que testemunhou uma dessas abordagens truculentas na
semana passada. GCMs levavam o cobertor de um grupo que estava na frente da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São
Francisco. Eles tentaram resistir e acabaram presos. Um deles apanhou dos
guardas municipais. “Na delegacia, iam mandar o pessoal fazer exame de corpo de
delito. Mas o próprio GCM ia levar. Conseguimos impedir a ilegalidade”, diz.
Procurada pela reportagem, a Secretaria
Municipal de Segurança Urbana – responsável pela GCM – diz que ainda não foi
notificada da ação, mas nega truculência e diz que denúncias de agressão são
sempre apuradas e punidas pela Corregedoria da Guarda.
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Rádio Agência 05.10.2012
70 mil brasileiros já foram vítimas do tráfico de pessoas
Levantamento apontou a exploração sexual como
responsável por 79% dos crimes ligados a seqüestro, sendo as mulheres as
principais vítimas.
Daniele Silveira
O tráfico de pessoas gera US$ 32 bilhões por ano e faz 2,5 milhões de
vítimas, segundo relatório divulgado pelo Escritório das Nações Unidas para o
Combate às Drogas e ao Crime (UNODC). A pesquisa ainda revela que o crime é o
terceiro mais rentável, superado apenas pelo tráfico de drogas e produtos
piratas ou falsificados. Segundo o Ministério Público Federal, 70 mil
brasileiros já foram levados ao exterior.
Um levantamento feito pelo mesmo órgão da ONU, em 2009, apontou a
exploração sexual como responsável por 79% dos crimes ligados a seqüestro,
sendo as mulheres as principais vítimas.
A pesquisadora do tema na Universidade de Brasília (UnB) Maria Lúcia
Leal aponta as precárias condições de vida como características que marcam
essas mulheres que se tornam vítimas dos aliciadores.
“Geralmente esse é o perfil. Um perfil de mulheres de classes populares,
com uma trajetória de precarização na suas relações socais, baixa inclusão nas
políticas públicas e nível de escolarização. Tem uma experiência de trabalho
doméstico, foram empregadas domésticas, trabalharam em pequenos comércios,
mercado informal e no mercado do sexo.”
Para entender como esse tipo de crime acontece no país, em 2002, a UnB e
o Centro de Referência, Estudos e Ações sobre a Criança e Adolescente (Cecria)
desenvolveram uma pesquisa que identificou 241 rotas de tráfico para o
transporte de mulheres.
A Pestraf (Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes
para Fins de Exploração Sexual Comercial no Brasil), como é conhecido o estudo,
apontou a região Norte e Nordeste como as mais atingidas pelos trajetos.
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O Globo 04.10.2012
Número de desaparecidos subiu em áreas
dominadas por milícias, revela pesquisa
Estudo “No sapatinho: a evolução das
milícias no Rio de Janeiro” mostra que os grupos paramilitares têm ampliado sua
atuação em comunidades pobres do Rio, sobretudo na Zona Oeste, mas agora com
muito mais discrição
ANTÔNIO WERNECK
RIO - Sitiadas esta semana por militares no Rio (que ocuparam suas área
de atuação), discutidas na disputa eleitoral e combatidas pelas polícias
estaduais, as milícias parecem um vírus: driblam a repressão e continuam
fortes, matando tanto ou mais do que no passado, revela uma pesquisa inédita
coordenada pelos sociólogos Ignácio Cano e Thais Duarte, do Laboratório de
Análise da Violência (LAV), da Uerj. Tratadas como um câncer no passado, suas ações
atuais sugerem uma mutação. As milícias têm ampliado sua atuação em comunidades
pobres do Rio, sobretudo na Zona Oeste, mas agora com muita mais discrição. No
lugar de expor os corpos das vítimas de execuções sumárias, os grupos
paramilitares agora desaparecem com os cadáveres.
O aumento do número de registros de
pessoas desaparecidas nessas áreas é a principal descoberta da pesquisa,
batizada de “No sapatinho: a evolução das milícias no Rio de Janeiro”. Um
detalhe que também apareceu na estatística de violência divulgada este mês pelo
Instituto de Segurança Pública (ISP): enquanto o número de homicídios dolosos
(quando há intenção) caiu 26% em todo o estado em agosto deste ano em
comparação com o mesmo período de 2011, os registros de desaparecimento
cresceram 10%. Nas áreas de milícias citadas na pesquisa, o aumento no mesmo
período foi maior: saltou de 51 registros em agosto de 2011 para 66 casos no
mesmo mês deste ano, um acréscimo de 29%.
Agiotagem é
nova atividade
Todos os moradores entrevistados na
pesquisa relataram histórias de assassinatos de pequenos criminosos e pessoas
que contrariaram os chefes paramilitares. Confirmaram ainda que as milícias
estão mais discretas nos seus homicídios, dando sumiço às vítimas.
— Identificamos muitas mortes em áreas
de milícia, algumas delas mascaradas através de registros de desaparecimento.
Um outro dado que chamou muito a nossa atenção foi a proporção de
desaparecimentos em relação ao total de mortes violentas. Essa proporção
aumenta nas delegacias de áreas onde há milícias — afirmou Cano.
Ele e Thais também encontraram outras
mudanças de perfil nas ações dos grupos paramilitares: no lugar de policiais
armados ostensivamente patrulhando as comunidades, surgiu a figura do testa de
ferro ou “laranja”. São moradores cooptados pelos milicianos nas comunidades
controladas. Isso permite preservar os policiais que comandam as quadrilhas,
além de dificultar as investigações.
— Os policiais e outros agentes do
Estado continuam desempenhando funções de comando, mas já não expõem sua
condição publicamente. Percebe-se que hoje as milícias dependem muito mais de
civis, recrutados localmente, para preencher posições subalternas, como a
vigilância e a cobrança de taxas — explicou Thais
A exploração de serviços de transporte e
venda ilegal de TV a cabo e acesso à internet continua, mas a pesquisa
constatou o crescimento de outra atividade: a agiotagem.
— O grau de intimidação dos moradores
que nós encontramos desta vez foi muito maior do que constatamos há quatro
anos. As pessoas demonstraram um grande pavor ao falar sobre o tema, como se
temessem retaliação — disse Ignácio Cano.
A pesquisa abrangeu um longo período
(2008-2011) e foi concluída este ano. Foram ouvidos 46 moradores, além de
juizes, promotores e delegados com papel na repressão aos grupos paramilitares.
Também foram consultados dados do Disque-Denúncia, da CPI das Milícias na Alerj
e estatísticas do ISP. O trabalho teve o apoio da Fundação Heinrich Böll e será
lançado oficialmente no próximo dia 10, às 18h, no campus Maracanã da Uerj.
— “No sapatinho” foi a expressão mais
utilizada pelos entrevistados para se referir ao novo estilo das milícias, por
isso o nome do trabalho — lembrou a pesquisadora.
Milícia é
comparada a vírus mutante
A pesquisa é continuação e atualização
de um primeiro estudo do LAV sobre a atuação das milícias no Rio, publicado em
2008 sob o título “Seis por meia dúzia? Um estudo exploratório do fenômeno das
chamadas milícias no Rio de Janeiro”. Cano e Thais observaram que, em 2008, “as
imagens biológicas que surgiram sobre as milícias eram a de um câncer ou de uma
doença autoimune, de forma que as células que deveriam proteger o corpo social
se dedicavam a ameaçá-lo”.
— No momento atual, a nova imagem
biológica da milícia é a de um vírus, que apresenta mutações constantes para se
adaptar às novas condições e, dessa forma, supera as vacinas e os remédios
criados para combatê-lo — afirmou Thais.
Os dados permitiram aos pesquisadores
visualizar a distribuição geográfica das milícias e acompanhar as oscilações
das denúncias sobre as quadrilhas. Segundo o estudo, a atuação dos
paramilitares atingiu o ápice em 2009, caindo pela metade em 2010 e voltando a
se intensificar em 2011.
A principal conclusão do trabalho é a
necessidade de criar formas de eliminar “o controle social autoritário e ilegal
que existe secularmente nas comunidades de baixa renda”.
Uma dessas medidas foi anunciada esta
semana pela presidente Dilma Rousseff: ela sancionou uma lei que altera artigos
do Código Penal para incluir a tipificação desse crime, aumentando a pena para
homicídio e lesão corporal praticados por integrantes de milícias. O texto
prevê pena de prisão de quatro a oito anos para quem “constituir, organizar,
integrar, mantiver ou custear organização paramilitar, milícia particular,
grupo ou esquadrão” com a finalidade de praticar qualquer crime previsto no
código.
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O Globo 01/10/2012
Asilos públicos no Rio são insuficientes para seus idosos
Segundo mais velho do país, Estado tem 30% dos idosos internados em
emergências
Fabíola Gerbase / Waleska Borges
Lellis, de 99 anos, vive no Abrigo Cristo Redentor há mais de 15 anos e
já não tem qualquer vínculo familiar. Agora, espera festejar seu centenário em
2013
RIO - O envelhecimento da população do Estado do Rio não vem sendo
acompanhado — no mesmo ritmo acelerado — pela implantação de políticas públicas
que preparem sua estrutura assistencial para cuidar dos idosos. O segundo
estado mais velho do país, que tem 2.080.608 habitantes com mais de 60 anos
(13% da população), segundo o Censo 2010 do IBGE, carece de uma rede de apoio
às unidades de saúde, oferecendo serviços como recuperação no pós-operatório, e
já não consegue atender à atual demanda por vagas em asilos públicos, chamados
hoje de instituições de longa permanência para idosos (ILPI). No total, há
apenas 17 asilos públicos (entre próprios e conveniados), número que está longe
de atender à demanda. O déficit preciso, no entanto, só será conhecido em 2013,
quando a Secretaria estadual de Assistência Social concluir um estudo em
andamento.
A escassez de instituições de apoio às
unidades de saúde fica ainda mais evidente quando se observa, por exemplo, o
número de pacientes com mais de 60 anos que são internados nos hospitais. Só
nas quatro principais emergências municipais da capital (Salgado Filho, Miguel
Couto, Lourenço Jorge e Souza Aguiar), existem atualmente 372 idosos, ou cerca
de 30% do total de doentes. É o que revela um levantamento da Secretaria
municipal de Saúde.
Um outro problema nos hospitais públicos
é que, muitas vezes, os pacientes da terceira idade, mesmo com alta, não têm
para onde ir. Rejeitados por suas famílias ou sem parentes próximos, eles
permanecem nas unidades ocupando os chamados leitos sociais. No Hospital
Estadual Eduardo Rabello, em Campo Grande, há dez casos desse tipo.
— Nos casos de abandono familiar, o
serviço social faz uma busca pelos parentes. Além disso, há todo um trabalho de
convencimento da família para que receba esse paciente de volta. Também
recorremos ao Ministério Público para que esse idoso seja recebido em abrigos —
disse o diretor da unidade, Edson Nunes.
Por mês, 80
pedidos de vagas em asilos
Ontem, na primeiro dia da série
“Retratos da terceira idade”, O GLOBO mostrou que os idosos estão cada vez mais
presentes no mercado de trabalho e já respondem pelo sustento de 25% dos lares
no estado. A realidade de outros idosos, no entanto, é muito diferente. O
Ministério Público estadual, que constantemente recebe pedidos de abrigamento e
denúncias de maus-tratos e abandono, cita a incapacidade do município de abrigar
idosos dependentes (que necessitam de ajuda para tarefas básicas). Antes de ser
levado para uma instituição pela prefeitura, o idoso tem seu caso analisado
pela Central de Regulação de Vagas Carlos Portela. A secretária municipal de
Assistência Social, Fátima Nascimento, diz que chegam cerca de 80 casos por mês
à central:
— Desse total, 30% têm família e não
precisam ser institucionalizados.
Segundo a 3ª Promotoria de Proteção ao
Idoso e às Pessoas Portadoras de Deficiência da capital, o funcionamento da
central é problemático. A promotoria informou ainda que o município, em 2011,
abriu vagas apenas para idosos independentes e, assim, continuou sem atender à
demanda.
A promotora Cristiane Branquinho,
coordenadora do Centro de Apoio às Promotorias do Idoso e Deficiente, diz que
há um número razoável de instituições na cidade (são 255), mas faltam unidades
públicas. A rede da prefeitura conta com 12: seis próprias e seis conveniadas.
Já o estado tem convênio com quatro ILPIs e administra o Abrigo Cristo Redentor,
em Bonsucesso, que é do Ministério do Desenvolvimento Social.
— Há grande dificuldade de conseguir
vagas para os idosos em situação de risco. É no Cristo Redentor que conseguimos
o maior número de vagas — diz a promotora.
Foi para lá que, em agosto, o MP mandou
Leonora Amar Rousseau, de 96 anos, cuja foto no leito de um hospital em
Laranjeiras caiu nas redes sociais, tornando seu drama conhecido. O problema é
que o abrigo está no limite. Sua diretora, Ana Sílvia Vasconcelos, tem hoje 267
residentes, em cinco pavilhões. Ela quer reduzir o número para 250, mas não
consegue, diante de tantos pedidos. O custo mensal de um idoso dependente no
abrigo varia entre R$ 2,1 mil e R$ 2,8 mil.
— Para essa parcela da população que
tende a aumentar cada vez mais, temos urgência em aparelhar a rede de apoio,
com unidades de saúde para reabilitação (como recuperação no pós-operatório), e
unidades híbridas de assistência e saúde. O que sinto é que as autoridades
ainda não acordaram para a urgência desse atendimento, com a implantação dos
serviços que atendam às várias modalidades de acolhimento: asilos, centros-dia
(espaço de convivência onde os idosos passam apenas o dia, fazendo atividades
como aulas de música), repúblicas — diz Ana Sílvia.
A deputada estadual Claise Zito (PSD),
presidente da Comissão dos Assuntos da Criança, do Adolescente e do Idoso da
Alerj, apresentou uma indicação legislativa ao governador Sérgio Cabral,
pedindo a criação de centros-dia. Só existem três hoje na rede estadual. A
prefeitura tem seis espaços do mesmo tipo, que chama de centros de convivência
e lazer.
— O melhor é que esse centro não desfaz
o vínculo familiar — defende.
Muitos dos residentes do Cristo Redentor
não têm esse vínculo, como Lellis Faria Selasco, de 99 anos. A idosa foi viver
lá há mais de 15 anos, com um filho deficiente físico, que já morreu. Muito
lúcida e recuperada do tombo que quebrou seu fêmur, Lellis já pensa na festa de
100 anos prometida para o ano que vem:
— Teve festa aos 99 e vai ter aos 100
anos também.
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10.08.2012 BBC Brasil
Orgasmo ajuda a prevenir doenças físicas e
mentais, diz estudo
Ausência de prazer pode causar enfermidades
físicas e transtornos psíquicos, indica estudo.
"Uma
sinfonia do cérebro" ou "um show de fogos artificiais". Estas
são alguns dos termos usados pelos cientistas para se referir à resposta do
cérebro ao momento do orgasmo. Mas embora o prazer proporcionado por essa
sensação seja de conhecimento geral, quais são os benefícios para a saúde?
Magdalena Salamanca, psicanalista
especializada em sexo baseada na Espanha, disse à BBC que a ausência do prazer
sexual pode provocar doenças e transtornos mentais.
"É importante porque o orgasmo é a
satisfação de um dos instintos mais importantes do ser humano, que é o
sexual", diz.
Ela destacou ainda que muitos dos
problemas de cunho social ou profissional estão vinculados à insatisfação
sexual. "Por exemplo, a ansiedade é um dos transtornos mais relacionados
com a ausência do orgasmo".
Além disso, a psicóloga Ana Luna disse
que "fisiologicamente, a descarga de muitas tensões que o ser humano
acumula se produz por meio do orgasmo".
Atividade cerebral
Há alguns meses, cientistas da
Universidade de Rutgers, no Estado americano de Nova Jersey, determinaram que o
orgasmo ativa mais de 80 diferentes regiões do cérebro.
Utilizando imagens de ressonância
magnética do cérebro de uma mulher de 54 anos enquanto tinha um orgasmo, os
cientistas descobriram que no ato quase todo o cérebro se torna amarelo, o que
indica que o órgão está praticamente todo ativo.
Os níveis de oxigênio no cérebro também
refletem um espectro que vai desde o vermelho intenso até um amarelo claro, e
isto tem um impacto em todo organismo.
Benefícios para a saúde
"Há outros benefícios porque todo
esse sangue oxigenado que flui pelo corpo chega aos microssensores da pele e
vai para todos os órgãos", diz a psicóloga Ana Luna.
Já Magdalena Salamanca destaca que a
saúde física e psíquica estão muito vinculadas à satisfação sexual
proporcionada pelo orgasmo, o que o estudo da Universidade Rutgers parece
comprovar.
A pesquisa mostrou como a atividade
cerebral iniciada pelo orgasmo se propaga por todo o sistema límbico,
relacionado às emoções e à personalidade.
Por isso, psicólogos como Ana Luna
acreditam que o orgasmo é uma parte essencial de uma personalidade sadia.
"Quando você não tem orgasmo toda
essa energia fica represada", diz a estudiosa, acrescentando que muitas
vezes a ausência do prazer sexual torna a pessoa irritadiça, triste, rabugenta
e até mesmo com dificuldades para sorrir.
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07/07/2012 R7
Cocaína se alastra pelo País e apreensões já são registradas em quase
toda fronteira
Quantidade da droga recolhida por
autoridades federais aumentou 329% em dez anos
Gabriel
Mestieri
As grandes apreensões de cocaína feitas
por autoridades federais no País - que, no início da década passada, estavam
concentradas nos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul - passaram
a ser registradas também no Paraná, Mato Grosso, Rondônia, Acre e Amazonas.
Agora, quase todos os Estados que estão na linha da fronteira seca do Brasil
(limites terrestres) com seus vizinhos latino-americanos
registram expressivas apreensões da droga.
O aumento do número de Estados no
mapa do tráfico de cocaína coincide com a explosão do total da droga
apreendido, verificada nos últimos dez anos. De acordo com o mais recente
balanço da Polícia Federal, enquanto em 2001 8,2 toneladas da droga foram
apreendidas no País, em 2010 esse total pulou para 27 toneladas, um aumento de mais de três vezes, ou de 329%. As
estatísticas das apreensões incluem cocaína pronta para consumo, crack e pasta
base (quando a droga ainda não foi totalmente refinada). Em 2011, houve uma
ligeira queda no volume apreendido, no total foram 24 toneladas.
São Paulo está no topo da lista dos
Estados onde mais se apreende cocaína. A quantidade recolhida pela PF
cresceu de 1,7 tonelada, em 2001, para 8,8 toneladas em 2010. No total, foram
42 toneladas em dez anos. Já o Amazonas, ao lado dos outros Estados
fronteiriços, ganhou relevância: no início da década passada, as apreensões
ali eram de cerca de 400 kg ao ano; em 2010, foram quase duas
toneladas recolhidas. De 2001 a 2011, foram 16,3 toneladas de cocaína
apreendidas no Estado.
Os Estados do Mato Grosso (que pulou de 1,3 tonelada apreendida em 2001
para 4,9 toneladas em 2011), Paraná (de 140 kg em 2001 para 1,8 tonelada em
2011), Rondônia (de 215 kg em 2001 para 1,4 tonelada em 2010) e Acre (374 kg em
2001 contra uma tonelada em 2009) também entraram com força na rota do
tráfico. Mato Grosso do Sul, que já era relevante no início da década (com 1,4
tonelada recolhida em 2001), manteve a o segundo lugar no ranking de apreensão (3,8
toneladas em 2011). Em dez anos, foram 22 toneladas.
Rotas
flexíveis
Para especialistas em narcotráfico
ouvidos pelo R7, o
aparecimento de outros Estados no topo do ranking
de apreensões indica que os traficantes estão diversificando as rotas
pelas quais o entorpecente é transportado. Os “fluxos da droga são flexíveis”,
explica Thiago Rodrigues, professor no Instituto de Estudos Estratégicos da UFF
(Universidade Federal Fluminense) e autor do livro "Narcotráfico, uma
guerra na guerra".
— Se, tradicionalmente, a entrada
principal era no Mato Grosso do Sul e houve concentração da repressão ali,
novas rotas são experimentadas. A tendência é que se encontrem outras
passagens. O negócio é muito lucrativo, ele vale a pena, ele paga o risco de se
encontrar novas entradas.
O ex-secretário de Políticas Sobre
Drogas e ex-secretário Nacional de Justiça Pedro Abramovay, afastado do governo
Dilma Rousseff após defender penas alternativas para pequenos
traficantes, diz que as rotas se expandem para o sul do País e para “os lados
da Venezuela”.
— A produção de folha de coca continua
concentrada nos Andes. Para o mundo inteiro, sai de lá. Agora, as rotas têm
variado. Sem dúvida, você tem uma dispersão das entradas pelo Brasil.
Os especialistas concordam, também, que
houve aumento no consumo da droga no Brasil, puxado, segundo Abramovay, pelo
aumento do poder aquisitivo da população.
— Temos um período no qual a economia
brasileira aumentou de maneira exponencial, não só a economia como o número de consumidores.
E, quando aumenta o consumo, aumenta de tudo. De roupa, de banana, de carro, de
álcool, de café e de drogas ilícitas também.
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03.08.2012 O Globo
Pesquisa revela
que mercado ainda percebe discriminação sexual na contratação
Segundo levantamento, 54% dos representantes de empresas acreditam que
existe preconceito contra homossexuais na hora de preencher uma vaga
RIO - Pesquisa realizada pela
Trabalhando.com Brasil indica que ainda existe preconceito na hora de contratar
um homossexual. Dos 400 entrevistados — homossexuais ou não —, 54% acreditam
que o preconceito existe, apesar de não ser assumido; 22% dizem que a
discriminação depende do tipo de área e vaga desejada e apenas 3% pensam que
esse problema não existe mais. Participaram, anonimamente, representantes de 30
empresas, de médio e grande portes.
— Noto que profissionais homossexuais são, sim, contratados. Porém,
dificilmente alcançam cargos de diretoria. Em áreas e empresas onde há mais
competição e, por consequência, maiores salários, essas pessoas sofrem ainda
mais para alcançar um patamar elevado — afirma Eliana Dutra, consultora de
carreiras e diretora da Pró-Fit, empresa de coaching e treinamento
profissional.
Renato Grinberg, diretor geral da Trabalhando.com Brasil, defende
veementemente que a orientação sexual do candidato não pode ser levada em conta
no momento da entrevista, bem como outros aspectos de sua intimidade.
— Em países como os Estados Unidos, por exemplo, fazer qualquer tipo de
pergunta que não seja de cunho profissional no momento da entrevista, como
perguntar a idade, o estado civil e se a pessoa tem filhos, é proibido por lei.
O que é de fato relevante na contratação são suas competências, não o que ele
faz nas horas vagas ou com quem se relaciona — explica Grinberg.
Julyana Felícia, gerente de RH da MegaMatte, ressalta que a lei federal
brasileira também trata do assunto:
— A nossa legislação é clara quanto a proibição de diferença de salário,
exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor
ou estado civil. Apesar disso, o assunto ainda é um tabu no mundo corporativo e
a contratação do homossexual pode ser influenciada pelo perfil que a empresa
busca. Em algumas corporações com foco em atendimento ao público, noto maior
quantidade de colaboradores homossexuais, por serem geralmente vistos como
muito simpáticos e atenciosos.
O levantamento mostra também que 21% dos consultados têm notado que, com
o passar dos anos, o preconceito vem diminuindo. Ylana Miller, sócia-diretora
da Yluminarh e professora do Ibmec, acredita que essa regressão vem
acontecendo, sim, mas lentamente.
— Ainda há muitos sistemas organizacionais onde o preconceito é velado e
o discurso é bem diferente da ação. Divulgam crenças e valores não
preconceituosos, mas na prática não é o que vemos, tanto em relação a
orientação sexual, como a religião e ao nível socioeconômico — diz Ylana.
Este ano, pela primeira vez, todas as corporações listadas no ranking
das 100 melhores empresas da Fortune possuem políticas contra a discriminação,
o que inclui a orientação sexual. “Não é surpreendente para mim que os lugares
que são classificados como os melhores para trabalhar sejam também os que
respeitam e valorizam os seus funcionários. A evolução é claramente no sentido
da igualdade no local de trabalho", disse Michael Cole-Schwartz, gerente
de comunicações da “Human Rights Campaign”, uma organização que defende
lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros americanos, em entrevista para à CNN
Money.
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13/05/2012 TECHTUDO
Internet supera TV e jornal como mídia mais consumida no Brasil, diz
estudo
Um estudo inédito realizado pelo IAB
Brasil revela que, para o brasileiro, a Internet já é o meio de comunicação
mais importante. De acordo com a pesquisa, um em cada três brasileiros consome
pelo menos duas horas de Internet por dia e navega em sites por pelo menos
quatro aparelhos diferentes.
Comparada ao rádio, à TV e ao jornal, a
Internet já é a mídia mais consumida, não só em casa, como no trabalho, na
escola, em restaurantes, shoppings e reuniões presenciais. Dentre os quase 40%
que surfam pelo menos duas horas por dia, somente 25% conseguem gastar o mesmo
tempo com a TV. Essa, por sinal, é o meio menos usado entre jovens de 15 a 24
anos.
De maneira
geral, mulheres consomem mais mídia do que homens.
O público feminino passou o masculino no
quesito preferência e consumo de atividades de mídia. 84% das internautas usa a
Internet várias vezes ao dia e 65% assiste TV frequentemente enquanto navega na
web.
Em casa, a Internet é a mais utilizadas
das mídias em todos os períodos do dia: 69% acessam pela manhã, 78% também
acessam à tarde e 73% conectam à noite. Apesar do cada vez maior acesso a
smartphones e tablets, desktops (77%) e laptops (59%) ainda são as formas mais
usadas para acessar a Internet.
O consumo de mídia em mais de um
dispositivo é uma tendência. De acordo com a pesquisa, 66% da audiência online
já acessa a Internet por mais de dois aparelhos diferentes e 25% dos adultos
entre 25 e 34 anos acessa através de quatro ou mais dispositivos.
O uso do computador em paralelo com
outras mídias também é maior. 61% usa um desktop ou laptop para acessar a
Internet enquanto assiste à TV. Maioria de 65% são mulheres.
Consumo Semanal de Mídia (Foto: IAB Brasil)
De acordo com a pesquisa, o público
online no Brasil é aberto e receptivo à propaganda digital. 36% acha que
anúncios na web incomodam menos e são mais sinceros que em outros canais. 44%,
no entanto, acredita que anúncios de TV ainda são mais marcantes que em outras
mídias.
O estudo apontou ainda que as redes
sociais estão mais presentes nas classes sociais com menos poder aquisitivo e
que um terço das pessoas prefere navegar mais do que qualquer outra atividade.
Surpreendentemente, esse número inclui também adultos com mais de 55 anos.
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UOL 07.06.2012
Uma em cada cinco crianças na Europa sofre abuso sexual, diz ONU
Camilo Malheiros Freire
Rádio ONU, em Nova York
Cerca de 20% das crianças europeias sofrem com abuso sexual, segundo a ONU. Em cada quatro crianças, três são vítimas de pessoas próximas, pais e familiares.
A afirmação foi dada à Rádio ONU pela representante especial do Secretário-Geral para Violência contra Crianças, Marta Santos Pais. Ela falou um dia após comparecer à apresentação do primeiro relatório sobre pornografia infantil, pela relatora especial da Holanda.
Proteção
"Não é uma questão só de apoiar, no
momento, quem é vítima. Mas prevenir a repetição de situações futuras que vão
multiplicar-se em número e no seu impacto em muitas outras crianças. É esse o
efeito que queremos prevenir com este investimento e com a sensibilização que
estamos promovendo ao falar do relatório que acaba de ser lançado, que é um
relatório extremamente importante, extremamente rico, mas que sobretudo nos dá
um instrumento fundamental para alertar muito mais pessoas em todos os países
do mundo."
Santos Pais sublinhou a importância da
educação, e da disponibilização de ferramentas de proteção acessíveis a todos
incluindo às próprias vítimas.
A representante especial acrescentou
que, embora a tecnologia tenha facilitado a disseminação de imagens pornográficas
de menores, a investigação e pesquisa na área poderiam levar a melhor controle
e proteção das vítimas.
Brasil
A representante falou da questão no
Brasil, e dos instrumentos necessários para a proteção infantil.
"O Brasil teve um papel de liderança
ao organizar, em 2008, o terceiro Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual
de Crianças e Adolescentes. Portanto, existem importantes instrumentos que,
obviamente, agora temos que aplicar, que desenvolver, temos que dar a acontecer
para que possam ser um instrumento no cotidiano de todas as pessoas."
Marta Santos Pais concluiu afirmando que
com "dispositivos eficientes e amparo adequado às vitimas", é
possível mudar o quadro atual, e prover aos menores uma vida adulta saudável.
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Rede Brasil Atual 14/06/2012
Impunidade por atos de tortura está disseminada no Brasil, aponta
relatório da ONU
Daniella
Jinkings
Condições desumanas em presídio
brasileiro é problema de toda a sociedade, mas poucos querem participar da
solução / ©Marlene Bergamo
Brasília – O relatório feito pelo Subcomitê
de Prevenção da Tortura (SPT) da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado
hoje (14), aponta que a impunidade por atos de tortura está disseminada no
Brasil. Segundo o subcomitê, isso se evidencia pelo “fracasso generalizado” na
tentativa de levar os criminosos à Justiça, assim como pela persistência de uma
cultura que aceita os abusos cometidos por funcionários públicos.
Oito membros do subcomitê visitaram os
estados de Goiás, São Paulo, do Rio de Janeiro e do Espírito Santo entre os
dias 19 e 30 de setembro de 2011. Além de fazer visitas a locais de detenção, o
SPT participou de reuniões com autoridades governamentais, com o Sistema ONU no
Brasil e com membros da sociedade civil.
No relatório, o subcomitê manifesta
preocupação com o fato de a atual estrutura institucional no Brasil não
proporcionar proteção suficiente contra a tortura e os maus-tratos. Durante a
visita, o subcomitê encontrou cadeias em condições precárias, com número
restrito de agentes. Além disso, foram relatados casos de tortura, maus-tratos,
corrupção e controle de milícias.
Um dos principais pontos destacados pelo
documento diz respeito à falta de médicos nas prisões. O subcomitê classificou
como “espantosas” as condições materiais na maioria das unidades médicas, nas
quais havia carência de equipamentos e de remédios. “A equipe médica era
insuficiente e incluía detentos não qualificados para prestar serviços. Por
exemplo, em uma prisão visitada, o SPT foi informado de que havia somente um
médico presente, uma vez por semana, para atender mais de 3 mil prisioneiros”,
diz o relatório.
O SPT também criticou a falta de acesso
de presos à Justiça. Por meio de entrevistas com pessoas privadas de liberdade,
o SPT descobriu que a assistência jurídica gratuita não era disponibilizada a todos
que dela necessitavam. Outro problema apontado pelo subcomitê é que os juízes
evitam a imposição de penas alternativas, mesmo para réus primários.
Além de mostrar problemas no sistema
carcerário, o SPT faz diversas recomendações ao país para melhorar as condições
de vida dos presos. Segundo o subcomitê, esta não é a primeira vez que
recomendações como essas são feitas ao Brasil. “Infelizmente, o SPT detectou
muitos problemas semelhantes aos identificados nas visitas anteriores, ainda
que tenha havido progresso em algumas áreas específicas.”
O Brasil tem até 8 de agosto para
apresentar uma resposta ao subcomitê das Nações Unidas. De acordo com a
coordenadora-geral de Combate à Tortura da Secretaria de Direitos Humanos, Ana
Paula Moreira, o governo federal ainda está trabalhando na resposta que será
enviada à ONU. “O que temos visto é que os ministérios já têm se articulado. É
algo que já vem sendo construído há algum tempo.”
Ela destacou ainda o Programa Nacional
de Apoio ao Sistema Prisional, que tem como meta acabar com o problema da falta
de vagas em presídios e cadeias femininos e diminuir pela metade o déficit de
vagas para presos provisórios hoje detidos em delegacias. A expectativa do
Ministério da Justiça é criar, nos próximos três anos, 42,5 mil vagas, sendo 15
mil para mulheres e 27,5 mil vagas para homens, em cadeias públicas. Será
investido um montante de R$ 1,1 bilhão.
“É horrível falar de um plano que
aumenta vagas, mas ele não está isolado. Há ações de outras pastas que tratam
dessa questão do sistema prisional em si. Tanto os relatórios nacionais quanto
os internacionais vão possibilitar um diagnóstico. Para a criação de políticas
públicas, a gente precisa ter dados e diagnósticos para fazer essa discussão”,
disse Ana Paula à Agência Brasil.
Os dados mais recentes do Departamento
Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça, mostram que no Brasil
há 514,5 mil presos. Desses, 173 mil são provisórios, ou seja, ainda não foram
julgados. A superlotação dos presídios é um dos principais problemas do sistema
carcerário. O país tem apenas 306 mil vagas para mais de 500 mil presos.
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Superinteressante 07.2010
O Brasil é o maior consumidor de
Rivotril do mundo. Saiba como um calmante tarja preta tem sido usado para
aplacar os sentimentos ruins de jovens, trabalhadores e donas de casa
Bruno Versolato
Todo mundo tem um refúgio a que costuma
recorrer para aliviar o peso dos problemas. Pode ser um lugar tranquilo, talvez
a praia. O pensamento em uma pessoa querida. Uma extravagância, como compras ou
aquele prato proibido pelo médico.
Ou pode ser o armarinho de remédios de
casa.
Na farmácia não se encontra produto
descrito como "paz em drágeas" ou "xarope de paz". Mas
muita gente acha que é isso o que deveria dizer o rótulo do Rivotril, um
ansiolítico (ou, popularmente, um calmante). Rivotril é prescrito por
psiquiatras a pacientes em crise de ansiedade - nos casos em que o sofrimento
tenha causa bem definida. Mas tem sido usado pelos brasileiros como elixir
contra as pressões banais do dia a dia: insônia, prazos, conflitos em
relacionamentos. Um arqui-inimigo dos dilemas do mundo moderno.
Tanto que o Brasil é o maior consumidor do mundo em
volume de clonazepam, o princípio ativo do remédio. Serão 2,1 toneladas em 2010, o que
coloca o Rivotril no
topo das paradas farmacêuticas daqui. É o 2º remédio mais vendido no país, à frente de
nomes como Hipoglós e Buscopan Composto - em 2004, era o 4º da lista. Só perde
agora para o Microvlar, anticoncepcional com consumo atrelado à distribuição
pelo governo via Sistema Único de Saúde (SUS).
E olhe que o Rivotril é um remédio tarja preta. Só pode ser comprado na
farmácia com a receita do médico em mãos. "A maior parte das vendas desse medicamento acontece via prescrição. Mas
muitos conseguem o remédio com
receita em nome de outros pacientes ou até pela internet", afirma Elisardo
Carlini, diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas, da Unifesp. Em alguns casos, até há a prescrição - mas de um
médico não especialista, segundo Alexandre Saadeh, professor do Instituto de
Psiquiatria da USP. "Ginecologistas costumam prescrever Rivotril para pacientes que sofrem fortes
crises de TPM", diz. Até porque poucos brasileiros vão ao psiquiatra, de
acordo com a Roche, laboratório responsável pelo Rivotril. "Grande parte dos brasileiros
tem dificuldade de acesso a psiquiatras, e isso está relacionado à prescrição
do Rivotril por médicos não
especialistas", afirma Maurício Lima, diretor-médico da Roche.
Foi assim, por via não ortodoxa, que a
popularidade do Rivotril cresceu.
Não é difícil ouvir donas de casa recomendando o remédio a uma amiga que tem tido problemas
para dormir. "Quem nunca ouviu que uma tia ou uma vizinha toma Rivotril há 20 anos e só dorme com
isso?", pergunta o professor de psiquiatria do curso de medicina da PUC de
São Paulo, Carlos Hubner. Ou achar relatos do tipo "Rivotril é meu melhor amigo" no Orkut e no
Facebook. Nessas histórias, o Rivotril aparece sempre como um freio para
sentimentos como medo, rejeição, angústia, tristeza e ansiedade. "Houve
Big Brother em que eu estava com muita ansiedade e usava Rivotril para entrar no ar", disse
Pedro Bial em entrevista à revista Playboy. O remédio tem sido usado até para cortar o efeito
de outras drogas, segundo o psiquiatra André Gustavo Silva Costa, especialista
em tratamento de dependentes químicos. "Jovens têm tomado o Rivotril para cortar o efeito de drogas
como cocaína. Eles querem dormir bem para conseguir trabalhar no dia
seguinte", diz.
O que é que o Rivotril tem?
Mas que mágica é essa? Quando somos
pressionados, algumas áreas do cérebro passam a trabalhar mais. Vem a
ansiedade. O Rivotril age
estimulando justamente os mecanismos que equilibram esse estado de tensão -
inibindo o que estava funcionando demais. A pessoa passa a responder menos aos
estímulos externos. Fica tranquila. Ainda que o bicho esteja pegando no
trabalho, o casamento indo de mal a pior e as contas se acumulando na porta. É essa
sensação de paz que atrai tanta gente. Afinal, a ansiedade traz muito incômodo:
suor, calafrios, insônia, taquicardia... "Muitas vezes o sofrimento se
torna insuportável. O remédio é valioso quando o paciente
piora", diz Silva Costa. Para a carioca Bruna Paixão, de 32 anos,
funcionou. "Um dia tomei uma bronca do meu chefe e fiquei péssima. Só
pensava nisso. Aí resolvi tomar Rivotril para dormir. Tinha uma caixa em
casa, dada por um amigo médico. Assisti um pouco de TV, conversei com um amigo
no telefone e fui ficando bem", diz.
Justamente por trazer essa calma toda, o Rivotril não é recomendado a qualquer um.
Seu consumo por profissionais que têm de se manter ágeis e em estado de alerta
- como pilotos de avião e operadores de máquinas, por exemplo - é
desaconselhado por médicos. "O Rivotril dá a falsa impressão de que a
pessoa produz mais, mas a verdade é que o remédio só deixa mais calmo", diz
José Carlos Galduroz, psiquiatra da Unifesp.
Não é só com o Rivotril que isso acontece. Os calmantes
da família dele - os chamados benzodiazepínicos - têm o mesmo papel. São
remédios como Lexotan, Diazepam e Lorax. Em parte, o Rivotril ficou famoso
ao pegar carona na onda dos "benzo". Eles surgiram na década de 1950,
e logo viraram os substitutos para os barbitúricos, como o Gardenal. Os
barbitúricos têm indicação semelhante à dos benzo. Mas são mais perigosos: a
linha entre a dosagem indicada para o tratamento e aquela considerada tóxica é
muito tênue. A mais famosa vítima dos excessos de barbitúricos foi Marylin
Monroe (embora haja dúvidas sobre o envenenamento acidental da atriz). Quando
surgiram os benzodiazepínicos, o mundo achou um combate mais seguro à
ansiedade. "Uma overdose de remédios como o Rivotril é praticamente impossível",
diz Saadeh, da USP.
É verdade, o Rivotril tem berço, vem de uma família
benquista pelos médicos. Isso já garante uma popularidade. Mas ele tem uma
vantagem extra em relação aos parentes. Seu tempo de ação é de, em média, 18
horas no organismo, entre o início do relaxamento, o pico do efeito e a saída
do corpo. É o que os médicos chamam de meia-vida. "A meia-vida do Rivotril é uma das mais confortáveis para
o paciente, porque fica no meio-termo em relação aos outros remédios para a
ansiedade e facilita a adaptação", diz Saadeh. Na prática, esse meio-termo
significa que o efeito do Rivotril não termina nem cedo demais - o
que poderia fazer o paciente acordar de uma noite de sono já ansioso - nem
tarde demais - o que não prolonga a sedação por um período maior que o
desejado.
No Brasil, o Rivotril tem ainda outra vantagem
importante. Repare: somos os maiores consumidores mundiais do remédio, mas estamos apenas na 51ª colocação na
lista global de consumo de benzodiazepínicos. Ou seja: o mundo consome muitos
benzo, nós consumimos muito Rivotril. Por quê? Por causa do preço. Uma
caixa de Rivotril com
30 comprimidos (considerando a versão de 0,5 miligrama) custa em torno de R$ 8.
O principal concorrente, o Frontal, da Pfizer, custa cerca de R$ 29.
Tudo isso faz o pessoal se esquecer da tarja preta do remédio. Mas ela está lá por um motivo, é
claro. E esse motivo é o risco de dependência.
O risco é o mesmo visto em outros
benzodiazepínicos. São dois, aliás. O de dependência química e o de dependência
psicológica. Na química, o processo é parecido com o gerado por drogas como
álcool e cocaína. O uso prolongado torna o cérebro dependente daquela
substância para funcionar corretamente. A outra dependência é a psicológica. A
pessoa até para de tomar o remédio, mas mantém uma caixa sempre no bolso como
precaução. "Cerca de 80% das pessoas que usam benzodiazepínicos ficam
dependentes em 2 ou 3 meses de uso", diz Anthony Wong, diretor do Centro
de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas, de São Paulo. "E a
maioria tem síndrome de abstinência se o remédio for tirado de uma hora para
outra."
Em casos mais graves, a abstinência pode
levar o paciente a uma internação. A pessoa pode ver, ouvir e sentir coisas que
não existem, apresentar delírios (como ser perseguida por extraterrestres),
agitação, depressão, apatia, entre outros sintomas. E para cortar a
dependência? "O paciente precisa querer parar. Há drogas que tratam os
sintomas da abstinência em no máximo 4 semanas", afirma Carlo Hubner, da
PUC. Livrar-se do Rivotril é
duro porque é preciso enfrentar todos os fantasmas de que o paciente queria se
livrar quando buscou o remédio. Afinal, o remédio só esconde os problemas. Eles
continuarão lá, à espera de solução. O verdadeiro adeus é o momento em que se
aprende a lidar com a ansiedade. Sozinho. Ou talvez com uma passadinha rápida
na praia. Pensando no namorado. Ou com a ajuda daquela lasanha (bem gorda).
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Jornal Sul21 12.06.2012
Drogas e sexo: principais formas de trabalho infantil no Brasil
Rachel Duarte
Apesar de básico, o conceito de que
‘lugar de criança é na escola’ ainda está longe de ser realidade em muitas
regiões do mundo. De acordo com as estimativas globais mais recentes da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), existem 215 milhões de crianças
vítimas do trabalho infantil e mais da metade estão envolvidas com as piores
formas de exploração. Além de violar os direitos fundamentais ao
desenvolvimento e ao ensino, o trabalho infantil expõe crianças a maus tratos
físicos, psicológicos e morais que podem causar-lhes danos para o resto de suas
vidas. Porém, o principal vilão das crianças e adolescentes no Brasil, segue
sendo o tráfico de drogas.
Os dados oficiais e atuais do trabalho
infantil no Brasil serão lançados em ato solene no Ministério da Justiça nesta
terça-feira, 11, Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil. Mas, com base na
última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), estima-se que 4,8
milhões de crianças e adolescentes, entre 5 e 17 anos, foram submetidas a
alguma forma de exploração que as obrigaram ao trabalho infantil. Ao invés de
estarem na escola adquirindo conhecimentos e habilidades que iniciem uma
formação para o futuro exercício da cidadania e ingresso no mercado de
trabalho, eles estão nas sinaleiras, fazendas, lixões, ou em outras frentes que
garantam alguma renda para as famílias mais pobres do Brasil.
O escritório da OIT no Brasil desenvolve
fiscalizações, programas de acompanhamento nos estados e relatórios sobre o
trabalho infantil. Segundo a oficial de projetos da OIT Cíntia Ramos, “as
regiões Norte e Nordeste, em consequência da situação de extrema pobreza, são
aquelas em que mais as famílias subjugam os filhos ao trabalho desde crianças.
Já na região Sul, devido à produção agrícola forte, os casos estão relacionados
ao meio rural e têm respaldo na cultura local”.
A necessidade do lucro com a economia da
mão-de-obra na agricultura, principalmente na produção do fumo gaúcho, acaba
tornando natural o trabalho infantil na região. “Nestes casos, são regiões e
estados que têm boas taxas de escolarização e índices de desenvolvimento humano
mais elevados, em que não faltam o acesso à escola, mas que, mesmo assim, se
opta por manter as crianças trabalhando”, diz Cíntia. “Elas poderiam estar
frequentando a escola ou, no mínimo, deveriam dividir os turnos com a escola
para trabalhar. Isto deve ser feito na idade adequada, não violando a fase
infantil”, defende.
Conforme decreto presidencial de 2008,
no Brasil, fica proibido o trabalho a menores de 18 anos nas atividades da
Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista TIP). São classificadas
como tal, quaisquer atividades análogas à escravidão, tráfico de drogas,
exploração sexual, conflitos armados, entre outras atividades ilícitas. Embora
asseguradas pela lei, crianças e adolescentes seguem engrossando as
estatísticas deficientes na constatação da realidade e divulgadas próximos as
datas comemorativas.
Trabalho infantil no Brasil = Exploração
sexual comercial e tráfico de drogas
Conforme a delegada do Departamento
Estadual da Criança e do Adolescente (DECA) da Polícia Civil do Rio Grande do
Sul, Eliete Mathias, as duas principais frentes de atuação do trabalho policial
é combater a exploração sexual comercial e o tráfico de drogas na infância e
adolescência. “São as principais práticas no RS. Não condenamos as crianças e
adolescentes por isso, obviamente. Sabemos que eles estão nesta condição porque
falhamos enquanto estado”, reconhece.
Segundo ela, em 2011 a Polícia Civil
gaúcha registrou 1,304 mil ocorrências envolvendo crianças e jovens. “Os que
cometem crimes vão para o juizado da Infância e podem ser encaminhados ao
cumprimento de medida socioeducativa. Os menores são encaminhados para a rede
de assistência social”, explica.
Com 10 anos de atuação no DECA, a
delegada diz que, mesmo que houvesse um mapeamento preciso dos casos, a questão
não é geográfica. “A cultura da sociedade influencia. Não há delimitação. Não é
algo que ocorra só nas regiões de fronteira. Existem pontos de exploração
sexual de menores em Porto Alegre. A incidência é maior ou menor conforme a
capacidade de resposta dos municípios para lidar com o problema”, afirma. Ela
defende que as políticas públicas para denunciar e coibir a exploração sexual,
que atingem mais as meninas, têm mais êxito do que o combate ao tráfico.
Para a coordenadora do Centro de Apoio
Operacional da Infância, Juventude, Família e Sucessões, procuradora de Justiça
Maria Regina Fay de Azambuja, a melhor aposta para enfrentar o problema é a
prevenção e com ações de alcance na família. “A erradicação do trabalho
infantil é muito difícil porque sua raiz é cultural e fundada no interesse dos
adultos, já que nenhuma criança vai para o trabalho por conta própria. Por
isso, é tão importante a atuação das instituições de forma integrada, para que
se faça um cerco aos empregadores e às famílias”, explicou Maria Regina.
“Sabemos que temos crianças fazendo
programa por cinco reais ou uma pedra de crack”, afirma secretário gaúcho
Para articular a rede de assistência
social que pode intervir e localizar os casos de trabalho infantil no Rio
Grande do Sul, o governo gaúcho desenvolve sistematicamente, desde 2011, a
formação de agentes nos municípios. “O foco do nosso trabalho está no combate à
exploração sexual comercial de crianças. Sabemos que temos crianças com nove
anos nas casas noturnas ou nas estradas fazendo programa por cinco reais ou por
uma pedra de crack”, reconhece o secretário de Justiça e Direitos Humanos,
Fabiano Pereira.
O trabalho do governo gaúcho está
centrado no Programa de Ações Integradas para combater o tráfico de pessoas
para fins de exploração sexual no âmbito do Mercosul, desenvolvido nas cidades
de fronteira com países vizinhos. Há ainda uma parceria com a iniciativa
privada e governo federal para formação e acompanhamento de 100 meninas. “É uma
bolsa formação que ao final de um ano, a menina tem a garantia de emprego”,
falou sobre a iniciativa.
Porém, as ações são indicadas para as
jovens a partir de 14 anos, idade em que é possível o trabalho em funções
administrativas asseguradas de direitos à saúde e segurança. “Nas regiões
periféricas de Porto Alegre estamos inaugurando Casas da Juventude, para
oferecer atividades culturais e esportivas como alternativa ao crime para os
jovens”, explica Fabiano Pereira.
Apesar de não ser um formato muito
inovador, as campanhas publicitárias são boas aliadas no enfrentamento do tema,
acredita a representante da OIT no Brasil, Cíntia Ramos. “Os casos de trabalho
ilícito ou trabalho doméstico, que são mais difíceis de serem detectados por
acontecerem dentro das casas das famílias ou de terceiros, podem ser
denunciados ao estado. Para isso, as pessoas devem ser informadas”, afirma.
Orientar para denunciar
Para ajudar na orientação sobre quais
práticas configuram como exploração ou trabalho infantil, o Fórum Estadual de
Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador
Adolescente/RS lançou a campanha estadual “Vamos acabar com o trabalho
infantil”. O Fórum integra mais de 200 entidades, entre elas o Ministério
Público Estadual e a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego.
De acordo com a coordenadora do Fórum,
Eridan Magalhães, a iniciativa visa estimular que servidores e a população em
geral possam contribuir com a erradicação do trabalho infantil que atinge pelo
menos 60 mil crianças, entre nove e 14 anos, no RS. “Vamos divulgar a campanha
na Esquina Democrática nesta terça-feira pela manhã e seguiremos para a
Assembleia Legislativa do RS onde vamos acompanhar a votação do Projeto de Lei
76/2012 que institui o Dia Estadual de Combate ao Trabalho Infantil no Estado
do Rio Grande do Sul”, disse sobre proposta do deputado estadual Miki Breier
(PSB).
Somente em 2012, foram feitas 160
operações no RS, com o flagrante de aproximadamente 100 crianças trabalhando.
Além disso, 12 mil fiscalizações gerais foram realizadas, em que também é
vistoriada a presença de adolescentes trabalhando em locais insalubres e
inseguros. As principais atividades que empregam crianças ainda são a
lavoura de fumo, o comércio ambulante de bebidas alcoólicas e outros produtos
no Litoral Norte, a colheita da maçã e da batata na Serra Gaúcha e o trabalho
doméstico. Para os adolescentes, o maior problema é a cadeia
coureiro-calçadista, em que adolescentes ainda sofrem com a manipulação de
produtos tóxicos e sem equipamentos de segurança.
Ao longo da semana, mais de 40
municípios farão atividades alusivas ao dia de combate ao trabalho infantil.
Para auxiliar a atuação do Fórum, os
cidadãos podem denunciar o trabalho infantil pelo telefone 51-3213-2800,
ou pelo e-mail roberto.guimaraes@mte.gov.br.
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JN 28/05/2012
Ibope: drogas são mais preocupantes que desemprego no país
Pesquisa, realizada
em 26 cidades com mais de 300 mil habitantes, conclui que tema vai ser levado
em conta pelos eleitores na hora de escolher prefeito, em outubro.
Fábio Turci
(clique na imagem e veja a reportagem)
No Brasil de hoje, quando se
pergunta a um cidadão quais são as maiores preocupações dele, as drogas têm
aparecido com frequência crescente. Uma pesquisa concluiu que esse tema vai ser
levado em conta pelos eleitores na hora de escolher o prefeito, em outubro.
O crack escancarou
o problema da dependência química em São Paulo, Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza. Ninguém mais pode dizer que
as drogas estão longe.
“A gente como pai
está sempre pensando nisso. É um medo”, diz um homem.
O problema das drogas
já não diz respeito só às famílias que têm dependentes químicos. A população em
geral está preocupada. Tanto que o assunto já começa a aparecer entre as
prioridades do eleitor brasileiro.
Em 26 cidades com
mais de 300 mil habitantes, o Ibope perguntou
qual tema o eleitor mais levará em conta na hora de escolher o candidato a
prefeito, em 2012. 37% responderam saúde, 16% segurança, 11% educação e as
drogas apareceram logo atrás, com 9%. Ultrapassou, com folga, uma velha
preocupação do brasileiro: o emprego, com 4%.
A integrante da
Associação Parceria contra as Drogas, Marylin Tatton, confirma: cada vez mais
famílias telefonam pedindo ajuda. “As pessoas têm ligado para saber o que
fazer, como fazer para que seus filhos não usem drogas e, principalmente, tem
aumentado muito as ligações de pessoas que já estão com problema em casa”.
O Ibope também
perguntou quais as três áreas mais problemáticas nas cidades. A saúde foi
citada por 61% das pessoas, a segurança por 46% e as drogas por 40%, bem à
frente da educação, do transporte coletivo e do trânsito.
“A droga
diretamente atinge alguém da família ou próximo do circulo do cidadão, mas
indiretamente ela alimenta um ciclo de violência, um ciclo de insegurança que de
alguma maneira traz alguma consequência para todas as pessoas. O candidato tem
que ter clareza que o eleitor está preocupado e vai cobrar dele uma atitude
muito firme com relação a essa questão”, aponta o diretor de negócios do Ibope,
Hélio Gastaldi.
“Eles têm que se
empenhar mais que todo mundo. Se cada um fizer a sua parte fica mais fácil”,
afirma uma mulher.
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Band News 05.04.2012
ONU condena
decisão do STJ sobre estupro.
O STJ decidiu
que atos sexuais com menores de 14 anos podem não ser caracterizados como
estupro, de acordo com o caso.
O ACNUDH (Escritório Regional para
América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos)
deplorou a decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) do Brasil que
inocentou um acusado de estuprar três meninas de 12 anos de idade. O Tribunal
argumentou que as crianças já se dedicavam à prática de atividades sexuais.
“É
impensável que a vida sexual de uma criança possa ser usada para revogar seus
direitos”, disse Amerigo Incalcaterra, Representante Regional do ACNUDH
para a América do Sul. “A decisão do STJ abre um precedente perigoso e
discrimina as vítimas com base em sua idade e gênero”, acrescentou.
Incalcaterra notou que a decisão do STJ
contradiz vários tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo
Brasil, incluindo a CDC (Convenção sobre os Direitos da Criança),
o PIDCP (Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos) e
a CEDAW (Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra a Mulher). Ele enfatizou que “todos os tribunais têm a obrigação
jurídica de interpretar e aplicar esses tratados de direitos humanos.”
O Representante Regional ecoou a
preocupação da representação do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a
Infância) no Brasil sobre esta decisão, que põe em risco os progressos já
realizados pelo País sobre o respeito aos direitos de crianças e adolescentes.
Incalcaterra pediu às autoridades
nacionais, incluindo o Poder Judiciário, que priorizem os interesses superiores
da criança na tomada de decisões e lembrou a obrigação dos Estados de
protegerem as crianças de todas as formas de violência, incluindo o abuso
sexual.
As diretrizes internacionais de
direitos humanos estabelecem claramente que a vida sexual de uma mulher não
deve ser levada em consideração em julgamentos sobre seus direitos e proteções
legais, incluindo a proteção contra o estupro. Além disso, de acordo com a
jurisprudência internacional, os casos de abuso sexual não devem considerar a
vida sexual da vítima para determinar a existência de um ataque, pois essa
interpretação constitui uma discriminação baseada em gênero.
Incalcaterra elogiou as declarações da
Secretaria de Direitos Humanos do Brasil, nas quais a Ministra Maria do Rosário
disse que os direitos das crianças jamais podem ser relativizados; ela também
criticou a decisão do STJ por significar impunidade para crimes dessa
gravidade. O Representante Regional ofereceu ao Judiciário a assistência e
cooperação do seu Escritório sobre as normas internacionais de direitos
humanos.
A decisão
A decisão
No último mês, a Terceira Seção da
Corte decidiu que atos sexuais com menores de 14 anos podem não ser
caracterizados como estupro, de acordo com o caso.
O tribunal entendeu que não se pode considerar crime o ato que não viola o bem jurídico tutelado, no caso, a liberdade sexual. No processo analisado pela seção do STJ, o réu é acusado de ter estuprado três menores, todas de 12 anos. Tanto o juiz que analisou o processo como o tribunal local o inocentaram com o argumento de que as crianças “já se dedicavam à prática de atividades sexuais desde longa data”.
A decisão do STJ é uma reafirmação do entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a questão. Em 1996, o ministro Marco Aurélio Mello, relator do habeas corpus de um acusado de estupro de vulnerável, disse, no processo, que presunção violência em estupro de menores de 14 anos é relativa. "Confessada ou demonstrada o consentimento da mulher e levantando da prova dos autos a aparência, física e mental, de tratar-se de pessoa com idade superior a 14 anos, impõe-se a conclusão sobre a ausência de configuração do tipo penal”.
O tribunal entendeu que não se pode considerar crime o ato que não viola o bem jurídico tutelado, no caso, a liberdade sexual. No processo analisado pela seção do STJ, o réu é acusado de ter estuprado três menores, todas de 12 anos. Tanto o juiz que analisou o processo como o tribunal local o inocentaram com o argumento de que as crianças “já se dedicavam à prática de atividades sexuais desde longa data”.
A decisão do STJ é uma reafirmação do entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a questão. Em 1996, o ministro Marco Aurélio Mello, relator do habeas corpus de um acusado de estupro de vulnerável, disse, no processo, que presunção violência em estupro de menores de 14 anos é relativa. "Confessada ou demonstrada o consentimento da mulher e levantando da prova dos autos a aparência, física e mental, de tratar-se de pessoa com idade superior a 14 anos, impõe-se a conclusão sobre a ausência de configuração do tipo penal”.
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Salvo-conduto à
exploração de menores
Martha Rocha
Rio -
Dada a relevância do tema, o Direito Penal Brasileiro promoveu, em 2009, ampla
reformulação nos dispositivos do Código Penal que tratavam dos crimes sexuais.
Preocupou-se a lei em criar uma tutela diferenciada, quando as vítimas forem crianças
e adolescentes menores de 14 anos, ou se tratar de pessoa que, por enfermidade
ou deficiência mental, não tiver o necessário discernimento para a prática do
ato, ou, por qualquer motivo, não possa defender-se.
Assim,
a simples prática de qualquer ato libidinoso com tais pessoas – por exemplo,
crianças e adolescentes menores de 14 anos – configura crime, não mais havendo
que se falar em presunção de violência. Logo, para a lei o crime se
caracteriza, sendo irrelevante a existência ou não do consentimento da vítima.
Apesar das importantes alterações trazidas pela Nova Lei dos Crimes Sexuais, a sociedade brasileira – real detentora da vontade da lei – é surpreendida com decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que absolve réu acusado de ter estuprado três menores, todas de 12 anos, sob a alegação de que “as crianças já se dedicavam a prática de atividades sexuais desde longa data”.
Apesar das importantes alterações trazidas pela Nova Lei dos Crimes Sexuais, a sociedade brasileira – real detentora da vontade da lei – é surpreendida com decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que absolve réu acusado de ter estuprado três menores, todas de 12 anos, sob a alegação de que “as crianças já se dedicavam a prática de atividades sexuais desde longa data”.
Talvez
fosse importante lembrar ao STJ que um dos temas mais constrangedores ao
Brasil, não apenas à própria sociedade brasileira, como no âmbito
internacional, é a existência da prostituição infantil.
Nestas
crianças, além de destruídos os sonhos infantis, se vê desconsiderados os
direitos e a necessidade da proteção à infância. Sem medo de errar, podemos
dizer que este é o universo de meninas pobres, moradoras das regiões
periféricas e precárias ao redor dos grandes centros que ocupam as ruas para se
oferecerem como mercadoria barata no mercado do sexo. Essas, com certeza, foram
as meninas que, uma vez mais, foram vitimizadas na decisão do STJ.
Além
de não atender aos ditames legais previstos na Lei 12.015, para a qual não há
que se falar em consentimento por parte das vítimas menores de 14 anos de
idade, a decisão do STJ concedeu um “salvo-conduto à exploração sexual”, como
bem disse o Presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República.
Logo,
se faz hora para lembrar que cabe ao estado e aos poderes instituídos zelar
pelo bem-estar da criança e do adolescente, em especial daqueles em maior
situação de vulnerabilidade social, que é promovida não apenas pela ausência de
recursos, mas também pela naturalidade com que se descriminalizam as condutas
praticadas contra meninas que são vistas como meros objetos.
Para
tanto, é preciso que todos e todas, inclusive os instituídos do poder da lei,
reflitam sobre o papel a ser desenvolvido no enfrentamento da violência contra
a criança e adolescente.
Martha Rocha é chefe de Polícia Civil do Estado do
Rio de Janeiro
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Estado de São Paulo 01.04.2012
Não há meninas prostitutas.
Débora Diniz
Ainda estou para entender o que os
magistrados brasileiros descrevem como “realidade”. Muito antes da
pós-modernidade, essa palavra provocava tremores nos cientistas sociais. A
realidade depende de quem a descreve e, mais ainda, de quem experimenta sua
concretude na própria pele.
A tese de que o Direito precisa se
“adequar às mudanças sociais” foi a sustentada pela ministra do Superior
Tribunal de Justiça Maria Thereza de Assis Moura para inocentar um homem adulto
que violentou sexualmente três meninas de 12 anos. Não haveria absolutos no
direito penal, defendeu a ministra, pois os crimes dependem da “realidade” das
vítimas e dos agressores. Foram as mudanças sociais que converteram as meninas
em prostitutas ou, nas palavras da ministra Maria Thereza, “as vítimas, à época
dos fatos, lamentavelmente, já estavam longe de serem inocentes, ingênuas, inconscientes
e desinformadas a respeito do sexo”.
“Já estavam longe” foi um recurso
discursivo que atenuou o sentido imperativo do julgamento moral da ministra
sobre as meninas. Uma forma clara de traduzir seu pronunciamento sobre o caso é
ignorar a atenuante e reler os adjetivos por seus antônimos. “As meninas eram
culpadas, maliciosas, conscientes e informadas a respeito do sexo”, por isso
não houve crime de estupro. Para haver crime de estupro, segundo a tese da
ministra, é preciso desnudar a moral das vítimas, mesmo que elas sejam meninas
pré-púberes de 12 anos. O passado das meninas - cabuladoras de aulas, segundo o
relato da mãe de uma delas, e iniciadas na exploração sexual - foi o suficiente
para que elas fossem descritas como prostitutas. Apresentá-las como prostitutas
foi o arremate argumentativo da ministra: não houve crime contra a liberdade
sexual, uma vez que o sexo teria sido consentido. O agressor foi, portanto,
inocentado.
Descrever meninas de 12 anos como
prostitutas é linguisticamente vulgar pela contradição que acompanha os dois
substantivos. Não há meninas prostitutas. Nem meninas nem prostitutas são
adjetivos que descrevem as mulheres. São estados e posições sociais que
demarcam histórias, direitos, violações e proteções. Uma mulher adulta pode
escolher se prostituir; uma menina, jamais. Sei que há comércio sexual com
meninas ainda mais jovens do que as três do caso - por isso, minha recusa não é
sociológica, mas ética e jurídica. O que ocorria na praça onde as meninas
trocavam a escola pelo comércio do sexo não era prostituição, mas abuso sexual
infantil. O estupro de vulneráveis descreve um crime de violação à dignidade
individual posterior àquele que as retirou da casa e da escola para o comércio
do sexo. O abuso sexual é o fim da linha de uma ordem social que ignora os
direitos e as proteções devidas às meninas.
Meninas de 12 anos não são corpos
desencarnados de suas histórias. As práticas sexuais a que se submeteram jamais
poderiam ter sido descritas como escolhas autônomas - o bem jurídico tutelado
não é a virgindade, mas a igualdade entre os sexos e a proteção da infância.
Uma menina de 12 anos explorada sexualmente em uma praça, que cabula aulas para
vender sua inocência e ingenuidade, aponta para uma realidade perversa que nos
atravessa a existência. As razões que as conduziram a esse regime de abandono
da vida, de invisibilidade existencial em uma praça, denunciam violações
estruturais de seus direitos. A mesma mãe que contou sobre a troca da escola
pela praça disse que as meninas o faziam em busca de dinheiro. Eram meninas
pobres e homens com poder - não havia dois seres autônomos exercendo sua
liberdade sexual, como falsamente pressupôs a ministra.
O encontro se deu entre meninas que
vendiam sua juventude e inocência e homens que compravam um perverso prazer.
Sem atenuantes, eram meninas exploradas sexualmente em troca de dinheiro.
Qualquer ordem política elege seus
absolutos éticos. Um deles é que crianças não são seres plenamente autônomos
para decidir sobre práticas que ameacem sua integridade. Por isso, o princípio
ético absoluto de nosso dever de proteção às crianças. Meninas de 12 anos, com
ou sem história prévia de violação sexual, são crianças. Jamais poderiam ser
descritas como “garotas que já se dedicavam à prática de atividades sexuais
desde longa data”. Essa informação torna o cenário ainda mais perverso: a
violação sexual não foi um instante, mas uma permanência desde muito cedo na
infância. Proteger a integridade das meninas é um imperativo ético a que não
queremos renunciar em nome do relativismo imposto pela desigualdade de gênero e
de classe. O dado de realidade que deve importunar nossos magistrados em suas
decisões não é sobre a autonomia de crianças para as práticas sexuais com
adultos. Essa é uma injusta realidade e uma falsa pergunta. A realidade que
importa - e nos angustia - é de que não somos capazes de proteger a ingenuidade
e a inocência das meninas.
Débora Diniz é professora da UNB
e pesquisadora da Anis: Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero
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Band 29.03.2012
CPMI repudia
decisão do STJ sobre estupro.
STJ entende
que, nem sempre, o ato sexual com menores pode ser considerado estupro.
A CPMI (Comissão Parlamentar Mista
de Inquérito) que investiga a violência contra a mulher aprovou nesta
quinta-feira uma nota de repúdio à decisão do STJ (Superior Tribunal de
Justiça) que absolveu um homem da acusação de estupro de vulneráveis. A comissão
também decidiu pedir ao STJ, no documento, a revisão imediata da decisão.
A decisão foi tomada na última terça-feira pela Terceira Seção do STJ que entendeu que, nem sempre, o ato sexual com menores de 14 anos pode ser considerado estupro. O caso julgado refere-se à acusação contra um homem que manteve relações sexuais com três crianças de 12 anos.
A decisão foi tomada na última terça-feira pela Terceira Seção do STJ que entendeu que, nem sempre, o ato sexual com menores de 14 anos pode ser considerado estupro. O caso julgado refere-se à acusação contra um homem que manteve relações sexuais com três crianças de 12 anos.
A interpretação revoltou as integrantes
da CPMI que aprovaram o repúdio durante a audiência pública no Senado, pela
manhã, destinada a tratar da violência contras mulheres que vivem na zona rural
e nas florestas.
De acordo com a relatora da CPMI,
senadora Ana Rita (PT-ES), a decisão desrespeita os direitos fundamentais das
crianças e acaba responsabilizando as vítimas, que estão em situação de
completa vulnerabilidade.
A decisão
Na última terça-feira, a Terceira Seção
da Corte decidiu que atos sexuais com menores de 14 anos podem não ser
caracterizados como estupro, de acordo com o caso.
O tribunal entendeu que não se pode considerar crime o ato que não viola o bem jurídico tutelado, no caso, a liberdade sexual. No processo analisado pela seção do STJ, o réu é acusado de ter estuprado três menores, todas de 12 anos. Tanto o juiz que analisou o processo como o tribunal local o inocentaram com o argumento de que as crianças “já se dedicavam à prática de atividades sexuais desde longa data”.
O tribunal entendeu que não se pode considerar crime o ato que não viola o bem jurídico tutelado, no caso, a liberdade sexual. No processo analisado pela seção do STJ, o réu é acusado de ter estuprado três menores, todas de 12 anos. Tanto o juiz que analisou o processo como o tribunal local o inocentaram com o argumento de que as crianças “já se dedicavam à prática de atividades sexuais desde longa data”.
A decisão do STJ é uma reafirmação do
entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a questão. Em 1996, o
ministro Marco Aurélio Mello, relator do habeas corpus de um acusado de estupro
de vulnerável, disse, no processo, que presunção violência em estupro de
menores de 14 anos é relativa. "Confessada ou demonstrada o consentimento
da mulher e levantando da prova dos autos a aparência, física e mental, de
tratar-se de pessoa com idade superior a 14 anos, impõe-se a conclusão sobre a
ausência de configuração do tipo penal”.